08 setembro 2008

A propósito de anedotas e de sementes


O nosso “novato” A.Jorge aproveitou a 6ª feira, entrada do fim de semana, para propor uma reflexão sobre uma anedota, tirando no final (e muito bem) uma conclusão moral.
Acontece que recebi uma “estorinha” (não é uma anedota), com evidente relação com a conclusão moral tirada pelo A.Jorge no seu post.
Bom, a relação tem a ver o encaminhamento que é, ou pode ser, dado às sementes...
Transcrevo pois a estorinha que uma amiga fez o favor de me enviar hoje (6ª feira, dia 5).

Conta assim:

Uma chinesa velha tinha dois grandes vasos, cada um suspenso na extremidade de uma vara que ela carregava nas costas.
Um dos vasos era rachado e o outro era perfeito. Todos os dias ela ia ao rio buscar água, e ao fim da longa caminhada do rio até casa o vaso perfeito chegava sempre cheio de água, enquanto o rachado chegava meio vazio.
Durante muito tempo a coisa foi andando assim, com a senhora chegando a casa somente com um vaso cheio e outro meio de água.
Naturalmente o vaso perfeito tinha muito orgulho do seu próprio resultado - e o pobre vaso rachado tinha vergonha do seu defeito, de conseguir fazer só a metade daquilo que deveria fazer.
Ao fim de dois anos, reflectindo sobre a sua própria amarga derrota de ser 'rachado', durante o caminho para o rio o vaso rachado disse à velha :
"Tenho vergonha de mim mesmo, porque esta rachadura que tenho faz-me perder metade da água durante o caminho até casa..."
A velhinha sorriu :
"Reparaste que lindas flores há no teu lado do caminho, somente no teu lado do caminho ? Eu sempre soube do teu defeito e portanto plantei sementes de flores na beira da estrada do teu lado. E todos os dias, enquanto voltávamos do rio, tu regava-las. Foi assim que durante dois anos pude apanhar belas flores para enfeitar a mesa e alegrar o meu jantar. Se tu não fosses como és, eu não teria tido aquelas maravilhas na minha casa !"

Cada um de nós tem o seu defeito próprio : mas é o defeito que cada um de nós tem, que faz com que a nossa convivência seja interessante e gratificante.
É preciso aceitar cada um pelo que é ... e descobrir o que há de bom nele !
Portanto, meu "defeituoso" amigo/a, desejo que tenhas um bom dia e que te lembres de regar as flores do teu lado do caminho ! Já agora, envia este e-mail a algum (ou a todos) os teus amigos "defeituosos".
Sem esquecer que é "defeituoso" também quem to mandou ! ...

Este foi o texto completo da mensagem que me chegou.

(Não o alterei de propósito para agora poder escrever o seguinte:
Recuso definitivamente todas as mensagens que apelam à auto-divulgação, seja porque nos próximos 3 dias a Cláudia Schiffer me vai cair “amantissimamente” nos braços, seja porque durante o próximo mês ganharei o “euro-milhões” pelo menos 5 vezes.
Este apelo continuado de propagação de mensagens tem com resultado único o entupimento das vias de comunicação dos acessos à rede, estudados e preparados para uma utilização racional, que ficam completamente entupidos com a utilização desregrada que estas correntes provocam.
Para quem está longe da matéria pode comparar ao efeito que as grandes e inesperadas chuvadas têm nos sistemas de escoamento das águas públicas.
O sistema existente, que funciona muito bem durante 99% do ano, é incapaz de engolir a massa de água caída inesperadamente e em quantidade muito superior ao habitual, dando origem a cheias e às consequências nefastas que todos conhecemos.
É isso o que se passa também na rede de comunicação de dados internacional, resultando depois queixas de que os sistemas são lentos, têm erros ou, pura e simplesmente, não funcionam.

Este parágrafo de facto não tem relação com o que pretendo deixar-Vos.
Constitui apenas um pequeno desabafo pelo que… voltemos ao assunto.)

