O porquê do Acordo Ortográfico no blogue
Termino com este texto, ao menos por ora, uma longa série de textos dedicados ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990. Faço-o em jeito de balanço e de justificação. Sei - nunca disso duvidei! - que alguns (muitos? todos?) dos habituais visitantes deste blogue algumas das vezes, se não em todas, em que depararam com textos sobre o dito Acordo Ortográfico tiveram alguns pensamentos de impaciência: este blogue é essencialmente dedicado a desenvolver o tema da maçonaria, que cabimento tem estar aqui a divulgar e comentar esta coisa do Acordo Ortográfico? Pelo menos um obreiro da Loja Mestre Affonso Domingues manifestou-me essa impaciência, esse desencanto, a sua discordância.
Bem ciente estava do risco que corria. Além do mais, o tema é árido. E dedicar mais de duas dezenas de textos a esse árido tema foi, talvez, abusar da paciência de quem se habituou a visitar este blogue. Foram três meses, de setembro a novembro, em que, em todas as semanas, havia um texto sobre esta "seca", algumas semanas dois. Garanto-vos: também para mim o tema Acordo Ortográfico não é nada apelativo... Se vos serve de consolo, foi tão secante preparar e publicar os textos como lê-los (ou passar por cima deles sem os ler...).
Mas quem pensou que divulgar, comentar, publicar, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 não tem nada a ver com Maçonaria, pense outra vez e pense melhor!
Maçonaria não é só tratar de coisas espirituais. Maçonaria não é só lidar obscuramente com uma linguagem simbólica como meio de extrair, absorver, princípios éticos, desenvolvimentos morais, lustre espiritual. Maçonaria é, antes de tudo, acima de tudo, contra tudo, o APERFEIÇOAMENTO DO HOMEM. Em todas as suas vertentes. O Homem inteiro não é só espírito, como não é só matéria. É ambos. A Maçonaria não se destina a anular, destruir, a parte material, animal, comezinha, do Homem. Esta é tão inerente a nós como as mais nobres caraterísticas do nosso espírito. A maçonaria ajuda o Homem a dominar as suas paixões. Não a destruí-las, não a anulá-las. Isso não seria humano, não seria natural. E as regras da Natureza são as que são, assim foram instituídas pelo Criador, grossa prosápia seria presumir que se pode alterá-las!
A Maçonaria, na sua forma e prática atuais, conformou-se no século XVIII, a partir dos princípios do Iluminismo. Não postula que o maçon se esgote em esotéricos pensamentos sobre os mais recônditos resquícios do seu espírito e os mais etéreos níveis a que desejará elevá-los. Isso também - com conta, peso e medida - tem lugar, mas a Maçonaria é essencialmente um método de aperfeiçoamento do Homem Inteiro. E uma das formas por que se manifesta esse propósito é pela aquisição e aprofundamento de conhecimentos. A ideia não é fazer de brutos incultos e ignorantes especialistas em espiritualidades etéreas. A ideia é precisamente mostrar, praticar, que a Ciência e a Espiritualidade não são opostas, mas complementares. O maçon deve trabalhar no seu aperfeiçoamento moral e espiritual, mas simultaneamente deve também melhorar, elevar-se, aprender, na vertente do conhecimento das Artes e das Ciências.
Também para o maçon - diria que principalmente para o maçon! - o saber não ocupa lugar. Mais: é pelo hábito de saber, de estudar, de aprender, que o maçon também se aperfeiçoa, cresce, é mais homem e, sendo-o, se aproxima do ideal digno da sua natureza.
Uma das tarefas que se pede aos maçons é que produzam trabalhos e os apresentem aos seus irmãos. Para que aprendam e ensinem. E, todos juntos, um pouco todos melhorem. Esses trabalhos não devem ser apenas sobre simbologia, espiritualidade, etéreos temas. Devem ser também sobre conhecimento, puro e simples, puro e duro. Cultura geral. Divulgação. Estudo. Saber. Porque o maçon cultiva-se, também como forma de se aperfeiçoar. De resto, um período específico da formação do maçon é dedicado ao estudo de si próprio, das Artes e das Ciências.
Imaginemos um homem que se dedicava a exercitar, a muscular, a desenvolver, apenas o braço direito. Possivelmente lograria vir a ter um desenvolvidíssimo bíceps direito, um forte antebraço direito, uma mãozorra direita, tudo amplamente desenvolvido. Mas continuaria a ser um lingrinhas atrofiado no braço esquerdo e no resto do seu corpo... Melhoraria? Estaria mais perfeito? Não! Pelo contrário, estaria desequilibrado e com um aspeto antinatural. Seria pior a emenda que o soneto. Porque não se teria cuidado do desenvolvimento, do exercício, da melhoria HARMONIOSA de todo o corpo e ter-se-ia, ao contrário, criado uma aberração, um lingrinhas sobremusculado num, e só num, braço...
