12 junho 2017

As Lojas e a Grande Loja: conceção basista - e sua crítica


Em 24 de junho de 1717, quatro Lojas maçónicas londrinas reunidas na taberna Goose and Gridiron decidiram associar-se numa Grande Loja e eleger um Grão-Mestre que a todos os seus obreiros representasse. Foi assim que, em síntese, James Anderson registou o nascimento da primeira Grande Loja macónica, hoje normalmente designada por Premier Grand Lodge. Este é o facto que se convencionou constituir o nascimento da Maçonaria Especulativa.

Foram quatro Lojas que se associaram e decidiram constituir uma Grande Loja. Foram essas quatro Lojas e os seus respetivos obreiros que decidiram eleger um Grão-Mestre. São as Lojas que dão origem às Grandes Lojas. São os maçons que escolhem o Grão-Mestre. Esta inegável verificação constitui a base fundamentadora da conceção basista do relacionamento entre as Lojas e as respetivas estruturas agregadoras (Grandes Lojas ou Grandes Orientes).

Para esta conceção basista, a origem do poder está nas Lojas e nos respetivos obreiros, tanto assim que são as Lojas quem cria as Grandes Lojas e os obreiros quem elege o Grão-Mestre, diretamente ou por representação das respetivas Lojas, consoante os sistemas de eleição do Grão-Mestre em vigor em cada Obediência maçónica. Em consequência, a Grande Loja só exerce as competências que lhe são delegadas pelas Lojas e o Grão-Mestre exerce apenas o poder que lhe é delegado pelos seus eleitores. O essencial da Maçonaria está nas Lojas. As Grandes Lojas são meras estruturas administrativas e de coordenação. Mas a prevalência está nas Lojas. Estas é que mandam na Grande Loja. Não o inverso.

Sendo histórica e iniciaticamente correto afirmar-se que são as Lojas que originam a Grande Loja e não o inverso, sendo inquestionável que a legitimidade dos Grão-Mestres assenta na sua eleição pelos Mestres de toda a Obediência, no entanto a adoção pura e dura desta conceção basista da subordinação das Grandes Lojas às Lojas não é razoável e conduz a resultados perversos. Como em tudo na vida, a absolutização desta conceção é perniciosa e - goste-se ou não - não espelha a realidade. Não se trata de conflito entre o que deve ser e o que é. Trata-se do respeito da natureza, do lugar e das tarefas que devem ser assumidas por uma e outra estruturas. 

Absolutizar a conceção basistas do relacionamento entre as Lojas e a Grande Loja conduz, por exemplo, à aceitação, quiçá promoção, da existência de Lojas selvagens. Se a legitimidade reside absolutamente na Loja, então esta pode, a todo o tempo, decidir desligar-se da Grande Loja e atuar por si só, em absoluta independência. No entanto, sabemos que - particularmente na Maçonaria regular - tal não é, hoje em dia, considerado aceitável.

Ao constituir uma Grande Loja, ao integrar uma Grande Loja ou ao criar-se no âmbito de uma Grande Loja, a Loja maçónica procede à tal delegação de competências suas na Grande Loja, mas simultaneamente renuncia ao direito de retirar as competências delegadas. As competências essenciais de regulação, de coordenação, de representação, de ordenação, que as Lojas delegam na respetiva Grande Loja ou no respetivo Grande Oriente, uma vez atribuídas não são retiráveis. 

Com a constituição de uma Grande Loja fez-se nascer uma nova entidade. Entidade detentora de direitos, obrigações, atribuições e competências que, uma vez originariamente nela objeto de delegação, quem assim delegou não tem já o direito de retirar.

Pelo facto de a Loja constituir, aderir ou criar-se no âmbito de uma Grande Loja, automaticamente renunciou à absolutização do seu poder, pois decidiu partilhá-lo com a estrutura que criou, a que aderiu ou em cujo âmbito se criou.

Assim, reconhecendo-se a natureza originária do poder residindo nas Lojas, não é, porém, correta a conceção basista do relacionamento entre as Lojas e a respetiva Grande Loja ou o respetivo Grande Oriente. A natureza da criação, existência e relacionamento de ambas as estruturas irrecusavelmente fez nascer uma mútua obrigação inderrogável de partilha de atribuições e competências. 

Na definição, fixação e medida dessa partilha é obviamente importante o reconhecimento de que a origem está na Loja, que a legitimidade assenta na escolha dos obreiros. Mas tal reconhecimento não admite a absolutização ou, sequer, uma insensata prevalência de um basismo, que seria inconsequente, inoportuno e, afinal, contrário aos interesses das Lojas e dos respetivos obreiros.

A pura e dura conceção basista do relacionamento das Lojas e da Grande Loja não é, assim, o entendimento acertado. No próximo texto, procurarei expor - e igualmente criticar - a conceção inversa.

