13 dezembro 2007

Desafio

Lido na edição electrónica do Diário da Serra, de Tangará da Serra, Mato Grosso, Brasil, em artigo de 13/12/2007, de Luciano Góis:

A loja Maçônica 13 de Maio realizou na noite da última terça-feira, 11, um torneio de confraternização envolvendo seis equipes. As equipes foram formadas por jogadores que treinam durante a semana no campo da Maçonaria e outros jogadores que foram convidados, com o propósito de confraternizar e colaborar também com o Lar dos Idosos. Cada atleta doou um produto de limpeza, que foram entregues ao Lar dos Idosos.

Como se vê, Maçonaria não é necessariamente sisudez nem preocupação com aperfeiçoamento. Pode muito bem ser também divertimento, desporto, confraternização.

Afinal de contas, mens sana in corpore sano (mente sã em corpo são) é uma condição que já na antiga Roma se entendia como desejável (por isso é que criaram o brocardo que ainda hoje é utilizado...).

Repare-se ainda como judiciosamente se junta o útil ao agradável: convívio, confraternização, desporto, mas também solidariedade. O torneio foi um pretexto para ajudar o Lar de Idosos em algo que, manifestamente, lhe é útil: produtos de limpeza. E sem um grande custo individual: a "inscrição" de cada jogador para o torneio foi um produto de limpeza. Os produtos recolhidos foram então doados ao lar de Idosos.

Simples, fácil, eficaz!

Esta pequena notícia ensina-nos uma coisa, pelo menos: é possível ajudar, sem necessidade de grandes organizações, grandes esforços. Um pouco de imaginação chega para poder ajudar.

Aprendamos, pois.

A propósito, e se arranjássemos uma brincadeirinha do género cá no nosso cantinho europeu? Que tal um ou mais jogozitos de Futebol de 5? O José Ruah, que dizem que é craque - e, se for, é um craque de peso, basta olhar para ele... - é que podia organizar uma equipa da Mestre Affonso Domingues!

Eu, como o meu departamento é mais o de lançar ideias para o ar e ver se alguém as agarra, avanço já com o desafio: há para aí uma Loja Maçónica que queira medir forças (com a Sabedoria disponível e a Beleza possível) no Futebol de 5 com a Loja Mestre Affonso Domingues? Cá por mim, como é uma actividade profana, estendo o desafio também às Lojas do GOL. Condição essencial: haverá que combinar previamente o que cada jogador deve dar, como taxa de inscrição, para posteriormente ser entregue a uma instituição de solidariedade acordada entre ambas as Lojas.

Quem sabe? Há ideias assim malucas que prosperam... Já viram se, pontapé aqui, golo acolá, um dia se chegasse a um Grande Torneio de Futebol de 5 Maçónico, com direito a transmissão televisiva na Sport TV e tudo? Com os respectivos direitos de transmissão a reverterem para Solidariedade? Deixem-me sonhar...

Rui Bandeira

12 dezembro 2007

Videojogo desvenda os "segredos maçónicos"

Querem saber como é o Ritual de Abertura de uma Loja Maçónica? Como decorre uma Cerimónia de Iniciação? Mais: querem conhecer todo o Ritual de Iniciação? Incluindo Palavras de Passe e Sinais?

Querem?

Então, não seja por isso! O A Partir Pedra está aqui para vos iluminar...

Fiquem então sabendo que está disponível, para descarga gratuita para o vosso computador um pequeno e simples videojogo que desvenda tudo isso. Trata-se de um videojogo graficamente muito primário, que tem por objectivo fornecer informação sobre o que é a Maçonaria. E se fornece informação! Informa tudo, digo-vos eu! Garanto que tudo o que acima referi é facilmente sabido através do dito videojogo, sem especial dificuldade.

Há só dois senãos (há sempre senãos...).

O primeiro é que o videojogo está todo em inglês. Só quem dominar essa língua pode obter os conhecimentos assim desvendados.

O segundo é que esse videojogo foi elaborado por um maçon americano e mostra como abre uma Loja americana, como é feita uma Iniciação na América, quais são os sinais e palavras de passe em uso na Maçonaria Americana, tudo segundo o Ritual de Webb.

Mas garanto que todas as informações que são dadas são fidedignas e correctas! Algumas coisas são iguais ao que se faz no Rito Escocês Antigo e Aceite. Outras são semelhantes. Outras ainda são diferentes, mas facilmente reconhecíveis por um Maçon do REAA. Outras são diferentes.

Pessoalmente, acho o Ritual do Rito Escocês Antigo e Aceite muito mais rico e simbolicamente mais interessante. Acho a Cerimónia de Iniciação do Rito Escocês Antigo e Aceite, de longe, muito mais impressiva e marcante. Mas eu sou suspeito, confesso...

De qualquer forma, quem quer ter uma noção, certa em relação à Maçonaria Americana, e razoavelmente aproximada, em relação ao que praticamos em Portugal e no REAA, certamente que achará proveitoso jogar o jogo. Conseguirá perceber como se processam os Rituais de Abertura e de Iniciação no rito Webb e obterá várias informações, todas fidedignas e correctas, sobre a Maçonaria.

