17 fevereiro 2009

Meio por cento


Uma das instituições de solidariedade social que é cara aos obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues é a CERCIAMA - COOPERATIVA DE EDUCAÇÃO E REABILITAÇÃO DE CIDADÃOS INADAPTADOS DA AMADORA, CRL. A CERCIAMA tem a sua sede e instalações de assistência, guarda, ensino, apoio, formação e reabilitação de cidadão inadaptados, designadamente em consequência de serem afetados pela trissomia 21 (vulgo: mongolismo) ou outras doenças ou insuficiências do sistema cognitivo, na R. Mestre Roque Gameiro nº 12, 2700-578 AMADORA e está reconhecida como instituição de utilidade pública (DR, II Série. n.º 152, de 03/07/1984). No seu blogue , a CERCIAMA faz o seguinte apelo, que temos todo o gosto em aqui reproduzir e secundar:

A partir da declaração de IRS, respeitante ao Ano 2008, a tributar em 2009, informa-se que pode consignar 0,5% do Imposto Liquidado (Lei nº16/2001 de 22 de Junho, Art. 32º e Portaria nº 80/2003 de 22 de Janeiro) à CERCIAMA.

Basta inscrever no Anexo H, caixa 9, coluna 901, o número de IDENTIFICAÇÃO DE PESSOA COLECTIVA, neste caso da CERCIAMA.

A CERCIAMA tem como Número de Identificação de Pessoa Colectiva (NIPC), o seguinte:

500 636 826

Quer no modelo de IRS electrónico, quer no modelo de IRS entregue em suporte de papel à vossa Repartição de Finanças, a vossa consignação deve ser assinalada no Anexo H, caixa 9, coluna 901, marcando um X no quadradinho com que termina a linha que refere:

-INSTITUIÇÕES PARTICULARES DE SOLIDARIEDADE SOCIAL ou PESSOAS COLECTIVAS DE UTILIDADE PÚBLICA (art. 32º, nº4 e 6).

Recorda-se que não assinalando nada na Caixa 9, … todo o benefício será directamente consignado à Fazenda Pública!

A CERCIAMA AGRADECE o vosso gesto de solidariedade pessoal, sem descurar que outra possa ser a entidade destinatária do donativo.

Seja Solidário uma vez mais!

Ajude a CERCIAMA

Obrigado

Meio por cento é quase nada! Mas lembrem-se que muitos meios por cento ajudam - e de que maneira! - quem, muitas vezes, é a única ajuda de quem dela absolutamente precisa!

Portanto, meus caros leitores sujeitos passivos de IRS em Portugal, é assim: basta ter o cuidado de guardar estes dados e, quando preencherem a vossa declaração de IRS, colocar o número de pessoa coletiva da CERCIAMA e o tal "X" no quadradinho da caixa 9 do Anexo H e, sem custos para vós, 0,5 % do IRS que vos é liquidado é entregue pela fazenda Pública à CERCIAMA. Se nada fizerem, se nada cuidarem, se não quiserem ter o pequenininho esforço de se recordarem de assim fazerem e de efetivamente o fazerem, a Fazenda Pública, em vez de ficar apenas com 99,5 % do vosso IRS e entregar 0,5 % dele à CERCIAMA, fica com os 100 % todinhos do vosso IRS.

A escolha é vossa!

Mas para quem reclama, resmunga ou murmura que o Estado podia aplicar melhor o dinheiro dos nossos impostos, convenhamos que prescindir de determinar-lhe que entregue a pequenina parte do nosso IRS que ele, Estado, aceita que nós determinemos a quem deve entregá-la, não será muito coerente...

E a CERCIAMA merece que nos lembremos dela e que tenhamos para com ele este gesto pequeno, fácil e sem custos para nós: determinar à Fazenda Pública que lhe entregue 0,5 % do nosso IRS! Quem porventura duvidar, tem uma maneira muito fácil e rápida de tirar as dúvidas: é ir visitar a CERCIAMA e ver, com os seus próprios olhos, o fantástico trabalho que ali é feito!

Leitor de Portugal: não guarde para amanhã o que pode fazer hoje! Imprima este texto e guarde-o na pasta dos documentos que precisará consultar quando fizer a sua declaração de IRS. Assim não se esquece!

Rui Bandeira

16 fevereiro 2009

MISERÁVEL MESTRE crónica de ‘MILLÔR FERNANDES’ (?)

