02 julho 2008

... e do resultado.

Respeitando o tempo, o modo e o lugar necessários para que o objectivo pretendido seja atingido, o maçon logrará atingir o resultado que busca. Que resultado é esse? Que busca o maçon? A que se destina a Maçonaria? Ao mais egoísta e, simultaneamente, altruísta, dos objectivos: o aperfeiçoamento pessoal!

A Maçonaria não respeita a melhorar o Mundo ou o outro. Respeita a melhorar a si mesmo. Cada um, para o fazer, precisa de tempo, precisa de achar o modo a si adequado para tal, precisa de trabalhar no lugar que lhe possibilite atingir seu objectivo.

Ser melhor enquanto pessoa, ser melhor em termos éticos. Mas não só. A interacção com seus Irmãos permite que o maçon seja melhor em aspectos muito práticos, na medida em que burila as suas deficiências.

O maçon deve estudar as artes e ciências - e assim melhora a sua cultura geral e a sua capacidade de agir social e profissionalmente. O maçon aprende, por exemplo, a falar em público - terror de muita gente! - e isso vai constituir porventura importante vantagem no seu desempenho profissional.

O maçon aprende a dar valor à perfeição, a esforçar-se por dela se aproximar tanto quanto possível. E habitua-se a assim agir no seu dia a dia. Consequentemente, faz melhor, é mais cuidadoso, mais pormenorizado, mais atento. Naturalmente que melhorará o seu desempenho.

O maçon aprende a ouvir e a respeitar quem fala. A argumentar segundo a valia dos argumentos e não segundo a pessoa com quem porventura se defronte. Melhora o seu sentido de lógica. E, portanto, está mais bem armado para obter vencimento sempre que necessita de argumentar.

O maçon habitua-se a trabalhar quando é para trabalhar e a confraternizar, quando é hora de confraternizar. Sabe, assim, frutuosamente integrar-se no seu meio social.

O maçon desperta para a Emoção e integra-a com a Razão. É, assim, um homem mais completo.

O maçon habitua-se a interpretar e a lidar com o sentido da Vida e da Morte, da Criação e do Criador, do Universo e do Detalhe. Elabora assim a sua concepção do Universo, da Vida e do seu sentido e do seu próprio lugar na Vida e no Mundo. E, com isso, fica em Paz!

O maçon, com tempo, trabalho a seu modo e no lugar adequado, logra atingir algo que é muito básico e de importância conhecida desde a Antiguidade. No entanto, pelos vistos tão difícil de atingir. Logra atingir um enorme tesouro. CONHECER-SE A SI MESMO. E, ao consegui-lo, tem - então e só então! - as portas do infinito conhecimento abertas de par em par diante de si. Se, como e em que direcção as franqueia, é consigo e só consigo.

O maçon julga sê-lo quando foi iniciado. Depois de muito tempo e trabalho a seu modo, executado no lugar correcto, conclui que só muito depois começa a sê-lo. E que só continua a sê-lo se persistir no trabalho, até à hora em que que for hora de pousar suas ferramentas.

O prémio do maçon é não ter prémio. E entender que dele não precisa. Porque está - estava! - dentro de si desde o início. Ele é que não sabia!

O resultado é - finalmente! - tão só ser verdadeiramente maçon.

Tão simples como isto! E não deve ser mau, já que tantos em tantos lugares persistem fazendo o mesmo por tanto tempo...

Rui Bandeira

01 julho 2008

... do lugar ...

Já falei do tempo e do modo como se faz um maçon. É agora altura de falar do lugar.