Rui Bandeira 

05 junho 2017

O Venerável Mestre, o Grão-Mestre e os obreiros da Loja


O meu último texto, que intitulei A aventalite, mereceu vários comentários, quer neste blogue, quem numa rede social onde o mesmo foi publicado. Um dos comentadores fez uma afirmação que merece nela nos detenhamos. Rezava esse comentário, na parte que aqui interessa:

"(O Venerável Mestre) como todos sabemos e conhecemos pelo Regulamento Geral, é o único representante em Loja do Muito Respeitável Grão-Mestre."

Factualmente, e no que respeita à GLLP/GLRP, este comentador tem toda a razão no que afirma. O art. 64.º, n.º 3, do Regulamento Geral da GLLP/GLRP dispõe expressamente:

"O Venerável Mestre em Loja representa o Grão-Mestre."

Norma vigente é norma para ser respeitada - e ponto final! Mas tal não implica que não se possa - em bom rigor, mesmo, não se deva! - analisar a pertinência de uma norma, na perspetiva do aperfeiçoamento futuro da regulamentação. 

Do meu ponto de vista, esta norma vigora e, enquanto vigorar deve ser respeitada, mas será conveniente que, com calma e na altura própria, se analise se a mesma deve manter-se, no seu preciso teor.

É que, sendo norma em vigor (na GLLP/GLRP) que, em Loja, o Venerável Mestre representa o Muito Respeitável Grão-Mestre, uma serena análise permite-nos concluir que, na natureza da Maçonaria, não é isso que sucede, ou deve suceder. Eu diria até que... pelo contrário! Quem representa o titular de uma função? Naturalmente, que representa quem o designa ou escolhe para essa função!

Ora, o Venerável Mestre de uma Loja maçónica - excetuadas as situações, atípicas, de designação pelo Grão-Mestre até à realização, em prazo que não deverá exceder 180 dias, de eleição para o ofício, designadamente quando uma Loja levanta colunas e está em início de trabalhos ou quando atravessa uma crise que impõe a intervenção administrativa da Grande Loja - é eleito pelos obreiros da Loja! Portanto, em bom rigor, o Venerável Mestre só quando é designado, transitoriamente, pelo Grão-Mestre é que o representa. Só nestas particulares e excecionais circunstâncias, em que, seja no início da atividade da Loja, seja em face de circunstâncias anormais, o Grão-Mestre necessita de transitoriamente intervir na Loja e designar um seu responsável até à normalização da escolha por via de eleição pelos obreiros da mesma, é que se pode dizer que é natureza das coisas que o Venerável Mestre designado representa o Grão-Mestre.

E representa-o então, por natureza, apenas e tão só porque não dispõe de legitimidade conferida pelos seus pares e, portanto, necessita de exercer o seu múnus (transitório, repete-se) beneficiando da legitimidade do Grão-Mestre.

Mas, em situação normal, o Venerável Mestre em funções exerce as mesmas porque foi eleito pelos obreiros da sua Loja para assegurar esse exercício. Exerce, portanto, o seu ofício, em representação dos obreiros da sua Loja, que o elegeram para tal. Em exercício normal de funções, o Venerável Mestre da Loja não tem a sua legitimidade por designação do Grão-Mestre, obtém-na por manifestação da vontade coletiva dos obreiros da sua Loja. E, portanto, é a estes que representa.

Uma afirmação descritiva da Maçonaria de que gosto muito, e que frequentemente utilizo, é a que reza que Maçonaria é um maçom livre numa Loja livre. É uma conceção da Maçonaria que preza e afirma o essencial da Maçonaria e da trilogia que tantas vezes, e orgulhosamente, proclamamos: Liberdade - Igualdade - Fraternidade.

O maçom livre junta-se a outros maçons, também livres e, em conjunto, formam uma Loja livre. Livremente a formam e nela atuam. As limitações à liberdade de cada um são por eles fixadas e assumidas e aceites, em ordem à serena e cabal organização, decisão e atuação coletiva. No seio da Loja que todos livremente formaram ou a que livremente aderiram, todos têm um estatuto de perfeita Igualdade. E a sua atuação pauta-se pela indispensável Fraternidade. Quando isto está reunido, faz-se Maçonaria. E a lideraqnça que em cada momento é exercida resulta da Liberdade de todos, da Igualdade de todos, da escolha efetuada por todos em perfeita Fraternidade. O líder, o Venerável Mestre, no exercício normal de funções recebe a sua legitimidade de quem o elegeu e a quem, assim, representa.

Portanto, em bom rigor, a natureza das coisas é que, apesar de estar escrito em regulamento que em Loja o Venerável Mestre representa o Grão-Mestre, na realidade o Venerável Mestre representa os obreiros da sua Loja, designadamente perante o Grão-Mestre.

Porque existe então a mencionada norma regulamentar? Porque, tal como os maçons sabem que não são perfeitos e necessitam continuamente de se aperfeiçoar, também as suas obras, e escolhas, necessitam de constante aperfeiçoamento. Esta norma em concreto é um resquício de uma dada conceção de Grande Loja, que não é a única e que compete com outra conceção de Grande Loja. O regulamento da GLLP/GLRP, tal como - não tenhamos dúvidas! - os regulamentos de outras Obediências maçónicas, é o resultado de compromisso, balanço, evolução, equilíbrio entre duas conceções de Grande Loja ou Grande Oriente, uma mais centralizadora que outra.