Reapareci com o convite para a dádiva de sangue do próximo dia 28.
Acontece que o nosso inesgotável Rui, já há 3 ou 4 semanas, me enviou uma estórinha supostamente de autoria de Millôr Fernandes, autor de quem sou fã indiscutível desde há muitos anos, pelo humor sem paralelo com que escreve crónicas da vida diária, em críticas tão humoradas quanto verrinosas e certeiras.
Desde o tempo de ‘O Cruzeiro’ que o admiro, e já lá vão várias dezenas de anos (ele tem mais do que eu…).
No início do ‘A Partir Pedra’ um dos primeiros posts que coloquei foi exatamente um texto do Millôr, extraordinário ( a famosa definição da ‘Rôsca’… uma rosca é uma rosca, é uma rosca, é uma rosca.) e aí descobrimos, ambos (eu e o Rui), que era-mos igualmente fãs do Millôr Fernandes.
Este texto, após chegar ao nossos correios, teve um acerto igualmente suposto porque neste momento não temos qualquer certeza quanto à sua autoria.
Chegou como sendo do Millôr, mas a logo depois apareceu-nos um desmentido que nos merece tanta credibilidade quanto a primeira autoria.
Com autor ou sem ele fica uma certeza, não é minha autoria e tão pouco do Rui.
Mas ambos estamos de acordo que merece ser postado !
A questão está em que o que aqui vai no texto ‘não é moleza, não…’, bem pelo contrário, é dureza mesmo !
Eu conheço alguns… por muito que isso me doa, e dói, podem crer.
É o caminho para a perfeição…? pois será… !
Por isso é tão duro, por isso é dureza !
Aí vai :


Tô falando....não param de me perseguir! Estão sempre contra a minha pessoa. E ainda se dizem irmãos. O negócio é que a Loja estava um marasmo. "Tava um saco".
Aliás, por falar nisso, sempre preferi AMASSARMARIA à Maçonaria, vocês sabem. Só tem um negócio lá que atrai: O PODER!
Foi aí que resolvi: quero ser Venerável!
Comecei a conversar com os caras, mas eles me vieram com um papo de que era cedo, que eu não tinha sido secretário...! Função subalterna, trabalha mais do que fala. Jamais! Não tenho tempo para isso... QUERO MESMO É SER VENERÁVEL! Mas tudo tem seu jeito. Os dias passaram, bati papo com uns e outros, fui enrolando. Fiz um leilãozinho de cargos.
Pouco trabalho e muita pose. As Vigilâncias vão para dois alérgicos ao trabalho. Nada de preparar Instruções. Se elas já estão escritas, quem quiser que leia, bolas.
A oratória vai para um caso patológico de exibicionismo que precisa de platéia - vai ter sempre! E por ai continuei...
Quanto àquelas condições de elegibilidade, atropelei todas. Pra freqüência, atestado médico comprovando ‘Mal de Escroque’. Nada como uns livrinhos misticistas. Dou uma cheirada neles e viajo no esoterês...

Bons costumes? Não tem problema, eles ainda não me conhecem direito...
Capacidade administrativa? Bah, administração é coisa para jogar em cima do secretário. Meu negócio é bater malhete e usar paramento. O resto, eu leio e só assino. Mas tem uma turminha que se acha dona da Loja só porque não falta, arruma e desarruma o Templo, chega cedo, comparece no Tronco ou na obra de amor e outras besteiras dessas. Eles resolveram lançar um candidato deles. Mesmo que ele não tenha chance, não custa pichar um pouco.
Como dizia meu guru, "da calúnia sempre fica alguma coisa..." Fui armando nos bastidores, fazendo cabalas com minha grande capacidade de persuasão... Vocês sabem, ele é muito jovem, não presta para mandar...
Comprei presentinhos, fiz longos discursos e botei algumas notas no Tronco (pô que desperdício). Prometi, bajulei e menti. Beijei criancinhas, abracei sogras, fui a batizado e enterro. Enfim, tornei-me o candidato ideal.
O outro boboca, coitado, nem fez campanha. Apresentou um tal plano de trabalho que fazia jus ao nome, só falava de trabalho. Argh! Ninguém deve ter gostado.

