06 setembro 2010

Uma loja maçónica não é uma tertúlia (II)



Dois grandes factores de distinção entre uma tertúlia e uma loja maçónica são o objetivo e forma da intervenção de cada um. Numa tertúlia as intervenções sucedem-se, e cada um vai tomando a palavra repetidamente tantas vezes quantas queira (ou lho permitam...), sucessivamente acrescentando ao que disse antes, refutando os argumentos deste ou daquele, e fortalecendo - ou alterando - a sua posição de cada vez que se dirige aos demais. Cada um vai tentando fazer prevalecer a sua posição através de argumentos e contra-argumentos ao que foi dito antes, esperando-se que, a partir de um certo ponto, se tenha atingido um equilíbrio em que já tudo foi dito e cada um (re)contruiu já a sua posição face ao assunto em debate.

Numa loja maçónica, porém, as coisas não poderiam ser mais diferentes. Começa por que, no que respeita cada assunto, cada um pode fazer apenas uma única intervenção - e só muito excecionalmente poderá fazer uma segunda, sempre muito curta, e apenas se absolutamente impreterível, como por exemplo para clarificar algo que não tenha sido dito da forma mais inteligível. Esta imposição obriga a que se tenha um cuidado multiplicado com aquilo que se diz, de forma a dizê-lo bem à primeira.

Há uma ordem estrita a ser seguida. Primeiro começa-se pelas colunas (do Norte e do Sul), para que os mestres maçons que aí se sentam possam, querendo, pedir a palavra. Depois de não haver mais pedidos de intervenção, os dois Vigilantes podem pedir a palavra para si mesmos, primeiro o 2º Vigilante e depois o 1º Vigilante. É então dada a indicação de que não há mais intervenções nas colunas, e esta passa ao Oriente, onde residem o Venerável Mestre, o Secretário, o Orador, o Ex-Venerável e eventuais visitas a quem tenha sido dada essa distinção. A palavra é dada, no Oriente, a quem quiser dela fazer uso, e o Venerável Mestre é o último a intervir. Caso esteja em causa uma decisão, esta poderá ser tomada pelo Venerável Mestre de imediato, ou este poderá consultar a Loja através de uma votação. De qualquer modo, a intervenção do Venerável Mestre deve ser sempre no sentido de procurar encontrar uma conclusão que seja harmoniosa para a loja, e com que a maioria se identifique.

Para além da forma, já exposta, há o objetivo. Idealmente, cada intervenção destinar-se-ia a que cada um, na medida em que considerasse ser isso útil, apresentasse a sua posição ou opinião a respeito do assunto em causa, e sem que o seu conteúdo fosse condicionado por ser a primeira ou a última intervenção a ser efetuada. O que se diz não deve ser dirigido a ninguém em particular, mas a toda a Loja, e não deveria sequer referir-se alguma intervenção anterior, mas apenas fazer-se referência ao tema que esteja em discussão. Não deve haver interpelações, refutações ou contraditório, uma vez que isso colocaria em desvantagem aquele que já fez a sua intervenção e não pode agora responder. Pretende-se, assim, que cada um possa dar a conhecer a sua posição, sem que tente impô-la aos demais, e sem que explicitamente contrarie alguma posição já exposta, e por outro lado que cada um tenha a oportunidade de ser confrontado com opiniões alheias - porventura distintas das suas - num tom e numa postura que não ameacem a posição com que cada um se identifica.

A Maçonaria cria, deste modo, um contexto que induz cada um a confrontar-se com opiniões e posições distintas da sua, num ambiente de boa fé, entre iguais, sem que ninguém possa impor a ninguém nenhuma obrigação, mas em que cada um possa, querendo, tomar para si as palavras do outro, seja como as recebeu seja na forma que as queira incorporar naquilo que constitui a sua identidade.

Por fim, é costume - se bem que não creia haver nenhuma regra escrita a esse respeito - serem públicos os louvores e privados os reparos. Quando um bom trabalho é apresentado, é frequente que, nas palavras proferidas por cada um, sejam manifestadas palavras públicas de louvor e de encorajamento. Quando, porém, foi dito algo passível de ser interpretado como menos bom ou menos correto, a correção fraterna - que raramente falha - surge quase sempre em voz baixa directamente ao ouvido do "prevaricador". A franqueza e honradez manifestadas, de mão dada com a genuína preocupação que os maçons têm uns com os outros, levam a que seja frequente surgirem amizades muito fortes entre irmãos da mesma loja - e mesmo entre irmãos de lojas diferentes. A este respeito não me sai da cabeça uma frase que li há tempos numa entrevista em que alguém dizia: «A maçonaria é a única organização em que se faz amigos de infância aos 40 anos». Não sei se é a única, mas que se faz, faz.

Paulo M.

P.S.: Devo recordar que a Loja Mestre Affonso Domingues está integrada numa Obediência Regular - a Grande Loja Legal de Portugal / GLRP, e que o que descrevi se aplica a esta. Noutras obediências far-se-á de forma distinta; um destes dias escreverei um texto sobre isso.