Parecerá óbvio dizer que, para um maçon se fazer e crescer, o lugar próprio e indispensável é a Loja. Só comparecendo em Loja, só participando nas reuniões desta, o maçon reúne o acervo de informações de que necessita. Note-se que - já muitas vezes aqui o referi - o processo de construção do maçon, do seu templo interior, não é passível de ser ensinado. Tem que ser apreendido pelo próprio e assim por ele aprendido. Através do contacto com seus Irmãos; mediante a execução e progressiva familiarização com o ritual e consequente aquisição, compreensão e interiorização das lições e princípios morais que o mesmo encerra; pela observação dos variados símbolos em que o espaço da Loja é fértil e progressiva compreensão do significado de cada um, individualmente adquirida; com a interiorização de tudo o que o impressiona e consequente transformação pela integração no seu eu do resultado dela; porque o processo de formação de um maçon, mais do que uma aprendizagem clássica, é o resultado de um acumular perceptivo, tão direccionado à Emoção como à Razão.

Mas será porventura menos óbvia a afirmação que inicia o parágrafo anterior, se se atentar que logo a frase seguinte aplica dois sentidos diferentes de Loja: Loja enquanto espaço físico de reunião de maçons, como sinónimo de Templo ou, talvez melhor, do local onde fisicamente as reuniões maçónicas se efectuam; Loja enquanto conjunto de maçons agrupados na unidade básica e essencial da Maçonaria. Direccionada a nossa atenção para esta dicotomia, será possível atentar, então, na menos evidente noção de que o lugar de formação de um maçon é tanto o lugar de reunião dos maçons como o acto de estar entre e com os seus Irmãos. Não apenas por com eles estar; não só por com eles conviver; mas por ser no meio deles e com eles que obtém e afina as ferramentas que moldarão e aperfeiçoarão o seu carácter, permitindo que venha a efectivamente construir-se maçon.

Por outro lado, deve-se ter ainda presente que a Loja espaço físico simboliza todo o Universo (um dia destes desenvolverei este conceito) e a Loja grupo de maçons simboliza a Sociedade que se pretende ideal. Então trabalhar no espaço físico da Loja deve ser tido como símbolo de trabalhar no espaço de todo o Universo. Ou seja, o maçon constrói-se no espaço físico da Loja mas, na medida em que esse espaço físico da Loja simboliza todo o Universo, o maçon em construção deve apreender que essa auto-construção, esse seu aperfeiçoamento, deve ocorrer em todo e qualquer local onde se encontre. E, na medida em que a Loja grupo de maçons simboliza a ideal Sociedade em construção, o maçon constrói-se no contacto e mergulhado no grupo de seus Irmãos mas deve também apreender que essa auto-construção, esse seu aperfeiçoamento, é um esforço e um acto e um desígnio que constantemente deve efectuar, realizar, prosseguir, esteja junto de quem esteja, maçon ou profano.

Concluindo: o trabalho de construção de um maçon começa e decorre necessariamente em Loja e com a Loja. Mas prossegue e afirma-se, também necessariamente, no local e junto de quem a Loja, em ambas as suas noções, simboliza, isto é, em todo e qualquer lugar onde se encontre o maçon, junto de toda e qualquer pessoa com quem o maçon interaja.

Do lugar restrito e a coberto dos profanos para todos os lugares; de entre seus Irmãos, assegurando-se que o são pelos modos de reconhecimento que são próprios dos maçons, para junto de toda e qualquer pessoa, maçon ou profano, justo ou pecador. Porque o lugar onde se faz um maçon é um ponto de partida e logo um percurso. Com um único lugar de chegada, definido por uma hora, a da sua meia-noite. Nesse lugar, do recôndito ao imenso, nesse percurso, o maçon deve prosseguir sempre e incansavelmente seu trabalho de se fazer maçon - sem direito a horas extraordinárias nem a subsídio de deslocação...

Rui Bandeira

30 junho 2008

Solsticio de Verão - Aniversário



Decorreu no passado Sábado a sessão de Grande Loja correspondente ao Solsticio de Verão e consequentemente o aniversário da constituição da Grande Loja.

E vão 17 anos desde a consagração pela Grande Loge Nationale Française, e vão dias bons e dias maus e outros assim assim.

O de sábado foi dia bom. Sala absolutamente cheia estando cerca de 250 Irmãos presentes.

