16 abril 2009

LINGUA – 2

Irei hoje regressar ao tema da língua sob estudo do Roberto Moreno.
Se derem uma passadinha pelo “Língua-1” recordar-se-ão que “a coisa” anda à volta dos conceitos de “bilinguismo” e, como consequência, de “iberofonia” em contraponto à Lusofonia, Francofonia e Anglofonia.
E partimos do princípio da necessidade de uma língua, dialeto ou o que se quiser para entendimento global.

Pensemos então no seguinte:
- A adoção do português como 2ª língua é uma decisão natural em França onde há 1 milhão de lusófonos e onde o português é a 2ª língua mais falada;
- E em Itália, porque o português entende 50% do italiano e porque o Brasil é a maior colónia de italianos no mundo;
- Há uma afinidade natural entre Português e Castelhano;
- Há uma aproximação natural entre as línguas latinas, (Português, Castelhano. Francês,
Italiano e Romeno às quais ainda podemos juntar o Catalão) da qual o Português tira a
vantagem enorme do seu poder de adaptação;
- Poder-se-á afirmar sem grande margem de erro que saber Português significa saber
também 90% de Castelhano, 50% de Italiano e 20% de Francês.

Bom, quem leu até aqui concordou ? Há aqui alguns axiomas que ou são aceites ou a teoria vai por água abaixo, mas se pensarmos um bocadinho nos aspetos da prática do relacionamento dos portugueses com o mundo não me parece difícil aceitar grande parte destes pontos de partida para o resto que aí vem (isto é uma ameaça !).

Então lá vamos.
Na politica de língua do Mercosul os países hispânicos já tem o português como 2ªlingua por efeito do Brasil ter adotado o castelhano também como sua 2ª língua, o que reforça claramente a Iberofonia.
Boutros Ghali já se mostrou favorável à Franco-Iberofonia.
O Português é língua oficial de 8 estados em 4 continentes, é língua de comunicação num grupo enorme de organizações internacionais (UE, Unesco, Mercosul, Organização dos Estados Americanos, União Latina, Aliança Latino-Americana de Comércio Livre, União Económica e Monetária da África Ocidental, obrigatório nos países do Mercosul e língua oficial da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral)

Nos EUA há 50 milhões de falantes de Português e Castelhano e a ALCA (Aliança de Livre Comércio das Américas) é impensável sem o Brasil, que fala português, obviamente !
Se por estes 2 efeitos os EUA adotarem o português para 2ªlíngua ficarão 1 bilião de pessoas entendendo-se em Português.

Agora entramos na parte mais… “virtual” da teoria !

Mais adoções da língua portuguesa como 2ª língua.

Na China. Já fizemos uma aproximação em “LINGUA – 1”. A comunicação interna é muito difícil pelas diversidades linguísticas que já referimos, há uma clara aproximação ao Brasil que com a Rússia e a Índia representam a nova “ordem mundial” nos aspetos comercial, científico e geopolítico (dizem eles…). Além disso há uma tradição de mais de 400 anos de contactos com o português, em Macau. Se a China aceitar o português como 2ª língua ficaríamos com mais 2.300 milhões de falantes em português.
Na Índia, onde a diversidade de comunicação também já foi referida (23 línguas e 1000 dialetos) a adoção de uma 2ª língua, externa, facilitaria toda a relação. De resto há regiões na Índia onde ainda se ouve falar português (Goa, Damão e Diu, pelo menos). Na Índia ficariam mais 1.100 milhões de falantes.
Na Indonésia, por razões semelhantes às da China e da Índia e ainda por ter fronteira com Timor Leste. A Indonésia acabou de pedir a entrada, como observadora, na CPLP.

Por que razão a insistência em que a 2ª língua seja o português e não outra qualquer ?
Porque quem aprende português faz um negócio tipo pague 1 e leve 2.
O bilinguismo é uma característica do lusófono e é única do mundo.
Essa característica é o resultado visível (audível…) da riqueza da sua arquitetura fonética baseada em 7 fonemas orais e 5 nasais.
Português é já a 2ªlingua dos paises (30) hispânicos.

E agora o “morango” que faltava:
“A língua portuguesa é como o software Linux, pois pode ser usada e praticada a custo zero, basta assistir a uma telenovela brasileira na sua língua original”.
Confessem que esta não vos passava pela cabeça.

Bem, a Fundação Geolíngua está mesmo a trabalhar neste projeto.
A imaginação e o Marketing brasileiros dão força ao projeto. E nem lhe falta o argumento Fernando Pessoa:

O PROBLEMA DAS LÍNGUAS
“Se ter uma grande literatura fosse, por si só, suficiente para impor, não a mera sobrevivência, mas
a vasta e duradoura sobrevivência de uma língua, o grego seria hoje a segunda língua da civilização. Mas nem sequer o latim, que também chegou a ser a segunda língua da civilização, conseguiu manter a sua supremacia. Para assegurar a sua permanência no futuro, a língua tem de ter algo mais do que uma grande literatura: ser dona de uma grande literatura é uma vantagem positiva, mas não efectiva, pois salvará a língua da morte, mas não garantirá a sua promoção na vida.
A primeira condição para uma ampla permanência de uma língua no futuro é a sua difusão natural, o que depende do simples factor físico do número de pessoas que a fala naturalmente.
A segunda condição é a facilidade com que poderá ser aprendida; se o grego fosse fácil de aprender, todos nós teríamos, hoje, o grego como segunda língua.
A terceira condição é que a língua terá de ser o mais flexível possível de modo a poder responder na íntegra, a todas as formas de expressão possíveis, e de consequentemente ser capaz de espelhar com fidelidade, através da tradução, a expressão de outras línguas e assim dispensar, do
ponto de vista literário, a sua aprendizagem.
Ora, falando não só do presente, mas também do futuro imediato, na medida em que este possa ser considerado como factor de desenvolvimento das condições embrionárias do nosso tempo, só há três línguas com um futuro popular - o inglês (que já tem uma larga difusão), o espanhol e o português.
São línguas faladas na América, e como Europa significa civilização europeia, a Europa tem-se radicado cada vez mais no continente ocidental.
Assim línguas como o francês, o alemão e o italiano só poderão ser europeias: não têm poder imperial.
Enquanto a Europa foi o mundo, estas dominaram, e triunfaram mesmo sobre as outras três, pois o inglês era insular e o espanhol e o português encontravam-se num dos seus extremos. Mas quando o mundo passou a ser o globo terrestre este cenário alterou-se. Será, portanto, numa destas três línguas que o futuro do futuro assentará.”

Fernando Pessoa
pág. 148 do livro, A Língua Portuguesa.

E pronto, aqui têm com que se entreter. Não quero que vos falte nada !

Como vês, caríssimo Zé, não se trata de te pôr a falar "espanhol", pelo contrário, trata-se de pôr o mundo a falar português... Um pouco louco, verdade ?

JPSetúbal

4 comentários:

Jose Ruah disse...

Se tivermos em conta que os axiomas de partida são pura fantasia.
França a 2ª lingua mais falada é o arabe argelino, logo seguida do turco. Eventualmente o Portugues aparecerá em 4º lugar com tendencia a ir para 5º ou mesmo mais para baixo porque quer se queira ou não a primeira geraçao de emigrantes está a desaparecer , a 2ª percebe mas quase não fala e a terceira já nem percebe.

O Portugues entende de facto 50% do Italiano, mas os Italianos dos portugueses só sabem o portoghese e esta expresão não é sequer elogiosa.

Só por bondade se pode considerar que há afinidade entre o Portugues e o Castelhano, ou melhor nós até gostamos de pensar isso mas os 40milhoes de vizinhos não querem nem ouvir falar.

O axioma
Poder-se-á afirmar sem grande margem de erro que saber Português significa saber
também 90% de Castelhano, 50% de Italiano e 20% de Francês.

É verdade, mas para que a tese que se pretende prevalecer teria que ser ao contrario, ou seja os franceses, espanhois e italianos só porque sabem uma lingua latina ficariam a perceber 90% do POrtugues.

Porque na verdade o que pretende é que estes povos venham a falar português e não que quem fala português perceba estes idiomas ( aliás para isso não precisamos de tese alguma, pois essa é a mais pura das realidades).

Desmontados que estão os axiomas, por falaciosos e inverosimeis, continuemos.

O Português é lingua Oficial da União Europeia e mesmo da ONU, mas isso não adiantou coisa alguma.
Todos os tratados são primeiramente adoptados em Inglês e depois traduzidos, tendo inclusivamente a seguinte menção - Quando surjam duvidas prevalece a versão inglesa.

QUanto à China nem comento o disparate.

Já com relação à India, a ideia parece-me gira, mas cuidado porque pode ser acusada de Plagio. É que os Ingleses já fizeram isso e a lingua transversal na India a tal segunda lingua é o Ingles.

Como vês JP com Robertos Morenos destes a defender o Português não precisamos de inimigos.

No entanto este trabalho tem um merito, o de fazer as pessoas pensarem que há mentes capazes das maiores alucinações e com isso tomarem a defesa das posições que impeçam maiores estragos.

Tem um segundo mérito que é mostrar-nos que ainda é possivel produzir textos de ficção cientifica.

Este texto faz-me lembra uma expressão de um amigo que dizia:

Axioma:
Se a minha avó tiver rodas

Tese:

Era um Ferrari

Aquele Abração Fraterno.

jpa disse...

O Sr Roberto Moreno esqueceu-se de um pormenor importante:
É necessário ensinar Português aos Portugueses.

Cumprimentos
PJA

J.Paiva Setúbal disse...

Zé Ruah, só me dás desgostos.
Fiquei tão contente com a ideia de te livrar de falar "espanhol" pondo o mundo a falar português e tu, vai na volta, discordas da possibilidade ? "Prontes", vais mesmo falar espanhol... É pr'a castigo. Bem feito !

Roberto Moreno disse...

Caros leitores e comentadores, caso estejam interessados em conhecer o Roberto Moreno, sugiro entrar em contacto com o próprio - geo@geolingua.org - pois, desta forma, qualquer duvida ficará esclarecida, pois há uma farta documentação em textos, audio e videos, cuja intenção é elucidar o Projeto Geolíngua e o conceito de Iberofonía. - Já agora, sugiro assistir, com carinho e atenção (e, longe de qualquer preconceito) a entrevista que o José de Paiva Setúbal realizou com o Roberto Moreno - https://www.youtube.com/watch?v=aisI7SEry4c