03 setembro 2010

Uma loja maçónica não é uma tertúlia (I)


«Tenho um grupo, que com as vicissitudes da vida se foi afastando, mas que durante uns bons 15 anos formou uma tertúlia que se encontrava quase todos os dias. Tivemos incontáveis debates e polémicas. Aprendemos todos muito uns com os outros. Hoje, ainda continuamos todos amigos. Não há necessidade de proibições no que toca a troca de ideias.» (Diogo, num comentário recente)

Este comentário explica, quase por si mesmo, porque é que uma Loja Maçónica não é - nem pode ser - uma tertúlia. Ora comecemos, como quem analisa, escrutina e disseca um texto numa aula de Português.

Ter um grupo «... que com as vicissitudes da vida se foi afastando...» é uma das coisas que se pretende evitar numa Loja. Pertencer a uma Loja é como que um casamento. Não é forçosamente para toda a vida, pode-se ter "outras" ao mesmo tempo (se bem que seja difícil de gerir) mas, mesmo quando isso acontece há sempre uma que é a "principal"; pode-se cortar os laços com essa, e ou arranjar outra "principal" ou mesmo passar a não ter nenhuma, mas ambas são situações dolorosas. Uma Loja é como que uma família. Uns nascem, outros morrem, mas a família é a mesma - se não se extinguir; numa Loja, são iniciados uns, adormecem ou partem para o Oriente Eterno outros, mas a Loja permanece - se não abater colunas. Há lojas várias vezes centenárias, e esse vínculo a algo que existia antes de nós e continuará a existir depois é uma das coisas boas que a Maçonaria nos proporciona; ao mesmo tempo que nos reduz à nossa pequenez de meros "passadores de testemunho" dá-nos a satisfação de saber que pertencemos a essa cadeia de continuidade.

Pertencer a um grupo «...que se encontrava quase todos os dias» deve ser algo de muito exigente, e pouco consentâneo, suponho, com os deveres conjugais, laborais e parentais. Claro que isso é questão que só se põe a quem esteja sujeito a esses deveres... Por outro lado, encontros diários não serão, como dizia Shakespeare, "too much of a good thing"? Não terão esgotado em 15 anos conversa que dava para uma vida inteira? Em contraste, a maçonaria alerta os seus membros de que os seus principais deveres são para com a família, para com o Criador (qualquer que seja a conceção que dele se faça), e para com o país; a maçonaria vem depois.

Dizer-se, ao fim de 15 anos, que «ainda continuamos todos amigos» implica ter-se começado por aí: pela amizade enquanto vínculo genitor. Ora, quando se ingressa uma loja é-se integrado num grupo de desconhecidos; as amizades que surjam são paralelas ao grupo, não são condição prévia do mesmo. Os nossos amigos são pessoas que nós conhecemos e cujo contacto decidimos manter e aprofundar, e com quem nos identificamos mais; numa loja, pelo contrário, não se escolhe nada; um pouco como a família  do cônjuge, fica-se com o que nos calha na rifa. A um amigo perdoa-se mais, aceita-se mais e tolera-se mais do que a um desconhecido; por isso, as regras e os pressupostos de uma loja e de um grupo de amigos não podem deixar de ser diferentes, pois que numa loja a diversidade é maior do que num grupo de amigos.

Tertúlias como aquela de que o Diogo fala são próprias da adolescência e da juventude. Nos debates, frequentemente acesos, cada um tenta marcar a sua posição, convencer os demais, ensinar e impor o seu ponto de vista. Contudo, é normal que os seus membros, uma vez "crescidos", tendo adquirido a sua própria individualidade e identidade fora do grupo, se afastem progressivamente.; é normal que haja menos disponibilidade para um contacto tão íntimo e envolvente, para uma exposição tão prolongada, para um desnudar-se tão profundo - até porque as ideias se vão cimentando e há cada vez menos temas novos a debater sem que o resultado do debate esteja determinado a priori. Assim, a maturidade acaba por estabelecer o limite. Em loja, pelo contrário, o objetivo não é "converter" ninguém a um determinado ponto de vista, mas permitir que cada um encontre o seu.

Paulo M.

01 setembro 2010

A Cadeia de União


Em todas as reuniões das Lojas que trabalham no Rito Escocês Antigo e Aceite (mas não só neste rito: por exemplo, também no Rito de Schröder) se reserva um momento para que todos os maçons presentes formem a Cadeia de União.

É um dos momentos marcantes da reunião: ao formarem e integrarem a Cadeia de União, os maçons relembram que cada um individualmente faz parte de um Conjunto. Conjunto que é mais forte do que a mera soma das forças individuais, porque a todas estas se agrega a força da união de todos.

A Cadeia de União simboliza e demonstra ainda o princípio fundamental da plena Igualdade dos maçons. Todos os presentes, desde aquele que dirige a Loja ao mais recente Aprendiz se unem, na mesma exata e igual postura, cada um mero elo de uma cadeia. Não há, naquele momento, distinção alguma, não se atende a graus, a funções, a antiguidades. Todos iguais em comunhão!