A GLLP/GLRP foi honrada com a presença de várias potências estrangeiras a saber:

Moldova, Marrocos, Roménia, Itália, França, Espanha, Brasil e a mais importante de todas a Inglaterra. A Grande Loja Unida de Inglaterra fez-se representar pelo seu Pró Grão Mestre o Marquês de Northampton, 2ª figura da hierarquia da UGLE.

A sessão decorreu ligeira e rapidamente, sendo respeitados todos os procedimentos e protocolos.

Mas a melhor noticia foi que o Grão Mestre da GLLP/GLRP o Muito Respeitável Irmão Mário Martin Guia se apresentou de saúde e com toda a sua força e jovialidade, já recuperado das maleitas que lhe atormentaram a saúde nos primeiros meses deste ano.

O Jantar decorreu em ambiente agradável (segundo me disseram que eu não pude estar presente pois obrigações familiares mais importantes assim o determinaram) e de grande fraternidade.

Evidentemente que, e como sempre, a prestimosa colaboração da Milu e da Sandra foi de importância vital para que a logística do evento decorresse sem sobressaltos.

Mais um marco na história da GLLP/GLRP.



José Ruah

Comentario dos Editores - Mapa de Origem de visitantes

Foi retirado por se ter verificado que o site de origem foi infectado por adware e spyware.

No futuro se o site ficar operacional decidiremos se voltamos a instalar ou nao esta funcionalidade.

As nossas desculpas.


A Partir Pedra

27 junho 2008

O anúncio


O poeta brasileiro Olavo Bilac, que viveu entre 1865 e 1918, foi membro fundador da Academia Brasileira de letras. Tal como Pessoa escreveu que a minha Pátria é a língua portuguesa, Olavo Bilac, que foi proclamado no seu tempo o Príncipe dos Poetas Brasileiros, afirmou: A Pátria não é a raça, não é o meio, não é o conjunto dos aparelhos econômicos e políticos: é o idioma criado ou herdado pelo povo.

Autor anónimo atribuiu Olavo Bilac participação na situação que constitui a historieta que hoje serve de pretexto para alguma meditação:

O dono de um pequeno comércio, amigo do grande poeta Olavo Bilac, abordou-o na rua:


- Sr. Bilac, vou vender a minha quinta, que o senhor tão bem conhece. Será que o senhor poderia redigir o anúncio para o jornal?

Olavo Bilac pegou num papel e escreveu:

" Vende-se encantadora propriedade, onde cantam os pássaros ao amanhecer no extenso arvoredo, cortada por cristalinas e marejantes águas de um ribeirão. A casa banhada pelo sol nascente, oferece a sombra tranquila das tardes, na varanda".

Meses depois, topa o poeta com o homem e pergunta-lhe se já tinha vendido a quinta.

- Nem penso mais nisso -disse o homem- quando li o anúncio é que percebi a maravilha que tinha!


Às vezes, não descobrimos as coisas boas que temos connosco e vamos atrás de miragens e falsos tesouros. Valorizemos o que temos, as pessoas que estão ao nosso lado, os nossos amigos, o nosso emprego ou o nosso modo de ganhar a vida
, os conhecimentos que adquirimos, a saúde de que dispomos enquanto dela dispomos, o sorriso dos nossos filhos ou simplesmente das crianças com que privamos. Querer sempre mais ou sempre diferente é meio caminho andado - senão mesmo o caminho completo... - para andarmos perpetuamente insatisfeitos. Não quer isto dizer que se não deva ter objectivos, que devamos renunciar a prossegui-los e a lutar por eles. Ter objectivos, anseios, faz parte da vida e é positivo. Mas a valorização do que se tem, do que se conseguiu é algo que não devemos negligenciar. Além do mais, porque é também uma forma de darmos o devido valor ao trabalho que fizemos e ao esforço que desenvolvemos, ao longo de todo o nosso passado, para termos aquilo que temos, os amigos com que privamos, as boas coisas da vida que atingimos.

Façam o favor de ser felizes!

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Segunda-feira estarei de novo ausente, na defesa do meu brigantino inocente, pelo que não publicarei.

