13 dezembro 2013

A morte.

A minha ilusão pode perfeitamente ser a tua ilusão, a tua vida inteira, as nossas, mas não é e, em boa verdade, é impossível de o ser e ambos o sabemos. Mas (também) sei que aqui não há qualquer ilusão. És matreira e até falsa, pois fazes as “coisas” sem pré-aviso e de uma forma insensível, portanto a ilusão, a existir, é apenas fruto da minha ingénua imaginação.

A nossa relação, não é, nunca foi, nem nunca vai ser fácil, recuso-me, por muito que me eduquem para tal, a reconhecer-te como uma fase desta passagem, é algo meu, sem falsos rodeios, posso afirmar-te, a ti e a quem quiser, é pura e sentida reciprocidade.

Não somos, nem nunca vamos ser amigos, é de todo impossível nutrir por ti, outro qualquer sentimento que não seja a repulsa. Como poderei respeitar, encarar e entender algo que não se dá a conhecer? Por muito fértil que fosse a minha imaginação, até tu reconheces, que é de todo impossível.  

Compreendo que não tenhas de avisar-me de nada do que fazes, não sou nem quero ter esse ónus, entendo que seja essa a ordem natural de algo superior que sinto mas não consigo alcançar com o olhar, por muito que o quisesse. Sei ainda que a naturalidade com que tomas as tuas atitudes são acasos do ocaso, no limite conseguirei compreender tudo aquilo que fazes.

Quando levas contigo alguém de quem gosto, alguém pelo qual nutro sentimentos nobres, como a amizade, o respeito e o amor, hás-de convir que ainda menos te entendo, podes fazer a todos os outros, mas não a mim. É injusto. Chega a ser imoral.

Não tenho especial gosto em escrever-te direta e abertamente desta forma, mas a não compreensão da tua existência e proximidade com o meu pequeno mundo a isso me obriga.

Um dia, quando entenderes que é chegada a minha hora, irei relembrar-te de tudo isto e, darei muita luta, pois se agora penso assim, o passar dos anos farão vincar ainda mais estas minhas ideias.

Nesse dia, mesmo a dizer que não quero ir, que não é a minha hora, sei que irei contra vontade, e nesse dia, acredito que passemos a ser amigos.


Daniel Martins

1 comentário:

Joaquim Almeida Santos disse...

Caro e Exmo. Senhor,
Saúdo-o!
Permita-me que utilize um enxerto do seu texto para - no respeito pelo seu contéudo! - transmitir a sua subtil forma de perscrutar o Mistério da Morte:
_ "Um dia, quando entenderes que é chegada a minha hora, irei relembrar-te de tudo isto e, darei muita luta, pois se agora penso assim, o passar dos anos farão vincar ainda mais estas minhas ideias.
Nesse dia, mesmo a dizer que não quero ir, que não é a minha hora, sei que irei contra vontade, e nesse dia, acredito que passemos a ser amigos."
Refletindo sob esta mensagem, é-nos demonstrado o desejo de Viver.
Grato!
Cordiais Cumprimentos,