É um momento de reflexão, de solidariedade, de união, em que cada um sente que contribui para o grupo - mas também sente que beneficia da força comum do grupo.

A Cadeia de União forma-se perto do final dos trabalhos, já depois de finalizados os debates da ordem do dia. Por muito acesos que tenham sido esses debates, por muito díspares que tenham sido as opiniões formuladas, por muito distantes que porventura estivessem as conceções confrontadas, o debate já terminou, a decisão já foi tomada, ora uma bissetriz traçada com as contribuições de todos, ora uma opção que não será a de todos. Mas todos contribuíram, leal e esforçadamente, para a assunção da decisão, contra a qual nenhum militará. Todos se reúnem na cadeia de União, onde não há lugar a desacordos, pontos de vista ou discordâncias: cada um assume a sua função de elo de uma cadeia, igual a todos os outros elos, solidário com todos os outros elos. De muitos, e diferentes, se faz um, o grupo, o conjunto.

A Cadeia de União é a expressão da rara capacidade que os maçons adquirem e praticam: conformar e utilizar a diversidade para o bem e o objetivo comum. Todos são diferentes, todos colocam as suas diferenças em prol do grupo, todos são ali iguais.

A Cadeia de União é a prática sempre repetida, que, em iguais proporções, reforça o elemento "cadeia" (cada um é um elo, uma peça de um conjunto) e "união" (todos juntos, todos em comum, solidários).

A Cadeia de União é uma prática pela qual se forma, reforça e assinala a coesão do grupo. Nos momentos em que o grupo assim se une, desvanecem-se os individuais egos, avulta o coletivo, na busca de uma egrégora fortalecida e fortalecedora. Todos os espíritos se unem no mesmo objetivo, na mesma intenção, na mesma prece, na mesma celebração, seja o que for, mas o mesmo...

A Cadeia de União é um gesto, mas é muito mais do que um gesto. É parte integrante do nosso segredo de maçons, não porque guardemos ciosamente a notícia da sua existência (este texto prova o contrário...), mas porque é realmente impossível explicar a quem nunca participou numa Cadeia de União o efeito, a paz, a comunhão, a força, que produz nos membros de uma Loja assim unidos. É um gesto, mas é muito mais do que um gesto. E o seu significado só é plenamente apreendido por quem nele participa, uma e outra e ainda outra vez e muitas vezes. É um significado que não se ensina. Aprende-se vivendo-o!

Fora de Loja, só se forma Cadeia de União em homenagem fúnebre a maçom que passou para o Oriente Eterno. E aí, então, têm lugar como elos nessa cadeia todos aqueles que se reclamam de ser maçons. Aí não importam reconhecimentos, nem regularidades, nem nada dessas miudezas. Aí, pessoas de boa vontade e com muito em comum homenageiam uma pessoa de boa vontade que nos precedeu no caminho que todos trilharemos.

Rui Bandeira

30 agosto 2010

Os símbolos e os rituais maçónicos: ferramentas de trabalho

 
Conta-se que um novo monge, chegado a um mosteiro, é incumbido de auxiliar os outros monges na cópia de textos antigos à mão. Nota, porém, que estão a copiar a partir de cópias, e não de textos originais., o que o leva a perguntar a razão ao superior, notando que, em caso de erro em qualquer cópia, esse seria propagado por todas as cópias seguintes. O superior responde-lhe: «É assim que temos feito há séculos, mas é uma boa questão, meu filho.»
Assim, o velho monge desce com uma das cópias à cripta para a comparar com o original, e por lá fica horas esquecidas. Não o vendo regressar, os monges, preocupados, enviam um deles ao seu encontro. Este, ao aproximar-se, ouve o ancião soluçar debruçado sobre um dos livros antigos. Pergunta-lhe o que se passa, ao que ele lhe responde, com os olhos rasos de lágrimas: «Aqui diz "celebrado", não diz "celibato"...»

O tempo e as sucessivas passagens de testemunho encarregam-se de que as palavras, os símbolos e os gestos percam o seu significado original, adquirindo eventualmente outros completamente distintos. "Quem conta um conto acrescenta um ponto", diz com razão a sabedoria popular. Aquilo que, na sua génese, poderia constituir mero artifício literário destinado a ilustrar uma ideia pode, ao fim de algum tempo, ser distorcido pela própria evolução linguística. Ainda hoje se discute a que se referiria, precisamente, a frase bíblica que diz ser "mais fácil um camelo passar por um buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus". O camelo seria o bicho de duas bossas, ou uma má tradução da palavra grega que significa "cordel", ou ainda um tipo de cabo usado nos barcos para os amarrar ao cais? E o buraco da agulha, é mesmo um buraco literal de uma agulha vulgar, ou é uma porta, uma passagem, um estreito, como especulam alguns? As palavras - simbólicas - ficaram connosco; o seu contexto original perdeu-se. Ficou a ideia que se pretenderia passar: de que aos ricos é difícil "entrar no Reino dos Céus".