Rui Bandeira

26 junho 2008

Inovações


De tempos a tempos, apetece-nos fazer umas modificações no aspecto do blogue, aproveitando as possibilidades técnicas que o serviço de alojamento nos vai proporcionando e as que vamos encontrando em vários serviços que disponibilizam alguns elementos que consideramos de interesse.

Há dias, o José Ruah proporcionou um alargamento do sistema de identificação para quem quiser efectuar comentários.

Hoje, e após uma breve conferência que tivemos oportunidade de ontem ter sobre o assunto, aqui deixamos mais duas novas melhorias, através das quais os nossos leitores têm a possibilidade de melhor avaliar a difusão quantitativa e geográfica deste blogue.

Quase desde o início que temos visível o contador de visitas. Em cerca de dois anos, já ultrapassou as 83.000 visitas, o que nos enche de satisfação. Para um blogue temático, e dedicado ao tema da Maçonaria, é um êxito! O José Ruah deu-se ao trabalho de fazer a comparação e informou-me que alguns dos mais populares blogues maçónicos dos Estados Unidos, com uma antiguidade não inferior à nossa, têm um número total de visitas menor do que o A Partir Pedra! E notem que lá nos States vivem cerca de trezentos milhões de pessoas. É claro que nós, sendo só cerca de dez milhões em Portugal, contamos com os quase cento e noventa milhões de brasileiros! Com os demais falantes de português espalhados pelo Mundo equilibramos as contas! Mais ou menos... Bom, há que reconhecer que há mais falantes de inglês do que de português. Mas nós somos melhores, pronto!

O que os nossos leitores não tinham a noção é de que o número dos nossos leitores registado pelo contador de visitas peca por defeito, desde há cerca de um ano. É que desde então adicionámos ao blogue uma outras funcionalidade que altera os números: a possibilidade de quem estiver nisso interessado subscrever gratuitamente um serviço através do qual recebe por correio electrónico, entre as 21 e as 23 horas de cada dia (hora oficial de Portugal), o texto ou textos que nas últimas vinte e quatro horas tenham sido publicados no blogue. O aspecto gráfico é atractivo - inclui as imagens publicadas - e quem recebe a mensagem de correio electrónico não precisa de aceder ao blogue para ter acesso aos textos publicados. Actualmente, este serviço está subscrito por 57 pessoas. Certamente que a esmagadora maioria delas não acede, porque não precisa, ao blogue: lê directamente os textos publicados nas mensagens que vai recebendo. Isto faz com que a real difusão do blogue seja muito superior ao que o contador de visitas regista. Façam-se as contas: normalmente publicam-se textos aqui no blogue cinco dias por semana (às vezes seis). Admitindo que 50 dos que recebem esses textos por correio electrónico leiam esses textos por essa via e nunca acedam ao blogue, em cada semana, temos uma difusão de mais 300 leituras, não registadas pelo contador do blogue. Isto por si só significa mais de 15.000 leituras anuais. Se atentarmos que, no último ano, o blogue teve cerca de 50.000 visitas registadas, estas 15.000 leituras em acréscimo são importantes!

Por aqui nós prezamos a transparência! Decidimos, assim, passar a disponibilizar, na coluna da direita do blogue (só visualizada por quem acede ao blogue; quem lê os textos por correio electrónico não tem acesso aos elementos desta zona; não se pode ter tudo...) um novo elemento gráfico pelo qual, abaixo do título Assinantes via correio electrónico, publicamos o número daqueles que, em cada momento, subscrevem o serviço. No momento em que escrevo este texto são 57. Espero que vá paulatinamente aumentando este número - até porque é realmente cómodo este serviço gratuito!

