31 julho 2013

Ajudam-se uns aos outros...


Uma das vantagens de se ser transparente em relação à condição de maçom é a possibilidade de dialogar sobre Maçonaria com pessoas que preenchem praticamente todo o espetro de simpatia (ou antipatia) em relação à Instituição - desde os que a apreciam, aos que a respeitam, aos que gostariam de entrar nela, aos indiferentes, aos que pensam mal dela porque não conseguiram nela ser admitidos, aos que não gostam dela mas não sabem bem porquê, aos desconfiados, até aos ferozes opositores. Porque gosto de trocar ideias, porque pratico efetivamente a Tolerância e respeito sempre as ideias alheias, mesmo quando (e especialmente quando) são contrárias às minhas, consigo conversar sobre Maçonaria com todos, exigindo apenas que a conversa decorra calma, serena e sem derivas de má-criação. Às vezes, consigo ver o meu interlocutor a evoluir na sua ideia inicial; outras, sinto que que o enquistamento de ideias é tão profundo e tão cerrado que seria preciso muita água mole naquela cabeça dura para lograr um pequeno furo por onde passe um pensamento levemente diferente... Mas, hélas, não se pode ganhar sempre...

Sempre que falo com quem não aprecia particularmente a Maçonaria, seja por desconhecimento, desinformação ou legítima convicção, é recorrente ouvir, mais tarde ou mais cedo, o mesmo argumento: os maçons ajudam-se uns aos outros...

Quando esta música toca, começo logo a dançar! A minha resposta é sempre a mesma, e o mais rápida e incisiva possível: "pois ajudam; e que mal é que o meu amigo vê nisso?".

Duas vezes em três, o meu interlocutor começa logo a gaguejar! Ele, que esperava ferir-me duro golpe com aquela conversa e eu, não só não nego, como confirmo e lhe exijo que demonstre qual o problema!

Prossigo logo no contra-ataque, que a rapidez é essencial! O meu caro interlocutor, entre a família e um estranho, quem favorece? Se tiver possibilidades de obter um emprego para alguém, em igualdade de capacidades dos candidatos, dá-o a um amigo ou a um inimigo? Entre um vizinho e um estranho, quem é que ajuda em primeiro lugar? Se estiver a ver um jogo escolar, torce pela equipa do filho ou pela equipa contrária? E vou por aí fora o tempo que for preciso e que a imaginação do momento me permitir.

Deixemo-nos de hipocrisias! O homem é um animal gregário por natureza. A sua natureza gregária fá-lo inserir-se em grupos: família, vizinhos, colegas, amigos, o que se queira. Ser gregário e integrar-se em grupos necessariamente que implica a distinção entre "nós" e os "outros", o nosso grupo e o grupo alheio.

E, sempre que existe a integração em grupos - e isso é virtualmente SEMPRE, pois o Homem é, por natureza, um animal social -, inevitavelmente que preferimos os "nossos" aos outros, que naturalmente estamos em sintonia com os nossos grupos, que, sempre que a questão se puser, e em igualdade de circunstâncias, damos preferência a alguém do nosso grupo em detrimento de quem a ele não pertence.

Isto faz parte da natureza humana e venha o mais pintado dizer-me que com ele não é assim! Se o fizer, fica já a saber que eu só pondero duas alternativas: ou pensar que é mentiroso; ou dizer-lhe isso mesmo na cara! E isto sou eu, que sou um tipo tolerante... 

Portanto, deixemo-nos de tretas! Os maçons ajudam-se uns aos outros, sim. Dão preferência aos Irmãos sempre que podem e em igualdade de circunstâncias, pois dão. E não fazem mais do que a sua obrigação! É essa a natureza humana e agir conformemente com a nossa natureza é atuar como o Criador nos fez! Ajudam-se uns aos outros os maçons como se devem ajudar uns aos outros os familiares, os colegas, os amigos, os vizinhos, etc.!

Aceito perfeitamente que haja quem não goste da Maçonaria e dos maçons! Se todos gostássemos da mesma coisa, este mundo era uma sensaboria! Mas, pelas alminhas!, quem não gosta dos maçons, faça ao menos o esforço de não gostar por razões inteligentes!

E com esta me vou de férias! Em agosto não escrevo, que férias é isso mesmo, fazer o que normalmente não se faz no resto do ano e não fazer o que nos empenhamos em fazer no tempo normal. Mas, como não quero que falte nada a quem já se habituou a visitar este espaço, já providenciei para que, em cada uma das quartas-feiras de agosto, à hora habitual, seja republicado um texto já antigo, que "pesquei" do arquivo do blogue. Assim, mato três coelhos com a mesma cajadada: dedico-me ao meu dolce far niente, mantenho o hábito de pelo menos uma publicação semanal no blogue (já que isto, em matéria de co-autores, anda uma secura danada...) e dou nova visibilidade a textos antigos que acho merecedores de serem relidos por quem já os leu e descobertos por quem os desconhecia.

Portanto, se Deus quiser... e eu continuar para aqui virado... até setembro e entretanto, como dizia o saudoso Solnado, façam o favor de ser felizes - que eu tento fazer o mesmo!