Por outro lado, algumas mentes têm tendência para tomar os símbolos por aquilo que representam. A partir deste instinto formam-se verdadeiros cultos: veja-se o das personalidades políticas nos países do bloco soviético ou , mais proximamente, o do Doutor Sousa Martins. Cientes deste facto, várias religiões têm duras regras de condenação da idolatria, que mais não é do que a adoração de um símbolo, ao tomar-se o objeto por aquilo que ele representa. O Islão proíbe, por exemplo, qualquer representação de pessoas ou animais, não vá alguém tentar-se e lançar-se em sua adoração; e os protestantes costumam acusar os católicos de idolatria por terem nas suas igrejas imagens humanas.

Quer as restrições alimentares estipuladas por certas religiões como o Islão ou o Judaísmo (segundo as quais não se pode consumir carne de porco, e se impõe que os animais sejam abatidos de forma ritualizada e sangrados) quer a proibição de consumo de álcool pelo Islão, parecem refletir hábitos e costumes anteriores ao surgimento dessas mesmas religiões. Recordemo-nos de que o álcool desidrata, e que quem o consuma no calor do deserto pode correr perigo de vida; que a carne de porco, rica em gordura, se decompõe facilmente com o calor, podendo provocar epidemias; que o mesmo se pode dizer do sangue, que, se retirado da carne, permite que esta chegue a secar ou, pelo menos, dure mais em temperaturas altas. Estas medidas constituem, por si mesmas, sensatas medidas sanitárias de defesa da saúde pública. Se a sua inclusão enquanto preceito das religiões em causa decorreu de causa humana ou revelação divina já é questão a ser respondida no foro íntimo de cada um.

A Maçonaria tem os seus símbolos e os seus rituais. Os símbolos - que representam princípios, ideias e deveres - servem para evocar, e não para que se lhes preste culto. Não há nada de idólatra nos símbolos maçónicos. Há, de facto, símbolos e lendas cuja génese se perdeu; mas persiste o seu significado, que não podemos garantir que seja o original. Há entre os maçons, como em todo o lado, quem tome os símbolos por mais do que eles representam, atribuindo-lhes sentidos oblíquos, afectando-lhes significados ocultos, e mesmo especulando encerrarem os mesmos verdades inalcançadas. Esta "corrente" existe desde que a Maçonaria existe - e existe ainda hoje - mas a maioria dos maçons tem os pés mais assentes na terra, e considera serem os símbolos, rituais e lendas simples ferramentas de trabalho. Cada um é, todavia, livre de crer no que quiser, e mesmo de fabricar o próprio objeto da sua crença, mas essa é uma postura que, em certa medida, é contrária ao espírito da Maçonaria, segundo o qual o Homem deveria caminhar para a Luz e para o Esclarecimento.

E aqui se suscita uma questão essencial: onde acaba a liberdade religiosa e começa a superstição e o disparate? Como se concilia, a este respeito, o facto de a Maçonaria defender a liberdade individual (que passa pelo direito de cada um crer no que quiser) com a defesa da Razão enquanto fonte de autoridade e de legitimidade? Perante princípios antagónicos temos que estabelecer hierarquias; e a Maçonaria dá primazia ao respeito pela liberdade individual, o direito de cada um acreditar no que queira, sobre o interesse em que todos sejam racionais e esclarecidos. Assim, cada um é senhor de si mesmo e do caminho pessoal que escolheu e, desde que respeite os ideais e princípios maçónicos e a liberdade alheia, tem o direito de não ver questionado, escrutinado ou dissecado aquilo em que acredita.

Paulo M.

27 agosto 2010

Brincadeira de "gente crescida"




Perguntou um dos leitores habituais do A-Partir-Pedra, no comentário ao texto "Os sinais de reconhecimento": "Continuo a considerar tudo isto um brincadeira de “gente crescida”. Para quê? Ensinamentos que os maiores filósofos do mundo não tenham explicado?" A pergunta é tão pertinente que, tendo tencionado inicialmente responder-lhe nos comentários, acabei por decidir dedicar-lhe o texto de hoje.

Comecemos então por uma analogia. Existem milhentas formas de perder peso: dietas equilibradas, dietas malucas, jejum, exercício moderado, exercício pesado, exercício combinado com dietas, bulimia, enfim... Há para todos os gostos. No fim, todas têm o mesmo objetivo: perder peso. De uma forma mais lata, podemos ainda explorar o objetivo "ser saudável". Aí entram, além das dietas e do exercício, as pulseiras magnéticas milagrosas, os chás de tudo e mais alguma coisa, as noites de sono bem passadas, as almofadas mágicas, o auto-controlo, a alternância equilibrada entre períodos de descanso e períodos de trabalho, os amuletos, o cumprimento de determinados rituais, enfim... Todas elas nos prometem mais e melhor saúde. Umas serão globalmente mais eficientes do que outras - e não esqueçamos que a eficiência é diferente de pessoa para pessoa - e umas terão mais contra-indicações do que outras. No fim, cada um deverá procurar aquela que mais se lhe adequa, e pode, até, conseguir bons resultados combinando vários métodos ou aplicando apenas parte deles.