Mas isso será tema para esmiuçar em mais um par de textos que hão de vir!

Rui Bandeira  

29 maio 2017

O Painel de Aprendiz

Tal como está no nosso ritual na página 15, vamos aborda-lo de baixo para cima e da esquerda para a direita
1.    Piso branco e preto
O pavimento, alternadamente em preto e branco, simboliza, os Princípios de Bem e do Mal, simboliza a guerra entre Miguel e Satanás, dos Deuses e Titãs, entre a luz e a sombra, dia e noite, da Liberdade e Despotismo;
O que é bom para mim pode ser mau para ti.
Neste Grau de Aprendiz, o pavimento mosaico representa o piso térreo do Templo do Rei Salomão.

2.   As Colunas, os 3 degraus e as Romãs
O local de reunião de uma Loja maçónica tem por entrada um espaço delimitado por duas colunas. Estas evocam as duas colunas que existiam no átrio do Templo de Salomão, descritas na Bíblia no 1.º Livro dos Reis, capítulo 7, versículos 15-22:

As Colunas “B” e “J”, estão presentes em todos os templos maçônicos e sua posição varia conforme o Rito.
Nos Ritos: Escocês, York, Schroeder, a Coluna “B” fica à esquerda e a “J” à direita. Nos Ritos: Francês e Adonhiramita as posições são invertidas.

Os Três Degraus antes do Pórtico, representam a idade do Aprendiz, correspondente ao tempo que os Maçons Operativos necessitavam para serem elevados ao Grau de Companheiro.

Somente após vencer os Três Degraus, isto é, o tempo de permanência no 1º Grau, é que o Aprendiz atingia o pórtico e entrava na obra que se estava construindo.

As romãs semiabertas nos capitéis das colunas, divididas internamente por compartimentos cheios de considerável número de sementes, sistematicamente dispostas e intimamente unidas, lembram a fraternidade que deve haver entre todos os homens e, sobretudo entre os Maçons.
As romãs representam assim, a família maçónica universal, cujos membros estão ligados harmonicamente pelo espírito da ordem e da fraternidade.

3.   O Nível
Sob o ponto de vista operativo, com o Nível é possível verificar, se uma superfície está livre de arestas, pois, a planificação do alicerce de uma obra é fundamental para sua correta sustentação

É a joia simbólica do 1º Vigilante, sendo aquele que em Loja, promove o igual tratamento, não se reconhecendo as distinções existentes no mundo profano. O Nível é o símbolo da igualdade, da igualdade fraterna, com que todos os maçons se reconhecem.

4.   Régua 24 polegadas
A régua, por excelência, é um instrumento de medida. Através dela é possível obter a informação sobre a longitude de uma dimensão espacial.
O número 24, associado à régua, é primeiramente referido às horas do dia. Em número de 24, divididas em três períodos iguais de oito horas, sugere que o homem deve ocupar com equilíbrio o seu dia em descanso, trabalho, e a serviço do seu Deus ou de um irmão necessitado.
A lição que o Aprendiz deve obter da régua de 24 polegadas é da proporcionalidade e retidão com que deve ocupar o seu tempo

5.   Maço e Cinzel
O Maço é a energia, a contundência, a força e a decisão necessárias para que o Aprendiz progrida no seu trabalho, não esmorecendo ao primeiro revés.
Quando utilizado de forma desordenada, o maço pode-se transformar numa poderosa ferramenta de destruição, porém, o seu uso disciplinado torna-o  num instrumento indispensável.

O Cinzel simboliza a inteligência que o Maçom deve empreender para desbastar a Pedra Bruta.
É um instrumento utilizado para trabalhos que exijam apuro e precisão, formado por uma haste de metal em que um de seus lados é perfuro-cortante e o outro apresenta uma cabeça chata onde recebe o impacto do Maço, dirigindo a força daquele de forma útil.

A associação do Maço com o Cinzel mostra-nos que a vontade e a inteligência, a força e o talento, a ciência e a arte, a força física e a força intelectual, quando aplicadas em doses certas, permitem que a Pedra Bruta se transforme em Pedra Cúbica

6.   Pedra Bruta / Pedra Cúbica Piramidal
A Pedra Bruta simboliza o Aprendiz, que nela vai trabalhar, desbastando e marcando-a, até que seja julgada polida pelo Venerável Mestre.
Ela representa o homem na sua infância ou estado primitivo, sem instrução, áspero e despolido, com as paixões a dominarem a razão e o que nesse estado se conserva até que, pela instrução maçónica, pelo estudo adquira instrução superior.