A mesma coisa sucederia se o maçon apenas cuidasse do seu espírito, dos seus princípios morais, das suas crenças religiosas, descurando a manutenção e aperfeiçoamento dos conhecimentos científicos e sociais. Seria melhor? Estaria mais perfeito? Não! Seria apenas um bruto ignorante armado em beato...
A Sociedade moderna, pelas suas exigências, pela sua competitividade, dá muita atenção à aquisição de conhecimentos técnicos e científicos. Daí que seja natural que os maçons alertem para a necessidade de contrabalançar com o cuidado com os valores morais e espirituais, para que o desenvolvimento do homem seja harmonioso, total, equilibrado. Mas, quando o maçon depara com tema ou assunto que desconhece, ou conhece mal, pode e deve buscar melhorar o seu conhecimento sobre ele e partilhá-lo com seus irmãos.
Não se pede que os maçons sejam especialistas de tudo. Aliás, a ideia não é que um maçon, quando elabora e apresenta trabalhos em Loja, debite amplos, extensos, profundos conhecimentos especializados. A loja maçónica não é propriamente o local adequado para se debater as dificuldades técnicas da escolha, combinação e aproveitamento dos combustíveis adequados à propulsão de nave interplanetária, tendo em conta as necessidades de aprovisionamento, velocidade pura prolongada e manobrabilidade da nave propulsada... A ideia é o maçon dedicar-se a estudar algo que não saiba, ou não saiba convenientemente, e com isso aprenda algo e partilhe o que aprendeu com os demais. Também!
E não se estudam só temas agradáveis. Os áridos também estão diante de nós para que também sobe eles aprendamos um pouco.
Por isso entendi que era útil estudar o que era o Acordo Ortográfico, as mudanças que trazia, como se devia passar a escrever. E decidi partilhá-lo com todos os que por este blogue passam. Em conjunto e em simultâneo com as minhas habituais considerações sobre temas mais estritamente (tradicionalmente?) maçónicos. No fundo, como diz o Povo, nem sempre sardinha, nem sempre galinha...
Ou seja, quero eu dizer cá no meu estilo arrevesado que aprender e divulgar como se deve corretamente escrever é tão maçónico, tão útil, tão indispensável, para a prossecução do objetivo de aperfeiçoamento buscado pelo maçon como perorar, especular, sobre o mais profundo tema esotérico. Por isso decidi assumir o risco de vos enfastiar com a publicação de 21 Bases mediocremente comentadas e mais uma resenha das principais alterações resultantes do Acordo Ortográfico.
O que não quer dizer que não seja com algum alívio que ponha ponto final no assunto...
Rui Bandeira
Bem ciente estava do risco que corria. Além do mais, o tema é árido. E dedicar mais de duas dezenas de textos a esse árido tema foi, talvez, abusar da paciência de quem se habituou a visitar este blogue. Foram três meses, de setembro a novembro, em que, em todas as semanas, havia um texto sobre esta "seca", algumas semanas dois. Garanto-vos: também para mim o tema Acordo Ortográfico não é nada apelativo... Se vos serve de consolo, foi tão secante preparar e publicar os textos como lê-los (ou passar por cima deles sem os ler...).
Mas quem pensou que divulgar, comentar, publicar, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 não tem nada a ver com Maçonaria, pense outra vez e pense melhor!
Maçonaria não é só tratar de coisas espirituais. Maçonaria não é só lidar obscuramente com uma linguagem simbólica como meio de extrair, absorver, princípios éticos, desenvolvimentos morais, lustre espiritual. Maçonaria é, antes de tudo, acima de tudo, contra tudo, o APERFEIÇOAMENTO DO HOMEM. Em todas as suas vertentes. O Homem inteiro não é só espírito, como não é só matéria. É ambos. A Maçonaria não se destina a anular, destruir, a parte material, animal, comezinha, do Homem. Esta é tão inerente a nós como as mais nobres caraterísticas do nosso espírito. A maçonaria ajuda o Homem a dominar as suas paixões. Não a destruí-las, não a anulá-las. Isso não seria humano, não seria natural. E as regras da Natureza são as que são, assim foram instituídas pelo Criador, grossa prosápia seria presumir que se pode alterá-las!