Chegou o grande dia da eleição, eu lá tranqüilo, já até pensando na reeleição. Aliás preciso até ver quantas vezes é permitido, de repente, dá até para mudar o regulamento... Por falar nisso, será que venerável é como comprar toca-fitas: instalação é de graça? Não importa. Se não for, ponho na conta da Loja, junto com as dos paramentos, que já mandei fazer, bordados a ouro.
Enfim, o grande momento. Começa a apuração.
Há Unanimidade, estão dizendo. É a glória. Eu mereço...
O quê...? Ganhou o outro? Não absurdo! É roubo! E o meu voto e os compars..., quero dizer, correligionários? Heim...? Não tínhamos freqüência? Vocês não me merecem. Vou fundar uma outra Loja, para ser Venerável.
Vocês ainda vão ver a ‘VIGARICE & PICARETAGEM’ em funcionamento ainda este ano. Quero meu Quit Placet! O quê? Tem de pagar? Deixa pra lá então!
TFA
Ir.·. Millôr Fernandes (?)

E hoje fica assim.

JPSetúbal

13 fevereiro 2009

6ª feira, 13 ! Quem falou em DIA DE AZAR ?

Meus Caríssimos Irmãos, Amigos, Leitores, Comentadores, Críticos e demais interessados no "A Partir Pedra", de vez em quando 'dou à costa', que é como quem diz, reapareço para postar umas bocas...
Acontece que já há muito tempo não se 'faz sangue' neste blog e hoje é o dia do regresso às lides consanguíneas.
Pois bem, não vale a pena pôr muito na carta, porquanto é sabido da maioria dos nossos seguidores, embora nos últimos meses tenham aparecido muitas adesões, que através do 'A Partir Pedra' a R:.L:. Mestre Affonso Domingues faz periódicamente uma chamada aos dadores, antigos, novos e futuros, para colaborarem nas nossas sessões de dádiva de sangue.
É uma prática antiga e desde há 2 anos com a colaboração do magnífico Grupo 19, dos Escoteiros da Pontinha, que com o entusiasmo dos jovens de boa vontade contribuem para a angariação de dadores, sendo que eles próprios são os primeiros a dar o exemplo e a apresentarem-se em peso no ginásio da Escola Melo Falcão (justamente na Pontinha, a 5 minutos do Metro).
Então cá fica o desafio do costume para o próximo dia 28 de Fevereiro, Sábado, durante a manhã das 9 e até às 13 horas.
Não há razão para faltas, desde que as condições físicas o permitam.
Não custa nada, nem fisicamente nem económicamente.
Com a certeza antecipada de que alguém, nalgum lugar, se salvará graças a um tão pequeno gesto de cidadania ativa.
Meus Amigos, a deslocação até à Pontinha, se forem de Metro, até é uma viagem bonita, porque a vista pelas janelas das composições é particularmente colorida para aqueles lados, e se por acaso não virem nada não se preocupem demasiadamente, é sinal de que precisam mesmo de dar sangue !!!
Evidentemente que não será do V. conhecimento, mas alguém, algum dia, Vos irá agradecer o pequeno gesto de humanidade que é a V. dádiva.
Não faltem e tragam um Amigo também.

JPSetúbal

12 fevereiro 2009

Continuação da resposta a outra pergunta

Para além da evolução da maçonaria em dois ramos distintos, Regular e Liberal, o outro fator que, na minha opinião, tem dado origem a criação de diversos corpos que, no mesmo espaço territorial, se reclamam de maçónicos é aquilo a que no texto de ontem apelidei de "insuficiente êxito de alguns em polir a pedra do seu caráter, mantendo-se permeáveis e dominados por vícios como a vaidade, o desejo ou apego ao que consideram Poder, a intolerância". Traduzido por miúdos: vaidades, lutas e ambições por vão "poder", incapacidades de integrar desacordos pontuais, transformando-os desnecessariamente em profundas diferenças, geradoras de afastamentos. A minha própria formulação da frase é demonstrativa de que, se compreendo e encontro justificação para a emergência da Maçonaria Liberal, sou claramente crítico destas outras criações.

Historicamente, no mundo a Maçonaria criou-se segundo os princípios da Maçonaria Regular. Pelas razões e no contexto aludidos no texto de ontem, emergiu também a Maçonaria Liberal. Ambas são formas de Maçonaria. A opção por uma ou por outra depende de conceções da vida e do mundo. Resulta de princípios. São, em qualquer dos casos, escolhas inatacáveis.