7.   A Lua, o Sol e as estrelas
Decoram o templo simbolizando o universo e os atros que iluminam a abóbada celeste.
O Sol, e a Lua representam o antagonismo da natureza, o dia e noite, a afirmação e a negação, o claro e o escuro, que, contraditoriamente, gera o equilíbrio, pela conciliação dos contrários.
As diversas Estrelas distribuídas irregularmente no Painel do 1º Grau do Rito Escocês Antigo e Aceite simbolizam a universalidade da Maçonaria e lembra que os Maçons, espalhados por todos os continentes, devem, como construtores sociais, distribuir a luz dos seus conhecimentos a todos os que ainda estão cegos e privados do conhecimento da verdade.

8.   Olho que tudo vê
Os cristãos chamam-no de Olho da Providência e o representam-no dentro do triângulo que representa a Santíssima Trindade - Pai, Filho e Espírito Santo. Para os cristãos esse símbolo representa a onisciência e a onipresença de Deus.
Este símbolo para nós maçons, alude ao “Grande Arquiteto” que observa e acompanha as ações dos membros da Ordem, com o intuito de que todos ajam de forma correta

9.   Esquadro e compasso
O Esquadro como joia do Venerável Mestre, indica que ele deve ser o Maçom mais reto e mais justo da loja, servindo como paradigma para todos os obreiros.
É símbolo da retidão, da moralidade, pois que conjuga, por sua forma, o Nível e o Prumo.
Enquanto a linha horizontal do Esquadro representa a trajetória a ser percorrida na terra, o determinismo, o destino, a vertical indica o caminho para cima, dirigindo-se ao cosmo, ao Grande Arquiteto do Universo

O compasso simboliza a vida correta, pautada pelos limites da Ética e da Moral. Ou ainda o equilíbrio. Ou a também a Justiça. Porque o compasso serve para traçar circunferência, delimitando um espaço interior de tudo o que fica do exterior dela, assim se transpõe para a noção de que a vida correta é a que se processa dentro do limite fixado pela Ética e pela Moral

A conjugação destes dois símbolos constitui provavelmente o símbolo mais conhecido da Maçonaria através de um esquadro, com as pontas viradas para cima, e um compasso, com as pontas viradas para baixo.

10. 3 Janelas
Representam as 3 portas do reino de Salomão

11.  Pedra Cúbica
A Pedra Cúbica representa o Companheiro. É o material perfeitamente trabalhado, de linhas e ângulos retos.
Simboliza o homem desbastado e polido de suas asperezas, educado e instruído, pronto para ocupar seu lugar na construção de um mundo melhor.

12. O Prumo
O Prumo permite aferir a retidão de uma parede quando está a ser construída, de forma a garantir sua estabilidade
Simbolicamente, o Prumo possibilita a verificação correta e fundamenta o correto crescimento intelectual do maçon, trazendo o conhecimento necessário que possibilitará a aplicação precisa da força através da razão.
É simbolicamente a joia do 2º Vigilante e deve ser usada para verificar qualquer inclinação, qualquer saída do Prumo, que possa acontecer durante a aprendizagem, corrigindo-a a tempo.

13. Corda de 81 nós
Tradicionalmente, na Maçonaria, os operativos empregavam cordas com nós amarrados a distâncias iguais, para efetuar medições das distâncias no canteiro de obras e esquadrejar grandes ângulos. Isso permitia-lhes traçar os planos de construção das obras que realizavam.
Este método é utilizado ainda hoje por mestres de obra, quando precisam achar o esquadro da fundação de uma obra.

As catedrais antigas eram orientadas de modo que seus eixos ficassem no sentido Oriente-Ocidente e os mestres de obras dominavam as regras da astronomia que lhes permitiam determinar com exatidão a orientação deste eixo. Uma estaca era fincada no terreno, sobre este eixo, no ponto indicado pela seta da figura em baixo




Considerando o Teorema de Pitágoras, onde o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos temos:
 Hipotenusa = 5 segmentos ou  5×5=25
Cateto menor = 3 segmentos ou 3×3=9
Cateto maior = 4 segmentos ou 4×4=16
Considerando a fórmula de Pitágoras, o quadrado da hipotenusa é igual à soma do quadrado dos catetos, temos:
25 = 9+16 e isso assegura que o ângulo tenha exatamente 90º.
Imaginemos que fossem construir uma grande catedral. Precisavam de algo mais que um metro para medir as grandes distâncias e assim utilizavam as cordas com nós atados a distâncias regulares e estacas, de acordo com a escala utilizada.

14. O Alfabeto Maçónico



Fontes:

RPGF








22 maio 2017

A aventalite


A aventalite é uma afeção que assola alguns maçons, geralmente de forma aguda, passageira e facilmente curável, mas podendo evoluir para uma forma crónica, essa necessariamente mais séria e com um tratamento mais demorado e cura mais problemática.

Manifesta-se por uma despropositada inflação do ego, injustificada sensação de superioridade, perturbador sentimento de poder e, nos casos menos ligeiros, inadequado comportamento em relação aos seus iguais, vistos pelo afetado como inferiores ou subordinados, por não usarem aventais XPTO.