Do mesmo modo, tudo o que a Maçonaria ensina de substantivo pode ser encontrado de muitas outras formas: através de várias religiões, de diferentes correntes filosóficas, de palestras, de "gurus" privados, ou, para quem se disponha a despender algum do seu tempo, através até de uma boa biblioteca pública. O que a Maçonaria tem de único é o método, o meio, a forma. Não há ensinamentos exclusivos da Maçonaria que não sejam instrumentais, ou seja, que não digam respeito ao método e não ao fim, ao objetivo. Por isso, quem procura na Maçonaria ensinamentos exclusivos, secretos, reservados, e que o resto do mundo desconheça, então desengane-se: não há. Já aqui foi dito, bem como explicado o que a Maçonaria não revela e porquê. Os símbolos, as alegorias, os "segredos de grau"? Não passam de instrumentos, simples andaimes, meros artefactos que suportam, ilustram e consolidam os verdadeiros ensinamentos.

Mas que ensinamentos são esses, afinal?! Ah, esses são tão únicos como único é cada indivíduo! Pretender sabê-los seria como, através da descrição das técnicas de pintura de um dos grandes Mestres, pretender saber o que viriam a representar as telas pintadas por cada um dos seus discípulos... A Maçonaria apenas indica os princípios, e esses são bem simples: a fraternidade, a entre-ajuda, a tolerância perante a diversidade, a crença num Princípio Criador, o trabalho como meio de obter resultados, o desenvolvimento intelectual, a procura do Bem e da Virtude, o combate ao Vício e às Paixões, e tudo isto focado em cada um, do modo que este melhor entenda que mais lhe aproveita para atingir os objetivos que definiu para si mesmo. É, por isso, impossível dizer-se que ensinamentos é que a Maçonaria transmite: era preciso, para isso, que cada um estivesse ciente dos mesmos - que, tantas vezes, são absorvidos quase que "por osmose", pelo contacto com ideias alheias, sem que sejam propriamente sequer verbalizados, e por vezes nem mesmo conscientemente apercebidos, o que traz a segunda dificuldade: mesmo que apercebidos, podem não se conseguir transmitir senão de forma imperfeita. Pensemos como explicaríamos como se pinta a alguém que nunca pegou num pincel, mas sem o fazer passar pela experiência de conspurcar dezenas de telas brancas, nem se besuntar nas tintas, ou passar pelo experimentar, olhar e tentar de novo...

Por fim, quem considere ser a Maçonaria uma "brincadeira de gente crescida" deve recordar que:
  • a Maçonaria Regular não faz proselitismo, ou seja, não faz convites nem recruta novos membros, pelo que ninguém pode acusar a Maçonaria de o ter arrastado para um erro; cada um dos que adere à Maçonaria fá-lo pelo seu próprio pé, por sua própria opção e no exercício da sua própria liberdade.
  • apesar de nem todos serem livres de entrar, todos são livres de sair quando entendam; não queremos entre nós gente contrariada; há inúmeras formas de aumentarmos o nosso potencial humano e espiritual, das quais a Maçonaria é apenas mais uma.
  • como os meios de emagrecimento, cada um deverá procurar o que mais se lhe adequa; de facto, aos olhos de quem faça exercício duro uma ou mais horas por dia, uma pessoa dedicar-se ao vegetarianismo como único meio de emagrecer pode parecer uma "brincadeira de gente crescida"; se de facto o é ou não, já é questão completamente diferente...

Paulo M.

25 agosto 2010

O terceiro Grão-Mestre

O terceiro Grão-Mestre da GLLP/GLRP foi José Manuel Morais Anes. Exerceu essas funções entre 2001 e 2004. Coube-lhe assumir a tarefa da retomada da normalidade, após o tumultuoso mandato do seu antecessor. Garantida que fora por este a continuação do reconhecimento internacional da GLLP/GLRP como a única Potência Maçónica Regular em Portugal, José Manuel Anes, na frente internacional consolidou a normalização das relações. Com ele, virou-se a página e retomou-se o caminho.

Também na frente interna o mote do trabalho do Grão-Mestre José Manuel Anes foi a retomada e consolidação da normalidade. Paulatina mas firmemente, deixou bem claro que o passado era passado e que, mais do que recordar eventos, o que interessava era que cada um prosseguisse o seu trabalho de aperfeiçoamento pessoal, que cada Loja exercesse a sua função de enquadramento e catalisador do trabalho dos seus elementos.

Bem-disposto, bonacheirão, sempre com um sorriso na cara, José Manuel Anes transmitiu a todos a sua confiança. E o seu mandato foi um percurso em crescendo para a normalidade...