Este conto pequeníssimo termina com uma conclusão:
- Nada é completamente mau !
Pronto, já sei que virão argumentar que a inversa também é verdadeira.
Claro que é, mas cada um vê a metade da garrafa com os olhos que tem ou que quer ter.
Os otimistas de uma forma e os pessimistas da forma contrária.
Para este caso tanto me faz que a vejam meio cheia ou meia vazia.
Em qualquer dos casos o que me interessa é que sejamos capazes de perceber o que há de bom em cada momento, eventualmente esquecendo o resto que é mau, e percebendo o que é bom aproveitá-lo, para si próprio e para incentivar os que lhe estiverem próximos de modo a que num esforço de conjunto se não desperdice nada de bom e não se aproveite nada de mau.
E bem sabemos como muitas vezes deitamos fora o vaso rachado, como se dele nada houvesse para aproveitar.
Há um “Amigão do peito” que acha muita graça quando lhe digo que “até um relógio parado tem razão 2 vezes ao dia” (!).
O que quero afirmar com esse princípio (que não inventei, antes apanhei-o no ar, algures) é exactamente o mesmo: -Nada é completamente mau !
E assim vamos descobrindo formas de utilizar os recursos disponíveis. Mesmo sendo escassos é provável que, com jeito, se consigam resultados surpreendentes utilizando-os de forma adequado.
A este respeito ainda cá voltarei com um aspecto importante deste aproveitamento possível.
Agora, e para terminar, apontarei apenas dois princípios.
1 – Repito, até um relógio parado tem razão 2 vezes ao dia ou, por outra imagem, até um vazo rachado pode ser muito útil. Só temos que olhar o relógio na hora adequada ou utilizar o vazo para a função que ainda pode cumprir.
2 – E agora pegando no conceito moral concluído pelo A.Jorge no final do seu post, o que acontecerá se “comermos” as sementes em vez de as utilizar para lançar à terra, onde com a ajuda de um qualquer vazo rachado germinarão em belas plantas novas, embelezando o mundo e dando continuidade à vida, tal qual foi devidamente arquitetado em tempo útil ?

Pois é, se comermos as sementes e/ou deitarmos fora o vazo rachado o mundo ficará mais triste e a vida perderá alguns dos seus argumentos.
Também tal como na estória, os velhos são capazes de perceber facilmente que é assim.
JPSetúbal

06 setembro 2008

Poema maçónico

Onde quer que possas estar,
Onde quer que te detenhas a meditar,
Seja longe, em terras estranhas,
Ou simplesmente no lar, doce lar,
Sempre sentes um grande prazer,
Que faz vibrar as cordas do coração,
Apenas em ouvir a fraterna saudação
“Vejo que tens viajado muito, Irmão!”

Quando recebes a saudação do Irmão
E ele te toma pela mão
Isso comove-te e toca-te no íntimo,
Numa emoção incontida, por demais profunda.
Sentes que aquela união de Irmãos,
Que é um anseio da humanidade inteira,
Que se realiza no estender das mãos
E na voz a dizer fraternalmente:
“Vejo que tens viajado muito, Irmão”

E se és um estranho,
Solitário em estranhas terras,
Se o destino te deixou derreado,
Batido e à beira da morte, longe do lar,
Não há sentimento mais completo
Que aquele que te sacode sob a saudação
“Vejo que tens viajado muito, Irmão”

E quando chegar, finalmente, tua derradeira hora,
O momento de empreender a mais longa das viagens,
Revestido do branco avental de cordeiro
E sob a a escolta dos Irmãos que já passaram,
O Cobridor da Porta de Ouro,
Com Esquadro, Régua e Prumo
Pedir-te-á a Palavra de Passe
E dir-te-á, então,
“Passa. Vejo que tens viajado muito, Irmão”
Autor: desconhecido, do Oriente de Montana - USA

05 setembro 2008

Uma anedota

Como o fim-de-semana se aproxima, decidi transcrever aqui uma anedota que ouvi há dias e que acho "deliciosa".

Um industrial da nossa praça, tendo problemas com um equipamento informático, decidiu chamar um técnico. O técnico chegou, deu duas voltas ao equipamento e com uma simples chave de parafusos, deu 1/4 de volta num parafuso, tendo o equipamento ficado a funcionar perfeitamente.

