Origem e primórdios do Rito Escocês Antigo e Aceite - de 1805 em diante
Digo frequentemente que os maçons não são perfeitos e sabem-no: por isso buscam aperfeiçoar-se. A querela que levou à rutura do acordo entre o Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceite e o Grande Oriente de França, referido no texto anterior, é mais uma ilustração deste meu entendimento. A rutura teve uma razão tão mal amanhada que, ou foi resultado de uma muito pouco inteligente falta de tolerância e de paciência, ou foi mero pretexto para encobrir as verdadeiras razões desta - talvez mesquinhas lutas de ilusório poder.
Recorde-se que, até à celebração do acordo com o Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceite, o Grande Oriente de França apenas praticava o Rito Francês, semelhante ao rito praticado pela Grande Loja dos Modernos. Com o acordo, o GOF passava a praticar também o Rito Escocês Antigo e Aceite, inspirado no rito praticado pela Grande Loja dos Antigos.
Mas as instalações onde o GOF reunia estavam preparadas para o Rito Francês. Era normal. Seria também natural que demorasse algum tempo até estarem disponíveis templos especificamente preparados para o Rito Escocês Antigo e Aceite. E seria logicamente admissível que, até lá, o trabalho no REAA se fizesse nas instalações disponíveis. E era razoável que, assim sendo, houvesse as necessárias adaptações na prática do rito em função das instalações disponíveis.
Porém, logo em 1805 o Supremo Conselho declarou que o GOF tinha violado o acordado pela prática do REAA nessas circunstâncias e os seus membros retiraram-se do GOF, passaram a trabalhar o rito sozinhos e reativaram a Grande Loja Geral Escocesa, para trabalhar os três primeiros graus do rito. Depararam-se, porém, com um problema: a falta de quadros suficientes para manter o rito em funcionamento, atento o interesse que despertara. Tentaram, sem grande êxito, aliciar Oficiais do GOF para dirigirem os Altos Graus do rito.
Entretanto, o GOF reagiu lutando contra as tentativas de afirmação e implantação do REAA sob os auspícios do Supremo Conselho e da Grande Loja Geral Escocesa.
Em menos de um ano estragou-se tudo o que se conseguira em 1804. Em menos de dez anos, o REAA praticamente desapareceu de França, a Grande Loja Geral Escocesa desvaneceu-se na irrelevância e o Supremo Conselho Francês, continuando a dar mostras de pouca razoabilidade, não só não conseguia impedir o naufrágio como ainda se esgotava em querelas com o primeiro Supremo Conselho instituído, o americano. O resultado desse acumular de erros, más decisões, querelas, irrelevâncias, dificilmente poderia ser diferente do que foi: em 1814, por decisão unilateral, o Grande Oriente de França, invocando o acordo de 1804, assumia diretamente o controlo sobre o Rito Escocês Antigo e Aceite, em conjunto com o Rito Francês, nos três primeiros graus, e, em 1816, assumiu a jurisdição do rito até ao grau 18 (Cavaleiro Rosa-Cruz), criando Lojas Capitulares, presididas por Cavaleiros Rosa-Cruz, que trabalhavam os graus desde o 1.º ao 18.º. Do 19.º em diante, o rito continuava sob a alçada do Supremo Conselho.
No entanto, o Supremo Conselho americano permaneceu com a sua estrutura inicial: os três primeiros graus sob a alçada das grandes Lojas e os restantes sob administração do Supremo Conselho.
Com o decorrer do tempo, a fórmula original, americana, cresceu, implantou-se um pouco por todo o lado e veio a lograr retomar o controlo para o Supremo Conselho dos graus 4.º ao 18.º, também em França. Demorou anos e muitos esforços para reparar o erro de 1805! Uma vez atingida a unificação da prática do rito a nível global, este desenvolveu-se na sua forma atual, por todo o Mundo. Até hoje.
Fonte:
http://www.oficina-reaa.org.br/v1/index.php?option=com_content&view=article&id=53:detalhes-dos-rituais-azuis-do-reaa&catid=38:trabalhos0&Itemid=2
Rui Bandeira
5 comentários:
@Mestre Rui bandeira
Perdoe-me se as questões abaixo já tenham sido exaustivamente propostas. Mas...
Porque há tamanha variedade de ritos? O que traz de benefício a expansão de um rito em relação a outros? Quais as motivações, objetivos, para se projetar esta difusão?
Abraços Fraternos.
À Glória do Grande Arquiteto do Universo!
@ Jocelino Neto:
1) Poeque há tamanha variedade de ritos? Porque o rito é um conjunto de atos rituais destinados a formar e a impressionar e a marcar os maçons. Havendo culturas, predisposições, costumes diferentes, é natural que haja ritos diferentes. Não estamos perante ciências exatas. Neste campo, contam os gostos, as convicções, em suma, o subjetivo, pelo que não há respostas nem meios certos. Procuram-se as ferramentas adequadas. E a mesma ferramenta não é a adequada para todos.
2) O que traz de benefício a expansão de um rito em relação a outros? Nada de especial. Aumenta a expansão o rito que, em cada época, em cada situação geográfica, se mostra mais adequado para a maior parte das pessoas. É só.
3) Quais as motivações, objetivos para se projetar esta difusão? Nos séculos XVII e XVIII esava-se perante novidades,. E tudo o que é novo gera entusiasmos.e natural que um rito de origem inglesa não fosse completamente adequado à mentalidade da nobreza francesa e que o criado em atenção a esta mentalidade não atingisse completamente a personalidade alemã, e que o rito mais adequado para esta não impressionasse particularmente a mentalidade americana.
Precisamente o que procurei pontuar neste conjunto de textos é que grande parte da evolução do REAA se deve a circunstâncias algo fortuitas, a acasos, a voluntarismos vários.
Um abraço.
@ Mestre Rui Bandeira
"E tudo o que é novo gera entusiasmos.e natural que um rito de origem inglesa não fosse completamente adequado à mentalidade da nobreza francesa e que o criado em atenção a esta mentalidade não atingisse completamente a personalidade alemã, e que o rito mais adequado para esta não impressionasse particularmente a mentalidade americana"
A diversidade é riqueza. Entretanto, diante dos novos tempos, onde os limites culturais tornam-se cada vez mais indistintos, Há algum rito concebido como universal? Ou particularidades que comportam este conceito? Como exemplo: "O Rito Maçônico Brasileiro, é na verdade um Rito da Maçonaria Universal que expressa a essência-nuclear dos ensinos da Ordem Maçônica que são puramente Científicos e Filosóficos, o que igualmente beneficia a espiritualidade pessoal e coletiva, já que tudo o que fazemos e aprendemos e que de fato seja certo ou digno, nos beneficia positivamente a nossa Eterna Evolução Intelectual e Espiritual!"
Referência:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Rito_Brasileiro
O que viria a ser "um Rito da Maçonaria Universal"?
Abraços Fraternos.
À Glória do Grande Arquiteto!
@ Jocelino Neto:
Que eu saiba, não.
Não conheço o Rito Maçónico Brasileiro. Não sei pois se busca, na sua génese, ser universal ou não. Para já, sem despromor, parece-me mais brasileiro que universal, pois está divulgado essencialmenteb no Brasil...
Abraço.
Depois de ler os textos sobre a origem e os primórdios do REAA aqui no blog, por "coincidência" li uma síntese interessante do mesmo assunto hoje no blog no esquadro: http://noesquadro.blogspot.com/2011/02/origem-do-reaa.html
Enviar um comentário