O Grão-Mestre José Manuel Anes recebeu uma Grande Loja ainda marcada pelos eventos que ofuscaram o mandato do seu antecessor e transmitiu ao seu sucessor uma Grande Loja estabilizada, confiante e em velocidade de cruzeiro. Podemos e devemos, sem dúvida alguma, considerar, com toda a justiça, que foi o homem certo a segurar na altura certa o leme da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP.

Eis o seu currículo, reunindo informação registada no sítio da GLLP/GLRP e na página a ele dedicada na Wikipédia:

Nascido em Lisboa a 21-6-1944.

Residente na Costa da Caparica.

Licenciado em Química, pela Faculdade de Ciências de Lisboa, em 1975 (Bacharel em 1973).

Nos anos 70 foi assistente de Biomatemática na Faculdade de Medecina de Lisboa (HSM) - 1976-77 e 1977-78 - e, tendo sido equiparado a bolseiro, frequentou um curso de pós-graduação em Química-Física Inorgânica na Fac. de Ciências da Universidade Complutense de Madrid e estagiou em Catálise e Catalisadores no Instituto de Química-Física do Conselho Superior de Investigações Científicas de Madrid. Foi durante vinte anos Perito Superior de Criminalística do Laboratório de Polícia Científica da P.J.; actualmente está na situação de aposentado.

Desde 1986,é docente convidado de Matemáticas para as Ciências Humanas do Departamento de Antropologia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Faculdade onde tem lecionado também Métodos Quantitativos no Departamento de História, Estatística e no de Ciência Política; desde o ano de 2000-2001, leccionou também, na FCSH da UNL, a cadeira de Antropologia da Religião no Departamento de Antropologia, nos anos de 2000-2001 e 2001-2002. Tem dado, desde 1998, Cursos livres sobre História das Correntes Esotéricas, Novos Movimentos Religiosos e "New Age", no Instituto de Sociologia e Etnologia das Religiões da mesma Faculdade, e também no Centro Nacional de Cultura, os último dos quais se intitularam "Violência e Novos Movimentos Religiosos" e "Esoterismo e Política". Foi Assessor Cultural da Fundação Cultursintra, em 1996 e 1997, sendo Medalha de Prata da C.M. de Sintra em virtude da sua iniciativa pessoal que conduziu à classificação da Quinta da Regaleira pelo IPPAR como imóvel de interesse público e também pelos estudos realizados (um dos quais foi apresentado em Londres na Cornerstone Society - ver o resumo da conferência em www.workingtools.org) e pela divulgação da mesma Quinta. Foi Presidente da Academia de Estudos Ibero-árabes (1995/97) e Vice-Presidente da Associação Fernando Pessoa (1999-2000).

É membro correspondente em Portugal da Associação "ARIES" (de Estudos e Informações sobre Esoterismo) dirigida pelo Prof. Antoine Faivre da EPHE (Sorbonne), do CIRET (Centro de Estudos sobre Transdisciplinaridade) dirigido por Basarab Nicolescu (Paris) e das seguintes Associações de estudos dos Novos Movimentos Religiosos: a francesa AEIMR dirigida por Bernard Blandre e a italiana CESNUR (Torino) dirigida pelo Doutor Massimo Introvigne (Torino). Foi Director da "Biblioteca Hermética" da Hugin Editores, onde publicou obras de diversos autores, entre os quais Lima de Freitas, Gilbert Durand, Adalberto Alves, Carlos Calvet, etc.

É um especialista de Correntes Esotéricas Ocidentais, sendo membro da ESSWE- European Society for the Study of Western Esotericism, dirigida pelos Profs. Wouter Hanegraaff (Univ. Amsterdão) e Antoine Faivre (Jubilado da EPHE-Sorbonne).

Organizou, em 2000, a pedido da Câmara Municipal de Cascais/Pelouro de Cultura, o Colóquio internacional "Fernando Pessoa, o Esoterismo e Aleister Crowley" que contou com as participações, entre outros, dos grandes especialistas universitários de esoterismo e de "novos movimentos religiosos", Antoine Faivre, Massimo Introvigne e Gordon Melton e dos pessoanos Maria Aliette Galhós, Manuela Parreira da Silva e Luis Filipe Teixeira.

Escreveu prefácios para vários livros, os últimos dos quais para “O Pensamento Maçónico de Fernando Pessoa” de Jorge de Matos (Sete Caminhos, Lisboa, 2006) e “La Franc-Maçonnerie comme Voie d’Éveil” de Rémi Boyer (Rafael de Surtis/Éditinter, Monts, França, 2006).

Para além da sua formação em Criminalística, desde 1999, tem-se dedicado também, no quadro da Socio-Antropologia, particularmente no domínio do estudo da Violência em “Seitas” e grupos religiosos radicais, tem sido Docente de cursos sobre Violência Religiosa e Terrorismo Religioso, quer no ISER, a partir de 2001, quer em 2006, na Reitoria da Universidade (Clássica) de Lisboa, na Universidade Autónoma de Lisboa e na Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa, num curso de Pós-graduação e Mestrado em Estudos Avançados de Segurança e Direito, onde lecciona as cadeiras de Violência Religiosa e de Criminalística. É co-autor no livro “As Teias do Terror” (Ésquilo, 2006).

