18 junho 2012

O que se faz numa sessão maçónica - II




Na sequência do meu texto da semana passada o Streetwarrior comentou:

"As sessões colocadas desta maneira, parecem ser uma coisa muito chata ! Gostaria de perceber estes 3 aspectos que sempre me deram muita curiosidade.
Visto que desde os primordios das nossas civilizações, tudo o que nos rodeia, é ligado á religião tudo é politica, o que sobra para se discutir numa sessão?
Se não se pode discutir religião, qual o interesse então de uma maçonaria ser Crente ou não numa entidade religiosa?
Por fim...qual a razão do Mestre andar em angulos rectos, terá isto a ver com (Anjos = Angulos ) bom e maus, visto que a nivel Astro-teológico existem bons angulos e maus angulos?"

Comecemos pelo fim. "Ângulos" vem do latim angulus, “canto, área remota". "Anjos" vem do latim eclesiástico angelus, derivado do grego antigo άγγελος ("ángelos"), e significa "mensageiro". Em comum têm apenas alguma similaridade fonética. Já no que diz respeito à maçonaria e aos ângulos retos, é questão que nada tem que ver com anjos. Aqui, uma referência ao ângulo reto constitui, quase sempre, uma referência ao conceito de "retidão moral", simbolizada pelo esquadro que serve para traçar e aferir os ditos ângulos. A própria linguagem do dia-a-dia consagra, já, esse simbolismo, ao chamar "enviesado" (de "viés": oblíquo, torto) a algo que tenha contornos pouco direitos, e chamando "pessoa reta" a quem cumpra os princípios morais. Assim, as deslocações em loja são feitas em linhas e ângulos retos, recordando-nos que um maçon deve, no seu deambular pelo mundo, agir de forma reta e evitar percursos (moralmente) oblíquos e enviesados.

Quanto ao interesse de uma maçonaria crente numa Entidade Superior, e o facto de essa mesma Entidade não poder ser discutida, é fácil de explicar e de entender. Não é difícil de imaginar que um judeu, um hindu, um cristão, um animista e um muçulmano tenham em comum entre si coisas que não têm em comum com um ateu ou com um agnóstico: todos eles creem no sobrenatural, e na existência de uma Entidade Superior a quem devem a existência e cuja vontade procuram satisfazer. Agora, não tentemos ser mais específicos do que isto, ou estaremos condenados a intermináveis discussões sobre o número de anjos que cabem na cabeça de um alfinete... A diversidade de crenças deve ser enriquecedora, e permitir que cada um tenha a oportunidade de se aperceber de posições diversas da sua, sem ter sequer que defender a sua posição de uma posição diferente; pretende-se, isso sim, que constitua uma circunstância pedagógica da alargamento dos horizontes e de aumento da tolerância em face das diferenças.

Por tudo isto é que creio que a proibição de discussão política e religiosa em loja é frequentemente mal entendida. Em maçonaria aprende-se a favorecer a paz em detrimento do conflito; a preferir a fraternidade à facciosidade; e a privilegiar o estabelecimento de consensos e evitar a dissenção. Por outro lado, a maçonaria constitui um espaço de respeito pela liberdade de cada um como dificilmente se encontra nos nossos dias, nomeadamente no que concerne a liberdade de expressão. Precisamente como garante dessa liberdade de poder dizer-se o que se pensa, por vezes como exercício de exploração interior, sem que tal se repercuta fora da loja, é que em cada sessão se jura guardar silêncio do que na mesma se passou. Ora, dificilmente se encontra uma posição com que todos se identifiquem, pois a procura do bem comum raramente passa pela satisfação dos desejos individuais, o que é tão mais verdadeiro quanto mais fraturante for a questão em causa. Como conciliar estes dois princípios estabelecendo um equilíbrio é algo que se vai aprendendo todos os dias.

É por isto que - no meu entender, note-se - a proibição de discussão política e religiosa em loja não se esgota nos seus termos, que são essencialmente exemplificativos e ilustrativos de um princípio maior: o de que a concórdia entre os homens deve prevalecer sobre a liberdade de expressão. Esta posição nada tem ou pretende ter de totalitário. "Discutir" não é a única forma de abordar um tema ou falar sobre o mesmo. Na loja Mestre Affonso Domingues, por exemplo, pode falar-se de praticamente tudo, desde que em absoluto respeito pela posição dos demais, no sentido de que deve procurar-se que estes não se sintam de modo algum  agredidos com aquilo que se diz.

Certamente à luz desta interpretação foi, há um par de anos, apresentada uma prancha sobre a condenação da maçonaria pela igreja católica ao longo da história, e recentemente, dias antes da lei sobre o "testamento vital" ser unanimemente aprovada pelo nosso parlamento, uma prancha sobre esse mesmo tema apresentada por um mestre da nossa loja que conhece o assunto a fundo. Seria impossível falar da primeira sem falar de religião, e da segunda sem falar de política. O que foi feito, num e noutro caso, foi apresentar-se factos inquestionáveis por qualquer pessoa de boa fé, e eventualmente um ou outro comentário pessoal - devidamente identificado como tal - no meio ou no fim do texto, sempre com o devido cuidado de se evitar o conflito entre diversas posições. Não foram "artigos de opinião", e muito menos de propaganda. Num e noutro caso os obreiros presentes manifestaram a sua satisfação pela qualidade e forma como as pranchas foram apresentadas, e ninguém manifestou qualquer desconforto.