Passados dias, chegou a factura. Tinha como descritivo "reparação informática - 1.000€".

O nosso empresário, achando a factura demasiado alta para um simples quarto de volta num parafuso, decidiu solicitar uma factura discriminada. A nova factura que chegou já tinha duas linhas:

  • Apertar 1/4 de volta no parafuso - 1 €
  • Saber qual o parafuso a apertar - 999€

A factura foi paga.

(PAUSA PARA RISOS)

Desta anedota, é possível concluir que numa situação destas, quereríamos todos receber os 1000€, que são bem melhores do que só um.

O problema é que só tem direito aos 1000€, quem sabe realmente identificar qual é o parafuso que é preciso apertar. Não chega dizer que sabemos ou ter um diploma que diz que sabemos ou até fazer um movimento do tipo "os 1000€ quando nascem são para todos..." ou ainda "eu não sei, mas a culpa não é minha..., logo também tenho direito".

Vem isto a propósito das dificuldades com que me defronto regularmente quando proponho formação aos meus colaboradores - é preciso quase impô-la. Estamos mais uma vez perante um problema "das duas ansiedades" - "deixem-me continuar a fazer o que sempre fiz, mas não me falem em deslocalizar a fábrica".

Como sociedade, temos todos de unir esforços no sentido de conseguirmos levar as pessoas a querer saber qual o parafuso a apertar, mais do que a apertá-lo.

Como? Persistindo e não baixando os braços, apoiando, motivando, reduzindo a resistência à mudança (ansiedade 1) e, em certos casos, ajustando ainda que ligeiramente a ansiedade 2. Já agora, dava jeito que tivéssemos todos uma atitude mais "agrícola" - semear para colher. Creio que por vezes comemos as sementes e reclamamos quando não há mais.

Bom fim-de-semana

04 setembro 2008

A CAVERNA E AS BARREIRAS do A.Jorge


Os variados acidentes com que tropecei ao longo dos últimos 3 meses não são de molde a desculpar a terrível “sornice” que me deu e que fez com que não tivesse dado qualquer ajuda ao “coitado” do Zé Ruah que arcou com a responsabilidade, por inteiro, de manter viva a chama diária do “A-Partir-Pedra” durante o mês de Agosto.
De facto, durante todo este tempo, até foram muito poucas as vezes que visitei o blog, umas vezes por não ter máquina disponível, outras porque a tinha para utilização muito “bate e foge”, outras ainda por “sornice”… pois, a mesma !

Agora regressado à base pude passar pelos textos entretanto “blogados” e, haja Deus, eis senão quando dou com um novo colaborante para as postagens (não é pastagens, é mesmo postagens ! O Rui que se entretenha a confirmar se cabe no acordo, acordado).
E fiquei muito feliz.
Primeiro porque é mais um que não promete, faz !
Segundo por ser quem é !
Terceiro porque, tal como diz o Zé R., soltaram o monstro… Agora aturem-no.

Grande texto, esta “iniciação” do A.Jorge !

Tocaste num ponto sensível do nosso dia a dia actual.
O facto é que não se pode reconhecer, e portanto desejar, o que se não sabe que existe.
Se apenas for mostrada a sombra, os homens não reconhecerão, nunca, a coisa razão da sombra e ficarão apenas com o conhecimento dessa imagem.

Certamente viram um filme sensacional (digo eu) que esteve nos cinemas há um ror de anos, mas que também já passou pela televisão mais de uma vez. Chama-se “Os Deuses devem estar loucos” e é um hino à interpretação do desconhecido.
No caso trata-se de uma garrafa de Coca-Cola vazia transformada em sinal divino, mas a circunstância é facilmente transponível para outro objecto qualquer.

Veja-se o conceito de “mar” das populações do interior que nunca tiveram oportunidade de se aproximar da costa.
Veja-se o que acontece com populações de milhões de pessoas que nunca viram um frigorífico ou uma máquina de lavar.