Foi (desde 2004) Vice-Presidente do OSCOT- Observatório de Segurança, Crime Organizado e Terrorismo e é, desde o início de 2010, o seu Presidente. É Director da revista para o grande público intitulada “Segurança e Defesa”.

Bibliografia publicada:

"Re-creações Herméticas", Hugin, Lisboa, 1ª. ed. 1996, 2ª. ed. 1997; "O Esoterismo da Quinta da Regaleira", Hugin, Lisboa, 1ª. ed.1998, 2ª ed. 2000, 3ª ed. 2003. "Maçonaria Regular - Maçonaria Universal" - Hugin, Lisboa, 2003. "Re-creações Herméticas - II" - Lisboa, Hugin; “Fernando Pessoa e os Mundos Esotéricos” – Lisboa, Ésquilo, 1ª. E 2ª. Eds., 2004;“Os Jardins Iniciáticos da Quinta da Regaleira” – Lisboa, Ésquilo, 2005.
Com outros autores: "As Tentações de Bosh e o Eterno Retorno", Lisboa, Museu de Arte Antiga, 1994; "Poesia e Ciência", Lisboa, Cosmos/GUELF, 1994; "Caos e Meta-Psicologia", Lisboa, Fenda/ISPA, 1994; "Religião e ideal maçónico", Lisboa, ISER, 1990); "Seminário sobre Newton", Évora, Universidade de Évora/CEHFC, 1995; "Masoneria y religión", Madrid, Ed. Complutense, 1996; "A Vivência do Sagrado", Lisboa, Hugin, 1998, "A Quinta da Regaleira: história, símbolo e mito", Fundação Cultursintra, 1998; "Portugal Misterioso", Lisboa, SRD, 1998; "L'Âme secrète du Portugal", Paris, L'Originel, nº 9, 2000; "L'Homme à venir - Mémoire du XXe.siècle - nº.2", Paris, Rocher, 2000; "Discursos e práticas alquímicas - I", Lisboa, Hugin/CICTSUL, 2001; "Esoterismo e Humanidades" -Colibri/Faculdade de Letras de Lisboa, 2001; "Discursos e práticas alquímicas - II" - Lisboa, Hugin/CICTSUL, 2002; "O Homem do futuro - um ser em construção" - São Paulo -Br., Triom/USP, 2002; "A Creação - La Création" - Lisboa, Atalaia/Intermundos, 2003; "Le Sacré aujourd'hui" - Paris, Rocher, 2003; “Templiers: les yeux du Baphomet” – Monts (Fr.), Rafael de Surtis/Editinter, 2004.

Percurso Maçónico

Foi iniciado Maçon no Grande Oriente Lusitano, em 1988, tendo saído em 1990, para constituir a Grande Loja Regular de Portugal-GLRP, onde fundou a Loja "Quinto Império" e onde foi sucessivamente, até finais de 1996, Grande Inspector, Assistente de Grão-Mestre e Vice Grão-Mestre. A partir de 1997, continuou a integrar a Grande Loja Legal de Portugal/GLRP - potência regular internacionalmente reconhecida pela Maçonaria Universal - de que foi, a partir dos começos de 2001, Grão Mestre, até Março de 2004.

Foi de 1995 a 2000, Grão Prior do Grande Priorado Independente da Lusitânia da Ordem dos CBCS (Altos Graus do Rito Escocês Retificado).

É CBCS-Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa (armado na Prefeitura de Genève do Grande Priorado Independente da Helvécia, de que é Membro de Honra), Cavaleiro maçónico de Malta - KM (armado no Grande Priorado da Gálias, em Paris), do Grande Priorado de Inglaterra e Gales) e 33º., Grau honorário do Rito Escocês Antigo e Aceite (Supremo Conselho para Portugal).

É membro do Supremo Grande Capítulo do Arco Real de Portugal e do Conselho Críptico para Portugal (Mestres Reais e Escolhidos) - altos graus do Rito de York. É ainda Cavaleiro do Conclave "Henrique de Borgonha" do Grande Conclave Imperial para a França da Ordem Maçónica e Militar da Cruz Vermelha de Constantino e das Ordens do Santo Sepulcro e de S. João Evangelista. É IXº. Grau e membro honorário do Colégio dos "Supreme Magus" da Sociedade Rosacruciana dos EUA ("Societas Rosacruciana in Civitatibus Foederatis" e ainda membro da "Societas Rosacruciana in Lusitania (SRIL).

