Reserva sobre as formas de reconhecimento
Antigamente,não havia as facilidades e rapidez de comunicações e de deslocação que há hoje. Os agregados populacionais eram fechados, muito mais isolados do que agora e, sobretudo, mais distantes, em termos de tempos de viagem. Ir de Lisboa a Londres demorava semanas. Ir de Lisboa ao Porto demorava dias. Ir da Europa à Ásia, a África ou à América demorava meses. Um viajante que chegava a um qualquer local era um desconhecido e desconhecia quase todas ou todas as pessoas desse local. Se se arrogava qualquer título ou condição, não havia meios de comunicação rápidos que permitissem verificar, em terras distantes, se o afirmado era verdade.
Viajar era demorado e perigoso. Os maçons em viagem podiam beneficiar do auxílio de seus Irmãos. Muitas vezes sendo - viajante e residente - desconhecidos um dos outro. Não bastava ao viajante dizer que era maçon. Tinha de comprovar essa qualidade.
Antigamente era, pois. essencial que existissem formas de reconhecimento discretas, eficazes e de conhecimento restrito aos maçons. Que deviam ser e eram avaramente guardadas em segredo.
Essas formas de reconhecimento eram e são constituídas por determinados sinais, por certas palavras, por específicos toques. Os sinais permitiam que os maçons se reconhecessem como tal no meio de uma multidão, se preciso fosse, sem que mais ninguém se apercebesse. As palavras permitiam confirmar esse reconhecimento, constituindo uma segunda forma de verificação, que confirmaria a identificação ou permitiria desmascarar impostor que, por conhecimento ou sorte, tivesse efetuado corretamente um sinal de identificação. Os toques, discretos, permitiam, além de uma fácil identificação mútua absolutamente discreta e insuscetível de ser detetada por estranhos, também desmascarar impostores, pois não bastava, nem basta, usar um certo toque: é preciso saber quando o usar, para quê e que deve suceder em seguida...
Sempre os sinais de reconhecimento foram objeto de curiosidade profana. Por quem perseguia a Maçonaria e os maçons, por razões evidentes. Por quem, não sendo maçon, gostaria de se infiltrar entre os maçons ou, viajando, beneficiar da ajuda que os maçons residentes davam aos maçons viajantes. Ou, simplesmente, por quem era curioso...
Milhares e milhares de maçons conhecem os sinais de reconhecimento. Ao longo do tempo, milhões de maçons acederam a esse conhecimento, nas quatro partidas do Mundo. Houve zangas. Houve dissensões. Houve abandonos. Houve traições. Houve inconfidências. Um segredo só é verdadeiramente secreto se for conhecido apenas por um - e, mesmo assim, se este não falar a dormir... Era inevitável que as formas de reconhecimento dos maçons fossem expostas. Existem livros. Existem filmes. Existem vídeos. Existem panfletos. Existem, hoje em dia, inúmeros suportes em que estão expostas aos profanos as formas de reconhecimento dos maçons. Mas também existem publicados nos mesmos suportes formas de reconhecimento falsas ou inventadas ou simplesmente ultrapassadas... Quem está de fora tem o magno problema de descobrir o que é verdadeiro e o que é falso, de distinguir o certo do inventado, de descortinar o que se mantém vigente e o que foi ultrapassado...
Por isso, ainda hoje, as formas de reconhecimento vigentes, apesar de conhecidas por milhões, apesar de repetidamente expostas, continuam a ser úteis e eficazes.
Mas, mesmo que algum profano consiga conhecer os sinais, palavras e toques certos e consiga descobrir quando os utilizar e como o fazer corretamente, ainda assim só logrará, quando muito, enganar alguns maçons durante algum tempo e acabará - porventura mais cedo do que mais tarde - por ser desmascarado como impostor. Porque não basta executar o sinal certo na hora precisa, pela forma correta, nem dizer a palavra adequada, pela forma prescrita, a quem deve ouvi-la, nem dar o toque acertado, no momento asado e sabendo o que se deve passar a seguir. Tudo isso já é suficientemente complicado - mas não basta. Tudo isso, ainda que porventura executado de forma atinada, constitui ainda uma determinada informação: que quem o fez tem um determinado nível de conhecimentos, uma certa postura e compostura, um exigível comportamento, um específico nível de desenvolvimento pessoal, social e espiritual. Ser maçon e ser reconhecido como maçon não é só conhecer e saber executar sinais, palavras e toques. Isso é o que menos importa. É, sobretudo, saber fazer um percurso, utilizar um método, avançar num caminho.
As formas de reconhecimento são apenas sinais exteriores básicos e nem sequer particularmente importantes. Isso também, mas sobretudo muito mais, é que faz com que um maçon seja reconhecido como tal pelos seus Irmãos.
Reservo o segredo dos sinais, palavras e toques que constituem as formas de reconhecimento dos maçons, porque a isso me comprometi. Mas digo e afirmo: podíamos divulgar, publicar, mostrar, explicar, exemplificar, ensinar, filmar e exibir o filme, executar todos os sinais, palavras e toques de reconhecimento; podíamos ensinar a toda a gente como e quando e por que forma utilizar cada um deles. Ainda assim, pouco tempo e apenas um razoável cuidado bastariam para reconhecer quem efetivamente é maçon e quem, ainda que perfeitamente executasse todos os sinais, palavras e toques, não o é!
Porque ser maçon é muito mais do que saber sinais, palavras e toques. Ser reconhecido como tal implica muito mais do que essas minudências, pois não basta saber sinais, palavras e toques para ser reconhecido maçon. É preciso efetivamente sê-lo e vivê-lo e praticá-lo.
Que nunca ninguém se esqueça disto. Seja profano ou tenha sido iniciado. Especialmente estes!
Rui Bandeira