Passa na RPT1 uma série excelente, excelentemente realizada e interpretada, que dá pelo nome de “Conta-me como foi”.
Para quem viveu os anos 50 e 60 do século XX em Portugal, vê ali magistralmente retratado o percurso da tal subida ao cimo do monte, com a descoberta sucessiva das coisas escondidas que estavam para além das sombras que nos eram mostradas.
É como se tivéssemos vivido de verdade a estória do filme.
E até a piada da garrafa de Coca-Cola se aplica direitinha.
É que a Coca-Cola era proibida em Portugal, muito poucos sabiam da sua existência e menos ainda conheciam o feitio da embalagem.
Aquele filme poderia muito bem ter sido feito no Portugal daquela época.

E quando trago a questão para o nosso “dia a dia” estou apenas a apontar o que se passa com muitos milhões de seres humanos mantidos acorrentados de “pernas e pescoço” dentro de uma “caverna” que, por “força” da “força” das tecnologias da informação e da comunicação vão sendo forçadamente e esforçadamente abertas, os seus pescoços e pernas a pouco e pouco desacorrentados, e consequentemente também a pouco e pouco, mas cada vez mais depressa, vão enxergando luz, vão caminhando direitos ao cimo do monte, vão querendo ter a coisa, não se contentado já e apenas com a sombra da coisa.

É a vida, diria um.
É o progresso dirá outro.
E como sempre os extremos tocam-se, diz Óscar Wilde
– Vivemos uma época em que as coisas desnecessárias são as nossas únicas necessidades.

Como dizes, caríssimo A.Jorge, não sabes onde está o equilíbrio.
E alguém sabe ?

Provavelmente não.
Provavelmente se alguém soubesse calava-se e enchia-se de dinheiro.
Provavelmente não interessa que se saiba.
Provavelmente não é possível saber-se.
Provavelmente esse equilíbrio não existe.
Provavelmente… seria o fim da guerra.

Uma chatice !

Sê bem vindo. É preciso é continuação.
Primeiro estranha-se, depois…

(Olha, gostei das palavras do Sócrates ! Tens mesmo a certeza que foi ele ?)

Grande abraço.

JPSetúbal

03 setembro 2008

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 - Base II


BASE II

DO H INICIAL E FINAL

1º) O h inicial emprega-se:

a) Por força da etimologia: haver, hélice, hera, hoje, hora, homem, humor.

b) Em virtude da adoção convencional: hã?, hem?, hum!.

2º) O h inicial suprime-se:

a) Quando, apesar da etimologia, a sua supressão está inteiramente consagrada pelo uso: erva, em vez de herva; e, portanto, ervaçal, ervanário, ervoso (em contraste com herbáceo, herbanário, herboso, formas de origem erudita);

b) Quando, por via de composição, passa a interior e o elemento em que figura se aglutina ao precedente: biebdomadário, desarmonia, desumano, exaurir, inábil, lobisomem, reabilitar, reaver.

3º) O h inicial mantém-se, no entanto, quando, numa palavra composta, pertence a um elemento que está ligado ao anterior por meio de hífen: anti-higiénico/ anti-higiênico, contra-haste, pré-história, sobre-humano.

4º) O h final emprega-se em interjeições: ah! oh!

Sobre o uso da letra h, H no início e no fim das palavras, nenhuma modificação o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 trouxe relativamente ao estatuido anteriormente, quer na norma de escrita de Portugal, quer na do Brasil.

Em Portugal, os opositores do Acordo acenaram com a supressão do h, H inicial em dezenas ou centenas de palavras de uso corrente, mas sem razão. Tal não acontece, nada muda!

Note-se que a possibilidade de supressão do h, H inicial só é admissível quando esta estiver INTEIRAMENTE consagrada pelo uso.

A situação mais próxima que antevejo de tal ocorrer poderá porventura ser o caso de humidade, húmido, que escritores consagrados, como é o caso de João Ubaldo Ribeiro grafam umidade, úmido. Porém, estamos, a meu ver, ainda muito longe de uma INTEIRA consagração pelo uso do abandono do h, H inicial nestas palavras, pelo que a norma correcta de as escrever continua, no meu entendimento, a ser com o h, H inicial: humidade, húmido.