Rui Bandeira

8 comentários:

JPA disse...

Boas férias Rui.


Atenciosamente
JPA

Diogo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Diogo disse...

Caro Bandeira, o seu sentido de honestidade e de ética são para mim, ao fim de todos os debates que já que já tivemos, uma coisa inquestionável. Em suma, tenho-o como excelente pessoa.

Mas é neste post que você põe a nu a desonestidade da maçonaria.


Bandeira : «Portanto, deixemo-nos de tretas! Os maçons ajudam-se uns aos outros, sim. Dão preferência aos Irmãos sempre que podem e em igualdade de circunstâncias, pois dão. E não fazem mais do que a sua obrigação! É essa a natureza humana e agir conformemente com a nossa natureza é atuar como o Criador nos fez! Ajudam-se uns aos outros os maçons como se devem ajudar uns aos outros os familiares, os colegas, os amigos, os vizinhos, etc.!»


Isso da igualdade de circunstâncias é uma falácia.

Quando um decisor de uma empresa escolhe para determinado lugar um familiar ou um amigo está em 99% dos casos a prejudicar a empresa como você muito bem sabe e porque os candidatos são todos diferentes. Não é escolhido o melhor, é escolhido o familiar ou o amigo. Se o patrão descobrisse, provavelmente o decisor e o familiar ou o amigo acabavam no olho da rua.

Com a maçonaria o caso é mais grave: um grupo de indivíduos decide montar uma sociedade secreta para se ajudarem mutuamente. Um decisor (maçon) escolhe para um determinado cargo de poder um indivíduo (outro maçon) que o irá ajudar mais tarde dentro da organização. E assim, todos os maçons se puxam uns aos outros de uma forma pouco honesta dentro das organizações. Portanto a necessidade do sacrossanto segredo - para ninguém desconfiar que estão conluiados.

Os maçons não são mais do que indivíduos que pretendem subir na vida por intermédio da influência e não da competência. E o resto da sociedade sai prejudicada com isso.

Marcos Amaro disse...

Caro Diogo;
Creio que será uma das poucas ocasiões em que poderemos vir a estar de acordo, “mas”…, pois é, existe um “mas”.
Diogo gostava de poder concordar consigo, mas antes disso gostava de fazer um pequeno exercício consigo, se assim o entender.
Vamos ao exercício:
O Diogo é Diretor Financeiro de uma empresa e perante um cenário de crescimento da empresa, onde trabalha, coloca-se a necessidade de admitir um adjunto para o Diogo, ou seja, ou Diretor Financeiro Adjunto.
Condições para a entrada desse Diretor Financeiro Adjunto:
O Diogo será responsabilizado profissionalmente e pessoalmente pelos erros que possam vir a ser realizados por essa pessoa!
O Diogo terá a total liberdade e responsabilidade na escolha desse mesmo Diretor Financeiro Adjunto!
Ao Diogo não lhe é permitido assumir a operacionalidade de todas as áreas, sendo desta forma obrigado a delegar, ao Diretor Financeiro Adjunto, a parte correspondente a pagamentos de fornecedores, gestão e relação com entidades Bancárias e supervisão dos custos e encargos da área de marketing!
O processo de recrutamento é público, sendo livre a candidatura de terceiros, mas onde todos os candidatos têm que ser entrevistados, desde que tenham respondido ao anúncio e se apresentem com as competências solicitadas!
Perante estas regras do jogo consideramos os seguintes cenários:
Cenário 1:
Respondem 5 candidatos com perfil profissional e académico dentro do estabelecido, mas um deles é seu amigo pessoal e um outro membro de um clube social onde o Diogo vai todas as semanas e sabe que as pessoas, tal como o Diogo, que fazem parte desse clube, são pessoas que partilham os mesmos valores e princípios que o Diogo e claro são pessoas de bem e de valor.
No processo de seleção, deste 1º cenário o Diogo avalia todos os candidatos da mesma forma e na sua seleção final tem 1 candidato que nunca viu, nem conhecia de nenhum lado antes da 1ª entrevista e tem um outro candidato que é o seu amigo pessoal, que para além de ter exactamente as mesmas competências profissionais e pessoais acresce o tal factor que o Diogo o conhece bem e sabe que pode contar com ele no cargo em causa.
Pergunta: O que o Diogo faz, escolhe o outro candidato, só para não favorecer o seu amigo neste caso de total igualdade de competências, ou escolhe o seu amigo, porque para além das competências conhece o mesmo e sabe que ele já mais o irá trair e ou por em causa a empresa que o Digo representa e para a qual também trabalha?
Cenário 2:
Respondem 5 candidatos mas nenhum passou no processo de pré-selecção e estando em causa o seu futuro como Diretor Financeiro da empresa para a qual trabalha, se não conseguir contratar um novo Diretor Financeiro Adjunto, mas perante esta confrontação o Diogo lembra-se que afinal até conhece um “tipo” que pertence a um mesmo clube social, que não só se encaixa dentro do perfil requerido, como até está neste momento à procura de trabalho.
Pergunta: O que o Diogo faz, diz ao Diretor Geral que não conseguiu encontrar ninguém e desta forma assume a dificuldade e incapacidade de recrutar um novo Diretor Financeiro Adjunto , sabendo que isso ira levar a que a empresa recrute um novo Diretor Financeiro, que seja capaz de encontrar o tal Adjunto e assim cumprir para com os requisitos da empresa, ou, como até conhece as regras de seleção do tal clube social e sabe que se o “tal tipo” pertence ao clube é porque até partilha os mesmos valores que os seus e tal como o Diogo se está nesse clube é porque é uma pessoas de bem, fala com esse mesmo “tipo” e faz-lhe a proposta para vir trabalhar consigo, respondendo desta forma à exigência da empresa e de alguma forma assegurando que tem ao seu lado um homem de trabalho, um homem de iguais valores e que até partilha os mesmos valores e princípios que o Diogo?
Estimado Diogo a minha concordância consigo está totalmente dependente da sua resposta honesta e sincera, como é de esperar dum homem como o Diogo que tanto reclama transparência e sinceridade.
Atenciosamente,
Marcos Amaro.

