O perfil e o Segredo de um Venerável justo e perfeito
Anualmente é eleito pelos seus pares um novo Venerável Mestre que, entusiasmado pelo cargo, cheio de enorme boa vontade e responsabilidade, prepara o seu programa de actividades, nem sempre o conseguindo cumprir com o êxito desejado. Isso pode ser visto através da forma como a Loja evolui ao longo do Veneralato:
- pelo nível de envolvimento e adesão dos II:. às actividades da Loja,
- pelo nível de indiferença ou ausências às Sessões;
- pelo nível de não cumprimento de compromissos junto do Tes:.,
- pela falta de apoio, comprometimento, incompreensão e afastamento de alguns Irmãos.
Um brilhante orador, professor, empresário, médico, juiz ou advogado, nem sempre pode ser qualificado para "guia dos Irmãos" de uma Loja Maçónica. Ter um nome famoso, riqueza e posição social, dispor de força ou de autoridade, não são qualificações para este fim.
Devemos ter a certeza de que ele possui conhecimentos maçónicos, compreensão e prática da fé raciocinada que deverá utilizar para facilitar a jornada evolutiva de todo o quadro de obreiros da Loja. Devemos também assegurar-nos de que tem a vontade "correcta" para desempenhar este cargo.
A vaidade pode conduzir um homem a considerar-se poderoso e infalível; porém, os mais avisados sabem que na Maçonaria não existem "poderosos e infalíveis" e, sendo uma fraternidade, não há outra Instituição onde melhor se aplique o lema: "liberdade, igualdade, fraternidade".
Um dos problemas internos das Lojas é que muitos Irmãos mais presunçosos e despreparados, depois de serem exaltados, deixam de estudar, achando que atingiram a "Plenitude Maçónica".
Estes são os primeiros a tentar encontrar vias rápidas e alternativas para serem candidatos ao cargo de V:.M:., tendo sucesso em Lojas que, sem critérios ou cuidados, promovem a sua eleição, propiciando o desrespeito pelas tradições da Ordem por pura omissão, conivência ou até cobardia. Outras vezes Irmãos, por melindres, intrigas, ou apenas pela satisfação de vaidades pessoais ou birra, indicam candidatos para o "trono de Salomão", somente em função dos seus relacionamentos.
Estes candidatos, uma vez eleitos e empossados, pouco contribuem para a Ordem Maçónica e/ou para a Loja, tendem a banalizar a ritualística, ou a achar que mudar e inventar futilidades é sinónimo de modernização e inovação.
É necessário que meditem sobre a disciplina que envolve o estudo, a reflexão em torno dos princípios maçónicos, e o empenho responsável de renovação do verdadeiro maçon.
O que devemos fazer para ajudar a impedir o sucesso desses insensatos que faltam à fé jurada?
- Percebendo qual será o seu "programa administrativo ou de trabalho";
- Vendo o modo como se comportaram nos cargos exercidos nos últimos anos;
- Avaliando se aprenderam a lidar com o diferente;
- Percebendo que grau e que tipo de envolvimento têm com a Loja e com os II:..
- Considerando o seu carisma, ou seja, as suas qualidades de liderança.
Somando o conjunto destas e de outras qualidades, podemos avaliar se, no seu conjunto, o candidato reúne o necessário para assumir este desafio.
Uma escolha apressada de alguém desqualificado poderá trazer resultados muitas vezes desastrosos. Não bastam anos de frequência às reuniões ou a leitura de alguns livros maçónicos, para se dominar o conhecimento exigido.
Para desempenhar este cargo, é preciso estudar - única forma de alcançar o conhecimento necessário - porque aprender é, evidentemente, um acto de humildade. Mas para adquirir sabedoria, é preciso observar. Só assim conseguiremos, ao invés de colocar o homem no centro de tudo, descobrir o tudo que está no centro do homem.