Por outro lado, a Maçonaria criou-se como uma instituição masculina. Porém, a seu tempo, se colocou a questão de que as mulheres também podiam e eram suscetíveis de se aperfeiçoar seguindo o método maçónico. Criaram-se assim organizações femininas buscando o autoaperfeiçoamento, segundo o método maçónico, com recurso ao simbolismo e trabalho ritual, adaptado à sensibilidade e idiossincrasia femininas. Essas organizações adotam normalmente designações de Grandes Lojas Femininas e são vulgarmente designadas por Maçonaria Feminina. A Maçonaria Regular, embora considere que a designação de "Maçonaria", sem adjetivos, deve corresponder ao conceito de uma instituição exclusivamente masculina, reconhece o direito ao autoaperfeiçoamento feminino, segundo o método da especulação simbólica e prática ritual, adaptada ao género feminino. É uma realidade distinta da Maçonaria, mas que os maçons regulares reconhecem como louvável. Inclusivamente, em Inglaterra não é incomum a partilha de instalações entre Lojas masculinas e femininas. A Maçonaria Regular, a exemplo da sua posição quanto à Maçonaria Liberal, só não admite intervisitação em reuniões rituais entre maçons regulares e senhoras. Porque as práticas rituais de uns e de outras são específicas para a melhoria dos respetivos grupos, não se justificando presenças ou intromissões que seriam meramente do foro da curiosidade ou de praxe social.

Mas, sendo a Maçonaria Regular exclusivamente masculina, aceitando esta sem reservas o direito feminino a emular, em benefício do seu próprio aperfeiçoamento o método maçónico e sendo a diferença de género um facto da vida, é também inatacável o direito de as senhoras se agruparem no que designam por Lojas e Grandes Lojas Femininas.

Também nalguns pontos do globo se criaram organizações mistas de género, autodesignadas de Co-Maçonaria, isto é, organizações abertas a homens e senhoras. Do ponto de vista da Maçonaria Regular, estas organizações não se justificam. Sendo as sensibilidades masculina e feminina diferentes (é conhecida a frase, que vale o que vale, mas é ilustrativa, de que os homens são de Marte e as mulheres são de Vénus), não se afigura útil nem eficaz um método ou, sobretudo, uma prática ritual única e comum. Ao contrário do que sucede com as organizações femininas, que são reconhecidas como uma realidade que, embora necessariamente diferente, é similar à Maçonaria e de utilidade para as suas destinatárias, a Maçonaria Regular não reconhece utilidade nem necessidade a essas organizações mistas. No entanto, pessoalmente admito que quem optar por integrar uma dessas organizações o faça por princípio, pelo que considero também inatacável o direito de, quem assim o desejar, assim fazer.

Questão completamente diferente é, quer no âmbito dos princípios da Maçonaria Regular, quer segundo as opções da Maçonaria Liberal, que haja quem entenda constituir organizações paralelas. Nesse caso, ou haverá pura imitação, ou criação de organizações justamente consideradas pelas originais como clandestinas. E nesse caso o que estará em causa não serão princípios (pois os imitadores ou clandestinos proclamam os mesmos princípios da organização original), mas apenas manifestações de egos.

Esse tipo de situações ocorreu já em todo o mundo maçónico, quer no âmbito da Maçonaria Regular, quer no da Maçonaria Liberal. Ressalvadas algumas exceções, normalmente dão origem a pequenas e isoladas, interna e internacionalmente, organizações, que estiolam durante algum tempo, até ao seu desaparecimento. A maior parte dura umas dezenas de anos (o que, em Maçonaria, é muito pouco...) desde o nascimento à extinção. As que sobrevivem e permanecem durante mais de um século é porque, algures na sua génese ou desenvolvimento, acabaram por corresponder a interesses ou valores ou princípios diversos e que justificam essa existência.

Na minha opinião, não é grave - até porque - repito - normalmente resultantes de meros egos inchados - a ocorrência desses episódios. O tempo se encarrega de separar o trigo do joio. Cada um que faça o seu caminho e se preocupe consigo e com os seus e deixe viver quem quer seguir, certa ou erradamente, caminhos diferentes.

