O Segundo Venerável Mestre
José M.M. foi o segundo Venerável Mestre, mas, na realidade, foi o primeiro a conduzir os destinos da Loja Mestre Affonso Domingues, entre 1990 e o Verão de 1992, primeiro por designação do Grão-Mestre Fernando Teixeira, em virtude da incapacidade do Venerável Mestre fundador e, depois, como seu primeiro Venerável Mestre eleito.
Conheci José M.M. quando ele me telhou. Com efeito, tendo eu sido iniciado e passado a Companheiro na Alemanha, na Loja Miguel Cervantes y Saavedra, ao Oriente de Bonn e tendo iniciado trabalhos uma Obediência Regular em Portugal, diligenciei a minha transferência maçónica para Portugal. Foi-me indicada como Loja mais adequada a Loja Mestre Affonso Domingues e assim me apresentei ao seu Venerável Mestre em exercício, que, para início de conversa, me telhou, isto é, assegurou-se da minha qualidade de Companheiro Maçon, fazendo-me demonstrar perante ele tal facto mediante os meios de reconhecimento do segundo grau da Maçonaria.
José M.M. era, e creio que continua a ser, um homem extremamente afável e, sobretudo, um grande condutor de homens, um excepcional líder de grupos. Penso que muito daquilo que a Loja Mestre Affonso Domingues ainda hoje é resulta da marca que ele lhe imprimiu no seu início.
No período do seu mandato, a Maçonaria Regular em Portugal estava a organizar-se e a implantar-se. Foi na Loja Mestre Affonso Domingues, sob a direcção de José M.M., que se fixaram os primeiros rituais do Rito Escocês Antigo e Aceite em uso na Obediência.
José M.M. já tinha experiência como Venerável Mestre. Orgulhava-se, aliás, de ter sido o mais jovem Venerável Mestre de uma Loja, ainda no GOL. Sob a sua direcção e beneficiando da sua experiência, a Loja Mestre Affonso Domingues dedicou-se à aprendizagem da correcta execução do ritual, em todas as cerimónias maçónicas, de tal forma tendo conseguido atingir esse objectivo que, por decreto do Grão-Mestre Fernando Teixeira, teve, durante algum tempo, o quase exclusivo de iniciar, passar a Companheiro e elevar a Mestre (para além dela, só o próprio Grão-Mestre e a Grande Loja o podiam fazer). Assim, virtualmente durante cerca de dois anos, quase todos os Maçons da Obediência foram iniciados por Oficiais da Loja Mestre Affonso Domingues.
Foram dois anos de arrasar, sempre e só em Iniciações, Passagens e Elevações! A Loja cimentou-se no trabalho ritual, as relações fraternais assentaram na mútua colaboração, na atenção aos lapsos e sua correcção, no esforço de fazer bem e cada vez melhor.
Este legado, esta marca, diria que quase genética, da Loja Mestre Affonso Domingues ainda hoje permanece. A Loja dispõe de vários membros que, sem sequer necessitarem de preparação prévia, estão aptos a dirigir ou executar funções em qualquer cerimónia do Rito Escocês Antigo e Aceite, em qualquer ofício ritual. E continua a estimular os seus membros mais recentes para que aprendam e executem todos os ofícios em Loja, aprendendo a razão de ser de cada frase, de cada movimento, a surpreender o seu significado, a executar sempre bem e procurando fazê-lo melhor. Hoje muitas outras Lojas felizmente também o fazem, tão bem ou melhor que nós, e isso só nos alegra e estimula a procurarmos sempre progredir!
Para além desse legado da atenção ao bom exercício do trabalho ritual, José M.M: deixou um outro importante legado à Loja: a noção de que a função de Venerável Mestre é susceptível de ser exercida por qualquer Mestre maçon e que é a Loja que faz o Venerável Mestre, tanto quanto este faz aquela. Desenvolverei o assunto no texto dedicado ao Venerável Mestre que lhe sucedeu.
José M.M., elemento muito ligado, até afectivamente, a Fernando Teixeira, acompanhou-o na cisão de 1996. Foi essa a primeira vez que a Loja não o seguiu. A partir daí, os nossos caminhos passaram a ser diversos.
Mas isso não impede que se reconheça que muito deve a Loja Mestre Affonso Domingues ao seu segundo Venerável Mestre, primeiro no efectivo exercício de funções, José M.M.. Porque os caminhos podem divergir, mas a Memória permanece.
Rui Bandeira
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