Para desempenhar este cargo, é preciso também "estarmos envolvidos"; é preciso preocuparmo-nos com os nossos II:., com a Loja em si mesma, com a Ordem, etc. Em resumo, é preciso sentirmos que o nosso percurso está intimamente ligado a todos os que de alguma forma se relacionam, directa ou indirectamente, com a Loja. Desempenhar as funções de V:. M:. implica reconhecer quem são estes "stakeholders", e investir no reforço das suas ligações à Loja e entre eles próprios.
O candidato, quando preparado e com o perfil adequado, pode desempenhar esta missão, conduzindo-a com mãos suficientemente fortes para afagar e aplaudir; sabedoria para ensinar e modéstia para aprender, e por este conhecimento, fazer-se paciente, puro, pacífico e justo; adquirindo a aptidão para reconhecer o seu limitado poder e abundantes erros; a sua capacidade e suas falhas; os seus direitos e deveres; dispor de força para, ciente de tudo isso, libertar-se das paixões humanas e assim adquirir a antevisão e o equilíbrio necessários para se livrar dos obstáculos no seu Veneralato, levando Paz, Amor Fraternal e Progresso à sua Loja.
O V:. M:. escolhido tem que ser um líder agregador que entusiasme os seus Irmãos pela sua dedicação e abnegação à Maçonaria. Os grandes Mestres sabem ser severos e rigorosos sem renegarem a mais perfeita benevolência. Tratam os Ilr:. da forma como desejam ser tratados e ajudam-nos a serem o que são capazes de ser: filhos amados do Grande Arquitecto do Universo, portanto IRMÃOS.
O V:. M:. precisa compreender que assiste ao outro o direito de ter uma opinião divergente da sua. Deve procurar criar uma empatia com o crítico, ver o assunto do ponto de vista dele, manifestando entender o seu sentimento. Sendo todos iguais, ninguém é mais forte ou mais fraco e deixa que perceba isso. Só assim ele compreenderá que o seu direito de opinar (participar) está a ser respeitado.
Quando um Irmão necessita falar ouve-o; quando acha que vai cair, ampara-o; quando pensa em desistir, estimula-o.
A bondade e a confiança dos seus pares que o elevaram a essa posição de destaque, exige ser usada com sabedoria, aplicando-a no comprometimento da justiça, nunca na causa da opressão.
No desempenho de sua função terá sempre em consideração que ninguém vence sozinho, mas jamais permanecerá ofuscado pelas influências dos que o apoiaram ou se deixará dominar por qualquer tentativa de predominância.
Ele, como V:.M:., é responsável por tudo o que acontecer de certo ou de errado em sua Loja. Por mais que se queixe da "herança perversa recebida" do seu antecessor; de Iniciações de candidatos mal seleccionados, fardos que agora estão a seu cargo; de Irmãos que faltam ao sigilo, à disciplina; da desorganização da Secretaria e da Tesouraria da Loja, que motivam contrariedades, causam prejuízos de ordem moral e monetária de difícil reajustamento. Perante um cenário destes, deve concentrar-se antes no que tem feito para modificar, agilizar e melhorar este quadro.
A condução de uma Loja dá trabalho, requer paciência, é como se fossemos tecer uma colcha de retalhos, tratar de um jardim, cuidar de uma criança. Deve ser feita com destreza, dedicação, vontade e habilidade.
Importa também perceber que temos nos nossos Irmãos os reflexos de nós mesmos. Cabe-nos, por isso mesmo tentar compreendê-los, pela própria consciência, para poder extirpar espinhos, separar as coisas daninhas, ruins, que surgem entre as boas que semeamos no solo bendito do tempo e da vida, já que que se não forem bem cuidadas serão corrompidas.
A atitude do V:. M:. pode ser descrita como um conjunto de diversos aspectos complementares:
- Fraternidade - quando o V:. M:. lança a semente da união.
- Consciência - quando nos convida a analisar os nossos feitos para reconhecer erros cometidos.
- Indulgência - quando aos defeitos alheios pede paciência.
- Amor - quando floresce um sentimento puro de amizade aos olhos de todos.
- Bondade - quando convive com os nossos erros, incompreensões, medos, desânimos, perdoando de boa vontade.