Repito: nada muda, a este respeito, com o Acordo Ortográfico de 1990. Acenar com o contrário foi, do meu ponto de vista, condenável demagogia de quem se opunha a tal Acordo e, pelos vistos, não teve melhores argumentos do que agir como se os seus concidadãos fossem acríticos atrasados mentais, que tremeriam perante a atoarda lançada.

Rui Bandeira

02 setembro 2008

Grau e qualidade

É raro - mesmo muito raro! -o José Ruah cometer uma imprecisão quando escreve sobre Maçonaria. Aliás, é muito mais provável que desse defeito sofra muito mais eu, com o meu estilo palavroso, de frases complicadas e conceitos fluidos e o meu hábito de me entusiasmar com o que me parece um bom argumento, sem, por vezes, curar de todas as implicações das teses que defendo ou afirmo. O Ruah não. Com o seu estilo seco e directo e com o seu gosto pelas afirmações simples e claras, branco é branco, preto é preto e essa história dos cinzentos é para quem gosta de perder tempo com detalhes insignificantes, raramente escreve algo diferente do que quer efetivamente transmitir e do que tem por acertado.

Mas uma vez não são vezes e, num esclarecimento a uma pergunta do NuNo_R, formulada em comentário ao texto Nelson Évora, Campeão em Pequim e na Vida, quiçá apressadamente formulado, lá permitiu a exceção que confirma a regra e cometeu uma raríssima imprecisão. E eu, não porque alvoroçadamente aproveite para expor o pecadilho, mas porque não gosto que erros, ainda que menores, nas informações dadas aos nossos leitores fiquem sem correção, cá venho procurar pôr tudo no são, esperando que não fique a emenda pior que o soneto e não tenha o Ruah, ou outro qualquer, que vir limpar nódoa que eu irrefletidamente deixe em pano que melhor ficasse sem minha intromissão. Mas basta de entretantos, avancemos para os finalmentes!

Escreveu nesse esclarecimento o Ruah, a propósito das condições de elegibilidade para o ofício de Grão-Mestre, a dado passo:

Ou seja, é preciso ter o grau mais alto das Lojas AZUIS o de Mestre Instalado - não confundir com Altos Graus - e não há auto candidatos.


Não corresponde este trecho que citei, tenho a certeza, ao que o José Ruah queria dizer, pois bem sabe ele que não existe, nas Lojas Azuis, o grau de Mestre Instalado, nem esse hipotético e inexistente grau, precisamente por inexistir, é o mais alto das Lojas Azuis. Na Maçonaria Azul existem apenas três graus: Aprendiz, Companheiro e Mestre. O que existe é a qualidade de Mestre Instalado.

Essa qualidade assiste aos Mestres maçons que foram instalados na Cadeira de Salomão, isto é, que exercem ou já exerceram o ofício de Venerável Mestre.

Mas um Mestre Instalado não é mais Mestre do que os demais, não se encontra num grau superior aos demais Mestres maçons. Apenas se lhe reconhece a qualidade de ter sido instalado na Cadeira de Salomão e, portanto, ter sido considerado apto a dirigir uma Loja maçónica, tanto assim que já uma dirigiu, ou está dirigindo, ou, no limite, em ato imediatamente subsequente à sua instalação na cadeira de Salomão, vai dirigir.

O facto de ser condição de elegibilidade para o ofício de Grão-Mestre, na GLLP/GLRP, possuir-se a qualidade de Mestre Instalado tem a ver com o entendimento de que não deve ser admitido a exercer o mais importante ofício da Obediência quem não tenha a experiência de direção de uma Loja. Tão só.

