25 junho 2008

... do modo, ...

Se o tempo é indispensável, o modo é variável. Cada um é como é. Cada um chega com vivências próprias e diferentes dos demais. Cada um tem a sua forma particular de reagir e de evoluir.

Este é um calmo observador, que pacatamente absorve o que se passa ao seu redor, processa-o no interior de si e, sem se dar por ele, sem que se lhe veja grande actividade - às vezes parecendo mesmo desinteressado -, um belo dia desabrocha e surpreende a todos. Aquele é hiper-activo, quer participar, fazer, misturar-se, aprender ontem, para experimentar hoje e aplicar amanhã, um furacão de ânsia e acção, que desperta nos mais antigos preocupações de desastre iminente. Mas procura, investiga, experimenta, fura, bate algumas vezes com a cabeça na parede, cai e levanta-se, erra e corrige e, no fim, compõe o aspecto e, com um sorriso cândido, mostra que está pronto. O outro parece falho de iniciativa, parece nada fazer por si mesmo, necessita de ser constantemente guiado, estimulado, que se lhe aponte o caminho e que, quando nele surge uma bifurcação, que se lhe indique qual a vereda mais aconselhável. Mas, a pouco e pouco, vai ganhando confiança e, a dado passo, mostra que já sabe andar sozinho. Outro ainda olha, extasia-se, procura, volta atrás, mira, remira, sai do caminho para ver o que está além, regressa para espreitar um pouco mais adiante, e pára de novo e vê, revê, admira e espanta-se, qual visitante em exposição barroca. Parece perdido e diletante. Um dia, quando todos já desesperam com suas idas e vindas, suas digressões, paragens, experiências e admirações, pára e anuncia que já viu como é o mapa e a sua orientação, afirma que o caminho é por ali e segue-o resoluto. Há aquele que quer fazer seu percurso sozinho e com o mínimo de perturbação e o que só avançará acompanhado. O que estuda e medita e o que brinca enquanto experimenta. Um aprecia particularmente o convívio, outro a introspecção. Um é pacato, outro é espalha-brasas. Este faz, aquele observa, aqueloutro constrói, adiante um outro abre o boneco para ver como é por dentro, um precisa de ver, o outro acredita se lhe disserem.

Em resumo, cada novo elemento que está a aprender a ser maçon é único e diferenciado dos demais. Tem, portanto, de ser entendido e aceite pelos que já estão na Loja como a individualidade única que é. Não há "planos quinquenais" para fazer maçons. Cada um é ele. Cada um tem direito - e incumbe à Loja e aos mais velhos assegurá-lo e respeitá-lo - ao seu "plano individual" de evolução. Não é fácil para quem está. Mas também sabemos que quem entra também está enfrentando dificuldades... Às vezes, um novo elemento lembra-nos um outro que, anos atrás, falhou a sua integração. E, preocupados, há quem duvide, quem alerte, quem queira intervir para evitar que seja seguido o mesmo caminho que levou a mau resultado. E há quem, embora alerta, embora atento, o deixe seguir o caminho que escolheu, limitando-se a avisar para o abismo que ao lado está, esperando que o avisado o evite e passe onde, antes dele, outros caíram.

A Maçonaria é um santuário de respeito pela individualidade e pelo indivíduo. Actua como e é uma Fraternidade, que trata os seus membros em plena Igualdade, mas reconhece-lhes inteira Liberdade. Nós não só aceitamos como prezamos a diferença. Porque é enriquecedora. Porque, quanto maior diversidade tiver o grupo, a Loja, mais forte e eficaz e adaptável ele é. Aquele cujas características durante algum tempo parecem pouco valiosas é o que, perante determinado escolho, conduz o grupo à sua ultrapassagem. Ninguém é indispensável nem insubstituível. Os cemitérios estão cheios de insubstituíveis - esta é uma das minhas frases preferidas. Mas também nenhum de nós pode ser dispensado, esquecido, deixado para para trás. É um dos nossos e ponto final! Se for preciso, carregamo-lo agora. Dia virá e que será ele que nos carregará a nós. É disto que se faz o cimento que une um grupo.

Portanto, o modo como cada um se faz maçon, como cada um evolui, como cada um cresce, é com cada um. Cabe ao grupo reconhecê-lo, respeitá-lo e ajudá-lo, sem o querer "formatar". Porque um maçon ou é informatável ou não é, de todo, maçon! E, se vai errar, a solução não é impedi-lo de errar. É, seguramente, avisá-lo que caminha para o erro. Mas, se persistir, temos o dever de o deixar fazer o seu caminho, mesmo que o pensemos errado, mesmo julgando que a sua velocidade é demasiada. Porque o que é errado para nós pode ser certo para ele. Porque o aviso feito pode ser útil para que, no momento asado, ele evite o desastre que tememos. Ou, simplesmente, porque todos temos direito a errar! Ponto é que saibamos assumir que errámos, sofrer as consequências do nosso erro e tirar as devidas conclusões! Afinal de contas, muitas vezes aprendemos mais com um erro do que com mil lições... E, se o erro ocorrer, se o Irmão cair, o que temos de fazer é ajudá-lo a levantar-se. Cabe-lhe a ele lamber as feridas e ser capaz de prosseguir, desejavelmente com mais ponderação.

