19 abril 2007

Diálogo (II)

- Explica-me cá uma coisa! Eu conheço um maçon...

- Pelo menos...

- Já percebi a insinuação... Isso vê-se depois, agora deixa-me continuar. Eu conheço um maçon e pude pedir-lhe para entrar na Maçonaria. Mas como faria se não conhecesse? Mesmo considerando-me de bons costumes e querendo aperfeiçoar-me, seguindo o método maçónico, como tu dizes, não tinha hipótese, não tinha a quem pedir...

- Dizes tu, que às vezes dizes sem pensar e não pensas no que dizes...

- Estás sempre a deitar abaixo... Com amigos destes não preciso de inimigos...

- Claro que, mesmo sem conhecer um maçon, um verdadeiro interessado na Maçonaria tem a quem pedir. Então nos dias de hoje! A Maçonaria tem existência legal e sede. Pode enviar uma carta. Mais simples ainda, pode enviar um fax ou uma mensagem de correio electrónico.No sítio da GLLP / GLRP existe uma página de contactos disponíveis para todos. Os sítios das Lojas também costumam disponibilizar pelo menos um endereço de correio electrónico, como sucede, por exemplo, no sítio da Loja Mestre Affonso Domingues. E até mesmo quase todos aqueles tipos que escrevem umas coisas no blogue A Partir Pedra têm também nos seus perfis um endereço de correio electrónico. Queres mais hipóteses de contacto ainda?

-Queres tu então dizer que basta um fulano mandar uma mensagem de correio electrónico e já está, por aqui me sirvo? E estive eu mais de um ano à espera que tu me convidasses... e depois disseste que não havia convite para ninguém, eu que pedisse se quisesse...

- Calma aí, que eu não disse que era assim tão simples...

- Eu logo vi, tu usas sempre a técnica do vendedor, primeiro parece tudo fácil, as complicações vêm depois...

- Tu é que complicas, assim sempre a interromper... Obviamente que alguém que não seja conhecido de nenhum maçon e que contacte declarando o seu desejo de ser admitido maçon, no mínimo tem de ter a Virtude da Paciência. Eu não disse que era rápido... Fácil, barato e que dá milhões só o Euroditos... É evidente que, nessas circunstâncias, é preciso averiguar primeiro de quem se trata, se se trata de uma pessoa digna ou de um qualquer oportunista, quais os seus princípios, se os seus propósitos são sérios, etc.. Só após nos certificarmos disso se poderá avançar.

- E como é que se certificam
?

- Normalmente, são designados alguns elementos que, muito discretamente, procuram saber quem é e como é realmente a pessoa e, utilizando a expressão que já várias vezes usámos nas nossas conversas, se é realmente um homem livre e de bons costumes. Só adquirindo-se essa certeza para além de qualquer dúvida é que se contacta o interessado, apresentando-se-lhe um rosto, alguém a quem, se continuar interessado, possa então pedir a sua adesão. Este processo, no fundo, de conhecimento mínimo da pessoa pode levar muito tempo. E só para chegar ao ponto em que tu agora estás... Se tu te queixas que estiveste mais de um ano à espera, imagina no caso deste suposto interessado. Mas tudo o que tem interesse na vida custa a ser obtido...

- Já entendi! Quem não conhecer um maçon, pode-se oferecer, mas vocês primeiro armam-se em detectives e só se ficarem satisfeitos é que contactam a pessoa.

- Nem mais!

- Estou mesmo a ver, uns fulanos a fazerem perguntas na vizinhança, e tal... E se o fulano tiver o azar de ter a alcunha de Pinóquio, está feito: nem sabe porque nunca foi contactado...

- Pois aí é que te enganas! Eu interessar-me-ia por conhecer mais profundamente essa pessoa!

- Porquê? Agora interessas-te por mentirosos?

- Nada disso, meu caro! Pensa um pouco. Nunca reparaste que a história infantil do Pinóquio não é mais do que uma alegoria do que deve fazer o maçon?