Nestas situações só há, a meu ver, uma questão a ter em atenção: durante a vida da organização clandestina, alguns elementos de boa vontade aderirão a ela, crentes no seu valor e pretendendo seguir os princípios, seja da Regularidade, seja da Maçonaria Liberal. Esses elementos de boa vontade e boas intenções não devem ser penalizados nem sofrer consequências devido aos inchaços de ego alheios. As organizações originais devem estar atentas a essas situações e, em bases estritamente individuais, criar mecanismos que permitam a quem, ciente que esteja do seu engano, poder prosseguir o seu caminho livre do labéu da clandestinidade.

E não é possível a reintegração da organização clandestina na original? Claro que nunca se deve dizer nunca, salvo em questões de princípio. Mas tenho para mim que isso só é passível de ser encarado, com hipóteses de êxito, quando os egos inchados tiverem terminado a sua passagem pela organização clandestina. É certo que, normalmente, o que incha desincha, mas, em matéria de egos, esse processo costuma ser demasiado demorado... Portanto, na minha opinião, sempre que ocorrem situações de cisão ou clandestinidade, o melhor que há a fazer é dar tempo ao tempo, ter presente que atrás de tempo, tempo vem e que o tempo (quase) tudo cura...

Em resumo, meu caro José Luciano: na minha opinião, não há qualquer estilhaçamento, mas apenas alguma borbulhagem. Efeitos de inchaços de ego...

Rui Bandeira

11 fevereiro 2009

Começo de resposta a outra pergunta

Na sequência do texto Pergunta de profano, José Luciano, através de uma mensagem de correio eletrónico, questiona:

Escreve o Sr. em "Pergunta de Profano":

"Especulativa também porque o trabalho primordial do maçon é especular,...", e eu pergunto, será de tão especulativa que a Maçonaria se estilhaça? será do trabalho sobre a "espiritualidade e a moral" que ela se perde, tantas vezes, em caminhos tão enviesados?

Seria útil que José Luciano concretizasse um pouco mais o seu entendimento, assim limitando o risco de se estar a referir a alhos e eu a responder a bugalhos. De qualquer forma, procurarei dar a minha opinião, segundo o que alcancei da questão colocada. Se errar o tiro, José Luciano fará o favor de me corrigir o azimute, para que eu vise melhor...

A questão contém em si pressupostos com os quais não concordo: que a Maçonaria se estilhaça e que se perde, tantas vezes, em caminhos tão enviesados.

Assumindo que José Luciano classifica como estilhaçar da Maçonaria a existência de diversas Obediências, com diferentes orientações, cada uma reclamando jurisdição sobre um conjunto de Lojas maçónicas, a minha convicção é que tal não deriva de a Maçonaria ser "tão especulativa". Resulta, antes de dois fatores, um positivo, outro nem por isso: essencialmente, da incomensurável bênção de que beneficia a espécie humana, comummente designada por livre arbítrio; nalguns casos, do insuficiente êxito de alguns em polir a pedra do seu caráter, mantendo-se permeáveis e dominados por vícios como a vaidade, o desejo ou apego ao que consideram Poder, a intolerância.

Especular é uma das mais nobres caraterísticas da espécie humana. É o que nos possibilita evoluir, crescer, avançar. A Ciência Experimental nasce, em cada dia, da especulação. O processo científico resulta da elaboração de uma hipótese (especulação sobre se determinada ideia corresponde à realidade) e sua verificação ou infirmação por via experimental. A capacidade de especular, ínsita na natureza humana, é um componente essencial do Livre Arbítrio com que fomos dotados. Cada um de nós faz, em cada momento, as suas escolhas em função da sua análise das hipóteses que descortina viáveis e da probabilidade da sua ocorrência. Especular, portanto, é tão inerente à natureza humana como respirar. Nisto, a Maçonaria nada trouxe de novo ao Homem. O caráter distintivo da Maçonaria - e que eu sublinhei no texto que suscitou a colocação da questão - é o facto de essa especulação ter como ponto de partida símbolos, de cuja apreensão, estudo e compreensão cada um deve partir. Por isso também a Maçonaria, além de Especulativa, muitas vezes é designada por Simbólica.

