Visita à Sinagoga "Portas da Esperança"
Ontem, quarta quarta-feira do mês, seria normalmente dia - ou melhor, noite - de sessão da Loja Mestre Affonso Domingues. Sendo também o dia de ontem feriado comemorativo do Dia da Liberdade, entendeu o Venerável Mestre, com o acordo geral da Loja, que se deveria, porém, organizar um programa especial alternativo. Ficou assim aprazada para ontem uma visita que há muito estava projectada, a visita à Sinagoga da Comunidade Israelita de Lisboa, aberta a todos os membros da Loja, famíliares e amigos.
Assim, ao fim da tarde deslocámo-nos à Rua Alexandre Herculano, n.º 59, em Lisboa, local onde se encontra a Casa de Oração, Centro de Estudo e local de reunião da Comunidade Israelita de Lisboa, tendo sido recebidos por um membro da referida Comunidade, que nos proporcionou uma visita guiada e uma interessante sessão de esclarecimento sobre a sinagoga e sobre alguns aspectos da religião judaica.
Quanto às instalações, centro da nossa curiosidade, a sinagoga impressiona sobretudo pela sua sobriedade. Trata-se de um edifício essencialmente funcional, manifestamente projectado e edificado para servir o objectivo do culto religioso judaico, confortável mas não luxuoso, agradável mas sem ostentação.
A Sinagoga "Portas da Esperança" (Shaaré Tikvá, em transliteração do hebraico) foi projectada pelo Arquitecto Ventura Terra, que contou com a colaboração do historiador Joaquim Bensaúde, quanto às normas sobre construção religiosa. Foi inaugurada em 18 de Maio de 1904, com a presença do Grão-Rabino de Gibraltar.
O edifício apresenta a particularidade - resultante de imposição legal na época então vigente, relativamente a qualquer local de culto dedicado a qualquer religião que não a católica - de não ter a fachada virada e dando directamente para a rua. Aliás, a discrição da implantação da sinagoga é notória: quantos se deram conta, ao passar pela movimentada Rua Alexandre Herculano, em Lisboa, que ali existe uma sinagoga? Acede-se às instalações entrando por um discreto portão que dá acesso a um pátio interior e daí então se entra no edifício, orientado de Poente para Nascente.
Para entrar na sinagoga, todos os homens devem ter a cabeça coberta por um chapéu ou por um solidéu. As mulheres podem entrar de cabeça descoberta. A explicação que o nosso guia nos deu - e que muito agradou às senhoras...- foi que os homens devem cobrir a cabeça no local sagrado em sinal de humildade, por serem imperfeitos e, logo, impuros, necessidade inexistente em relação às mulheres. Assim se confirma a explicação feminina do facto de, segundo o Génesis, Deus ter criado primeiro Adão e só depois Eva: faz-se sempre um esboço antes da obra-prima...
O local especificamente destinado ao culto é um amplo salão rectangular, rodeado por duas galerias. Segundo nos informou o nosso guia, salvo em cerimónias específicas, os homens ficam no salão e as mulheres nas galerias. Ao centro da sala fica o espaço de onde o ou os oficiantes dirigem as orações, sempre virados para Oriente. Na parede Oriental (virada a Jerusalém), no topo do salão, pode ver-se uma espécie de portada em duas portas (as portas da Arca Sagrada), em cada uma delas estando gravados, em hebraico, cinco dos Dez Mandamentos revelados pelo Criador a Abraão.
Dentro da Arca Sagrada guardam-se os livros da Tora (o Pentateuco, os cinco primeiros livros do Antigo Testamento), todos escritos à pena, símbolo a símbolo, em hebraico, em peles, que são enroladas em suportes de madeira e revestidas de mantilhas.
Em frente à Arca da Aliança está pendurada uma lâmpada (Ner Tamid - visível em ambas as fotos), uma lamparina a azeite onde está permanentemente acesa uma luz, em memória do Candelabro do Templo de Jerusalém e evocando a presença contínua do Criador.
Quer a visita, quer os esclarecimentos prestados pelo nosso guia, foram elucidativos da forma de prestar culto ao Criador que é prosseguida pelos praticantes da religião judaica, reforçando no espírito dos membros da Loja Mestre Affonso Domingues um princípio que é constituinte do nosso entendimento: não importa como o Criador é cultuado; seja-o através da Tradição Judaica, de qualquer das variantes Cristãs, dos princípios do Islamismo ou de qualquer outra religião, o que interesa é que é sempre ao mesmo e único Criador que os fiéis de qualquer religião se dirigem.
Os nossoa agradecimentos à Comunidade Israelita de Lisboa, pela simpática recepção e pelos preciosos esclarecimentos prestados. Para quem estiver interessado em visitar esta sinagoga, informa-se que visitas guiadas podem ser efectuadas mediante marcação através do fax (351) 213931139. As imagens que ilustram este texto foram retiradas do sítio na Rede da Comunidade Israelita de Lisboa, mais especificamente daqui.
Rui Bandeira
2 comentários:
Rui,
Foi efectivamente uma visita muito agradável e esclarecedora.
Quero deixar aqui o meu agradecimento ao nosso querido palestrante pela paciência com que respondeu a todas as perguntas que lhe foram colocadas.
O teu post está excelente...mas deixa-me fazer uma "pequena" correcção...
A razão pela qual os homens usam a kipá (ou Kipah) é para os lembrar a existência de Deus.
Segundo o nosso palestrante, os mais religiosos usam-no a todo o momento excepto para dormir.
Foi-nos dito também que as mulheres casadas e mais religiosas, chegam a usar lenços ou perucas para não mostrarem os seus cabelos a outros que não os maridos.
A razão pela qual as mulheres não têm de usar a kipá, deve-se ao facto de estarem, por natureza, mais sintonizadas com as questões da espiritualidade.
Mas deixa-me dizer-te que caiu muito bem o teu elogio!
Agradeço-te em nome das mulheres!
Beijos.
Pat
Eu nao seria capaz de expor melhor a correcção da Pat.
Foi tambem isso que me pareceu ter sido dito.
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