16 novembro 2011

A Maçonaria NÃO É uma sociedade secreta (III)


Leão XIII
A Encíclica Humanum Genus, de Leão XIII (texto integral em português aqui) elenca as críticas da alta hierarquia da Igreja Católica à Maçonaria.

A primeira, não destituída de fundamento, na época, atento o acentuado anticlericalismo que a Maçonaria Liberal e então revolucionária manifestava, era a de que o propósito da Maçonaria era a destruição da Igreja:

Nesta época, entretanto, os partisans (guerrilheiros) do mal parecem estar se reunindo, e estar combatendo com veemência unida, liderados ou auxiliados por aquela sociedade fortemente organizada e difundida chamada os Maçons. Não mais fazendo qualquer segredo de seus propósitos, eles estão agora abruptamente levantando-se contra o próprio Deus. Eles estão planeando a destruição da santa Igreja publicamente e abertamente, e isso com o propósito estabelecido de despojar completamente as nações da Cristandade, se isso fosse possível, das bênçãos obtidas para nós através de Jesus Cristo nosso Salvador.

A segunda era a do perigo, que entendia nalguns casos já concretizado, do domínio dos Estados pela Maçonaria:

Em consequência, a seita dos Maçons cresceu com uma velocidade inconcebível no curso de um século e meio, até que se tornou capaz, através de fraude ou audácia, de obter tal acesso em cada nível do Estado de modo a parecer quase a sua força governante. Este veloz e formidável avanço trouxe sobre a Igreja, sobre o poder dos príncipes, sobre o bem estar público, precisamente aquele grave dano que Nossos predecessores tinham previsto muito antes. Tal condição foi atingida que de agora de diante haverá grave razão para temer, não realmente pela Igreja - porque sua fundação é firme demais para ser derrubada pelos esforços dos homens - mas por aqueles Estados em que prevalece o poder, ou da seita da qual estamos falando ou de outras seitas não diferentes que curvam-se a ela como discípulas e subordinadas.

A terceira era que considerava a Maçonaria como criadora ou veiculadora das "doutrinas dos socialistas e comunistas", da legalização do divórcio e dos sistemas de governo democráticos e republicanos:

Nós já por muitas vezes, conforme as ocasiões surgiram, atacamos alguns pontos principais dos ensinamentos que demonstraram de uma maneira especial a perversa influência das opiniões Maçónicas. Assim, em nossa carta encíclica, Quod Apostolici Muneris, Nós Nos esforçamos por refutar as monstruosas doutrinas dos socialistas e comunistas; depois, em outra começando com "Arcanum", Nós penosamente defendemos e explicamos a verdadeira e genuína idéia da vida doméstica, da qual o matrimónio é o ponto de partida e a origem; e novamente, naquela que começa com "Diuturnum"[11], Nós descrevemos a ideia de governo político conforme os princípios da sabedoria Cristã, que é maravilhosa em harmonia, por um lado, com a ordem natural das coisas, e, por outro lado, com o bem-estar tanto dos príncipes soberanos quanto das nações. É agora Nossa intenção, seguindo o exemplo de Nossos predecessores, tratar diretamente a própria sociedade maçónica, todo o seu ensinamento, seus objetivos, e a sua maneira de pensar e agir, de modo a trazer mais e mais à luz seu poder para o mal, e fazer o que Nós pudermos para deter o contágio desta peste fatal.

A quarta crítica é curiosa: por um lado, reconhece que os maçons se reúnem à "luz do dia e à vista do povo, e publicam seus próprios jornais"; por outro, continua a verberar o que considera serem caraterísticas de sociedade secreta, que entende ser da "natureza e hábitos" da Maçonaria:

Agora, estes não mais mostram um desejo de permanecer escondidos; pois eles realizam seus encontros à luz do dia e à vista do povo, e publicam seus próprios jornais; e contudo, quando completamente compreendidos, descobre-se que eles ainda retêm a natureza e os hábitos de sociedades secretas. Há muitas coisas como mistérios que é regra fixa esconder com extremo cuidado, não somente de estranhos, mas de muitos e muitos membros, também; tais como seus desígnios secretos e últimos, os nomes de seus maiores líderes, e certos segredos e encontros privados, assim como suas decisões, e os caminhos e meios de executá-las.