- Justiça - quando deixa que cada um receba segundo os seus actos.
- Felicidade - quando nos lábios de um Irmão aparecer um sorriso, e outro sorri também, mesmo de coisas pequenas para provar ao mundo que quer oferecer o melhor.
- Instrutor - quando valoriza a ritualística, o simbolismo, utilizando as Sessões Ordinárias como uma forma objectiva de instruir o Irmão, incentivando o estudo e a discussão de tudo que seja relevante para a Ordem em particular e para a sociedade em geral.
- Mestria - quando estimula os II:. a apresentarem trabalhos de conteúdo, elaborados por eles, e recusa simplesmente cópias retiradas de livros, revistas ou Internet, e o que é ainda mais inconveniente, insensato e desastroso, o recurso do plágio, ou seja, à cópia ou imitação do trabalho alheio, sem menção do legitimo autor.
Acabando a tristeza e a preocupação, surge então a força, a esperança, a alegria, a confiança, a coragem, o equilíbrio, a responsabilidade, a tolerância, o bom humor, de modo que a veemência e a determinação se tornam contagiantes, mas não esquecendo o perigo que representa a falta do entusiasmo que também contagia.
E, finalmente, quando se aproximar o final do seu Veneralato, deve fazer uma reflexão sobre quais foram as atitudes reais de beneficência que tomou; referimo-nos não só ao auxílio financeiro a alguma Instituição filantrópica, mas também ao "ombro amigo" na hora necessária, ou o empréstimo do seu ouvido para que as queixas fossem depositadas.
O V:. M:. nunca deve deixar de agradecer por ter sido a ferramenta, o instrumento de trabalho criado por Deus, usado como símbolo da moralidade, para trazer luz, calor, paz, sabedoria, beleza para muitos corações e amor sem medida no caminho de tantos Irmãos.
Ao encerrar o se mandato, é importante que consiga afirmar a todos os obreiros de sua Loja: "não sinto que caminhei só. Obrigado por estarem comigo. Obrigado por me demonstrarem quanto bem me querem. Eu também vos quero bem. Gostaria de continuar, mas é tempo de "passar o malhete" e dizer: MISSÃO CUMPRIDA!"
Nas nossas reflexões, que o amor desperte nos nossos corações e juntos, com os olhos voltados para frente, consigamos tenacidade para construir o presente e audácia para arquitectar o futuro, por isso, NUNCA DEVEMOS DEIXAR O NOSSO VENERÁVEL LUTAR E CAMINHAR SÓ!
Esta não é a enumeração exaustiva de todas as qualidades que distinguem o Venerável Mestre ideal, mas todo aquele que se esforce em possuí-las, estará no caminho que conduz a todas as outras.
Caro leitor, espero tê-lo ajudado a entender "O perfil e o Segredo de um Venerável Justo e Perfeito..."
Adaptado (de forma muito livre) de texto escrito pelo I:. Valdemar Sansão
O Original deste texto pode ser encontrado aqui
A Loja Mestre Affonso Domingues encontrou uma forma bastante eficaz de assegurar a continuidade na qualidade, dos seus VV:. MM:. - estabeleceu um percurso que leva os candidatos designados a percorrerem diversas funções na Loja, até chegarem ao cargo de V:. M:.. No meu entender, esta solução permite atingir diversos fins igualmente importantes:- O futuro V:. M:. desempenha diversas funções cujo conhecimento contribui e é importante para o seu trabalho como V:. M:.
- O futuro V:. M:. é envolvido progressivamente na actividade de gestão da Loja, chegando a V:. M:. já com algum domínio sobre os problemas que a Loja possa ter.
- Os mestres mais antigos (normalmente antigos VV:. MM:.), podem acompanhar a progressão do futuro V:. M:., aconselhando-o e apoiando-o na sua progressão.
- "Permite detectar precocemente" se o candidato vai ou não vai conseguir ser V:. M:. e, em casos extremos, tomar decisões.