A especulação simbólica, em si e só por si, em nada contribui, ao menos decisivamente, para a existência de diversas correntes e Obediências maçónicas. O caso mais paradigmático, o que alguns consideram a cisão entre a Maçonaria Regular e a que é designada ou se designa por Maçonaria Irregular ou Liberal ou Universal, e que eu considero antes uma natural, previsível e frutífera divisão do tronco comum em dois ramos, ambos alimentados pela mesma seiva, provinda da mesmas raízes, mas cada um inclinando-se para o lado que melhor lhe convém - e afinal ambos contribuindo para o equilíbrio do todo... -, resultou, mais do que de diversas conclusões sobre diferentes análises, da porventura inevitável consequência de diferentes ambientes, inserções e convulsões sociais. A Maçonaria de matriz anglo-saxónica, a Maçonaria Regular, implantou-se e cresceu no seio da sociedade e das classes dirigentes da sociedade, enquanto instituição integrada na ordem social existente, com o propósito de aperfeiçoar pessoas e, por essa via, contribuir para a melhoria, a evolução da sociedade em que se integrou. A Maçonaria dita Irregular ou Liberal ou Universal resulta de uma implantação em terreno que rapidamente seria sacudido pelos tumultos de uma Revolução, que tudo pôs em causa, que tudo virou e revirou, baralhou e deu de novo, desfez e refez.

É essencialmente destes dois diferentes ambientes evolutivos que - talvez inevitavelmente - resultam estas duas diferentes cambiantes da Maçonaria. A Maçonaria Regular, inserida na ordem social, procurando contribuir para a sua melhoria, permaneceu fiel à conceção original de que "no princípio era o Verbo". Acrescenta às convicções herdadas do antecedente as noções de Razão, de Ciência, de Tolerância. Evolui da Idade das Trevas para o mundo moderno através do Iluminismo e do Racionalismo, sem perder a sua ligação ancestral ao conceito do Criador. Evolui do teísmo para o deísmo, sem deixar de integrar quem se considere teísta, assimilando a noção de que o Criador existe para além das conceções individuais ou coletivas da sua natureza, identidade, aspeto, forma, caraterísticas, etc.. Com isso, integra qualquer noção individual ou coletiva do Criador como respeitável, aceitável. Institui a Tolerância como paradigma. Mas nunca perde a noção do Criador. O Homem procura aperfeiçoar-se, evoluir, porque essa é a sua natureza, assim resulta da Criação. Separando os planos do divino e do humano, não deixa de especular como o humano se aproxima, surpreende, entrevê, o divino. A Maçonaria dita Irregular, ou Liberal, ou Universal, caldeada nos tumultos sociais, confrontada com intoleráveis vícios sociais, extremas desigualdades, opressões inaceitáveis, assume um cariz muito mais interventivo. Mais do que melhorar o Homem e, por essa via, melhorar a Sociedade, entendeu que se impunha, prioritariamente, melhorar, modificar, a Sociedade, para, por essa via, poder melhorar o Homem. E, assim, evoluindo em sentindo diferente do outro ramo, intervém ativamente na política e na conformação e organização social. Mais do que simples força propiciadora de evolução, assume, sempre que o entende necessário, caráter revolucionário. E, assim, claramente que entra em rota de colisão com as forças sociais de cariz conservador das sociedades cuja modificação rápida pretende. Entre essas forças, historicamente está a Igreja Católica. O conflito é inevitável. Do questionamento da Igreja ao dos seus ministros vai um passo. Da colocação em crise do que estes representam um outro, mais curto. Do questionamento da crença, um outro, mais curto ainda. Por outro lado, a luta por valores tão absolutos, tão válidos, tão corretos, como inquestionavelmente são a Liberdade, a Igualdade, a Fraternidade, faz-se com todos os que partilhem esses valores. Ainda que não partilhem crença... Se a Maçonaria Regular já abolira as diferenças religiosas através da capa da Tolerância perante todas as crenças, por que não estender, alargar, essa capa também a quem não tem opinião formada sobre a existência ou não de Criador? E, mais ainda, a quem entende que não existe Criador, mas partilha os valores da Liberdade, Igualdade, Fraternidade?

Na minha opinião, os diferentes ambientes de implantação da então jovem instituição, após a sua transformação de Operativa em Especulativa, explicam com clareza porque ocorrem estas duas diferentes evoluções. Que só podemos considerar naturais, senão inevitáveis. É da natureza das coisas que o que evolui em ambientes diversos evolua diferentemente. A racionalização especulativa, neste caso, vem depois. Ao analisar as diferenças, as consequências, de cada uma das conceções. Racionalização, especulação, que não pode deixar de reconhecer o que é evidente. Diferente evolução, assunção, ainda que apenas parcialmente, de diferentes conceções estruturantes da Maçonaria, seu propósito, sua inserção, implicam o reconhecimento que não se está já perante uma única realidade, mas de duas, embora muito próximas, muito parecidas, irmãs gémeas criadas em ambientes diferentes, mas por isso não menos irmãs, por isso não melhor nem pior uma do que a outra. Afinal, a Maçonaria, raiz e tronco comum, ao deitar dois ramos, ambos fortes, ambos dando frutos de natureza similar, ambos saudáveis, um de Maçonaria Regular, outro de Maçonaria Liberal (a quem uns chamam também de Irregular, outros de Universal), acaba por permitir acolher e melhorar um mais alargado leque de Homens Bons e contribuir para um positivo aperfeiçoamento social.