Concluindo: aquele que se junta a nós deve estar preparado e aceitar que necessita de respeitar e aproveitar o tempo, indispensável para a construção do seu Templo. E o grupo que o recebe deve ser inflexível na exigência do decurso do tempo necessário. Mas aquele que se junta a nós tem, como individualidade própria que é, o seu modo particular de aprender, de reagir, de crescer, de evoluir. Tem o direito ao seu modo. E cabe ao grupo descobrir que modo é esse, respeitá-lo e auxiliar na sua execução.

Ser maçon demora tempo, mas faz-se de muitos modos. Tantos quantos os maçons.

Rui Bandeira

24 junho 2008

A ORIGEM DOS CONFLITOS ENTRE A IGREJA CATÓLICA E A MAÇONARIA

A Maçonaria, pode-se dizer, nasceu na Igreja Católica. Como construtores que eram, os maçons passavam longo tempo a construir catedrais e mosteiros.
Estes pedreiros, homens simples, ignorantes e rudes, recebiam, principalmente dos dominicanos, com quem viviam em estreito relacionamento, instrução e evangelização.
Além de ler e escrever, aprendiam a dar graças, a caridade e os princípios morais do cristianismo. Podemos crer que, nalguns ritos, a prece na abertura dos trabalhos e o tronco da viuva, seja resultado desta convivência.

Vejamos, então, como começaram os conflictos.

A Maçonaria como instituição associativa deu os seus primeiros passos em 1356, quando um grupo de pedreiros se dirigiu ao prefeito de Londres, e solicitou o registro da Associação de Pedreiros Livres.
Oficialmente registada e devidamente autorizada, os seus membros passaram a ter certos direitos e vantagens, tais como: Trânsito Livre, naquela época não se tinha a liberdade de viajar; Liberdade de reunião, naquele tempo era proibido, devido ao receio de conspirações e tramas contra os poderes constituídos; e a Isenção de impostos que obviamente agrada a qualquer um.

Pouco tempo depois, em 1455, Jonhann Gutemberg inventa a impressora com simbolos móveis, e é publicada a primeira Bíblia em latim. Assim, o evangelho passa a chegar mais facilmente a todas as camadas da população.
Quem lê, pensa mais e sabe mais. A história começava a mudar.

Em 1509 subiu ao trono da Inglaterra o rei Henrique VIII que, logo de seguida, se casa com Catarina de Aragão. Porém, mais tarde, apaixonado por Ana Bolena, contraria-se ao não obter do Papa o divórcio para casar com a sua amante. Após insistentes tentativas, revolta-se e simplesmente não reconhece a autoridade do Papa, fundando uma nova religião, a Anglicana.
Constitui-se como único protector e chefe supremo da Igreja e do clero de Inglaterra, acaba com o celibato dos padres e confisca os bens da Igreja.
Henrique VIII é excomungado, mas não se preocupa minimamente.
Com a morte de Henrique VIII em 1547, o trono foi ocupado por vários reis e rainhas até á chegada, em 1558, de Elizabete I que, como Rainha da Inglaterra, solidifica a Igreja Anglicana, como está, até aos dias de hoje. Durante o seu governo, a Inglaterra torna-se uma potência mundial e, embora não fosse um súbdito católico, por tudo que ela fez contra o catolicismo em geral, o Papa Pio V excomungou-a em 25 de fevereiro de 1570.

Até aqui, a Maçonaria continuava operativa. Não incomodava e nem era incomodada.

Em 1600, um facto aparentemente sem importância iria mudar os rumos da Maçonaria. É aceite o primeiro maçom especulativo, de que se tem noticia, Lord Jonh Boswel, um agricultor (plantava batatas). Foi o primeiro a ver vantagens em pertencer á Associação dos Pedreiros Livres.
Em 1646 é aceite outro especulativo, Elias Ashmole. A importância deste facto é que Ashmole era um intelectual, alquimista e rosacruz. Alguns autores atribuem-lhe a confecção dos Rituais do 1°, 2° e 3°grau, graças aos seus conhecimentos de Rosacruz.
As lojas proliferavam. Eram mistas ou só de especulativos.

Em 24 de junho de 1717 é fundada a Grande Loja de Londres e a partir daí a Maçonaria começou a expandir-se e a ser exportada para países vizinhos: Holanda em 1731; França e Florença em 1732; Milão e Genebra em 1736 e Alemanha em 1737.

Esta estranha sociedade secreta, que guarda segredo absoluto de tudo o que faz, constituída de nobres e aristocratas, começou a inquietar os poderes dominantes de cada país. O medo das tramas e subversões para derrubar o poder foi mais forte, e começaram as proibições.

Sem saber o que acontecia nas reuniões, sempre secretas, criou-se um alvoroço, e muitos governantes pediam providências ou soluções ao Papa. As alegações eram de que a sociedade admitia pessoas de todas as religiões; que era exigido aos seus membros segredo absoluto, sob severas penas, e que prestava obediência a um poder central de Londres. O que fazer?

Com o Papa Clemente XII doente, constantemente acamado, totalmente cego há 6 anos, rodeado de pessoas que lhe filtravam as informações e ainda sob a pressão dos governantes que exigiam providências e, também, dos inquisidores que exerciam a sua influência, o Papa assinou em 28 de abril de 1738 a Bula In Eminenti, selando assim o destino dos maçons católicos em especial, e da maçonaria em geral.

Esta Bula excomungava todos os maçons e afirmava que era bom exterminar essas reuniões clandestinas, pois, poderiam actuar contra o governo.