5 comentários:
Perdoem-me a ignorância, mas todo o texto deste post está escrito de forma críptica.
O que é que responderiam àqueles que afirmam que a maçonaria é uma seita que recruta gente em cargos de poder e influência para melhor desenvolver e salvaguardar os próprios negócios? Porque é que há tantos juízes e chefes das secretas nas vossas fileiras?
Quais são as vossa grandes obras a favor da sociedade? Um centro de saúde aqui ou um infantário acolá? Ou nem isso? Ou é segredo?
Se ler o artigo com atenção, concluirá que não tem nada de críptico. Tenta transmitir o perfil que se espera (que eu espero) que um candidato a Venerável Mestre tenha - um homem bom, de bons costumes, comprometido com o sucesso; se quiser são as definições clássicas de um líder.
Se se refere às abreviaturas, elas são do conhecimento comum, para quem tenha investido algum tempo a conhecer a Ordem Maçónica e não só a ler revistas sensacionalistas à procura de audiências.
Quanto às perguntas que faz, relativas ao que denomina de "recrutamento", importa dividir a resposta em duas partes:
1 - Não é feito qualquer recrutamento para "para melhor desenvolver e salvaguardar os próprios negócios", pela simples razão de que não há negócios (nem sequer negociatas) para salvaguardar.
2 - A Maçonaria pretende ter nas suas colunas, homens bons, de bons costumes e respeitadores da Democracia e da legalidade, quer sejam juizes, chefes de secretas, polidores de esquinas, ou tenham qualquer outra profissão. O que é realmente relevante, não é a profissão, nem sequer o poder e/ou influência que a pessoa possa ter, mas a pessoa em si.
Interpreto as suas perguntas como vindo de alguém que quer saber mais. Uma das primeiras regras, para quem quer saber mais é abandonar ideias pré-concebidas e pesquisar o mais possível. Poderá assim ter uma ideia mais realista sobre a Ordem Maçónica e sobre as suas obras.
Receba um abraço de
AJ
Meu caro A.Jorge, claro que a RLMAD aplicará o ponto 4 e tu serás o seu V.M. por direito próprio que ninguém contesta. Por razões várias falamos bastante sobre este tema, nós os 2, e está fora de dúvida que é a aplicação do tal ponto 4 que confirmará a tua eleição.
Quanto ao nosso leitor Diogo, também quero dar uma achega ao comentário que deixou, mas prefiro fazê-lo em texto separado que "postarei" já a seguir...
Boas...
Uma Loja que tenha como seu timoneiro alguém com as qualidades que o A.Jorge publicitou, só poderá ter um caminho ( progressão) feliz e sabiamente traçado.
Ser Venerável de uma Loja é um cargo que "enche" os olhos a qualquer um, e todos temos consciencia desse fato, mas também quem ocupa a "Cadeira de Salomão" deve ter consciencia que o Poder é algo relativo e que para que ele aconteça é necessário existir alguém que a ele se subjugue.
Por isso não pode um Venerável fazer uma loja à sua imagem mas o contrário, deve ele ser a "imagem" ( identidade) da própria Loja.
abr...prof...
Meu Irmão
Excelente o teu texto sobre o V:.M:. Vejo nele, em muito, as exigências que se colocam a quem é chamado à função. Mas talvez haja um aspecto que exigiria - se mo permites - que se deveria ter em conta. Um V:.M:. é um lider de homens, alguém que dirige, que ouve, consulta mas que no fim é quem arca com a responsabilidade da decisão. Para o bem e para o mal. Num certo excesso de democratismo perpassa, por vezes, a ideia que a Loja é uma espécie de clube de futebol ou associação recreativa em que o voto da maioria prevalece e o V:.M:. como o lider no regime da Vontade Geral de Rousseau é o que espelha a vontade da maioria. Não creio que a Loja seja algo equivalente a isso; nem o V:.M:. algo equiparável. Por isso é a personalizaçao de Salomão e tem o magister do soberano. Não tem que ser um catavento que vai para onde o empurram. Teu GAMA
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