Estes dois ramos, tendo raízes e tronco comuns, são hoje claramente distintos. Ambos úteis. Ambos respeitáveis. Cada um partilhando com o outro muito, tanto. Cada um crescendo na direção que entende crescer, por si, sem que necessite de arrastar ou prejudicar o outro. Muito em comum e podendo comummente cooperar. Algo em separado, por cada ramo fruído e cuidado.

Não, meu caro José Luciano. O crescimento destes dois ramos autónomos da mesma árvore não é nenhum estilhaçamento, antes natural evolução. E não resulta da tendência especulativa dos maçons, antes, e simplesmente, do resultado do livre arbítrio humano, em confronto com diferentes ambientes.
Porventura reunir-se-ão estes ramos? Duvido! Questiono mesmo se seria bom, se não seria uma involução. Afinal de contas, existem porque correspondem a necessidade diferentes, possibilitando evolução e aperfeiçoamento a pessoas com diferentes formas de conceber princípios fundamentais. Cada Homem Livre e de Bons Costumes pode integrar-se no local onde se sentir mais confortável. E crescer. E melhorar. E evoluir. Para mim, isso é bom. Não um mal!

O texto já vai longo e ainda me falta responder-lhe sob outra perspetiva: a existência de diferentes Obediências que se reclamam de maçónicas, não em resultado destes diferentes ambientes propiciadores de diferente evolução, mas de outros fatores. Com a sua condescendência, deixarei isso para um próximo texto.

Rui Bandeira

10 fevereiro 2009

Curso para Aprendizes e Companheiros

O Grande Oriente de São Paulo (Brasil) inicia no próximo sábado, dia 14 de fevereiro, pelas 10 horas, um curso para Aprendizes e Companheiros, em quatro módulos.

O primeiro módulo de Aprendiz é dedicado ao tema Origens históricas da Maçonaria no Brasil e no mundo.

O primeiro módulo de Companheiro tratará dos temas Origem e história do grau e Particularidades do rito.

Embora o curso se destine diretamente a Aprendizes e Companheiros, a Grande Secretaria de Cultura e Educação Maçônicas do Grande Oriente de São Paulo, entidade organizadora, anuncia que o seu público alvo inclui, não só os maçons destes graus, mas também os Mestres. Que, acrescento eu, se devem sempre considerar eternos Aprendizes, se efetivamente aprenderam algo que valha a pena.

Serão emitidos e entregues certificados aos Irmãos que tiverem frequentado pelo menos 75 % do Curso, ou seja, pelo menos três dos quatro módulos.

O curso será dado no Palácio Maçónico do Grande Oriente de São Paulo, sito na Rua São Joaquim, n.º 457, Liberdade, São Paulo. (E que bem que soa que o Palácio Maçónico se situa na Liberdade...)

O curso é ministrado gratuitamente, mas é solicitada a doação de um quilo de alimentos não perecíveis - a que, obviamente, será dado o adequado uso solidário. (Excelente princípio!)

Para melhor organização das sessões, os interessados devem inscrever-se para a frequência do curso, seja através do endereço de correio eletrónico biblioteca@gosp.org.br, seja através do telefone da rede de
São Paulo, Brasil, 11-3346-7088, extensão (como se diz em Portugal) ou ramal (como se refere no Brasil) 150.

Rui Bandeira

09 fevereiro 2009

Casa Emanuel

A crise está aí! Vejo e sinto que as pessoas estão cada vez mais inquietas, temerosas. Vejo e sinto crescer a tendência para que cada um se feche nas sua concha, se abrigue até que a tempestade passe, em cada dia assumindo que ela será de maior duração do que lhe parecia no dia anterior. Vejo e sinto as pessoas a retraírem-se, a adiar ou anular despesas ou investimentos, por receio de arriscar um mínimo que seja. Enfim, vejo as pessoas a fazerem crescer a crise...