Bem, com a divulgação e publicação da Bula nos países católicos, foram-se desencadeando as proibições. Em França, o parlamento não a aprovou e por isso não foi promulgada. Sendo assim, em França, oficialmente, a Bula não entrou em vigor.

Nos Estados Pontifícios (Itália desunificada), cuja constituição administrativa era católica, todo o delito eclesiástico era castigado como delito político, e vice-versa. Infringir a religião era infringir a lei. Deu-se então uma verdadeira caçada á maçonaria e aos seus membros.

A inquisição, encarregada de executar as ordens papais torturou, matou e queimou inúmeros maçons e, logicamente, pessoas inocentes que eram confundidas com maçons.

Em 1800 foi eleito Pio VII, e durante o seu papado, surge Napoleão Bonaparte. Entre outros feitos, provocou a fuga da coroa portuguesa para o Brasil em 1808 e conquistou Roma, proclamando o fim do poder temporal do Papa mantendo-o preso no castelo de Fontainebleau.
Pio VII só recuperou parte de suas possessões, com a queda de Napoleão em 1815.

Nesta época, porém, o mundo já não era mais o mesmo.
Os ideais de libertação afloravam e iniciaram-se diversos movimentos pelo mundo, praticamente todos liderados por maçons, que conseguem a independência dos seus países.

Estados Unidos, 1783; França, 1789; Chile, 1812; Colômbia, 1821;Peru, Argentina e Brasil, 1822.

A maçonaria deixou então de ser simplesmente inconveniente e passou a ter mais ação, concreta e objetiva, e com isso recebia condenações mais veementes da Igreja.

Neste momento façamos uma pequena paragem. A maçonaria até aqui havia sido sempre condenada e perseguida por terceiros motivos. Até esse momento a Igreja Católica nunca tinha sido atingida diretamente pela influência maçônica.

O facto que realmente condenou a maçonaria pela Igreja Católica aconteceu no processo da reunificação da Itália. O trauma desse episódio não é esquecido até hoje por alguns sectores da Igreja.

A Itália, nesta época, era uma “Manta de Retalhos”, constituída por vários estados entre os quais os Estados Pontifícios, que correspondiam a aproximadamente 13,6% do total da Itália, ou seja, eram 41.000 Km², que pertenciam ao clero e localizavam-se na região central.

A população dos Estados Pontifícios não tinha acesso a nenhum cargo público, que era explorado pelo clero. Todos os funcionários públicos usavam o hábito.

O inconformismo e os movimentos de libertação começam em 1767, sendo os jesuítas expulsos de Nápoles.
Em 1797 é fundada a Carbonária, seita de caráter político independente da maçonaria, que tinha como objetivo principal a Unificação da Itália.

Pio VII em 1821, lança a Bula Ecclesiam A Jesu Christo condenando a atividade dos carbonários. A Carbonária tornou-se perigosa e prejudicial à maçonaria pois era confundida com esta. Os Carbonários tinham os seus aprendizes, mestres, grão-mestres, oradores, secretários, sinais, toques, palavras, juramentos e, é claro, segredos.

Os principais líderes Carbonários: Cavour, Mazzini e Garibaldi eram maçons, por isso, a Carbonária era muito confundida com a maçonaria, porém, diferenciavam-se pela origem, finalidade e actividades. Os carbonários matavam se fosse preciso.
Nos Estados Pontifícios explodiram grandes desordens. A insatisfação contra o clero, que não permitiam que os leigos ocupassem cargos administrativos, era grande.

Em 1848 o Papa Pio IX é obrigado a refugiar-se em Nápoles, devido á revolução, e lança após alguns meses a encíclica Quibus Quantisque, responsabilizando a Maçonaria pela usurpação dos Estados Pontifícios.

Em 1849 é proclamada por uma Assembléia a República em Roma. Nesse momento, Pio IX lançou cerca de 226 condenações contra a maçonaria. Ele e o seu sucessor, Leão XIII, lançaram cerca de 600 documentos de condenações.

Em 14 de maio de 1861, Vítor Manoel é proclamado Rei da Itália Unificada.

Como se vê, a Maçonaria estava condenada. Motivo? A Unificação da Itália... Ideal Carbonário.

Em 27 de maio de 1917 é promulgado por Bento XV, o primeiro Código de Direito Canônico, também chamado de Pio Beneditino onde se refere a Maçonaria da seguinte forma, no seu Cânon 2335:
“ Os que dão o seu próprio nome à seita maçônica ou a outras associações do mesmo gênero, que maquinam contra a Igreja ou contra os legítimos poderes civis, incorrem Ipso Facto, na excomunhão simplificter reservada à Sé Apostólica.”

E mais, recomendava noutros Cânones o seguinte:
Que as católicas não se casassem com maçons; que seriam privados de sepultura eclesiástica; privados da missa de exequias; não seriam admitidos em associações de fiéis; não poderiam ser padrinhos de casamento; não fariam a confirmação do baptismo (crisma); não teriam direito ao patronato, etc.

Os Sacramentos proibidos são: Baptismo, Eucaristia, Crisma, Penitência (confissão), Matrimónio, Ordenação Sacerdotal e a Unção dos Enfermos.

Para atender os anseios dos irmãos católicos, a Maçonaria criou o Ritual de adopção de Loutons, de apadrinhamento, Ritual de Pompas Fúnebres e o Ritual de confirmação de casamento.