A aventalite é suscetível de atacar Grandes Oficiais e dignitários de Altos Graus, independentemente da Obediência, seja Grande Loja ou Grande Oriente, assuma orientação mais anglo-saxónica ou mais francesa, e pode atacar tanto homens como mulheres, embora empiricamente pareça ser mais frequente naqueles.  

O tratamento da sua forma aguda é fácil e geralmente eficaz, se aplicado na fase inicial da doença. Consiste numa severa e sonora censura, com solene declaração de que se não tem paciência para aturar maneirices de armados em mete-nojo, acompanhada de expressa chamada de atenção para a Igualdade que obrigatoriamente reina entre os maçons e uma injeção de recordatória de que o exercício de ofícios em Grande Loja ou Grande Oriente ou funções em Altos Graus são meros serviços, tarefas, ofícios a serem desempenhados com zelo e humildade e não honrarias ou reconhecimentos de inexistentes superioridades.

Nos casos mais graves, pode ser necessário um reforço de tratamento com recurso a expressões vernáculas, envios para determinados sítios não propriamente prestigiados  e solenes avisos de que, ou o afetado atina e deixa de se continuar a armar ao pingarelho, ou é melhor continuar a enganar-se dando voltas ao bilhar grande, que junto dos seus iguais (quer ele queira, quer não) não vai ter grande sorte.

Nas formas mais leves da afeção, e sobretudo quando o doente é de boa índole, o tratamento mais suave chega para debelar a afeção, sem sequelas. Podem, no entanto, ocasionalmente observar-se recaídas, em regra facilmente tratáveis com uma observação chocarreira e bem-humorada, como, por exemplo, Lá estás tu outra vez a deixar o aventaleco janota subir-te à cabeça. Deixa-o lá sossegadimho e não te estiques, que és melhor que isso...

Nas formas mais severas, afeção prolongada ou doentes com obtusidade cerebral, é indispensável o tratamento reforçado, repetido as vezes que forem necessários até o doente ir ao sítio. No entanto, quer a índole mais difícil do doente, quer a maior agressividade do tratamento podem dar origem a efeitos secundários ou sequelas desagradáveis, designadamente amuos e afastamentos. Nas situações verdadeiramente graves e reincidentes pode mesmo ser necessário aplicar quarentena.

A aventalite é uma afeção oportunista que se manifesta com mais frequência em ambientes poluídos por regras, expressas, implícitas ou consuetudinais, que favoreçam, ou mesmo imponham, o uso com demasiada frequência e em locais inapropriados de aventais XPTO. O oportunismo da aventalite aproveita qualquer desatenção que permita ou propicie o uso desadequado e fora do seu ambiente próprio dos ditos aventais XPTO.

Para além do tratamento dos casos concretos dos afetados pela doença, é importante que se faça adequada prevenção, para evitar novas infeções, recidivas e recaídas.

Recomenda-se assim revisão das normas regulamentares e das práticas que não limitem o uso dos aventais XPTO aos locais e ocasiões adequados. Designadamente, é de toda a conveniência que se tenha presente que, na sua Loja, o obreiro é um elemento do Quadro desta, absolutamente igual aos demais, nem mais, nem menos que qualquer dos outros e, que, consequentemente, fique inquestionavelmente assente que nenhum obreiro, na sua Loja, usa avental XPTO, antes devendo usar o avental do seu grau e, se for caso disso, a insígnia da sua qualidade na Loja, sendo absolutamente indiferente posição ou ofício que porventura tenha na Grande Loja, Grande Oriente ou nos Altos Graus. A Loja é independente e livre e em nada inferior à Grande Loja ou Grande Oriente (pelo contrário, é a Loja que, juntamente com as outras, determina a regulamentação essencial da Grande Loja ou Grande Oriente e elege o seu responsável máximo). Esta regra deve ter como única exceção - certamente ocasional - a situação em que o obreiro se apresente na Loja, não na sua qualidade de obreiro dela, mas no efetivo exercício da sua função de Grande Oficial ou em representação expressa do Grão-Mestre. 

Este princípio deve ser extensivo à visita a outras Lojas. Se o obreiro faz visita a título pessoal, não faz sentido, e propicia a aventalite, que use outro avental que não o do seu grau. Se a deslocação, porém, se fizer no exercício das suas funções de Grande Oficial ou em representação do Grão-Mestre, então, e só então, justifica-se que use o seu avental XPTO.

Claro que, em Assembleias de Grande Loja ou Grande Oriente, aí sim, está-se em pleno espaço e tempo em que é justificado e adequado o uso de aventais XPTO. Aí e nessas ocasiões, não há qualquer inconveniente. Trata-se de um uso moderado e adequado de avental XPTO, que, por regra, não propicia nem aumenta o risco de contágio pela irritante aventalite.

A bem da saúde dos maçons, exorto a que esta atividade de prevenção seja feita. É saudável. é amiga do ambiente e, sobretudo, é... maçónica!

