Pergunta de profano
Há dias, publiquei e comentei um texto que me foi enviado por um profano, sobre Aikido e Maçonaria. Esse contacto inicial tem proporcionado a continuação de uma agradável troca de correspondência. Mais do que isso, um precioso diálogo com um profano, a propósito do que neste blogue se escreve. Precioso para mim, porque este blogue destina-se, em primeira linha, precisamente ao esclarecimento de todos sobre a Maçonaria, do que trata, do que nela se faz. Ter - como periodicamente acontece - reações de profanos, seja em comentários aos textos publicados, seja em mensagens privadas, permite-me ir aferindo da forma e da eficácia com que é atingido o propósito de esclarecimento.
Transcrevo então de uma mensagem de José Restolho, onde ele coloca uma questão muito concreta:
Penso que é importante salientar que não quero de forma alguma tornar-me inoportuno. Simplesmente vejo neste blogue um sitio de reflexão e uma fonte de grande conhecimento que ajuda a saciar esta "fome" constante de conhecimento.
Entretanto e com profunda humildade, gostaria de lhe colocar uma questão. Uma das coisas que mais é realçada na maçonaria vista de fora são os seus ritos e símbolos, sobre os quais tanto se especula (não estou a incluir as ridículas teorias da conspiração, tais como a conquista do mundo pelos maçons, terem recebido os conhecimentos dos símbolos dos extra-terrestres ou ainda serem o instrumento do diabo na terra). Visto por mim não me parece que esses símbolos e ritos existam só porque sim, ou porque gostam de fazer teatro ( tal como ja vi referido num documentário do Discovery Channel). Então a minha pergunta é a seguinte:
Serão esses símbolos e ritos "guidelines" para a viagem que cada um tem de percorrer? Será errado dizer que os significados dos mesmos ultrapassam a comparação linear e lógica deles (por exemplo, esquadro = rectidão) e que o verdadeiro significado depende de cada um, sendo resultado de uma profunda introspecção?
É importante salientar que tenho consciência do facto de ser um profano e, como tal, compreendo se não me poder responder na plenitude a esta questão.
Antes de tudo, esteja José Restolho descansado que a resposta em nada fica limitada pelo facto de quem inquire ser profano, isto é, não maçon. Como acima referi, este blogue destina-se, em primeira linha, a propiciar o esclarecimento dos não maçons em relação à Maçonaria. Por outro lado, a matéria questionada em nada interseta matéria que possa estar coberto pelo chamado segredo maçónico - e que eu já tive oportunidade de mencionar que é muito mais restrito, simples e justificado do que normalmente se pensa: ver aqui.
A questão colocada permite resposta simples e direta: quanto à primeira pergunta, SIM; quanto à segunda, NÃO.
SIM, os ritos e símbolos são "guidelines" para a viagem que cada um tem de percorrer. Marcos. Estações. Indicadores. O estudo dos símbolos permite a cada maçon aprofundar o seu conhecimento das matérias relativas à espiritualidade e à moral. O domínio dessa técnica permite que vá cada vez mais longe, cada vez mais fundo, designadamente dentro de si - que é o mais longínquo lugar onde cada um pode ir, acreditem! E, a algum momento dessa viagem, porventura o maçon terá a satisfação de ter conseguido obter algumas das respostas por que ansiava.
Quanto à referência a ritos, existe uma imprecisão terminológica na pergunta (rito, ritual) que fica esclarecida, creio, com a leitura deste texto. Mas assentemos, por agora, que a execução do ritual é mais uma forma de colocar símbolos perante os maçons.
NÃO. Não é errado dizer que os significados dos símbolos ultrapassam a comparação linear e lógica deles e que o verdadeiro significado depende de cada um, sendo resultado de uma profunda introspeção. Também por esta via tem sentido e significado a designação de Maçonaria Especulativa. Especulativa também porque o trabalho primordial do maçon é especular, hipotizar, analisar, tentar, errar e recomeçar, aprender, cair, levantar-se e prosseguir. Por outro lado, cada um é diferente dos demais. Tem diferente combinação de genes. Diferente história de vida. Diversas influências. Os símbolos, enquanto elementos destinados a análise, a descoberta, são, por natureza, dotados de plasticidade que permite que cada um, do mesmo ponto de partida, chegue a destinos completamente diferentes.