Porque este blogue é - felizmente! - lido por maçons não só da GLLP/GLRP, faço aqui um pequeno desvio para deixar bem claro que esta opção regulamentar da GLLP/GLRP é apenas isso mesmo: uma escolha feita, pela razão aduzida, mas que não decorre de um Landmark ou de qualquer imposição maçónica. Outras Obediências podem legitimamente ter outras opções regulamentares, outros e diferentes critérios e condições de elegibilidade, sem que, por isso, alguma diminuição de estatuto ou consideração ou capacidade sofram os seus líderes. Cada Potência Maçónica tem as disposições regulamentares que muito bem entende e que tem por adequadas, dentro do espírito da Maçonaria. Esclarecimento que, por cautela, aqui deixo, para que não corra o risco de ser mal interpretado e de que se tirem ilações ou conclusões que eu não quis consignar e que porventura pudessem ferir suscetibilidades, que eu não quero, nem devo, nem tenho qualquer razão ou desejo de atingir. Quem percebeu, fique tranquilo e descansado quanto à pureza das minhas intenções; quem não percebeu, esqueça e passe adiante, que o assunto não lhe diz respeito...

Retomando caminho certo, direito e seguro, não vá o Ruah, ou qualquer outro, concluir mesmo, porventura com acerto, que efetivamente é pior a emenda que o soneto e melhor fora que eu não tivesse metido esta colherada, reafirme-se que a Maçonaria Azul tem apenas e só três graus e que cada maçon a um destes três pertence. Quanto às qualidades, duradouras, efémeras, ou mesmo ocasionais, podem ser de diferente natureza.

Exemplo claro de uma qualidade duradoura é a que aqui se refere de Mestre Instalado: uma vez obtida, conserva-se durante toda a vida maçónica. Quem tiver sido instalado na Cadeira de Salomão, será para sempre Mestre Instalado e nunca deixará de o ser, qualquer que seja o grau que lhe tenha porventura sido conferido fora da Maçonaria Azul, qualquer que seja a função que venha a exercer ou mesmo que mais nenhuma exerça.

Mais efémera é a qualidade que assiste ao maçon no exercício de um ofício: dura enquanto durar esse exercício. Quando um Mestre maçon exerce o ofício de Vigilante, ou de Orador, ou de Secretário, ou qualquer outro em Loja, atua na qualidade de Vigilante, ou Orador, ou Secretário, ou de Oficial de qualquer outro ofício. Quando intervém em Loja sem exercer qualquer ofício, não o faz na qualidade de Oficial.

Ocasional é, por exemplo, a qualidade de visitante numa Loja.

Com alguma frequência ouve-se um maçon dirigir-se a todos os Irmãos presentes, em todos os vossos graus e qualidades.

Rui Bandeira

01 setembro 2008

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 - Base I


BASE I
DO ALFABETO E DOS NOMES PRÓPRIOS ESTRANGEIROS E SEUS DERIVADOS

1º) O alfabeto da língua portuguesa é formado por vinte e seis letras, cada uma delas com uma forma minúscula e outra maiúscula:

a A (á)

b B (bê)

c C (cê)

d D (dê)

e E (é)

f F (efe)

g G ( ou guê)

h H (agá)

i I (i)

j J (jota)

k K (capa ou cá)

l L (ele)

m M (eme)

n N (ene)

o O (o)

p P (pê)

q Q (quê)

r R (erre)

s S (esse)

t T (tê)

u U (u)

v V (vê)

w W (dáblio)

x X (xis)

y Y (ípsilon)

z Z (zê)

Obs.:

1. Além destas letras, usam-se o ç (cê cedilhado) e os seguintes dígrafos:

rr
(erre duplo), ss (esse duplo), ch (cê-agá), lh (ele-agá), nh (ene-agá), gu (guê-u) e qu (quê-u).


2. Os nomes das letras acima sugeridos não excluem outras formas de as designar.


2º) As letras k, w e y usam-se nos seguintes casos especiais:

a) Em antropónimos/antropônimos originários de outras línguas e seus deriva­dos:

Franklin, frankliniano; Kant, kantismo; Darwin, darwinismo: Wagner, wagneriano, Byron, byroniano; Taylor, taylorista;

b) Em topónimos/topônimos originários de outras línguas e seus derivados:

Kwanza; Kuwait, kuwaitiano; Malawi, malawiano;

c) Em siglas, símbolos e mesmo em palavras adotadas como unidades de medida de curso internacional:

TWA, KLM; K-potássio (de kalium), W-oeste (West); kg­quilograma, km-quilómetro, kW-kilowatt, yd-jarda (yard); Watt.