No entanto, logo de seguida percebe-se que o famoso secretismo da Maçonaria não é afinal, tão secreto assim, pois - com acerto, note-se bem! - logo se descreve em que consistem afinal os "mistérios que é regra fixa esconder com extremo cuidado":

Os candidatos são geralmente ordenados a prometer - e mais, com um especial juramento, a jurar - que eles não irão nunca, a nenhuma pessoa, em qualquer tempo ou de qualquer modo, dar a conhecer os membros, as senhas, ou os assuntos discutidos.

A quinta crítica constitui, no meu entender, a verdadeira contradição entre a Maçonaria e a conceção do mundo e da religião da alta hierarquia da Igreja Católica, a influência do pensamento iluminista e racionalista na Maçonaria e a sua não exclusão da conceção deísta, que, em execução do princípio da tolerância, é admitida na Maçonaria, tal como o é a conceção teísta, esta a única admitida pelas religiões baseadas na Revelação Divina, e a recusa maçónica do conhecimento escolástico, em favor da ciência experimental:

Agora, a doutrina fundamental dos naturalistas, que eles tornam suficientemente conhecida em seu próprio nome, é que a natureza humana e a razão humana deveria em todas as coisas ser senhora e guia. Eles ligam muito pouco para os deveres para com Deus, ou os pervertem por opiniões erróneas e vagas. Pois eles negam que qualquer coisa tenha sido ensinada por Deus; eles não permitem qualquer dogma de religião ou verdade que não possa ser entendida pela inteligência humana, nem qualquer mestre que deva ser acreditado por causa de sua autoridade. E desde que é o dever especial e exclusivo da Igreja Católica estabelecer completamente em palavras as verdades divinamente recebidas, ensinar, além de outros auxílios divinos à salvação, a autoridade de seu ofício, e defender a mesma com perfeita pureza, é contra a Igreja que o ódio e o ataque dos inimigos é principalmente dirigido.

Mas, para Leão XIII, a insidiosa seita maçónica propala ainda mais perigosas ideias:

Por um longo e perseverante labor, eles esforçam-se para alcançar este resultado - especificamente, que o ofício de ensinar e a autoridade da Igreja tornem-se sem valor no Estado civil; e por esta mesma razão eles declaram ao povo e argumentam que a Igreja e o Estado devem ser completamente desunidos. Por este meio eles rejeitam das leis e da nação a saudável influência da religião Católica; e eles consequentemente imaginam que os Estados devem ser constituídos sem qualquer consideração pelas leis e preceitos da Igreja.

Traduzindo: os maçons pregam a separação entre o Estado e a Igreja! A dura batalha que a Igreja Católica então travava era contra a perda do seu Poder Temporal, a favor da manutenção dos Estados Confessionais, com religião de Estado, com todas as consequências a isso inerentes. Batalha essa que, pouco mais de um século volvido, sabemos que foi perdida. Hoje, a laicidade dos Estados é a regra, a Liberdade Religiosa, entendida como a liberdade de cada um ter ou não ter religião e de todas as confissões religiosas poderem livremente exercer o seu múnus é regra consensual, pelo menos nos países democráticos ocidentais. Hoje, até a Igreja Católica aceita este princípio. Há pouco mais de um século, maçons e hierarquia eclesiástica católica estavam em campos opostos neste aspeto - e verificou-se que eram os maçons que estavam no lado certo! Hoje, cabe a todos, maçons incluídos, expressarem a sua satisfação por a hierarquia eclesiástica católica se ter entretanto e finalmente juntado aos demais nesse lado certo!

Seja como seja, no final do século XIX, a doutrina da Igreja era outra, a luta entre a "sociedade antiga" e a modernidade estava no auge. Como facilmente se verifica através da leitura da longa encíclica, Leão XIII considera que os maçons são os porta-vozes daquilo a que chama "os naturalistas", das conceções iluministas, racionalistas, experimentalistas, em contraponto ao que então a Igreja Católica representava e defendia: a escola escolástica, a superior validade da Verdade Revelada em relação às descobertas da Ciência, o direito divino de governar concedido a alguns, em contraponto à essencial igualdade de todos os cidadãos, defendida pelos cultores da Modernidade, a defesa do Estado Confessional Católico contra o Estado laico e a Liberdade Religiosa.

A condenação de Leão XIII da Maçonaria não é já feita em nome da sua pretensa condição de "sociedade secreta" (reduzida a breve e praticamente irrelevante referência), mas sim em função da constatação da existência de consideráveis diferenças de pensamento em relação a várias questões de organização social, de conceção da Sociedade, de valoração e consideração dos direitos e liberdades individuais, entre dois campos: o dos que Leão XIII chama de "naturalistas", onde inclui os maçons, e o das conceções vindas dos fundos dos séculos, que a Igreja Vaticanista continuava então a defender.