Termino respondendo à primeira observação, de que as sessões maçónicas deverão ser uma coisa muito chata. Depois do que acabei de expor, será inesperado que eu responda que... não são?!

Paulo M.

4 comentários:

Streetwarrior disse...

Boas @Paulo
Obrigado por ter tido a amabilidade de me dedicar toda uma explicação num Post.

Vou tentar explicar as minhas duvidas e afirmações, no entanto, eu compreendo que a discrição e a reserva relacionada com certos assuntos que se tratam em loja, nunca iriam levar a que qualquer membro afirma-se....sim, isso é verdade! Pois se são reservados, logo não podem ser confirmados abertamente.
No entanto ...cá vai!

Já me foi explicado, e compreendo que a questão da religião e divindade não é discutida em loja por ser uma questão fractrurante, Claro!.. o que tem toda a lógica.
Tem lógica, porque os assuntos que são discutidos em loja, são transversais e não tem propriamente a ver com uma religão especifica mas sim, com uma ciencia, um ensinamento que é transversal a todas e é só assim se explica que não se torne fractrurante!
Se fosse baseada numa só crença, seria uma imposição sobre o que outros acreditam.
Pois se colocar um Padre católico junto com um Rabi numa igreja muçulmana,lógicamente, ai iram discordar e só se explica que não o façam numa loja maçónica porque a base, a ciência, a filosofia que se professa é comum, portanto transversal, logo indiscutivel.
Até aqui...não tenho duvidas.

Com respeito aos Angulos.
Todas as grandes religiões professam uma filosofia que mascaram com Apóstolos, Reis Magos, terras prometidas,O Céu, o Inferno, Anjos bons Anjos maus etc...e essa filosofia apesar de ter sido travestida pelos Romanos e outros fariseus que perseguem o Dizimo, continua a tratar e a ensinar o Culto Solar e a forma como o Sistema Solar se Comporta.. principalmente, a força, a energia que a LUZ do sol nos transmite, durante a viagem do Sol pelos 12 Apostolos...perdão, pelos 12 meses.
Ora, o Sol, durante a sua viagem Anual pelas 12 casas do Zoodiaco, perfaz 360º Anjos...ou Angulos, tendo a luz que irradia sobre nós e sobre o nosso planeta mais ou menos influência.
Hoje sabemos também que a posição do Sol em relação aos outros Eloíns ou planetas também nos afecta e conforme os Anjos, ou angulos relativamente entre eles, produzem efeitos no comportamento quer ao nivel do nosso planeta, quer ao niovel do nosso corpo.
E para quem possa pensar em dizer que o comporatamento das estrelas,dos Planetas e seus Satélites não nos afecta, quem rege os nossos mares? O ano? O Dia ?
Porque razão, Saturno não afecta as nossas emoções? Porque razão é ele mitologicamente considerado como O JUIZ?
Os nossos antepassados não eram nenhum parvos!

E é por isso que os Anjos são os mensageiros...pois eles determinam como a Luz nos chega e como nos Afecta...bem ou mal.

É claro que em Maçonaria, essas representações Alegóricas tem essas metáforas baseadas em " questões Morais ".
No entanto, se pensarmos bem nesse conceito de questões morais...O que é a moral?
Será que quem nos conduz, se pauta pelos mesmos principios morais e Eticos que nos induze prega?
Qual é a Moral das pessoas responsaveis pelo estado do nosso planeta, muitos dele maçons?
È a Moral do faz o que eu digo, não o que eu faço?

Mas mesmo aceitando a coisa posta dessa forma, em parte, também é verdade, pois quem os compreenda (os Anjos/Angulos )saberá se comportar devidamente.

Agora, eu aceito que o paulo e outros maçons, não possam falar abertamente sobre estas coisas em publico....pela mesma razão que a ICAR perseguiu a Maçonaria e outros homens...pois a mesma, sabe de tudo isto e quer manter Ocultamente o controlo desta ciencia e por isso rasgou livros de Hereges, ( pensadores livres ) matou e aniquilou todos os grandes filosofos que a descobriam e professavam.

Continua...

Streetwarrior disse...

Em Maçonaria, basta perceber toda a sua arquitectura de loja, sua disposição de objectos, seus simbolos para aprender...enfim, toda uma ciencia que grau a grau, vai ensinando que nós, como seres humanos, nos comportamos ao nivel micro-cosmicos, tal como tudo o que está lá para cima, no Macro-Cosmos.

Volto a dizer...hoje ,cada vez mais compreendo Maçonaria, agora custa-me a aceitar e a perdoar que este conhecimento se mantenha Oculto, tudo fazendo para programar as massas não as educando ou reservando só para si, a chave de muitos problemas que afectam a nossa civilização.

Mas que ninguém duvide, o verdeiro Evangelho um dia voltará a ser pregado!

E eu sei que as sessões não são chatas...!

Streetwarrior disse...

The Pharisees and the Schoolars, have taken the keys of knowledge, and have hidden them.
They have not entered nor have they alowwed those who wanted to enter to do so.

The Gospel ( Go spirit of el ) of Thomas

Unknown disse...

Porque o Paulo não respondeu???
Hummm... acho que o Streetwarrior tocou fundo...