- Essa agora! Dizes então que o maçon deve mentir até lhe crescer o nariz?

- Nada disso. Em primeiro lugar, é ao contrário: o nariz crescia-lhe porque mentia; em segundo lugar, isso é apenas o elemento burlesco para chamar a atenção das crianças para a história. O cerne da história é outro. Trata de um boneco de pau que, com o auxílio de uma fada e de um grilo (que personifica a sua consciência), luta contra os seus defeitos, de forma a tornar-se digno de se tornar um rapaz de carne e osso. Certo?

- Certo.

- O boneco de pau é o maçon que luta para dominar seus vícios e suas paixões (o gato e o raposo). Nessa luta tem o auxílio do grilo (os seus Irmãos) e da fada (a Maçonaria). Com trabalho, com esforço, com avanços e recuos, aprende como os seus defeitos (mentir) e os prazeres materiais (faltar à escola, ir divertir-se para o Parque de Diversões) afinal amarram e limitam o Homem (transformam-no em burro...) e que só a noção do cumprimento dos seus deveres (o trabalho maçónico) permitirá que esteja em condições (o aperfeiçoamento) de vir a ser um verdadeiro menino de carne e osso (ver a Luz).

- Livra, que tu até nas histórias infantis vês Maçonaria...

Rui Bandeira

6 comentários:

Nuno Raimundo disse...

BoAs...
São "diálogos" destes que informam correctamente os profanos como eu, e que desejem um dia ver a "luz" e construir o "seu Templo" a agir na medida do que fazer para se filiarem na Augusta Ordem...
Sempre pensei, talvez erroneamente, que se teria de esperar por um convite formal ao invés de nos autopropor-nos a uma Loja ou Obediência.
Mas talvez seja por isso que exista a afirmação "2be1ask1", correcto?

Abraços Profanos

Rui Bandeira disse...

No meu entender, correcto e corresponde, designadamente, à prática da Maçonaria Americana.
Não quer isto dizer que não sejam feitos convites, mas eu pessoalmente não acho que seja a melhor política, pois aumenta muito a possibilidade de dar mau resultado, isto é iniciação de quem não está efectivamente preparado para ser iniciado, com consequente ulterior afastamento, talvez definitivo.
Em Maçonaria, como em todas as coisas importantes da vida, há um tempo para tudo.

Nuno Raimundo disse...

Caro Rui,
Penso que quando existe um convite por parte de um maços que queira convidar um profano, ele já terá avaliado o comportamento, a moral e os demais requisitos, ou os mesmos só serão postos á prova depois de efectivado o convite?
Penso que a avaliação só terá sentido quando não se conheça o profano em si, pois nos casos onde exista uma amizade ou conhecimentos, não fará sentido essa avaliação, pois para mim, o convite deve ser feito com a certeza da possivel aceitação do mesmo, mas sempre posso estar enganado, pois disconhecendo maçons, tenho que me firmar no que pesquiso.
Abraços...

Rui Bandeira disse...

@ Profano

1. Na minha opinião, mesmo havendo conhecimento e até amizade pessoal não deve haver convite. deve, sim, haver e demonstrar-se disponibilidade, mas a iniciativa deve ser sempre do candidato. Nesse sentido, cfr. Diálogo (I).
2. Ainda que haja um convite ou aceitação preliminar de pedido(que obviamente deve basear-se numa avaliação positiva prévia do maçon em relação ao profano), haverá SEMPRE uma avaliação, que deve até ser mais profunda, efectuada por outros elementos. E faz muito sentido que haja1 Mas isso será matéria de um Diálogo (III) ou quiçá de um Diálogo (IV)...

Nuno Raimundo disse...

Obrigado pelo esclarecimento.
Aguardarei pelos futuros "diálogos"...

Jose Ruah disse...

Se fosse Opera teria que apaudir de pé e gritar plenos pulmoes BRAVO ! BRAVO !.