O trabalho e o valor do mercado
"A canseira que é terem de receber por semana o que muitos portugueses não recebem numa vida inteira de trabalho!" (JPSetúbal, no post "DESPORTO DA NAÇÃO !")
Esta passagem do pensamento exposto pelo JPSetúbal constitui o afloramento de um sentimento corrente, que deplora a imoralidade dos principescos ganhos de jogadores de futebol, sobretudo quando comparados com o que o comum dos cidadãos aufere com o seutrabalho.
Que a disparidade choca, é evidente que choca.
Mas nos idos dos "anos da brasa" pós 25 de Abril li certa vez a transcrição de uma entrevista (que eu saiba, nunca desmentida...) de Otelo Saraiva de Carvalho a um jornal nórdico (penso que sueco) e, à pergunta do jornalista sobre qual o objectivo da "Revolução Portuguesa", Otelo terá respondido que era "o de acabar com os ricos", ao que, célere, o próprio jornalista retorquiu que no seu País tinham optado pela solução inversa: acabar com os pobres!
Desde então interiorizei uma lição: não importa que um ou uns poucos ganhem muito, o que interessa é resolver o que obriga a que muitos ganhem pouco, muitas vezes não o suficiente para terem e darem aos seus uma vida digna.
Nesta linha de pensamento, não é o facto de alguns jogadores de futebol ganharem muito que me choca. Até porque, se assim é, é porque alguém lhes paga... O que me choca é que haja tantos que, apesar do seu esforço, do seu trabalho, da sua diligência ganhem incomensuravelmente menos, por vezes o insuficiente para as suas necessidades. E estou a pensar na nossa terra, porque se pensar na miséria que há, designadamente, em África, estamos conversados...
Aliás, os faraónicos rendimentos não são apenas apanágio dos melhores jogadores de futebol: e os tenistas de topo? E os golfistas de alta qualidade - os desportistas mais bem pagos do Mundo? E os "armários" basquetebolistas da NBA? E os pilotos de topo da Fórmula 1? E...? E...? E...?
Nem sequer a questão se restringe ao campo do desporto profissional: e os actores dos blockbusters de Holliwood? (Nem sequer precisamos destes: basta comparar os rendimentos dos actores de Bollywood com os dos camponeses indianos...) E os pintores da moda de New York? Ou os Frank Gerry's da arquitectura? Ou...? Ou...? Ou...?
Para mim, a questão resulta do sacrossanto Mercado, que valoriza e paga aos que produzem o que vende e gera (imensos) lucros, seja o espectáculo visto por milhões, seja a obra disputada pelos ricos e poderosos deste mundo.
E não vale a pena lamuriar-mo-nos: as coisas são como são, o Mundo é como é e cada um de nós tem de viver com estas realidades.
Que fazer, então? Resignarmo-nos? Não, simplesmente procurar entender as verdadeiras causas destas gritantes e injustas disparidades e cada um de nós fazer o que puder, ao seu nível, ao nível do meio em que se insere, para procurar que, pouco a pouco, sem "saltos mortais da História" (que normalmente dão mal resultado e partem uns pescoços...), esta realidade se vá alterando e que se dê valor não apenas ao que cada um pode vender gerando lucro, mas que se valorize, tout court, também, intrinsecamente, o trabalho e o esforço de cada um, tenha ou não " bom mercado" e, assim, a dignidade humana.
Mas, meus caros, que nunca nos preocupemos com aqueles que ganham muito! Esses, sorte deles!
Preocupemo-nos, isso sim, é com os que não ganham o suficiente!
A verdadeira Revolução que espero que um dia a Humanidade consiga fazer não é a que acabe com os ricos, antes a que acabe com os pobres!
Rui Bandeira
Esta passagem do pensamento exposto pelo JPSetúbal constitui o afloramento de um sentimento corrente, que deplora a imoralidade dos principescos ganhos de jogadores de futebol, sobretudo quando comparados com o que o comum dos cidadãos aufere com o seutrabalho.
Que a disparidade choca, é evidente que choca.
Mas nos idos dos "anos da brasa" pós 25 de Abril li certa vez a transcrição de uma entrevista (que eu saiba, nunca desmentida...) de Otelo Saraiva de Carvalho a um jornal nórdico (penso que sueco) e, à pergunta do jornalista sobre qual o objectivo da "Revolução Portuguesa", Otelo terá respondido que era "o de acabar com os ricos", ao que, célere, o próprio jornalista retorquiu que no seu País tinham optado pela solução inversa: acabar com os pobres!
Desde então interiorizei uma lição: não importa que um ou uns poucos ganhem muito, o que interessa é resolver o que obriga a que muitos ganhem pouco, muitas vezes não o suficiente para terem e darem aos seus uma vida digna.
Nesta linha de pensamento, não é o facto de alguns jogadores de futebol ganharem muito que me choca. Até porque, se assim é, é porque alguém lhes paga... O que me choca é que haja tantos que, apesar do seu esforço, do seu trabalho, da sua diligência ganhem incomensuravelmente menos, por vezes o insuficiente para as suas necessidades. E estou a pensar na nossa terra, porque se pensar na miséria que há, designadamente, em África, estamos conversados...
Aliás, os faraónicos rendimentos não são apenas apanágio dos melhores jogadores de futebol: e os tenistas de topo? E os golfistas de alta qualidade - os desportistas mais bem pagos do Mundo? E os "armários" basquetebolistas da NBA? E os pilotos de topo da Fórmula 1? E...? E...? E...?
Nem sequer a questão se restringe ao campo do desporto profissional: e os actores dos blockbusters de Holliwood? (Nem sequer precisamos destes: basta comparar os rendimentos dos actores de Bollywood com os dos camponeses indianos...) E os pintores da moda de New York? Ou os Frank Gerry's da arquitectura? Ou...? Ou...? Ou...?
Para mim, a questão resulta do sacrossanto Mercado, que valoriza e paga aos que produzem o que vende e gera (imensos) lucros, seja o espectáculo visto por milhões, seja a obra disputada pelos ricos e poderosos deste mundo.
E não vale a pena lamuriar-mo-nos: as coisas são como são, o Mundo é como é e cada um de nós tem de viver com estas realidades.
Que fazer, então? Resignarmo-nos? Não, simplesmente procurar entender as verdadeiras causas destas gritantes e injustas disparidades e cada um de nós fazer o que puder, ao seu nível, ao nível do meio em que se insere, para procurar que, pouco a pouco, sem "saltos mortais da História" (que normalmente dão mal resultado e partem uns pescoços...), esta realidade se vá alterando e que se dê valor não apenas ao que cada um pode vender gerando lucro, mas que se valorize, tout court, também, intrinsecamente, o trabalho e o esforço de cada um, tenha ou não " bom mercado" e, assim, a dignidade humana.
Mas, meus caros, que nunca nos preocupemos com aqueles que ganham muito! Esses, sorte deles!
Preocupemo-nos, isso sim, é com os que não ganham o suficiente!
A verdadeira Revolução que espero que um dia a Humanidade consiga fazer não é a que acabe com os ricos, antes a que acabe com os pobres!
Rui Bandeira
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