Em 11 de fevereiro de 1929 foi criado o Estado do Vaticano pela assinatura do Tratado de Latrão, onde o poder Papal ficava restrito ao Vaticano com 44.000 m2 (anteriormente tinha 41.000 km2) e Pio XI reconhecia a posse política de Roma e dos Estados Pontifícios e afirmava a sua permanente neutralidade política e diplomática,etc.
Com o Tratado de Latrão assinado, encerra-se o processo da Unificação da Itália. O ideal Carbonário fora conseguido e a Carbonária desaparece logo após a Unificação da Itália.

Enfim, ficou o estigma da condenação.

Em 27 de novembro de 1983, já sob a autoridade do Papa João Paulo II, foi publicado um novo Código de Direito Canônico, que entrou imediatamente em vigor, reduzindo para 1752 os 2414 Cânons do antigo código.

O Código mais importante, referente á Franco-Maçonaria, é o 1374: “Aquele que se afilia a uma Associação que conspira contra a Igreja, deve ser punido com justa penalidade; e aqueles que promovem e dirigem estes tipos de Associações, entretanto, devem ser punidos com interdição”. Com isto, a maçonaria está legalmente e literalmente livre do estigma.

Entretanto, no mesmo dia, foi publicado uma Nota no jornal oficial do Vaticano, a Declaração da Congregação para a Doutrina da Fé, que dizia:
“Permanece imutável o juízo negativo da Igreja perante as Associações Maçônicas, porque os seus princípios sempre foram considerados inconciliáveis com a Doutrina da Igreja, e por isso, a inscrição continua proibida. Os fiéis que pertencem às Associações Maçônicas estão em estado de PECADO GRAVE e não podem receber a SANTA COMUNHÃO.
Não compete às autoridades eclesiásticas locais, pronunciarem-se sobre a natureza das Associações Maçônicas com um juízo que implica na revogação do que é estabelecida”.

A publicação da Declaração foi mais uma acomodação política aos minoritários insatisfeitos, e pode-se dizer a contragosto do Papa. Afinal, ela afrontava uma decisão já tomada e aprovada, logicamente pela maioria de toda a Congregação reunida com a finalidade específica de renovação do Código.

Enfim, com a publicação no novo Código do Direito Canônico, e também da declaração da Congregação para a Doutrina da Fé, o que mudou na relação entre a Maçonaria e a Igreja Católica?

Mudou muito pouco em relação ao que se esperava, mas esse “muito pouco” é alguma coisa para quem não tinha nada. É uma esperança.

Paciência e esperança, essas são as palavras.

A pacificação total virá com certeza, mas não se pode ter pressa. Já foi um enorme passo a publicação do novo Código de Direito Canônico. Na medida em que, paulatinamente, as luzes se forem acendendo no entendimento de cada autoridade eclesiástica certamente novos horizontes surgirão.

Vimos, pela própria aprovação do Código do Direito Canônico, que a maioria do clero quer a pacificação, senão ele jamais seria aprovado, e é isto que deve acalentar as esperanças dos católicos, e até lhes dar confiança diante das vicissitudes.

Se o progresso é lento para a pacificação total, por outro lado, não há nada que justifique um retrocesso no futuro.

FÉ E VAMOS VER, MEUS IRMÃOS, A PAZ TOTAL VIRÁ.
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Texto, de autor desconhecido, adaptado e complementado para publicação neste blog.

JF - 2008

Do tempo, ...

Já aqui o mencionei. Fui iniciado na Alemanha, no último ano da década de oitenta do século passado. Não residia na Alemanha. À míngua de existência, na época, de Maçonaria Regular em Portugal, e aguardando a sua institucionalização aqui, optei por seguir o conselho do meu padrinho, um alemão que, na altura se encontrava em Portugal, e buscar a Luz numa Loja de língua espanhola de Bona, a Loja Miguel de Cervantes y Saavedra, minha Loja-mãe. Aí fui iniciado. Aí, cerca de um ano depois, fui passado a Companheiro. E foi como Companheiro que ingressei na Loja Mestre Affonso Domingues, pouco tempo depois da sua Consagração, em pleno período de reconhecimento internacional da emergente Maçonaria Regular em Portugal. Assim o decidi, assim o fiz. Mas paguei um preço. É esse preço que constitui o ponto de partida deste texto. Para que se entenda que todas as escolhas têm um preço. Também em Maçonaria. Talvez particularmente em Maçonaria.

O preço que eu paguei foi que não aprendi a ser maçon, o que era a Maçonaria, o que deveria ser e fazer e procurar, no tempo em que o deveria ter aprendido. O facto de ter sido iniciado na Alemanha e residir e trabalhar em Portugal e não poder deslocar-me regularmente à Alemanha, levou a que viesse a ser passado a Companheiro na terceira reunião da Loja em que participei. Leram bem: participei na sessão em que fui iniciado, participei numa outra, meses depois e, cerca de um ano depois da minha iniciação... interstício decorrido e ultrapassado, compareci a uma terceira sessão... para ser passado a Companheiro. Só em Portugal, e na Loja Mestre Affonso Domingues, vim a participar regular e assiduamente nos trabalhos da Loja.

O tempo de Aprendiz serve para isso mesmo: para aprender. Para aprender o que é ser maçon, o que é estar e integrar-se numa Loja, o simbolismo subjacente a tudo o que nos rodeia, o que se deve fazer, como se deve fazer, porque se deve fazer de uma maneira e não de outra. É um tempo de preparação e de início de mudança pessoal. Será complementado com o tempo e a actividade enquanto Companheiro. Para que, chegado a Mestre, se esteja habilitado a usar as ferramentas de beneficiação do nosso carácter que só devemos pousar quando a nossa meia-noite chegar.