Um alerta: convém dispor de tempo...

E, depois de descarregar o jogo, convém abrir e ler primeiro o ficheiro "Read me" (leia-me). Ali se informa quais as teclas necessárias para movimentar o boneco e interagir com outros personagens e objectos. É muito simples...

O videojogo está disponível para descarregamento gratuito no blogue Excommunicate.net, mais precisamente no texto, publicado em 11 de Fevereiro de 2007, intitulado Secrets of Freemasonry. O descarregamento é proporcionado sob licença Creative Commons Não Comercial 3.0, que em síntese, autoriza a cópia, distribuição e utilização do jogo, desde que sem objectivos comerciais e citando a licença e a origem do jogo. Para fazer a descarga do download file, basta usar este atalho. Os requisitos técnicos para poder usar o jogo são pouco exigentes e, certamente, ao alcance de todos, hoje em dia: Sistema Operativo Windows 2000, XP ou Vista, 128 Mb de memória RAM e processador com uma velocidade mínima de 450 Mhz. Atenção que, se vos suceder como ocorreu comigo, o programa de descarga não cria um ícone com um atalho para o jogo. É preciso ir à pasta onde foi guardado para o abrir. Se fizerem a descarga para a pasta fixada por defeito, encontrarão o jogo em Meu Computador/ Disco Local (C)/Arquivos de Programas/ASCII/RPG2000/Project1. Basta carregar no ícone RPG_RT.exe. A partir daí, o rato é inútil. Só teclado, meus caros... Divirtam-se e saibam um pouco mais!

Quem disse que a Maçonaria é secreta?

Rui Bandeira

11 dezembro 2007

Audi, Vide, Tace

Audi, vide, tace (Ouve, vê, cala) é a divisa inscrita no brasão de armas da Grande Loja Unida de Inglaterra.

Esta divisa é extraída do brocardo latino Audi, vide, tace, si vis vivere in pace, que significa Ouve, vê e cala, se queres viver em paz.

Audi, Vide, Tace. (com um ponto no fim) é o nome de um interessante blogue maçónico americano. Atenção, que, querendo aceder a esse blogue sem ser através do atalho atrás colocado, o endereço a inserir tem um pequeno quê: no endereço, a primeira palavra não termina em "i", mas em "e". Portanto: http://audevidetace.blogspot.com.

O autor deste blogue usa o pseudónimo de Wayfaring Man (Homem que viaja para longe, Viajante). Como eu, é Advogado. Além disso, é Mestre em História Americana. É ainda colaborador de um jornal desportivo e de outras publicações. E é, é claro, Mestre Maçon.

A sua preparação e os seus interesses transparecem claramente no blogue. Os textos que ali publica são excelentemente estruturados e muito bem escritos. Este blogue apresenta vários textos com referências de índole histórica relacionadas com a Maçonaria. Só para mencionar os últimos com essa característica, temos The appeal of Masonic Research (A atracção pela Investigação Maçónica), onde se referencia um oficial naval americano maçon e a busca feita pelo autor do blogue no espólio por ele deixado de documentos com interesse maçónico, com a localização de um caderno com apontamentos em cifra maçónica, e It's the spirit, not the letter,that giveth life (É o espírito, não a letra, que dá vida), referenciando uma publicação maçónica americana que foi mensalmente publicada entre 1915 e 1930. Este interesse pela História, a divulgação de elementos e documentos históricos relativos à Maçonaria Americana, é um ponto de grande interesse deste blogue.

O blogue, porém, não se reduz a História. Longe disso. Wayfaring Man dá a sua opinião sobre temas da actualidade maçónica, sendo visível a ponderação dos seus pontos de vista. Nesta época em que algumas perturbações assolam a Maçonaria Americana, por vezes traduzidas em tempestuosas polémicas em vários blogues e fóruns electrónicos maçónicos americanos, é reconfortante encontrar sempre uma postura de equilíbrio e ponderação no que é publicado neste blogue.

Wayfaring Man denota ainda uma particular apetência pela realização de sondagens sobre questões maçónicas ou relacionadas com a Maçonaria, sendo frequente o lançamento de interrogações à sua audiência, acompanhadas do lançamento de uma sondagem informal.

Este blogue, não sendo dos de mais frequente actualização, não deixa, porém, abandonados os seus visitantes, apresentando em média um texto por semana. E sempre textos que vale a pena ler!

Mais um blogue de qualidade de que aqui dou conta e que vai passar a dispor de um atalho na área do A Partir Pedra a eles destinada.

Rui Bandeira

10 dezembro 2007

Geminação, almoço, leilão


O JPSetúbal já ontem, no seu texto Dia de Festa fez breves referências aos eventos relacionados com a Loja Mestre Affonso Domingues ocorridos no passado sábado. Referências feitas num registo (compreensivelmente) emocional.