É membro de honra da Loja "Oldest Ally" da Grande Loja Unida de Inglaterra, Companheiro do Arco Real inglês (Capítulo "Benaventa" de Northamptomshire), Cavaleiro Templário - KT de Honra (Capítulo "Holy Cross" de Northamptonshire, "Supreme Ruler" da Ordem inglesa do "Secret Monitor" e do Conclave "Olissipus Fidelis" (a Oriente de Lisboa) da OSM, Cavaleiro Rosa Cruz da Ordem Real da Escócia (Grande Loja de Edimburgo), Maçon de Marca e do "Royal Ark Mariner" da Loja "Rose and Lilly" de Londres e membro (em Inglaterra, do Conselho do Grão-Mestre) dos 5 Ordens que constituem os Allied Masonic Degrees: St. Laurence the Martyr, Knight of Constantinople, Grand Tiler of Salomon, Red Cross of Babilon e Grand High Priest. É Knight Templar Priest do Tabernáculo «London Freemen» e membro da Sociedade «Operatives».

É detentor das mais altas distinções do Grande Oriente do Brasil - GOB, entre as quais, a Condecoração da "Estrela da Distinção Maçónica" (Conferida pelo Grão Mestre Geral do GOB), Diploma e Medalha de Honra ao Mérito "Gonçalves Ledo" (Conferida pelo Grão Mestre do Grande Oriente do Estado de São Paulo, federado ao GOB), Medalha do Mérito "Presidente Ivo Ramos de Mattos" (Conferida pela Assembleia Estadual Legislativa do Grande Oriente do Estado do Rio de Janeiro, federado ao GOB) e Medalha "Jubileu de Prata do GOERJ- 2003" (Conferida pelo Grão Mestre do Grande Oriente do Estado do Rio de Janeiro, federado ao GOB). É ainda detentor da Medalha do "Mérito Montezuma" do Supremo Conselho para o Brasil do Supremo Conselho do Grau 33 do REAA (atribuída pelo Soberano Grande Comendador).

É Grande Representante da Grande Loja do Estado de Nova Jersey (EUA) , junto da GLLP/GLRP, da Grande Loja da Suécia junto do Grande Priorado Independente da Lusitânia e Grande Oficial de Honra da GL Real de Marrocos.

É membro correspondente das seguintes sociedades de investigação maçónica: «Ars Quotur Coronati» (Inglaterra), «Villart de Honnecourt» (França) e «Scottish Rite Research Society» (EUA).

Rui Bandeira

23 agosto 2010

Os sinais de reconhecimento


Um dos segredos que os maçons devem guardar consiste nos sinais, palavras e toques próprios de cada um dos graus. A sua origem - os sinais pelos quais um artesão da maçonaria operativa identificava as suas aptidões perante mestres que o não conhecessem - já foi aqui sobejamente explicada. Mas quais a sua utilidade e significado atuais?

Desde o século XVIII que há exposés, ou revelações, de rituais maçónicos. Como seria de esperar, uma vez que cada Grande Loja tem autonomia para alterar os seus rituais - o que costumam fazer com alguma regularidade - rapidamente os sinais de reconhecimento estabelecidos nos rituais terão sido alterados em reacção a essas "inconfidências". Também não surpreenderá que, em função dessas alterações, os sinais de reconhecimento não sejam, hoje em dia, os mesmos nem em todo o mundo, nem em todos os ritos, nem em todas as obediências. Há variações, pelo que os maçons são delas instruídos para que possam reconhecer irmãos apesar das diferenças.

Entenda-se, por outro lado, que estes "meios de reconhecimento" são meramente rituais. O que é que isto significa? Significa que, em primeiro lugar, são usados no contexto das sessões rituais, e do acesso às mesmas. Assim, se um maçon se dirigir a um templo onde se vão reunir irmãos de outra Loja na qual não seja conhecido, e pretender assistir à sessão, é quase certo que o farão identifica-se através dos sinais rituais de reconhecimento. No entanto, quase certo é também que não se fiquem por aí. Nos nossos dias a maioria das Obediências emite cartões em nome e para uso dos seus obreiros que atestam estarem os mesmos com a sua situação regularizada. É também costume as Obediências emitirem, a pedido, o chamado "Passaporte Maçónico", que permite a identificação do seu portador perante Obediências estrangeiras. Sem qualquer destes documentos, e sem que sejamos conhecidos, é não só possível como quase inevitável vermos a nossa entrada negada numa sessão de Loja. E fora de uma sessão de Loja? Espero que ninguém imagine os maçons a fazer macaquices e "sinais secretos" a estranhos, não vá dar-se o caso de eles serem maçons também... Fora de Loja os maçons, ou já se conhecem previamente, ou reconhecem-se pela sua postura, forma de estar na vida e princípios que defendem.

Dados os modernos meios de identificação (cartões, passaporte maçónico, etc.), a utilidade original dos sinais de reconhecimento é reduzida. Por que se mantêm então, e qual a razão do seu secretismo? Não nos esqueçamos de que a Maçonaria se socorre de símbolos e alegorias para transmitir os seus ensinamentos. Assim, os segredos de grau recordam a cada maçon que deve ser um homem honrado, de bons costumes, capaz de guardar para si um segredo que lhe tenha sido confiado. Por outras palavras, os maçons guardam segredo desses sinais de reconhecimento, uma vez mais, por uma razão muito simples: porque juraram fazê-lo.

Paulo M.