Rui Bandeira
Transcrevo então de uma mensagem de José Restolho, onde ele coloca uma questão muito concreta:
Penso que é importante salientar que não quero de forma alguma tornar-me inoportuno. Simplesmente vejo neste blogue um sitio de reflexão e uma fonte de grande conhecimento que ajuda a saciar esta "fome" constante de conhecimento.
Entretanto e com profunda humildade, gostaria de lhe colocar uma questão. Uma das coisas que mais é realçada na maçonaria vista de fora são os seus ritos e símbolos, sobre os quais tanto se especula (não estou a incluir as ridículas teorias da conspiração, tais como a conquista do mundo pelos maçons, terem recebido os conhecimentos dos símbolos dos extra-terrestres ou ainda serem o instrumento do diabo na terra). Visto por mim não me parece que esses símbolos e ritos existam só porque sim, ou porque gostam de fazer teatro ( tal como ja vi referido num documentário do Discovery Channel). Então a minha pergunta é a seguinte:
Serão esses símbolos e ritos "guidelines" para a viagem que cada um tem de percorrer? Será errado dizer que os significados dos mesmos ultrapassam a comparação linear e lógica deles (por exemplo, esquadro = rectidão) e que o verdadeiro significado depende de cada um, sendo resultado de uma profunda introspecção?
É importante salientar que tenho consciência do facto de ser um profano e, como tal, compreendo se não me poder responder na plenitude a esta questão.
Antes de tudo, esteja José Restolho descansado que a resposta em nada fica limitada pelo facto de quem inquire ser profano, isto é, não maçon. Como acima referi, este blogue destina-se, em primeira linha, a propiciar o esclarecimento dos não maçons em relação à Maçonaria. Por outro lado, a matéria questionada em nada interseta matéria que possa estar coberto pelo chamado segredo maçónico - e que eu já tive oportunidade de mencionar que é muito mais restrito, simples e justificado do que normalmente se pensa: ver aqui.
A questão colocada permite resposta simples e direta: quanto à primeira pergunta, SIM; quanto à segunda, NÃO.
SIM, os ritos e símbolos são "guidelines" para a viagem que cada um tem de percorrer. Marcos. Estações. Indicadores. O estudo dos símbolos permite a cada maçon aprofundar o seu conhecimento das matérias relativas à espiritualidade e à moral. O domínio dessa técnica permite que vá cada vez mais longe, cada vez mais fundo, designadamente dentro de si - que é o mais longínquo lugar onde cada um pode ir, acreditem! E, a algum momento dessa viagem, porventura o maçon terá a satisfação de ter conseguido obter algumas das respostas por que ansiava.
Quanto à referência a ritos, existe uma imprecisão terminológica na pergunta (rito, ritual) que fica esclarecida, creio, com a leitura deste texto. Mas assentemos, por agora, que a execução do ritual é mais uma forma de colocar símbolos perante os maçons.
NÃO. Não é errado dizer que os significados dos símbolos ultrapassam a comparação linear e lógica deles e que o verdadeiro significado depende de cada um, sendo resultado de uma profunda introspeção. Também por esta via tem sentido e significado a designação de Maçonaria Especulativa. Especulativa também porque o trabalho primordial do maçon é especular, hipotizar, analisar, tentar, errar e recomeçar, aprender, cair, levantar-se e prosseguir. Por outro lado, cada um é diferente dos demais. Tem diferente combinação de genes. Diferente história de vida. Diversas influências. Os símbolos, enquanto elementos destinados a análise, a descoberta, são, por natureza, dotados de plasticidade que permite que cada um, do mesmo ponto de partida, chegue a destinos completamente diferentes.
Rui Bandeira