Discordo - não tanto, ou não principalmente, como maçom, mas, afinal, como homem deste século XXI - das conceções expressas na encíclica Humanum Genus. Mas, afirmada essa discordância, impõe-se o reconhecimento de que se trata de um documento notável. Datado, é certo. Expressando ideias políticas e sociais que considero erradas e que felizmente a evolução social reduziu à sua atual insignificância. Afirmando conceções religiosas que são diversas das minhas e que creio até diferentes de muitas das seguidas pelos atuais crentes católicos, mas que só me cabe respeitar e nunca julgar. Traduzindo, genericamente, a expressão de um pensamento ultrapassado pela evolução da sociedade, tem porém o notável mérito de deslocar a discussão do pretexto ("sociedade secreta") para a verdadeira questão: as diferenças de pensamento, de ideias e ideais, de conceções sociais. E isso merece-me todo o respeito!

Que a maior parte das conceções de Leão XIII (pondo-se de parte as especificamente atinentes às questões religiosas, que não discuto e não entram nesta discussão) se tenham revelado, pouco mais de um século depois, erradas, ultrapassadas, vencidas e varridas pela Modernidade, em prol precisamente das conceções que rejeitava e condenava, dos por ele chamados "naturalistas" e, nestes, dos maçons - é apenas um bónus! Gera alguma satisfação, mas também impõe a consideração de que aquelas ideias, daquele Papa, daquele tempo, não são já as ideias da Igreja Católica atual, que também evoluiu.

E, tal como os maçons de hoje têm todo o direito de se recusar a serem julgados e avaliados pelos eventuais erros dos seus antecessores, de igual modo não devemos julgar a Igreja e o clero de hoje pelo de tempos passados. Sobretudo, porque proclamamos bem alto que Leão XIII estava completamente equivocado, absolutamente enganado, numa coisa: já no seu tempo, e assim continua hoje, a Maçonaria e os maçons não são inimigos da Igreja Católica ou de qualquer outra Igreja, da religião católica ou de qualquer outra religião. A Maçonaria e os maçons consideram todas as Igrejas, todas as religiões, igualmente respeitáveis e todas respeitam, independentemente da crença individual específica de cada um deles.

Afinal, pouco mais de um século passado sobre Leão XIII, é tempo de que se entenda que a Maçonaria e a Igreja Católica, a religião católica, não são inimigos, nem sequer adversários. Pelo contrário, sendo instituições diferentes, têm inimigos comuns: o obscurantismo, a desigualdade, a tirania, o fundamentalismo.

E não há nada de secreto nisto!

Rui Bandeira

9 comentários:

Marcos Amaro disse...

Estimado Rui Bandeira, não posso concordar com a sua afirmação “E não há nada de secreto nisto!”, após ter lido o Excelente trabalho feito pelo DN, desde do passado dia 12 de Novembro até ao dia 15, eu cheguei à seguinte conclusão!

É verdade, eu concordo, a Maçonaria é secreta e cuidado com os Maçons, que são uns Senhores muito maus!

A prova do secretismo é que os seus membros são Sr. 1, Sr. 2 e por ai fora, os seus representantes máximos são os Sr. A e Sr. B, que pertenceram aos partidos e tiveram as responsabilidades profissionais de K, e no dia W vão dar uma entrevista no local X às tantas horas, a Maçonaria é secreta porque se reúnem "secretamente", nos dias D às horas Y.

Ups!!!!! – Ok. Tudo isto demonstra realmente que a Maçonaria é secreta (que belo trabalho de secretismo os Maçons andam a fazer).

Já as outras organizações essas sim são publicas pois todos sabemos que o seu responsável disse (quem disse???) que não são secretos, os seus princípios são do conhecimento da sua hierarquia (qual, quem e onde???), além do mais não intervêm diretamente na politica, pois não se sabe o nome de nenhum politico que seja membro dessa mesma organização (ou pelo menos que tenha tido a coragem de se assumir como tal, ou que alguém tenha tido a coragem de o indicar como tal, sem correr riscos por tal afirmação).

Ahaaa!!! -Isto sim! Isto é ter transparência e ser uma sociedade “não secreta”!