Por outro lado, o José Ruah teve a ideia - e eu aplaudi; e ele logo a executou - de adicionar, também na coluna da direita do blogue, um mapa indicando a localização dos visitantes do blogue. É uma curiosidade interessante, mas é muito mais do que isso. Possibilita ao leitor o acesso a informação a que, até agora, só os editores do blogue, através do contador de visitas, dispunham. Façam o favor de clicar no mapa e verão que ele é aumentado e pode movimentar-se a sua visão, utilizando uma ferramenta no canto superior esquerdo (ao estilo do Google Maps; aliás, é essa a tecnologia que é utilizada neste serviço). Pode assim ver-se, especificamente na região do globo que nos interessa, a localização dos visitantes do blogue no último dia. Mas ainda mais: na janela na parte inferior, é indicada, para a região do globo visualizada, quais os textos do A Partir Pedra que os visitantes dessa região consultaram nesse dia e a percentagem de acessos de cada texto indicado em relação ao total. Pode-se assim comparar, por exemplo, os interesses dos leitores de Portugal com os do Brasil.. Mas, mais ainda: a indicação de cada texto na referida janela é um atalho para o mesmo. Assim, se um leitor verifica que em determinada zona do globo foi lido um determinado texto cujo título lhe suscita o interesse, basta clicar no atalho para aceder de imediato ao texto em causa!

Clicando na bandeira que indica a localização de cada visitante, surge a informação da localidade oriunda do acesso e do último texto acedido por esse visitante. De novo, esta última indicação surge sob a forma de atalho para esse texto. Quando aparece apenas a indicação A Partir Pedra, tal significa que esse visitante específico acedeu à página mais recente do blogue, que contém os textos dos últimos sete dias.

Clicando, na parte superior direita, no atalho Popular Links, abre-se uma página que apresenta, por ordem decrescente, os atalhos dos textos mais lidos no último dia. Dentro desta página, pode-se ainda seleccionar diversas variantes: todos os atalhos, os atalhos dos textos acedidos do exterior do blogue (isto é, directamente de um apontador de texto), atalhos dos textos acedidos a partir do blogue (isto é, utilizando os atalhos da coluna da direita o blogue), etc.. Utilizando-se o atalho Popular Pages, acede-se à indicação, por ordem decrescente das páginas, textos e marcadores acedidos no último dia, com indicação do local de onde proveio o último acesso.

Enfim, procuramos melhorar o blogue. Esperamos que estas inovações vos agradem!

Rui Bandeira

25 junho 2008

... do modo, ...

Se o tempo é indispensável, o modo é variável. Cada um é como é. Cada um chega com vivências próprias e diferentes dos demais. Cada um tem a sua forma particular de reagir e de evoluir.

Este é um calmo observador, que pacatamente absorve o que se passa ao seu redor, processa-o no interior de si e, sem se dar por ele, sem que se lhe veja grande actividade - às vezes parecendo mesmo desinteressado -, um belo dia desabrocha e surpreende a todos. Aquele é hiper-activo, quer participar, fazer, misturar-se, aprender ontem, para experimentar hoje e aplicar amanhã, um furacão de ânsia e acção, que desperta nos mais antigos preocupações de desastre iminente. Mas procura, investiga, experimenta, fura, bate algumas vezes com a cabeça na parede, cai e levanta-se, erra e corrige e, no fim, compõe o aspecto e, com um sorriso cândido, mostra que está pronto. O outro parece falho de iniciativa, parece nada fazer por si mesmo, necessita de ser constantemente guiado, estimulado, que se lhe aponte o caminho e que, quando nele surge uma bifurcação, que se lhe indique qual a vereda mais aconselhável. Mas, a pouco e pouco, vai ganhando confiança e, a dado passo, mostra que já sabe andar sozinho. Outro ainda olha, extasia-se, procura, volta atrás, mira, remira, sai do caminho para ver o que está além, regressa para espreitar um pouco mais adiante, e pára de novo e vê, revê, admira e espanta-se, qual visitante em exposição barroca. Parece perdido e diletante. Um dia, quando todos já desesperam com suas idas e vindas, suas digressões, paragens, experiências e admirações, pára e anuncia que já viu como é o mapa e a sua orientação, afirma que o caminho é por ali e segue-o resoluto. Há aquele que quer fazer seu percurso sozinho e com o mínimo de perturbação e o que só avançará acompanhado. O que estuda e medita e o que brinca enquanto experimenta. Um aprecia particularmente o convívio, outro a introspecção. Um é pacato, outro é espalha-brasas. Este faz, aquele observa, aqueloutro constrói, adiante um outro abre o boneco para ver como é por dentro, um precisa de ver, o outro acredita se lhe disserem.

