A aventalite
A aventalite é uma afeção que assola alguns maçons, geralmente de forma aguda, passageira e facilmente curável, mas podendo evoluir para uma forma crónica, essa necessariamente mais séria e com um tratamento mais demorado e cura mais problemática.
Manifesta-se por uma despropositada inflação do ego, injustificada sensação de superioridade, perturbador sentimento de poder e, nos casos menos ligeiros, inadequado comportamento em relação aos seus iguais, vistos pelo afetado como inferiores ou subordinados, por não usarem aventais XPTO.
A aventalite é suscetível de atacar Grandes Oficiais e dignitários de Altos Graus, independentemente da Obediência, seja Grande Loja ou Grande Oriente, assuma orientação mais anglo-saxónica ou mais francesa, e pode atacar tanto homens como mulheres, embora empiricamente pareça ser mais frequente naqueles.
O tratamento da sua forma aguda é fácil e geralmente eficaz, se aplicado na fase inicial da doença. Consiste numa severa e sonora censura, com solene declaração de que se não tem paciência para aturar maneirices de armados em mete-nojo, acompanhada de expressa chamada de atenção para a Igualdade que obrigatoriamente reina entre os maçons e uma injeção de recordatória de que o exercício de ofícios em Grande Loja ou Grande Oriente ou funções em Altos Graus são meros serviços, tarefas, ofícios a serem desempenhados com zelo e humildade e não honrarias ou reconhecimentos de inexistentes superioridades.
Nos casos mais graves, pode ser necessário um reforço de tratamento com recurso a expressões vernáculas, envios para determinados sítios não propriamente prestigiados e solenes avisos de que, ou o afetado atina e deixa de se continuar a armar ao pingarelho, ou é melhor continuar a enganar-se dando voltas ao bilhar grande, que junto dos seus iguais (quer ele queira, quer não) não vai ter grande sorte.
Nas formas mais leves da afeção, e sobretudo quando o doente é de boa índole, o tratamento mais suave chega para debelar a afeção, sem sequelas. Podem, no entanto, ocasionalmente observar-se recaídas, em regra facilmente tratáveis com uma observação chocarreira e bem-humorada, como, por exemplo, Lá estás tu outra vez a deixar o aventaleco janota subir-te à cabeça. Deixa-o lá sossegadimho e não te estiques, que és melhor que isso...
Nas formas mais severas, afeção prolongada ou doentes com obtusidade cerebral, é indispensável o tratamento reforçado, repetido as vezes que forem necessários até o doente ir ao sítio. No entanto, quer a índole mais difícil do doente, quer a maior agressividade do tratamento podem dar origem a efeitos secundários ou sequelas desagradáveis, designadamente amuos e afastamentos. Nas situações verdadeiramente graves e reincidentes pode mesmo ser necessário aplicar quarentena.
A aventalite é uma afeção oportunista que se manifesta com mais frequência em ambientes poluídos por regras, expressas, implícitas ou consuetudinais, que favoreçam, ou mesmo imponham, o uso com demasiada frequência e em locais inapropriados de aventais XPTO. O oportunismo da aventalite aproveita qualquer desatenção que permita ou propicie o uso desadequado e fora do seu ambiente próprio dos ditos aventais XPTO.
Para além do tratamento dos casos concretos dos afetados pela doença, é importante que se faça adequada prevenção, para evitar novas infeções, recidivas e recaídas.
Recomenda-se assim revisão das normas regulamentares e das práticas que não limitem o uso dos aventais XPTO aos locais e ocasiões adequados. Designadamente, é de toda a conveniência que se tenha presente que, na sua Loja, o obreiro é um elemento do Quadro desta, absolutamente igual aos demais, nem mais, nem menos que qualquer dos outros e, que, consequentemente, fique inquestionavelmente assente que nenhum obreiro, na sua Loja, usa avental XPTO, antes devendo usar o avental do seu grau e, se for caso disso, a insígnia da sua qualidade na Loja, sendo absolutamente indiferente posição ou ofício que porventura tenha na Grande Loja, Grande Oriente ou nos Altos Graus. A Loja é independente e livre e em nada inferior à Grande Loja ou Grande Oriente (pelo contrário, é a Loja que, juntamente com as outras, determina a regulamentação essencial da Grande Loja ou Grande Oriente e elege o seu responsável máximo). Esta regra deve ter como única exceção - certamente ocasional - a situação em que o obreiro se apresente na Loja, não na sua qualidade de obreiro dela, mas no efetivo exercício da sua função de Grande Oficial ou em representação expressa do Grão-Mestre.
Este princípio deve ser extensivo à visita a outras Lojas. Se o obreiro faz visita a título pessoal, não faz sentido, e propicia a aventalite, que use outro avental que não o do seu grau. Se a deslocação, porém, se fizer no exercício das suas funções de Grande Oficial ou em representação do Grão-Mestre, então, e só então, justifica-se que use o seu avental XPTO.
Claro que, em Assembleias de Grande Loja ou Grande Oriente, aí sim, está-se em pleno espaço e tempo em que é justificado e adequado o uso de aventais XPTO. Aí e nessas ocasiões, não há qualquer inconveniente. Trata-se de um uso moderado e adequado de avental XPTO, que, por regra, não propicia nem aumenta o risco de contágio pela irritante aventalite.
A bem da saúde dos maçons, exorto a que esta atividade de prevenção seja feita. É saudável. é amiga do ambiente e, sobretudo, é... maçónica!
Rui Bandeira
6 comentários:
Ora aí está algo que considero como uma das maiores "doenças" que possam afligir a Maçonaria: a "aventalite".
Quando um maçom por envergar um avental bonito ou um colar muito pomposo, se considera acima daqueles que trajam um simples avental, algo "passa mal no reino da Dinamarca..."
Estará ele ao nível dos seus Irmãos, ou acima daqueles?
Será ele, com os seus graus e qualidades, mais que os outros?
Ou para se ser maçom, bastará que alguém o reconheça como tal, independentemente do cargo e funções que ocupe?
São reflexões que devem ser feitas...
TAF
Nada mais certeiro. É grave quando a "doença" leva a actuações menos conseguidas por parte de portadores do aventais XPTO, que na qualidade de Obreiros de determinada RRLL tentam impor as suas vontades ao próprio VM, o qual como todos sabemos e conhecemos pelo Regulamento Geral, é o único representante em Loja do Muito Respeitável Grão-Mestre.
Excelente artigo meu Ir.:, isso ocorre tanto em Portugal, quanto aqui no Brasil.
Tínhamos que descobrir uma vacina.
Grande Rui.
Esse avental só se deve usar em "Grande Loja", ou em representação da Grande Loja, (supostamente) com autorização do GM.
A GL só existe (em funcionamento) quando convocadas as lojas para o efeito. Fora disso a GL não existe. Todo o "trabalho" maçónico se realiza (e apenas) em cada uma das lojas.
O GM tem a prerrogativa de abrir uma loja, que funcionará com seus convidados, quando entender ... mas passado esse dia a sua loja fecha.
E mais não digo .... Os maçons, na sua loja, são obrigados a usar o avental que o rito determina.
A culpa é das bordadeiras... se não caprichassem tanto na arte dos aventais...
Em tempo, essa brincadeira relativa as bordadeiras foi escrita pelo Ir. Joaquim da Silva Pires, daqui do Brasil, em um de seus livros publicados.
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