Rui Bandeira  

14 maio 2017

“Chegadas e Partidas…”

Este é o último texto que irei partilhar com os nossos leitores nos próximos tempos…

Serão dias, semanas, meses ou quiçá anos, somente o GADU o decidirá.

A Maçonaria faz-se de chegadas e de partidas, tudo tem um tempo, um tempo próprio para fazer, seja ritual ou não. A própria evolução do Homem é temporal, sem Tempo ela não se cumpre.

E no meu caso pessoal o meu tempo foi este!

Já alguém dizia que “Tempus Fugit” e é verdade, ele passa sem darmos-nos conta da sua passagem. Passaram, sensivelmente, cerca de 2 anos e oito meses que iniciei aqui o meu percurso como membro do painel de autores neste blogue,  tendo saído da minha caneta cerca de 50 textos e republicado cerca de 25 outros tantos textos de autores membros do painel deste blogue.

Sempre fiz esse trabalho de escrita com a motivação da partilha de “saberes” que eu poderia deter e fí-lo despretensiosamente e despreocupadamente, ou seja, fí-lo porque senti que era meu dever o fazer… Maçonaria também é isto: trabalhar, ensinar, partilhar…

Por isso mesmo é com a tranquila consciência com que parto, pois tudo fiz sem nada pretender em troca, nem vãs glórias ou “metais”; e é isso que motiva o Nuno Raimundo nesta sua caminhada…  
Apenas o labor constante me impele a ir mais longe e simplesmente isso, nada mais...

Certamente que alguns  leitores ficaram mais próximos de mim, do meu pensamento maçónico, através da leitura das publicações que eu ia fazendo, certamente também passaram – se o desejaram fazer! - a ter outra imagem do que a Maçonaria é e trata. Pouco mais posso eu fazer neste momento para lhes demonstrar o que ela é na realidade a não ser através da minha acção pessoal na sociedade, sendo que tal é feito pela minha conduta e forma de estar e no relacionamento com os demais.

Cheguei  e agora parto, e posso afirmar que a minha permanência durante este tempo por aqui  foi um  processo árduo, de busca, procura de conhecimento, estudo, pois o que me esperava não era uma tarefa fácil mas antes uma demanda difícil, até porque tinha a consciência – e ainda a tenho ! - de que a fasquia era elevada tal a qualidade dos meus pares e do próprio blogue em si. E por isso tinha a verdadeira noção de que não poderia executar nada que fosse abaixo do “bom”. A própria Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues nº5 assim o exige aos seus membros!

Honestamente não sei se assim o foi… Mas quero assumir e vos dizer que também que o que fiz e que neste espaço partilhei tiveram sempre razão de o ser e sempre considerado, por mim, como uma mais valia para o conhecimento dos demais. Espero não ter falhado com tal propósito.

Agora é tempo de me ir… A mudança, a evolução, tem destas coisas e tal não (me) é indiferente.
Irei fazer parte do Quadro de Obreiros de outra Respeitável Loja e dessa forma não poderei, para já, continuar a colaborar neste espaço.
Mas deixar de escrever não significa abandono. Irei continuar a ler, a participar como comentador; apenas não estarei ao lado de quem “escreve” mas antes no outro lado, ao Vosso lado, dos meus/nossos queridos leitores.

Muito Obrigado aos meus muito estimados Irmãos pelo tempo em que estive por aqui ao vosso lado e muito obrigado também aos nossos caríssimos leitores pelo tempo que disponibilizaram para ler e/ou comentar o que por mim foi traçado neste muito respeitável blogue.

Inté…

08 maio 2017

Da ilusória natureza do Poder em Maçonaria


Na Loja Mestre Affonso Domingues, fora de religião e política, tudo é suscetível de ser discutido e tudo se discute, por vezes acaloradamente. Mas, até hoje, há algo a que a Loja teve o bom-senso de nunca se sujeitar: uma pugna eleitoral. Na nossa Loja, desde há muito que é consensual que o Primeiro Vigilante de um ano é, no ano seguinte, o Venerável Mestre e o Segundo Vigilante de um ano será, no ano seguinte, Primeiro Vigilante e, no subsequente, Venerável Mestre. As exceções a esta regra consensual contam-se pelos dedos de uma mão e ainda sobram dedos (curiosamente, uma dessas exceções envolveu-me a mim, como já neste blogue referi, no texto A ultrapassagem).

Quando imponderáveis se atravessam e assim não pode ser feito, por impossibilidade de o Primeiro Vigilante assumir a função de Venerável Mestre (sucedeu tal, não há muito tempo, na Loja: o Primeiro Vigilante de um ano não pôde assumir no ano seguinte o ofício de Venerável Mestre, porque entretanto foi profissionalmente colocado no estrangeiro), avança o Segundo Vigilante para o ofício.