Em resumo, cada novo elemento que está a aprender a ser maçon é único e diferenciado dos demais. Tem, portanto, de ser entendido e aceite pelos que já estão na Loja como a individualidade única que é. Não há "planos quinquenais" para fazer maçons. Cada um é ele. Cada um tem direito - e incumbe à Loja e aos mais velhos assegurá-lo e respeitá-lo - ao seu "plano individual" de evolução. Não é fácil para quem está. Mas também sabemos que quem entra também está enfrentando dificuldades... Às vezes, um novo elemento lembra-nos um outro que, anos atrás, falhou a sua integração. E, preocupados, há quem duvide, quem alerte, quem queira intervir para evitar que seja seguido o mesmo caminho que levou a mau resultado. E há quem, embora alerta, embora atento, o deixe seguir o caminho que escolheu, limitando-se a avisar para o abismo que ao lado está, esperando que o avisado o evite e passe onde, antes dele, outros caíram.

A Maçonaria é um santuário de respeito pela individualidade e pelo indivíduo. Actua como e é uma Fraternidade, que trata os seus membros em plena Igualdade, mas reconhece-lhes inteira Liberdade. Nós não só aceitamos como prezamos a diferença. Porque é enriquecedora. Porque, quanto maior diversidade tiver o grupo, a Loja, mais forte e eficaz e adaptável ele é. Aquele cujas características durante algum tempo parecem pouco valiosas é o que, perante determinado escolho, conduz o grupo à sua ultrapassagem. Ninguém é indispensável nem insubstituível. Os cemitérios estão cheios de insubstituíveis - esta é uma das minhas frases preferidas. Mas também nenhum de nós pode ser dispensado, esquecido, deixado para para trás. É um dos nossos e ponto final! Se for preciso, carregamo-lo agora. Dia virá e que será ele que nos carregará a nós. É disto que se faz o cimento que une um grupo.

Portanto, o modo como cada um se faz maçon, como cada um evolui, como cada um cresce, é com cada um. Cabe ao grupo reconhecê-lo, respeitá-lo e ajudá-lo, sem o querer "formatar". Porque um maçon ou é informatável ou não é, de todo, maçon! E, se vai errar, a solução não é impedi-lo de errar. É, seguramente, avisá-lo que caminha para o erro. Mas, se persistir, temos o dever de o deixar fazer o seu caminho, mesmo que o pensemos errado, mesmo julgando que a sua velocidade é demasiada. Porque o que é errado para nós pode ser certo para ele. Porque o aviso feito pode ser útil para que, no momento asado, ele evite o desastre que tememos. Ou, simplesmente, porque todos temos direito a errar! Ponto é que saibamos assumir que errámos, sofrer as consequências do nosso erro e tirar as devidas conclusões! Afinal de contas, muitas vezes aprendemos mais com um erro do que com mil lições... E, se o erro ocorrer, se o Irmão cair, o que temos de fazer é ajudá-lo a levantar-se. Cabe-lhe a ele lamber as feridas e ser capaz de prosseguir, desejavelmente com mais ponderação.

Concluindo: aquele que se junta a nós deve estar preparado e aceitar que necessita de respeitar e aproveitar o tempo, indispensável para a construção do seu Templo. E o grupo que o recebe deve ser inflexível na exigência do decurso do tempo necessário. Mas aquele que se junta a nós tem, como individualidade própria que é, o seu modo particular de aprender, de reagir, de crescer, de evoluir. Tem o direito ao seu modo. E cabe ao grupo descobrir que modo é esse, respeitá-lo e auxiliar na sua execução.

Ser maçon demora tempo, mas faz-se de muitos modos. Tantos quantos os maçons.

Rui Bandeira