Jocelino Neto disse...

Excelente exposição Marcos Amaro. Este exercício, que evoca o Diogo à reflexão além dos seus preconceitos, também estimula aos que procuram conhecer (sim, é necessário sair da apatia conformista e buscar) o que há além das aparências. Aos indolentes, a tolerância e a paciência. Ao Diogo e aos sinceros buscadores de suas Verdades, meu sincero apreço por vossa determinação. Que o bom senso prevaleça.

Meu caro I.´. Rui Bandeira, que vosso período de descanso merecido seja pleno. Agradeço por mais esta atitude gentil em não deixar desguarnecidos os leitores deste blog. A "Luz" não se deteriora, portanto, que venham os textos, sejam de agora ou de outrora.

À Glória do Grande Arquiteto do Universo.

T.´.F.´.A.´.

Diogo disse...

Caro Marcos,

Você coloca-me duas situações ideais. Um amigo que tem todas as competências, que tem provas dadas, que jamais me trairá, que tem os meus valores, etc., versus quatro desconhecidos dos quais eu nada sei.

Acontece que na vida real (e se eu não estiver na função pública), a coisa raramente é assim. Todos eles na sua candidatura apresentaram um curriculum que eu tenho de avaliar onde descrevem as suas trajetórias profissionais e os cursos que frequentaram. Mais, na entrevista posso colocar questões que me podem revelar o verdadeiro grau de conhecimento dos candidatos.

O facto de eu não conhecer certas características dos outros quatro candidatos não significa que elas sejam positivas ou negativas.

Ou seja, numa posição de tanta igualdade nas competências, eu estar a apostar num amigo teria 1/5 de possibilidades de acertar no indivíduo correcto. Porque, qualquer um dos outros quatro poderia revelar qualidades insuspeitas positivas que ultrapassariam o nosso amigo.

Marcos Amaro disse...

Caro Diogo;
Fico satisfeito com a sua replica face ao meu desafio, no entanto a sua resposta é uma não resposta, pois o cenário criado é isso mesmo apenas um cenário e o Diogo perante dados concretos (cenário) onde as possibilidades são exactas responde-me com uma atitude de fuga face a uma escolha clara de sim ou não.
Digo só para adicionar um pouco de pimenta ao tempero dado aos cenários por mim criados, estes cenários não são tão impossíveis no dia a dia das empresas, estes cenários (devidamente desenquadrados da realidade) já me passaram pelas mãos e em cargos diferentes, perante perfis opostos, a diferença da realidade não é tão distante como lhe possa parecer.
Voltando ao meu desafio e perante a sua resposta fico sem poder concordar com a sua abordagem inicial, onde aquilo que observo são pré-conceitos e preconceitos, sobre conceitos predefinidos por pessoas que falam sobre o que lhes deixam observar e com muita ignorância sobre o que na realidade se passa.
Nota: Pessoalmente acredito que o Diogo sabe que, para além da imagem que quer fazer prevalecer acerca do seu perfil, na realidade sabe que muito do que escreve não passa de pequenas descargas eléctricas com vista a alimentar uma necessidade permanente de confrontação perante o que gostava de conhecer e por algum motivo, em algum momento lhe foi negado (aceito estar errado e se assim for aceito a correção).
Diogo a tolerância e respeito pelas opções dos outros é realmente um direito que a todos deve ser dado e um dever de quem quer que para com ele sejam tolerantes e respeitadores.

Diogo disse...

Caro Marcos,

A questão aqui é sempre a mesma: o Segredo. Os maçons não querem que saiba cá fora que se conhecem uns aos outros (tendo, até, sinais próprios para se reconhecerem uns aos outros, e o segredo do que é dito dentro das suas lojas. Seria impossível todo este segredo não levantar suspeitas.

Não que eu não acredite em maçons honestos e crentes nos princípios publicamente apregoados da maçonaria. É assim que eu vejo alguns dos que fazem parte desta loja.

Simplesmente, e todos sabemos isso, há lojas envolvidas em negócios muito escuros e com membros em altos cargos de poder. Isso não pode ser tolerável.

Abraço.