Excelente trabalho jornalístico feito pelo DN, ao ter divulgado o nome de alguns "malvados" Maçons (segundo o DN, pois não foi dado o direito de reserva de identidade e ou de liberdade de associação sem que esse mesmo direito seja exposto em praça publica e ou exercido o direito de contraditório (que democracia e que direito de liberdade este)) e protegido a identidade dos Senhores da Opus Dei, pois eles são abençoados e não são malvados como os malévolos Maçons!

Que vergonha eu tenho em ter no meu país um “pasquim” que se afirma órgão de informação constituído por uma equipa como aquela que fez o “excelente” trabalho desde do dia 12 de Novembro até ao dia 15, mais informando que os malévolos Maçons ainda vão lançar uma revista pública (não devia de ser secreta???) no dia 16, às 18h30m, em Lisboa num local publico (mais uma vez não devia de ser secreto???), para que se algum bom samaritano quiser fazer uma reportagem para identificar mais alguns Maçons o façam a bem da nossa Sociedade!

Disse!!!

Diogo disse...

Caro Rui,

A crítica de Leão XIII que eu considero mais consistente é esta:

«Agora, estes não mais mostram um desejo de permanecer escondidos; pois eles realizam seus encontros à luz do dia e à vista do povo, e publicam seus próprios jornais; e contudo, quando completamente compreendidos, descobre-se que eles ainda retêm a natureza e os hábitos de sociedades secretas. Há muitas coisas como mistérios que é regra fixa esconder com extremo cuidado, não somente de estranhos, mas de muitos e muitos membros, também; tais como seus desígnios secretos e últimos, os nomes de seus maiores líderes, e certos segredos e encontros privados, assim como suas decisões, e os caminhos e meios de executá-las.»


Ou seja, será que não haverá, de facto, duas esferas dentro das lojas maçónicas?

1 - Uma esfera exterior onde estão a maioria parte dos membros, com reuniões conhecidas, com uma agenda que pode ser publicada e à qual todos os elementos dessa loja podem aceder – em suma, a esfera maçónica sadia e honesta.

2 – E uma segunda esfera interior, formada pela elite dessa loja, com uma agenda secreta, tanto para estranhos como para os membros da esfera exterior, e cujos objectivos poderão não ser muito «católicos»?


Um abraço
Diogo

Rui Bandeira disse...

@ Marcos Amaro:

Ponhamos assim as coisas: respeito e defendo a liberdade de imprensa. E respeito e defendo a liberdade de expressão de pensamento... com especial gosto quando este é expresso com a ironia com que o Marcos o fez!

Rui Bandeira disse...

@ Diogo:

Respondendo da forma mais sinteticamente possível à sua questão: NÃO!

E respondo-lhe assim com a dupla autoridade (que espero que me reconheça) de que:

1) Se existisse a "esfera interior" que refere, eu, o segundo mais antigo (juntamente com o José Ruah) elemento da Loja Mestre Affonso Domingues em atividade, que fui já venerável Mestre da Loja e que já exerci todos os ofícios nesta, que, em termos de Grande Loja, fiz parte do Grão-Mestrado no mandato do Grão-Mestre anterior e que, presentemente exerço o ofício de Grande Primeiro Vigilante, eu a integraria ou, pelo menos, dela teria conhecimento.

2) Não sou mentiroso.

Esta tese das "duas esferas" é mais uma criação dos "teóricos da conspiração", para manterem os seus delírios conspiracionistas quando os factos desmentem as suas teses de segredo e conspiração e mostram que a Maçonaria é, na realidade, apenas e tão só uma escola, um método e um meio de aperfeiçoamento moral e espiritual de homens livres e de bons costumes,tolerando e convivendo e aprendendo a apreciar e apreciando a diferença do outro que está ao seu lado.

Abraço.

Diogo disse...

Caro Rui,

Depois de todos os diálogos que já tive a honra de ter consigo neste espaço, não tenho a mínima dúvida acerca da sua honestidade e integridade a todos os níveis. O mesmo acontece com outros elementos desta Loja.

Mas provavelmente a Loja Mestre Affonso Domingues seja uma das excepções que confirmam a regra. O certo é que boa parte das Maçonarias NÃO «são apenas e tão só escolas, métodos e meios de aperfeiçoamento moral e espiritual de homens livres e de bons costumes, tolerando e convivendo e aprendendo a apreciar e apreciando a diferença do outro que está ao seu lado».

É sabido, e exemplos não faltam, que muitas lojas estão profundamente envolvidas na política (muitas vezes pelas piores razões), assim como em negócios pouco claros e tráfico de influências. Isto tem sido referido por muita gente e noticiado em muitos meios de comunicação. E normalmente onde há fumo...

