O conceito maçónico de "Grande Arquiteto Do Universo" - I
Fui desafiado a escrever sobre a minha metamorfose - o que mudou em mim desde que fui iniciado até agora. Mais do que escrever um texto sobre isso, decidi escrever vários, cada um sobre uma faceta distinta. Tenho relido textos antigos do blogue, emails antigos trocados antes da minha entrada para a Maçonaria, e é curioso constatar que já sei responder a algumas das questões que colocava na altura. Uma delas prende-se com o conceito de "Grande Arquiteto do Universo", que deu direito um texto do José Ruah, seguido de outro texto do Rui Bandeira.
O José Ruah respondeu pela via semântica do conceito: GADU é o nome que a Maçonaria dá ao que normalmente se chama "Deus". Por cada religião, crença ou fé ter, em muitos casos, nomenclaturas diferentes para o mesmo conceito ou para conceitos semelhantes, e pretendendo a Maçonaria ser equidistante de todas as crenças, opta por um termo que não seja próprio de nenhuma religião ou fé, mas que não choque, em princípio, nenhuma delas, podendo ser usado no lugar do nome da Divindade de cada uma.
Já o Rui Bandeira procurou uma resposta focada no significado estrito da expressão: por ser o GADU o Criador do Universo, este mesmo Universo seria a chave do conhecimento do seu Criador. Assim, através da contemplação das estrelas numa noite límpida poder-se-ia ter um vislumbre do Divino, e que era esse mesmo conceito - o de Criador - que a Maçonaria designava por "Grande Arquiteto Do Universo".
Ambos insistiam, porém, que nada disto era importante, pois a única pergunta que a Maçonaria fazia a tal respeito a quem a ela pretendia aderir era simples: "Acredita no Grande Arquiteto do Universo?" e a resposta era igualmente simples: sim, ou não. Mas custava-me entender a utilidade de se aceitar como resposta a confirmação da crença num conceito que não se explicava nem se explicitava.
Durante bastante tempo - e já depois de ter dito "que sim, que acreditava", e de ter sido iniciado - debati-me com esta académica questão: afinal, porque é que a Maçonaria exige que se acredite numa coisa cuja natureza não especifica? E, de tanto pensar, um dia fez-se luz - e os dois Marretas tinham razão, a questão colocada era a chave de tudo. O problema era que eu me tinha debruçado sobre o lado errado da equação.
"Acredita no Grande Arquiteto do Universo?"
E logo fui eu, cientificamente, tentar dissecar, escrutinar, meter sob o microscópio, o tal "GADU". Quando o importante não era o GADU ou a sua natureza. A esse respeito - e quanto ao entendimento que cada um tem de GADU - a Maçonaria Regular não só não exige saber, como quase que exige não saber. O que a Maçonaria Regular quer saber é outra coisa muito mais simples:
"Acredita?"
Pois é; afinal era mesmo simples. "Acredita?", ou seja: "Tem fé?" O acreditar-se é que é o importante, e não aquilo em que se acredita. Mas porquê? Ah, isso fica para o próximo texto...
Paulo M.
12 comentários:
Boas Paulo...
É isso mesmo.
Saber se se acredita em algo Superior a nós, Algo que nos transcende, Algo que "criou" tudo apartir do nada ( até o Big Bang teve algo ou algum acontecimento como "origem).
E eu Acredito.
Acredito que existe algo para lá de "mim" e que me é "superior" :)
Na época comentei um dos posts que nos relembras ( e bem!) e mantenho a mesma resposta que dei. :)
Aquele A3raço...
Lindo isso!
E assim se vê como umas boas "marretadas" contribuem para a iluminação de um mortal... eh, eh, eh...
SIMPLEsmente espectacular.
Paulo M, a simplicidade da tua explicação, conseguiu superar a dos teus Mestres.
Que orgulhosos eles devem estar.
Espero ansiosamente pelo próximo texto.
Trê abraço.
Está um Jazz!
Fusion arriscaria.
Rui Bandeira está para Miles Davis,
assim como Paulo M. está para
Pat Metheny (ou quaisquer outros
que os apeteçam).
Espero pelos artigos vindouros para
que se pondere o que para muitos é o imponderável.
Abraços Fraternos! Glória ao Grande Arquiteto!
@ jpa:
Orgulhoso, não, porque dizem que o orgulho é pecado e contra eles devemos trabalhar.
Mas obviamente satisfeito por se ter confirmado o potencial que se adivinhava num simples interessado que um dia bateu à porta do Templo...