A Maçonaria, na sua forma e prática atuais, conformou-se no século XVIII, a partir dos princípios do Iluminismo. Não postula que o maçon se esgote em esotéricos pensamentos sobre os mais recônditos resquícios do seu espírito e os mais etéreos níveis a que desejará elevá-los. Isso também - com conta, peso e medida - tem lugar, mas a Maçonaria é essencialmente um método de aperfeiçoamento do Homem Inteiro. E uma das formas por que se manifesta esse propósito é pela aquisição e aprofundamento de conhecimentos. A ideia não é fazer de brutos incultos e ignorantes especialistas em espiritualidades etéreas. A ideia é precisamente mostrar, praticar, que a Ciência e a Espiritualidade não são opostas, mas complementares. O maçon deve trabalhar no seu aperfeiçoamento moral e espiritual, mas simultaneamente deve também melhorar, elevar-se, aprender, na vertente do conhecimento das Artes e das Ciências.
Também para o maçon - diria que principalmente para o maçon! - o saber não ocupa lugar. Mais: é pelo hábito de saber, de estudar, de aprender, que o maçon também se aperfeiçoa, cresce, é mais homem e, sendo-o, se aproxima do ideal digno da sua natureza.
Uma das tarefas que se pede aos maçons é que produzam trabalhos e os apresentem aos seus irmãos. Para que aprendam e ensinem. E, todos juntos, um pouco todos melhorem. Esses trabalhos não devem ser apenas sobre simbologia, espiritualidade, etéreos temas. Devem ser também sobre conhecimento, puro e simples, puro e duro. Cultura geral. Divulgação. Estudo. Saber. Porque o maçon cultiva-se, também como forma de se aperfeiçoar. De resto, um período específico da formação do maçon é dedicado ao estudo de si próprio, das Artes e das Ciências.
Imaginemos um homem que se dedicava a exercitar, a muscular, a desenvolver, apenas o braço direito. Possivelmente lograria vir a ter um desenvolvidíssimo bíceps direito, um forte antebraço direito, uma mãozorra direita, tudo amplamente desenvolvido. Mas continuaria a ser um lingrinhas atrofiado no braço esquerdo e no resto do seu corpo... Melhoraria? Estaria mais perfeito? Não! Pelo contrário, estaria desequilibrado e com um aspeto antinatural. Seria pior a emenda que o soneto. Porque não se teria cuidado do desenvolvimento, do exercício, da melhoria HARMONIOSA de todo o corpo e ter-se-ia, ao contrário, criado uma aberração, um lingrinhas sobremusculado num, e só num, braço...
A mesma coisa sucederia se o maçon apenas cuidasse do seu espírito, dos seus princípios morais, das suas crenças religiosas, descurando a manutenção e aperfeiçoamento dos conhecimentos científicos e sociais. Seria melhor? Estaria mais perfeito? Não! Seria apenas um bruto ignorante armado em beato...
A Sociedade moderna, pelas suas exigências, pela sua competitividade, dá muita atenção à aquisição de conhecimentos técnicos e científicos. Daí que seja natural que os maçons alertem para a necessidade de contrabalançar com o cuidado com os valores morais e espirituais, para que o desenvolvimento do homem seja harmonioso, total, equilibrado. Mas, quando o maçon depara com tema ou assunto que desconhece, ou conhece mal, pode e deve buscar melhorar o seu conhecimento sobre ele e partilhá-lo com seus irmãos.
Não se pede que os maçons sejam especialistas de tudo. Aliás, a ideia não é que um maçon, quando elabora e apresenta trabalhos em Loja, debite amplos, extensos, profundos conhecimentos especializados. A loja maçónica não é propriamente o local adequado para se debater as dificuldades técnicas da escolha, combinação e aproveitamento dos combustíveis adequados à propulsão de nave interplanetária, tendo em conta as necessidades de aprovisionamento, velocidade pura prolongada e manobrabilidade da nave propulsada... A ideia é o maçon dedicar-se a estudar algo que não saiba, ou não saiba convenientemente, e com isso aprenda algo e partilhe o que aprendeu com os demais. Também!
E não se estudam só temas agradáveis. Os áridos também estão diante de nós para que também sobe eles aprendamos um pouco.
Por isso entendi que era útil estudar o que era o Acordo Ortográfico, as mudanças que trazia, como se devia passar a escrever. E decidi partilhá-lo com todos os que por este blogue passam. Em conjunto e em simultâneo com as minhas habituais considerações sobre temas mais estritamente (tradicionalmente?) maçónicos. No fundo, como diz o Povo, nem sempre sardinha, nem sempre galinha...
Ou seja, quero eu dizer cá no meu estilo arrevesado que aprender e divulgar como se deve corretamente escrever é tão maçónico, tão útil, tão indispensável, para a prossecução do objetivo de aperfeiçoamento buscado pelo maçon como perorar, especular, sobre o mais profundo tema esotérico. Por isso decidi assumir o risco de vos enfastiar com a publicação de 21 Bases mediocremente comentadas e mais uma resenha das principais alterações resultantes do Acordo Ortográfico.
O que não quer dizer que não seja com algum alívio que ponha ponto final no assunto...
Rui Bandeira
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