Esse tempo não é apenas tempo. É trabalho. É presença em Loja. É observação. É meditação. É tentativa, erro e correcção. É um processo, quantas vezes não conscientemente notado, de mudança, de aperfeiçoamento.

Desse tempo, desse trabalho, não beneficiei. Não o utilizei um nem executei o outro. As circunstâncias foram o que foram. E eu aceitei-as. Mas paguei o preço. O preço que paguei foi que só considero que aprendi a ser maçon, a entender o que é e deve ser um maçon, a fazer o que deve ser feito, já era Mestre e bastante tempo depois de a tal grau ter sido elevado.

Isso teve uma única vantagem: aprendi naturalmente que o Mestre deve sempre continuar a ser e considerar-se um eterno Aprendiz, sem qualquer dificuldade, porque efectivamente fui um Aprendiz em avental de Mestre.

Mas esta opção que então fiz envolveu - compreendo-o hoje! - um enorme risco. O risco de nunca encontrar o caminho. De me perder e porventura levar a que outros se perdessem. O risco de não saber fazer, porque o fazer e, portanto, de nada de jeito aprender. Porque não estava preparado. Porque fazia coisas antes de tempo. Antes de realmente saber o seu significado. Não só com a cabeça. Também, e principalmente, com o coração e com o espírito.

A minha sorte terá porventura sido que, naquela época de organização e institucionalização da Maçonaria Regular em Portugal, tirando muito poucos, pouquíssimos, todos estavam a aprender. Em conjunto. Errando e tirando lições do erro. Não fui apenas eu. Outros foram - porque era imperioso que fossem! - Mestres antes do tempo. Temos hoje a consciência disso. Alguns - como eu - aprenderam e cresceram e evoluíram. Outros - mais do que nós gostaríamos que tivessem sido - ficaram pelo caminho. Nunca chegaram verdadeiramente a entender o que é ser maçon, por muitos aventais bonitos e graus e títulos que porventura tivessem ostentado. Esse foi um preço que teve que ser pago.

Mas esse é um preço que nós, os que tivemos a honra de ser pioneiros, não queremos que aqueles que agora se juntam a nós paguem. Porque não precisam. Porque eles têm tempo. O tempo que nós não tivemos e que, felizmente, os que conseguiram passar o cabo da "aprendizagem em movimento", trabalharam e trabalham para que os que agora se nos juntam tenham.

Por isso, a minha mais insistente recomendação aos Aprendizes da minha Loja é que não tenham pressa. Que dêem tempo ao tempo. Que trabalhem, que se integrem, que meditem, sempre sem pressa. A Maçonaria não é uma ciência. Nem uma filosofia. É um estilo de vida. Que, mais do que se aprender ou se seguir, se entranha no maçon. Quase que por osmose. O importante é estar, estar atento, estar disponível. Um dia, quase que sem darmos por isso, tudo começa a encaixar, tudo faz sentido. Então, entende-se que a Ética do maçon só poderia ser a que é. Que o nosso comportamento é o que deve ser. E não se faz esforço nenhum para se ser melhor. Naturalmente, tornamo-nos melhores. Como uma criança cresce, assim crescem os maçons. Porque ética e espiritualmente crescem. Como uma criança precisa de tempo para crescer, assim dele também os maçons necessitam.

Tempo. Talvez, bem vistas as coisas, o bem mais precioso de que dispomos. Não tenhamos pressa de o gastar. Não o vejamos como um empecilho. Que todos e cada um dos Aprendizes saibam aproveitar e usar o seu tempo enquanto tais. Demorará talvez muito até o compreender, mas um dia será possível entender que não foi um tempo desperdiçado.

Rui Bandeira

23 junho 2008

Como entrar na Maçonaria - II

Lancei aqui há uns tempos o tema “Como entrar na Maçonaria”. Iniciei com um post simples pedindo opiniões, que obtive.

Comecei então a passar “a papel – electrónico entenda-se” o texto a apresentar. De repente ainda não tinha escrito quase nada e já ia em 3 ou 4 páginas.

Decidi então dividir o Post em pelo menos 2 partes, primeira das quais publico hoje e a(s) seguinte(s) em dias futuros mas não distantes.



É a minha convicção, baseada em tudo o que li, que não existe um método absoluto, nem existe uma fórmula certa e outra errada, para se entrar na Maçonaria.

Existem tradições, usos e costumes, mais ou menos locais, mais ou menos universais, mais ou menos usados, mais ou menos torneados.

Usando o que as Obediências dizem, e um pouco do que penso vou tentar deixar ao leitor informação que lhe permita tirar as respectivas conclusões, porque na Maçonaria uma das coisas que se aprende é a que cada um deve saber tirar conclusões.

Assim passo a citar, qualificando-as com critério meu, as informações que se obtêm nos sites das obediências e nas respectivas linguas:


Os Opostos:

TO BE ONE YOU MUST ASK ONE!
In order to become a member of the Grand Lodge of Virginia you must have two Master Masons vouch for your character and recommend you into our Craft. You also have to be a man, 18 years old or older, of good character, and believe in a God that promotes peace, love, and harmony towards all mankind. These are some of the basic requirements for membership into our Fraternity.