Até hoje, não ocorreu situação de ambos os Vigilantes não poderem ou não quererem, em simultâneo, assumir o ofício de Venerável Mestre. Mas, se porventura tal ocorrer, não seremos apanhados de surpresa... A maneira de resolver esse imprevisto já tem sido conversada, pela melhor forma de o fazer: pensar em abstrato, sem o constrangimento de uma situação concreta. Nessa situação, existe um constrangimento regulamentar: só pode exercer o ofício de Venerável Mestre quem tenha previamente assegurado o exercício de, pelo menos, um dos ofícios de Vigilante. Como os Vigilantes naturalmente em seguida exercem o ofício de Venerável Mestre, só muito excecionalmente haverá um obreiro da Loja que tenha exercido o ofício de Vigilante e não tenha já passado pela Cadeira de Salomão (como será o caso, quando regressar do estrangeiro, do Irmão que, tendo sido Primeiro Vigilante, não pôde assumir o ofício de Venerável Mestre). Se essa exceção ocorrer e o obreiro estiver disponível para o ofício, deverá ser-lhe dada prioridade, evitando repetição de Venerável Mestre. Quando essa exceção não ocorrer, avança um dos Antigos Veneráveis. Qual? O mais antigo que tiver disponibilidade para tal.

Em suma, haverá sempre uma solução!

O que importa sublinhar é que, na nossa Loja, até agora não houve, e estamos determinados a que não haja, lutas eleitorais. Porque dividem, porque deixam sequelas entre Irmãos e, acima de tudo, porque tais lutas eleitorais contrariam a natureza do Poder em Maçonaria.

Com efeito, bem vistas as coisas, em Maçonaria o Poder é meramente ilusório. A Maçonaria é uma instituição assente completa e absolutamente na disponibilidade VOLUNTÁRIA dos seus membros. Adere à Maçonaria quem manifestar vontade nisso e for admitido. O Mestre Maçom integra a Loja em que voluntariamente se decide integrar, sendo cada um livre de, a qualquer momento, mudar de Loja. Apenas se faz o que cada um voluntariamente entender dever fazer. Se é certo que existe o dever de não violar decisão do Venerável Mestre da Loja, não é menos certo que nada obriga ao cumnprimento dessa decisão, se o obreiro entender não o fazer. Dito por outras palavras: o obreiro tem o dever de não obstaculizar, não contrariar, decisão do Venerável Mestre, mas tem o direito de não a executar, se com ela não concordar. Porque a Maçonaria assenta na Liberdade individual e em caso algum pode violar a consciência individual de um dos seus obreiros.

Assim sendo, é corolário evidente que, não podendo nenhum obreiro ser obrigado a executar decisão do Venerável Mestre com que não concorde, o Poder do Venerável Mestre é meramente ilusório, só tornando efetivas e eficazes as suas decisões, na medida em que as mesmas mereçam a concordância de um número significativo de obreiros.

E há também um segundo corolário a ter em atenção. Porque assim é, porque o Poder do Venerável Mestre assenta na aceitação, na concordância, em relação a cada uma das suas decisões, são indiferentes eventual unanimidade que porventura haja na eleição do Venerável Mestre ou eventual existência de bolsa de descontentamento ou desconfiança em relação a um Venerável Mestre que esteja na altura de assumir o ofício. Em Maçonaria, não há "estado de graça", nem "primeiros cem dias". Isso são conceitos profanos e modas passageiras. A valia de um Venerável Mestre não se afere pelos apoios, loas ou críticas que tenha à partida. Resulta dos juízos que sobre a sua atuação forem feitos no final do seu mandato, quando tiver concluído a sua tarefa. Porque, em bom rigor, os apoios existem - ou não - em relação a cada uma das suas medidas, a cada uma das suas decisões, a cada uma das suas escolhas. Estas - as medidas, as decisões e as escolhas - é que importam e estas é que permitirão, no final, avaliar o valor do mandato de quem as tomou.

É assim estulto reunir aparatosos apoios antes de iniciar o mandato ou temer eventuais discordâncias antes de se saber que concretas decisões se toma. Tão injustificada é a vã confiança do que porventura se sinta levado em ombros para a Cadeira de Salomão, como o temor do que porventura preveja vir a ter discordantes de si. 

Em Maçonaria, o único verdadeiro Poder é o da Persuasão!

Rui Bandeira

01 maio 2017

Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues, n.º 5


Cada Loja é um mundo particular. No que tem de bom e no que que tem de menos interessante. A Loja Mestre Affonso Domingues não foge à regra. Uma das suas características é que no seu seio tudo (tudo não: religião e política estão excluídas) pode ser debatido. E o nosso conceito de debate inclui, naturalmente, a livre expressão da opinião de cada um de nós de forma franca, aberta e cara-a-cara. O que cada um acha que tem de ser dito, diz. Se se exceder, é chamado à pedra e dá as suas explicações e, se necessário apresenta o seu pedido de desculpas. Mas disse, não guardou dentro de si. 

Claro que quem diz sujeita-se a ouvir... Entre nós, portanto, ninguém engana ninguém. Todos dizem o que pensam, ouvem o que têm que ouvir, toda a gente fica a perceber as posições, as razões, os sentimentos, os estados de alma de cada um. E depois chega-se coletivamente a uma conclusão.

