O trabalho do Companheiro é, simultaneamente, a continuação do
trabalho do Aprendiz e a realização de uma tarefa diferente.
O Aprendiz trabalha no seu aperfeiçoamento e simultaneamente procura conhecer e reconhecer uma significativa quantidade de símbolos e descortinar o seu significado. O Aprendiz trabalha e aperfeiçoa o espírito. Ao Aprendiz pede-se que abstraia das lhanezas do mundo e da vida e que procure subir aos altos planos do Espiritual, do Ético. O Aprendiz recorda que o Homem não é só carne, não é simples animal sobrevivendo no terceiro planeta à roda de uma obscura estrela na ponta de uma das milhares de galáxias existentes no imenso Universo. O Aprendiz relembra, interioriza, que o Homem é também espírito e que esse é o lado nobre da sua natureza. E cultiva esse lado.
O Companheiro, sem esquecer tudo isso, continuando a trabalhar nesse sentido, deve voltar de novo a sua atenção para a sua Humanidade, para a sua natureza de Homem.
Depois de ter trabalhado exclusivamente concentrado na elevação e aperfeiçoamento espiritual, enquanto Aprendiz, ao Companheiro pede-se que, sem abandonar esse trabalho que aprendeu a fazer, regresse a este mundo, que reassente os pés na Terra, que volte a dirigir o seu interesse, a sua curiosidade, a sua vontade de aprender e de evoluir também para os aspectos do Homem e das Ciências e das Artes.
Um Homem completo não desenvolve apenas as suas aptidões espirituais. Porventura isso fará de quem opte por esse caminho um místico de excelência. Mas o objectivo do caminho e do método maçónicos não é o misticismo, não é a obtenção de epifanias. O objectivo do caminho e do método maçónicos é o desenvolvimento integral e harmonioso do Homem. O seu aperfeiçoamento não deve, pois, ser exclusivamente espiritual, antes este deve ser integrado no conjunto das capacidades humanas. Espírito e Razão, duas faces da moeda que é o Homem. Ambas devem ser integral e harmoniosamente desenvolvidas.
Nos dias de hoje, em que o Materialismo impera, o desenvolvimento do lado espiritual do Homem impõe-se. Mas também se impõe que se não abandone o lado material, científico, terra a terra, que constitui, continua a constituir e sempre constituirá parte da natureza humana.
O trabalho do Companheiro é, pois, depois do trabalho focado no espiritual, e sem o abandonar, regressar e focar-se de novo também nos aspectos "comezinhos" do Homem e do Conhecimento.
O Aprendiz trabalha na descoberta do Grande Arquitecto, do seu lugar na Vida e no Mundo, no vislumbrar do Plano da Criação e em tudo o que o faça subir acima das comezinhas coisas terrenas. O trabalho do Companheiro é regressar a essas coisas terrenas. Porque só assim o maçon será um Homem completo.
O trabalho do Companheiro vem assim reequilibrar o maçon.
Num texto da Cristandade, conta-se como Cristo certa vez acentuou, a propósito da moeda romana e do que se lhe perguntava sobre ela, que se devia dar a Deus o que é de Deus e a César o que é de César. Acentuou e chamou a atenção para a dicotomia entre o material e o espiritual.
Pois bem, o Maçon deve ter presente que é simultaneamente de Deus e de César. Não lhe cabe desenvolver e aperfeiçoar apenas o seu lado espiritual. Também a sua natureza racional, material, o seu espírito científico e ou artístico devem, por igual, merecer a sua atenção.
A Maçonaria não visa tornar homens bons em místicos. Visa tornar homens bons em homens melhores. Deve, portanto, atender à integralidade do Homem, dos seus conhecimentos e realizações.
O trabalho do Companheiro é essencialmente um regresso. Um regresso ao Homem, às Ciências e às Artes. Mas um regresso que não prescinde, que não abandona, que traz na bagagem, tudo o que obteve e aprendeu e viu e intuiu no seu percurso de Aprendiz. Não substitui aquele por um novo. Acrescenta àquele percurso mais uma nova exigência.
Em termos simples, o Aprendiz estuda o Grande Arquitecto, o Companheiro prossegue os estudos, voltando a sua atenção para o Homem. Aquele concentrou-se no Criador. Este recentra-se na Criatura, suas características e realizações.
Espiritual e material. Criador e criatura. Deus e o Homem. O Desconhecido e o comezinho. As etéreas alturas e o terra a terra. Dualidade que é essencial para o maçon. Porque só assim é verdadeiramente completo! Porque mesmo a mais livre ave não pode sempre voar. Também tem que regressar à Terra e nela pousar. E, para isso, tem de conhecê-la, saber onde pode estar segura, onde estão os perigos, como faz , onde se abriga, onde cria os seus filhotes. Céu e Terra.
O trabalho do Companheiro é regressar ao estudo do Homem, das suas Ciências e das suas Artes. Sem deixar de continuar a aperfeiçoar o seu lado espiritual. Assim se completa! Assim se faz!
Rui Bandeira