3º) Em congruência com o número anterior, mantém-se nos vocábulos derivados eruditamente de nomes próprios estrangeiros quaisquer combinações gráficas ou sinais diacríticos não peculiares à nossa escrita que figurem nesses nomes:

comtista, de Comte; garrettiano, de Garrett; jeffersónia/ jeffersônia, de Jefferson; mülleriano, de Müller; shakesperiano, de Shakespeare.

Os vocábulos autorizados registrarão grafias alternativas admissíveis, em casos de divulgação de certas palavras de tal tipo de origem (a exemplo de fúcsia/ fúchsia e derivados, bungavília/ bunganvílea/ bougainvíllea).

4º) Os dígrafos finais de origem hebraica ch, ph e th podem conservar-se em formas onomásticas da tradição bíblica, como Baruch, Loth, Moloch, Ziph, ou então simplificar-se: Baruc, Lot, Moloc, Zif. Se qualquer um destes dígrafos, em formas do mesmo tipo, é invariavelmente mudo, elimina-se: José, Nazaré, em vez de Joseph, Nazareth; e se algum deles, por força do uso, permite adaptação, substitui-se, recebendo uma adição vocálica: Judite, em vez de Judith.

5º) As consoantes finais grafadas b, c, d, g e h mantêm-se, quer sejam mudas, quer proferidas, nas formas onomásticas em que o uso as consagrou, nomeada­mente antropónimos/antropônimos e topónimos/topônimos da tradição bíblica;

Jacob, Job, Moab, Isaac; David, Gad; Gog, Magog; Bensabat, Josafat.

Integram-se também nesta forma: Cid. em que o d é sempre pronunciado; Madrid e Valhadolid, em que o d ora é pronunciado, ora não; e Calcem ou Calicut, em que o t se encontra nas mesmas condições.

Nada impede, entretanto, que dos antropónimos/antropônimos em apreço sejam usados sem a consoante final Jó, Davi e Jacó.

6º) Recomenda-se que os topónimos/topônimos de línguas estrangeiras se substituam, tanto quanto possível, por formas vernáculas, quando estas sejam antigas e ainda vivas em português ou quando entrem, ou possam entrar, no uso corrente.

Exemplo: Anvers, substituíndo por Antuérpia; Cherbourg, por Cherburgo; Garonne, por Garona; Genève, por Genebra; Justland, por Jutlândia; Milano, por Milão; München, por Muniche; Torino, por Turim; Zürich, por Zurique, etc.

Através desta primeira base do Acordo Ortográfico, o alfabeto português deixa de ter apenas 23 letras e alinha-se pelos restantes alfabetos latinos, com 26 letras. Esta é uma primeira modificação em relação ao que anteriormente ocorria. Não fazia, efetivamente, sentido que se omitisse no alfabeto as letras k, K, w, W e y, Y, quando, quer em antropónimos, quer em topónimos, mas não só, estas letras são utilizadas.

São também fixados os dígrafos em uso na língua portuguesa (segundo esta entrada da Wikipedia, a palavra dígrafo é formada pelos elementos gregos di, "dois", e grafo, "escrever". O dígrafo ocorre quando duas letras são usadas para representar um único fonema - a menor unidade sonora (fonética) de uma língua que estabelece contraste de significado para diferenciar palavras, conforme se vê aqui. Também se pode usar a palavra digrama (di, "dois"; grama, "letra") para designar essas ocorrências.) e é fixada a única letra que tem uma variante gráfica, o ç, Ç (cê cedilhado), aliás uma singularidade da língua portuguesa.

Note-se que, pela primeira vez, é indicada a forma de pronunciar cada letra ou dígrafo. Através desta indicação, verifica-se, por exemplo, que a letra g, G tanto pode pronunciar-se como guê e que a letra k, K pode ser identificada verbalmente como capa ou cá. Tenha-se, porém, em atenção que a própria base indica que os nomes das letras sugeridos não excluem outras formas de as designar. Assim, não é incorrecto, por exemplo, designar a letra w, W também por duble v ou a letra y, Y por i grego.

Rui Bandeira