Grand Lodge of Virginia - USA


"COMO SE FAZ PARA SER MAÇOM?
É preciso que o candidato seja indicado por um Mestre Maçom e tenha a sua iniciação aprovada pela Loja.
Ninguém se inscreve para ser maçom.
Por suas qualidades, ele é notado por um maçom que o indica para a sua Loja.”

Grande Loja do Estado do Rio de Janeiro


Os Omissos

"Typiquement quelqu’un devient Franc-maçon parce qu’il éprouve le besoin d’évoluer dans un esprit d’ouverture et qu’il a rencontré cet esprit d’ouverture auprès de personnes qui se sont fait connaître comme Francs-maçons.”
Grande Loje Suisse Alpina


Os Universais

“J'aimerais devenir Franc-Maçon. Que dois-je faire?
L'entrée en Franc-Maçonnerie procède selon deux voies très différentes.
Le plus souvent, le processus fonctionne de proche en proche : un ami, un voisin, un collègue vous demande un jour un entretien entre quatre yeux, il se dévoile et vous explique qu'il aurait grand bonheur à partager avec vous sa démarche. Alors commence un dialogue qui va construire une relation entre vous deux, bientôt partagée avec ses autres Frères en Franc-Maçonnerie.

Plus rarement, mais régulièrement, cette rencontre est attendue par l'impétrant, mais ne se matérialise pas. Dans ce cas, rien de plus simple : il suffit d'envoyer à l'attention du secrétariat de la Grande Loge Régulière de Belgique une lettre de candidature reprenant les éléments suivants :
votre curriculum vitae vos motivations personnelles profondes à vouloir être reçu en Franc-Maçonnerie

Grande Loje Reguliere de Belgique


Os Tradicionais

“Suggested Steps After reading the various booklets on this site, see 'All About Masonry' in the menu bar, and if you are still interested in becoming a Freemason, we advise that you first talk to a family member, friend or colleague whom you already know to be a member. They will be able to explain to you what they can about the fraternity and help you find a suitable Lodge. If you don't know anyone at all who is a member, then get in touch with a Masonic Office in your area. Write to that office, telling them a little bit about yourself and your reasons for wishing to join.”
United Grand Lodge of England


Os Torneados

We would welcome your involvement - but we won't be pushy”
Grande Loja do Sul da Austrália e Territórios do Norte


Temos aqui exemplos dos Estados Unidos, Brasil, Europa, Austrália e muitos mais podem ser encontrados, que nos demonstram inequivocamente que não há um padrão comum.

Comecemos pelo sistema Americano.

A premissa não se convida espera-se que o candidato apareça de livre e espontânea vontade não é também universal, em minha opinião, a todas as Grandes Lojas Americanas.

Algumas, embora dizendo que o candidato deve subscrever a petição de livre e espontânea vontade, juntam que tem também que ser apadrinhado por 2 Mestres Maçons que o avalizem, e logo o conheçam. Indicam também que será útil abordar algum Maçon que se conheça e perguntar-lhe como é que se faz, o que é a Maçonaria, etc.

O exemplo que ilustra esta situação é o seguinte:


"Qualifications for Membership

Application for membership is open to men who:
Have been an Ohio resident for at least one year
Are at least 19 years old
Have a belief in a Supreme Being
Live a good moral and social life
Do not advocate the overthrow of the government
Can read and write English
Are recommended by two members of the Lodge they wish to join. (If you do not know two members of a Lodge, the secretary of the Lodge to which you are applying can arrange a meeting with two members of the Lodge for you.)
"
Grand Lodge of Ohio - USA

Como se pode ver é necessária a recomendação de 2 Mestres da Loja onde se pretende entrar. E se não conhecer ninguém então a Loja organiza um encontro para conhecer o candidato.

O que se pode depreender daqui é que embora formalmente se mantenha o tradicional “2b1ask1” na verdade o sistema de apadrinhamento funciona.

Aliás, em minha opinião, as Obediências Americanas abandonaram há muito o conceito de não convidar, ao substitui-lo por agressiva presença na Internet e nos “média”. Desta maneira conseguem com que muita gente venha bater à porta, e isto é de tal maneira verdade que em muitas lojas a idade média dos membros tem vindo a baixar substancialmente pois os novos maçons vindos da Internet são pessoas mais jovens.

... Continua num próximo Post.

José Ruah

20 junho 2008

A ajuda


Hoje, deixo aqui mais uma historieta simples. Inspira-se num texto, de autor anónimo, que circula pela Rede. Mas o texto é totalmente escrito por mim.

O homem, chamemos-lhe Adão, quase não viu a senhora, já idosa, dentro do carro parado junto ao passeio. Chovia fortemente. Adão reparou que o carro tinha um pneu furado. Percebeu que a senhora não conseguia resolver o simples problema de mudar o pneu. A idade avançada da senhora, o seu aspecto frágil, impediam que a senhora dispusesse da força e agilidade necessárias para efectuar as acções necessárias para tal. E a chuva forte e fria não ajudava...

Adão aproximou-se e disse à senhora:

- Não se preocupe, senhora, eu vou ajudá-la. Deixe-se ficar dentro do carro, que eu mudo a roda num instante.

E assim fez. A senhora, agradecida, quis pagar-lhe o serviço. Mas Adão não tinha prestado ajuda pelo dinheiro. Disse então à senhora:

- Se quer realmente pagar este pequeno serviço, na próxima vez que encontrar alguém que precise de ajuda, ajude-a, na medida em que possa fazê-lo, e lembre-se de mim.