Já agora, um segredo: a este candidato, uma vez iniciado, foi pelos Marretas aplicado o método, muito sui generis, do duche escocês ou do polícia bom e mau. Deixo-lhe a tarefa de adivinhar quem foi o polícia bom que proporcionou água quente e quem foi o polícia mau que se dedicou a enregelá-lo...
Mas parece que o resultado é satisfatório...
Agora a sério: ao estilo direto e seco do Ruah, ao meu estilo complicado e florentino, juntou-se, com evidente vantagem, o estilo claro e didático do Paulo M.
Desta diversidade procuramos fazer um blogue que não seja mau de todo...
@ Jocelino Neto:
Cuidado com os exageros! Miles Davis deve ter ficado ofendido com a comparação. Do génio a um sofrível escrevinhador vai uma distância de abismo!
Acredito que tenha calhado o papel de "policia mau" ao Mestre José Ruah.
Deixo aqui um AGRADECIMENTO por tudo que esses dois Marretas têm feito pela Maçonaria Regular.
O Paulo M, é o corolário de mais um desses feitos, que muito me alegra.
Abraços
JPA
@ Mestre Rui Bandeira,
O que são abismos senão oportunidades diante do desconhecido? E qual genialidade não pode ser contestada? (O próprio Miles possuiu detratores.)
Esta modesta associação (é característica de minha personalidade pueril uma boa dose de exagero) se deve aos contributos que cada personalidade está a desenvolver (aos nossos olhos) mediante seus potenciais, os quais transparecem em suas obras.
Sim! Concordo. Deixei-me levar pela emoção de "presenciar" tão belo trabalho e peço-lhes perdão pelo desconforto.
Um T.F.A para vós Miles & Pat e a todos que compõem esta Big Band que é o A Partir Pedra!
:-)
Glória ao Grande Arquiteto!
Eu nao chamaria tanto o metodo do policia mau e policia bom, mas sim um papel de criaçao de contençao, de dizer o que tem que ser dito, de evitar derivas, criar balizas, enfim tudo o que possa ser associado com a instrução de um aprendiz qualquer que ele seja.
Os metodos são necessariamente diferentes não tanto dependendo do Mestre instrutor, mas mais do aprendiz instruendo.
Ha alunos que precisam de umas palmatoadas, outros que precisam de uma pancadinha nas costas, e isto pode ser dado pelo mesmo Mestre.
A questão quanto a mim assenta apenas na capacidade de cada Mestre, e neste caso cada Marreta, perceber como pode levar, e fazer com que o outro Marreta o acompanhe nesse designio, aquele aprendiz a bom porto.
O resto e como é que os Marretas se organizam entre eles, isso é o verdadeiro segredo maçonico... e os Marretas sao velhos e já se esquecem de algumas coisas e por isso a divulgaçao do dito segredo está algo comprometida.
" - Jamais se mostre negligente. Procure o que é justo, seja coerente, transmita o que tiver recebido encarnado-o na matéria sem trair o espírito. Que o mistério da obra permaneça em segredo, mesmo sendo revelado; fique em silêncio e preserve o segredo. Vá ao templo se for chamado, faça oferendas aos deuses, ao faraó e aos ancestrais, participe das procissões, das festas e dos funerais de seus irmãos, dê sua quota para nosso fundo de solidariedade, submeta-se as decisões do nosso tribunal, não tolere nenhuma maldade. Não se apresente ao templo se tiver agido contra Maât, se estiver em situação de impureza ou mentira. Não exagere no peso nem na medida, não lese o olho da luz, não seja ávido. Está pronto para jurar sobre a pedra que vai respeitar o regulamento? - Estou pronto."
A PEDRA DA LUZ
Nefer, o Silencioso
Christian Jacq
Fazem-me corar... e eu já não tenho idade para isso. Faço o que posso e como sei, e vou aprendendo quer com o que escrevo quer com o que me perguntam e respondem. Com isso vou aperfeiçoando o meu calhau, e se, pelo caminho, isso for ajudando ao tratamento que derdes ao vosso, dou-me por muito satisfeito!
Quanto aos "marretas", merecem louvores, sim, mas acima de tudo pelo incansável empenho, pela resoluta dedicação e pela permanente disponibilidade... que os resultados não caem do céu, e, como já ouvi dizer, isso de ter sorte dá imenso trabalho!
Um abraço,
Paulo M.
Pois é; afinal era mesmo simples. "Acredita?", ou seja: "Tem fé?" O acreditar-se é que é o importante, e não aquilo em que se acredita.By Paulo
Belo texto como de costume. Sobre a Fé, colocada desta forma pode ter o sentido da fésada!
Como diz um bom amigo, cuidado que a Mente também mente.
Abraço
Enviar um comentário