Se bem me recordo dos meus já longínquos estudos sobre os rudimentos de Economia que aprendi, uma das razões de aprofundamento de uma crise / recessão é precisamente o efeito psicológico que gera nas pessoas, levando-as a encerrarem-se no seu casulo que pensam protetor e a tentar passar pelos intervalos da chuva. E aí instala-se o ciclo vicioso de que é trabalhoso sair: o medo gera retração do consumo e do investimento, esta leva à diminuição da atividade económica e ao excesso de capacidade instalada, diminuição de vendas e de faturação, redução de pessoal, desemprego, nova diminuição de consumo, e por aí fora...

Ainda por cima aqui no hemisfério norte o tempo está de chuva, cinzentão, frio e desagradável - não ajuda nada à boa disposição. Suspeito, cá por mim, que os primeiros a sair da crise havemos de ser os portugueses, mas só quando o Sol voltar a brilhar, o tempo aquecer e a praia apetecer. Aí, sim, o pessoal vai decidir que já basta de estar sempre a pensar nas dificuldades, um cidadão também tem direito ao sol, mar e descanso, esta vida, afinal, são só dois dias e... quando dermos por nós já estamos a achar que afinal isso da crise é para os islandeses... E, por incrível que pareça, isso será bom e será um dos remédios para efetivamente ajudar à saída da crise...

Mas, entretanto, importa que mantenhamos a cabeça fria, os pés bem assentes na terra e não embarquemos em pânicos ou derrotismos. E, sobretudo, que tenhamos sempre bem presente que, por difíceis que as coisas estejam para nós, há sempre quem tenha muito maiores dificuldades, mais fundas, mais graves.

Os tempos de crise não devem por nós ser encarados como época de medos, cautela e caldos de galinha.Devem ser encarados como épocas em que aumenta a necessidade de SOLIDARIEDADE. Da nossa solidariedade. Do nosso menos, bem vistas as coisas, ainda podemos retirar uma migalha que, junto com miríades de outras migalhas, serão algo de indispensável a quem está com muitíssimo menos do que nós, quase nada.

Crise não pode, não deve ser sinónimo de egoísmo, antes de solidariedade.

Por isso, aqui se divulga um apelo à solidariedade formulado pelo secretário-geral da Fundação Sousa Pedro:


No dia 19 de Janeiro teve início a campanha
"Coração na Guiné" que visa a angariação de bens de primeira necessidade para enviar para o orfanato Casa Emanuel, na Guiné-Bissau, a única instituição do país que recebe crianças órfãs, com deficiências e HIV.

Esta terá a duração de três semanas e contará com uma divulgação diária no programa da RTP1 "Portugal no Coração" onde serão apresentadas imagens e depoimentos relacionados com este projecto e onde podem também contribuir ligando para o número 760307307, pois o custo desta chamada (0.60€) reverte a favor do Orfanato Casa Emanuel.

Imaginem que
com apenas 0.60 € conseguimos pagar a alimentação de uma criança por dia!

Todas as semanas surgem novos pedidos para o acolhimento de crianças órfãs e em situação de risco e é com a nossa ajuda que é possível à instituição aceitá-los. (Desde que este projecto arrancou a Casa Emanuel já "adoptou" mais 8 bebés...).

É por isso que mais uma vez apelo para esta causa pois todas as ajudas e donativos que queiram dar terão que ser feitos até ao dia 16 de Fevereiro, altura em que o contentor terá que ser fechado e enviado para a Embaixada de Portugal na Guiné-Bissau.

Agradeço-vos em nome de todas aquelas crianças e peço que reencaminhem os contactos que disponibilizo em baixo:

Links com mais informações sobre o projecto

http://www.casaemanuel.org/pt/missaocasaemanuel_ficheiros/frame.html ( em Português)

http://www.casaemanuel.org ( Geral)

CONTAMOS CONSIGO! Juntos podemos fazer a diferença!

Um telefonema. Sessenta cêntimos. Uma criança alimentada durante um dia.

Simples, não é?


Portanto, meus caros amigos, colaborem na campanha e ajudem a CASA EMANUEL.


De caminho, pensem um pouco e vejam como isto da crise é uma coisa muito relativa, afinal...!


Rui Bandeira