Abraço
Diogo

Rui Bandeira disse...

@ Diogo:

Diz o povo que "o Diabo est+á nos detalhes".

E o seu comentário que antecede tem a sua chave precisamente num detalhe, na (adequada) utilização de um plural, em vez de um singular: escreveu, e bem "(...) boa parte das Maçonarias (...)".

Eu cá só falo pela minha... Não tendo a pretensão de que seja perfeita ou de que não tenha um ou outro desmerecedor de aqui estar, estou muito confortável com a honestidade e integridade dos que comigo estão!

Abraço.

Abraço.

Streetwarrior disse...

Boas caro Rui.

acredita que esses principios, se repercutem pela maçonaria irregular?
Se não ( e eu compreendo perfeitamente que não queira entrar por ai ) Qual tem sido o papel da maçonaria regular se distanciar destes, inclusive denunciando-os como dever civico?

Obrigado
Nuno

Rui Bandeira disse...

@ Streetwarrior:

Nuno,

Em muitos e muitos maçons que integram a Maçonaria irregular estou certo que esses princípios se repercutem.

As diferenças de princípios na Maçonaria Irregular devem ser referidas, mas há que ter em conta que, embora possam propiciar diferentes práticas, não obrigam a que as práticas sejam diferentes.

Algo que os maçons (tanto regulares como irregulares)cedo aprendem é a REALMENTE praticar a Tolerância. Tolerância não entendida como a admissão do erro do outro em contraponto ao meu acerto, mas no sentido de que todos estamos sujeitos ao erro e, tal como eu desejo que os demais me aceitem e considerem, apesar dos meus erros, auxiliando-me e crendo-me capaz de os emendar, ultrapassar e prevenir a reincidência neles, assim devo aceitar e aceito os outros apesar dos seus erros ou das nossas discordâncias.

Sabe, Nuno, a Tolerância é um valor que só traz vantagens, precisamente porque é o oposto do Preconceito.

E preconceito é pré-conceito; pré-conceito é pré-juízo; pré-juízo é prejuízo; logo, preconceito é prejuízo.
Em todas as instituições e obras humanas há bom, há mau e há, sobretudo, capacidade de melhorar.

Assinalo as diferenças entre a Maçonaria Regular e a Irregular, mas não a diabolizo. Há lá muito de bom, algo de mau ou com que não concordo, mas, sobretudo, muita potencialidade e capacidade de ser melhor.

Se me admite um conselho, julgue sempre e só ATOS. Não caia no erro de pretender julgar intenções, sobretudo fazendo juízos prévios, que têm um grande potencial de serem injustos.

Só tenho legitimidade para declarar que acho que uma Obediência ou um maçom irregular agiu mal se similarmente não tiver problema em assinalar quando uma ou outro agiu bem.

Nenhuma estrutura humana é perfeita. Mas também nenhuma é só maléfica e sem algo de bom.

Sem preconceitos (sem prejuízos...) assinalemos quando em concreto algo está mal, indiquemos sem problema o que está bom e, sobretudo, reconheçamos e estejamos disponíveis para auxiliar a que se melhore.

Streetwarrior disse...

"" Se me admite um conselho, julgue sempre e só ATOS. Não caia no erro de pretender julgar intenções, sobretudo fazendo juízos prévios, que têm um grande potencial de serem injustos.""

Sim, concordo, apesar de muitas vezes a nossa irracionalidade nos deturpar facilmente a visão, motivada pelo preconceito com que somos formatados pelos mais variados sectores da sociedade desde pequenos.

É também um dos meus objectivos combater o preconceito, o meu e dos outros mas nem sempre é fácil e requer uma profunda reflexão dos nossos actos.

"Nenhuma estrutura humana é perfeita. Mas também nenhuma é só maléfica e sem algo de bom."

Ultimamente e sem qualquer problema em assumir-lo, tenho reflectido sobre como colocar " os óculos certos " em parte, pela Indicação de um texto que o paulo M me indicou ( no artigo a seguir a este )na forma, como as instituições e seus homens são coisas diferentes.

Todas as instituições em si são compostas por homens mas nem todos os homens reflectem em si, as instituições que compõem.
Sem duvida uma boa analise sua Rui, obrigado.

No entanto, quanto mais vou conhecendo algumas " instituições " mais vou percebendo que foram constituidas, ( por homens ) não para elevar ou cimentar os valores com que foram pensadas mas sim, para abranger certos objectivos que as anteriores não abrangiam.

Nuno