Quando há que debater, debate-se. Estejamos sós ou tenhamos visitantes connosco. Às vezes, surprendemos alguma surpresa nos olhos de visitantes... Somos assim, sentimo-nos confortáveis assim, não há razão para escondermos como somos... Poderemos ser acusados de muita coisa. De hipocrisia é que, com justiça, não!

Mas o mesmo visitantre que porventura arregale os ohos ao assistir aos debates entre nós, se (ou quando) nos conhecer bem também percebe outra coisa. Podemos debater, podemos confrontar-nos, podemos resmungar, mas, se alguém de fora tentar pisar os calos a um de nós tem de se haver com todos, juntos e sem fissuras. 

Nós debatemos este mundo e o outro. Às vezes, discutimos, resmungamos, desabafamos e atiramos argumentos como petardos. Mas fazemo-lo assim porque podemos. Porque os nosso debates, as nossas querelas, têm subjacente que todos somos irmãos e todos somos iguais. Como os irmãos de sangue, podemos ter brigas sérias, ultrapassadas e esquecidas trinta segundos depois. Porque todos somos iguais e nos consideramos e tratamos efetivamente como irmãos é que podemos esgrimir argumentos como punhais, sem receio de criar situações inultrapassáveis. Falamos francamente - e, por vezes, com dureza - porque reconhecemos aos nossos iguais e irmãos o direito de falarem connosco com igual franqueza e, por vezes, dureza. No final, podemos não concordar todos com tudo (que aborrecimento de Loja que seria...), mas todos ouvimos todos, todos podemos perceber as razões, as motivações, as preocupações, dos outros. Todos nos abrimos perante os demais. Compreendemos os demais e demo-nos a compreender aos demais. 

E depois, plácida e naturalmente, formamos a nossa Cadeia de União. E não é nada raro, nem incomum, nem motivo de qualquer espanto, que dois manos que minutos antes bravamente se digladiaram estejam lado a lado dando-se as mãos nessa Cadeia de União e, juntos, participem no momento de reflexão e comunhão coletiva.

E também não é nada raro que, no pico de uma acesa troca de argumentos, alguém largue uma piada e todos - trocadores de argumentos incluídos - se unam em saudável gargalhada, prosseguindo-se depois o debate, com naturalidade e á-vontade.

Finda a sessão de Loja, vamos todos jantar. E todos estão lado-a-lado e frente-a-frente, descontraídos e confiantes uns nos outros. Por vezes - tantas vezes! - os mesmos que se atiraram antes argumentos e contra-argumentos ali, à mesa, combinam estratégios, acertam soluções, para, em conjunto, conseguirem ultrapassar qualquer problema, resolver uma questão, intervir ajudando um irmão, o que quer que seja.

Na nossa Mestre Affonso Domingues, nós não discutimos: afinamo-nos mutuamente; não nos digladiamos: damos e recebemos incentivos para sermos, nós e os outros, melhores. Afinal, não fazemos nada de mais: é assim que os irmãos se comportam enre si...

Às vezes fazemos coisas boas. Às vezes estamos de pousio. Mas todos juntos! Os últimos quatro ou cinco anos foram duros e difíceis para a sociedade portuguesa. Foram duros e difíceis para alguns de nós. A Loja inevitavelmente que sentiu essas dificuldades. Muito teve de se aguentar. Algo teve de se providenciar. Não fizemos sempre tudo certo. Tomaram-se decisões com que nem todos concordaram. Mas agora cá estamos para prosseguir e iniciar novo ciclo. Crendo que o pior já passou. Mais bem preparados, porque atravessámos tempos difíceis juntos e juntos seguimos para o que esparamos sejam épocas melhores.

Por isso, se um dia destes alguém nos visitar e deparar com o nosso à-vontade em, sem pudores, debatermos algo, não se admire, nem se inquiete. Há muito que procedemos assim. Afinal, é assim que as famílias procedem. Afinal só quem for filho único é que não experimentou as brigas de irmãos, tão ferozes como espetacular tempestade, mas afinal tão inócuas que permitem que, momentos depois, se brinque, se galhofe, se conviva, se construa o essencial comum sem problemas com circunstanciais desacordos.

A Loja Mestre Affonso Domingues é, afinal, uma grande família, já com mais de 25 anos de história familiar. Onde cada um pode ser, e é, ele próprio e é assim aceite e respeitado. E aceita e respeita os demais. Mais picardia, menos resmungo, isso são detalhes, meras estratégias para da individualidade de cada um construirmos e mantermos a identidade comum de todos.

É das diferenças entre nós que se cimenta a nossa Força coletiva!

É por isso que, com a nossa indisciplina, com os nossos acordos e desacordos, debates e confrontos, cooperações e realizações, todos estamos orgulhosamente conscientes de uma coisa: pode ser que seja só para nós - mas, para nós, a nossa Mestre Affonso Domingues é a melhor Loja do mundo - e arredores!

Rui Bandeira