23 janeiro 2011

Votar: direito e dever individual



Houve hoje, em Portugal, eleições para a Presidência da República. Acompanhei durante as últimas semanas - como, de resto, muitos outros portugueses - os factos e as histórias, as verdades e meias verdades, as cabriolas e acrobacias que cada uma das campanhas apresentava ao eleitorado - a cada um de nós, portanto. Todos assistimos às alianças feitas e desfeitas, aos jogos de conveniências, aos ataques, às defesas, às vítimas silenciosas, aos que gritavam ser vítimas, aos que se faziam de vítimas, às virgens ofendidas, às faces estoicamente  impassíveis, às caras desavergonhadamente impassíveis, às explicações impossíveis, à esperança na mudança, ao desespero pela mudança, à indiferença face à expetativa da mudança das moscas, ao frenesim das contagens, ao sentido do dever cumprido, ao cansaço ao fim de um dia comprido.

Em conversa com uma amiga minha - que priva com alguns políticos dos dois maiores partidos - comentou esta que, não obstante haver, como era sabido, candidatos apoiados por este e por aquele partido, havia muitos militantes insatisfeitos com os candidatos que os seus partidos apoiavam. E que não se podia impor disciplina partidária em eleições livres. Repetiu-me então um comentário que lhe fizeram e que fixei: "No silêncio da urna, só tu é que sabes em quem votas". Achei curioso ela falar no "silêncio" da urna. Pareceu-me uma coisa muito maçónica - e se calhar era-o. E logo recordei a velha diferença entre a Maçonaria Regular e a Maçonaria Liberal no que respeita a participação política, com a primeira a arredar-se desta e a segunda a abraçá-la.

Quando hoje - como milhões de outros portugueses, votei, estava frio. Tinha deixado o casaco em casa, anoitecia já, tinha pressa e outros deveres, mas lá fui. Demorei quê?... uns cinco minutos. Foi chegar, "botar a cruzinha", dobrar, meter e sair. Um gesto tão simples que não doeu nada. Foi assim, sorrindo para com os meus botões, que votei, enquanto pensava que não o fazia senão pela minha cabeça, fiel às minhas convicções, sem outra lealdade para além daquelas que tinha para comigo e para com o meu país. E só por isso,  hoje - independentemente dos resultados - dormiria um sono tranquilo.

Paulo M.

3 comentários:

Vendado disse...

Caro Paulo M.,

Como sempre também votei e todas as vezes incentivo os meus amigos a fazerem o mesmo (nem que seja em branco! Mas que exerçam o direito que há tempos foi conseguido!). Um acto tão simples. Desta vez tive a oportunidade de ver um casal de idosos com dificuldade em andar. Ao vê-los resistir aos obstáculos temporais, físicos (próprios da idade) e da caminhada (um longo caminho íngreme) pude ver o que significa a palavra VONTADE. Perante esta situação ouvir um "não fui votar porque estava frio" ou desculpa do género torna-se um tanto incomodativo. Resumindo, acho que recebi uma bela lição sobre os sacrifícios que têm de ser feitos para realizar-se algo. Aquele casal podia ter todas as desculpas (certamente muito válidas) para não exercer o seu direito cívico e no entanto nenhuma delas contribuiu para o seu sedentarismo. Isto sim, é cidadania!

Paulo M. disse...

@Vendado: Obrigado por partilhar este episódio. O A-partir-pedra não seria a mesma coisa sem os comentários de quem o lê!

Um abraço,
Paulo M.

Vendado disse...

Caro Paulo M.,

Obrigado eu por todo o conhecimento partilhado! Logo que este blog me foi apresentado, começou a esclarecer-me! Muito obrigado pela disponibilidade e amabilidade, os meus comentários não são mais que puro reconhecimento pelo vosso excelente trabalho!

Abraço fraterno,
Vendado