A senhora, aliviada, pôde seguir viagem. Parou não muito longe dali, num café, para se recompor da aflição que sentira, por se ver incapaz de resolver um problema tão corriqueiro.

Foi atendida por uma empregada simpática e atenciosa, mas que se via que fazia o seu serviço com alguma dificuldade, pois estava em avançado estado de gravidez, quase em tempo de dar à luz.

A senhora idosa comentou à jovem empregada que, naquela fase já tão avançada de gravidez, ela já não deveria estar a trabalhar. Era-lhe certamente muito penoso e, além disso, era tempo de se preparar para a ocasião, sempre difícil, em que traria ao mundo uma nova vida.

Mas a jovem empregada respondeu-lhe que, embora efectivamente lhe fosse muito difícil estar a trabalhar no seu estado, não podia deixar de o fazer. O seu marido estava desempregado e, embora procurasse todos os dias emprego, não conseguia obtê-lo, e só ela conseguia ganhar algum dinheiro para o sustento de ambos. Aliás, se o marido não conseguisse muito brevemente emprego, não sabia como iria ser, com mais uma boca a sustentar... Mas alguma coisa havia de se arranjar. A vida não era fácil, mas não era lamentando-se que a tornava melhor. E prosseguiu na sua labuta, atendendo outros clientes.

Após alguns minutos de repouso, a senhora idosa pediu a conta. A jovem e muito grávida empregada deixou-lhe na mesa um pratinho com um papel onde constava o montante da despesa da senhora e logo, pesada mas ao mesmo tempo de uma forma estranhamente leve, se afastou, na sua atarefada lida.

A senhora idosa lembrou-se então do homem que há pouco a ajudara e do que lhe dissera. Aquela jovem precisava de ajuda e, manifestamente, merecia ser ajudada. Deixou então no pratinho o par de euros em que importara a sua despesa, acompanhados de uma muito generosa gorjeta: a nota de maior valor que tinha consigo, cem euros. A gorjeta era cinquenta vezes superior ao pagamento. Mas assim correspondia ao pedido do homem que a ajudara, sem nada querer em troca. Deixou ainda um bilhete, para que não houvesse dúvidas:

"Minha jovem, desejo que tenha uma boa hora. Vejo que está necessitada. Este dinheiro certamente será uma ajuda. Hoje fui ajudada por alguém e é a minha vez de ajudar. Se quiser corresponder, da próxima vez que vir alguém que precise de ajuda, dê-a, dentro daquilo que possa.

Naquela noite, quando a jovem chegou a casa, findo mais um duplo turno de trabalho, o seu marido já dormia. Deitou-se, fatigada, mas satisfeita. Pensou no seu dia, cansativo, mas em que recebera uma inesperada gratificação. Pensou no que a senhora tinha deixado escrito no bilhete. Agradecida e aliviada, pensou que aquele dinheiro lhe permitia resolver o problema que mais a preocupava. Podia enfim comprar roupas para o bebé que estava quase a chegar, sem precisar de retirar dinheiro do seu salário para isso! Aquela gratificação fora uma bênção!

Prestes a cair no sono, chegou-se para junto de seu adormecido marido e sussurrou-lhe:

- Tudo se vai arranjando. Amo-te... Adão!

Nem sempre as coisas correm como nesta singela história. Nem sempre o bem que fazemos nos é retribuído. Mas, afinal, não é a expectativa de retribuição que deve nortear os nossos actos altruístas. Senão, não seria, altruístas. Seriam... egoístas! Mas se cumprirmos o nosso dever de procurar tornar o Mundo um pouco melhor e incentivarmos os demais a agirem de forma semelhante, o Mundo torna-se efectivamente um pouco melhor. E nós, mais cedo ou mais tarde, também disso beneficiamos! E, além do mais, postura e a disposição de ajuda desinteressada, dá-nos satisfação e ajuda-nos a ser mais felizes. E é isso que todos queremos!

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Segunda-feira próxima estou de novo ausente, por motivos profissionais. Consequentemente, não publicarei nada nesse dia.

Rui Bandeira

19 junho 2008

Guarda Externo / Guarda Interno

Nos Ritos de York e de Emulação, a privacidade da sessão de uma Loja Maçónica é assegurada por um Guarda Externo, isto é, um Oficial da Loja que, armado de uma espada, guarda, pelo lado de fora, a porta do local onde se processa a reunião. Em inglês, este Oficial é denominado Tyler. Daí a designação de Telhador que também em português foi atribuída a este ofício, em evidente corruptela da designação inglesa.

O Guarda Externo é o Oficial que deve aguardar a chegada do Venerável Mestre ao local onde vai decorrer a reunião da Loja e imediatamente iniciar as suas funções, só franqueando a entrada no local a quem se faça por ele reconhecer como maçon, e como maçon do grau (ou superior) em que a Loja vai nesse dia trabalhar. Esse reconhecimento é feito através dos sinais, toques e palavras passes adequados à circunstância. Designa-se esta actividade de efectuar o reconhecimento de um maçon, em ordem a franquear-lhe (ou recusar-lhe) a entrada no local onde vai reunir ou está reunida a Loja como o acto de telhar.

Esta designação, como disse, advém da corruptela da palavra inglesa tyler, mas acabou por, através de associação se confundir com outro termo maçónico. Telhar e telhador facilmente se associam a telha, material utilizado para cobertura de edifícios. Se uma reunião maçónica está telhada, então está coberta. Daí que facilmente se concluísse que, se uma reunião maçónica está coberta, isso equivale a dizer que está a coberto (da indiscrição dos profanos).

Esta associação, por sua vez, originou uma outra designação do Guarda Externo, ou Telhador: a de Cobridor, o Oficial que mantém a Loja a coberto. Esta designação, até pela susceptibilidade de confusão com um mais vernáculo significado da palavra cobridor (basta recordar que, nas pecuárias de criação de gado vacum costuma existir um touro cobridor...), determinou que esta última designação caísse em desuso. A Maçonaria preserva a Tradição. mas não exageremos...

No Rito Escocês Antigo e Aceite, a função de guardar a privacidade da Loja é assegurada por um Guarda Interno, ou seja, o Oficial que assegura esse ofício, não se mantém, como nos Ritos de York e Emulação, do lado de fora da porta do local onde decorre a reunião, mas do lado de dentro, possibilitando-se-lhe, assim, que participe plenamente na reunião.

É errado (embora um erro a que tenho assistido com alguma frequência) denominar o Guarda Interno por Telhador, porque, ao contrário do Guarda Externo nos Ritos de York e de Emulação, não compete ao Guarda Interno, no Rito Escocês Antigo e Aceite, telhar, isto é, testar a condição e o grau de quem se apresenta como maçon, quem chega. No REAA, essa função é assegurada pelo Experto e também, no início da sessão, pelos Vigilantes, através de uma acção ritualmente prevista.

A razão porque a função de assegurar a privacidade da Loja é exercida, nos ritos de York e de Emulação, por um Guarda Externo, enquanto no REAA tal é efectuado por um Guarda Interno, radica em que, naqueles ritos, ao contrário deste, não são admitidas armas no interior do local onde decorre a reunião da Loja. É levado, naqueles ritos, ao limite da observância literal o princípio de que os maçons devem deixar os seus metais à porta do Templo. Este princípio (que tem simbolicamente um mais amplo significado - um dia escreverei sobre isso), literalmente observado, impede que o metal da espada seja admitido no interior da sala onde decorre a reunião da Loja. No REAA, um rito que foi, desde o seu início, adoptado por Lojas militares e Lojas, que o não sendo, acolhiam militares, este princípio não é tão literalmente observado e, não só são admitidas espadas em Loja, como o uso de espada faz parte do equipamento de alguns Oficiais de Loja e é requerido, em algumas circunstâncias, a todos os Obreiros presentes.

Não se faça, porém, qualquer confusão: o Rito Escocês Antigo e Aceite é um rito de Paz. E a admissão de armas no local onde decorre a reunião da Loja não o contradiz, antes o acentua: tem-se arma, mas nunca se usa contra um Irmão, e muito menos como reforço de qualquer argumento. A verdadeira Paz não resulta de não dispor de armas; advém de as ter, mas não as usar. No Rito Escocês Antigo e Aceite o uso de espadas é meramente cerimonial. E, para que não haja acidentes, que, nos dias de hoje já não se fazem espadachins como antigamente, por via das dúvidas as espadas utilizadas são rombas, isto é, não possuem lâminas afiadas...

Nos Ritos de York e de Emulação, o ofício de Guarda Externo é considerado de alguma importância e muita responsabilidade, como facilmente se deduz da tarefa de verificação das credenciais de quem se apresenta para entrar em Loja.

No Rito Escocês Antigo e Aceite, a sua responsabilidade é manifestamente menor, quase se resumindo, na prática, ao exercício de funções de "Oficial Porteiro". É, na ordem hierárquica dos Ofícios, colocado em último lugar. Por isso mesmo, o seu titular é sempre um maçon experiente. Leram bem. E eu não me enganei na formulação da frase. Para não haver dúvidas, repito: por isso mesmo, o seu titular é sempre um maçon experiente. Passo a explicar.

Porque é o ofício considerado com menos dificuldade, com menor execução ritual, colocado em último lugar na hierarquia dos ofícios de Loja, no Rito Escocês Antigo e Aceite, o exercício do ofício de Guarda Interno é considerado uma prova de humildade. é, assim, prioritariamente, reservado, ao maçon que, dois anos antes, exerceu o ofício máximo na Loja, o de Venerável Mestre, e que no ano anterior, exerceu a função de Ex-Venerável, principal conselheiro do Venerável Mestre seu sucessor. Após ter exercido o principal ofício na Loja, ter manuseado os símbolos do Poder de uma Loja, o malhete de Venerável e a Espada Flamejante, após seguidamente ter aconselhado quem lhe sucede nesse mais importante ofício (e ser, assim, simbolicamente, o Poder por detrás do Poder...), o maçon vai exercer o mais humilde ofício na Loja, o de Guarda Interno. Demonstra assim, e aprende dessa forma, que o maçon deve exercer todas as funções, da mais importante à mais humilde, com igual interesse e empenhamento. Mostra assim que mereceu exercer o mais importante ofício em Loja e com ele aprendeu que tão necessário é o mais humilde dos ofícios como o mais importante deles e que, portanto, exerce este com a mesma naturalidade com que exerceu o outro. E, assim, com o exercício do mais humilde ofício, o maçon passa à honrosa categoria de Antigo Venerável. Findo ele, retomará, em princípio, o seu lugar nas Colunas da Loja, onde se manterá à disposição de seus Irmãos.

Rui Bandeira

18 junho 2008

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