Quem leu esse texto e não integra a Loja Mestre Affonso Domingues, no entanto, terá dificuldade em entender que eventos foram esses. A meu ver, e sendo este blogue "escrito por maçons da Loja Mestre Affonso Domingues", justifica-se uma referência mais informativa. Ei-la, pois.

Ocorreu, na manhã do último sábado, "em lugar a coberto da indiscrição dos profanos", a Cerimónia de Geminação entre as Lojas Mestre Affonso Domingues e Rigor, esta reunindo ao Oriente de Bragança. A decisão de geminação fora tomada no ano passado, aquando de uma visita efectuada por uma delegação da Loja Mestre Affonso Domingues à Loja Rigor, já registada neste blogue no texto Uma visita a Rigor.

Com esta cerimónia e a celebração do respectivo Convénio de Geminação, a Loja Mestre Affonso Domingues passa a estar geminada com duas outras Lojas: a Loja Rigor, de Bragança, Loja pertencente à mesma Obediência que a Loja Mestre Affonso Domingues, a GLLP/GLRP, e a Loja Fraternidade Atlântica, de Neuilly-Binot (perto de Paris), integrada na Grande Loge Nationale Française (GLNF ).

A geminação é um protocolo de colaboração especial entre Lojas, traduzindo um propósito de realização de visitas mútuas entre os obreiros das Lojas geminadas e de colaboração na organização de eventos, actividades e realizações comuns.

Ainda no sábado último, a Loja Mestre Affonso Domingues celebrou o seu habitual almoço festivo de Dezembro, contando com a presença dos nossos Irmãos de Bragança, na primeira execução prática do Convénio de Geminação celebrado nessa mesma manhã.

No decorrer deste almoço, foi, como é também habitual na Loja Mestre Affonso Domingues, prestada homenagem ao obreiro que exerceu as funções de Venerável Mestre no ano maçónico anterior, PauloFR, com a entrega de uma pequena recordação. Esse momento de homenagem é a única retribuição que a Loja dá a quem tem o encargo, a responsabilidade e o trabalho de a dirigir durante um ano. O objecto de recordação que lhe é ofertado e a satisfação do dever cumprido são o que cada maçon que exerceu o ofício de Venerável Mestre guarda dessa passagem pela Cadeira de Salomão. E chega! E é muito! E é tudo o que interessa!

O almoço foi abrilhantado pela actuação musical de dois Irmãos, Alexis B., que tocou balalaica e violino, e Acácio R., que tocou guitarra clássica, actuação que mereceu generalizado aplauso de grande agrado.

Como felizmente é já uma tradição do nosso grupo, estiveram presentes no almoço elementos que, no passado, integraram a Loja Mestre Affonso Domingues e que presentemente se encontram adormecidos (afastados por opção própria). O facto de circunstâncias diversas, pessoais ou da vida, levarem a que maçons, por vezes tão contristadamente, decidam suspender a sua actividade maçónica não impede que nesta ocasião especial, como noutras, tenhamos o gosto da sua presença e companhia. Uma vez dos nossos, sempre dos nossos. E a porta de regresso está sempre aberta. Nem sequer é preciso bater, basta entrar e abraçar quem estiver do lado de dentro!

Finalmente - e infelizmente já sem a presença dos Irmãos da Loja Rigor, que tiveram que regressar a meio da tarde a Bragança, que a distância é longa -, teve lugar o habitual leilão entre os presentes das ofertas que, especificamente para tal fim, todos trouxeram. O produto recolhido este ano reverteu para a aquisição de bens que sejam úteis ao CAJIL (Centro de Apoio a Jovens e Idosos do Lumiar) e à CERCIAMA (Cooperativa para a Educação e Reabilitação de Crianças Inadaptadas da Amadora). O nosso contributo é uma ínfima parte do que estas meritórias instituições merecem e necessitam. E esse apoio não tem qualquer mérito ou valor especial. É apenas o cumprimento, pela nossa parte, de uma obrigação de pessoas de bem: apoiar quem supre necessidades sociais importantes de quem mais frágil está, E só é aqui mencionado com um único propósito e uma só esperança: o propósito de chamar a atenção para o mérito destas instituições e a esperança de que quem leia este texto vença a inércia e tome a iniciativa de juntar mais um pequeno grão ao grão miúdo que nós arranjámos. Porque será assim, grão a grão, que vamos lá, que todos ajudamos com a nossa pequena parte ao muito que os responsáveis e voluntários destas instituições fazem.

Portanto, caro leitor, faça o favor de compensar a leitura deste texto com um pequeno gesto: dê o que puder ao CAJIL (Rua do Lumiar, n.º 57, Lisboa, telefone - 217 574 573) e/ou à CERCIAMA (Rua Mestre Roque Gameiro, n.º 12, Amadora, telefone 214 986 830 / 214 986 838). Vai sentir-se muito feliz com esse gesto! E, se e quando puder, não se acanhe: vá lá fazer uma visita e ver a obra que é feita! Eles ficam contentes com o seu interesse e você verificará pessoalmente como é bem aproveitado tudo o que para ali é canalizado!

Rui Bandeira

09 dezembro 2007

Dia de Festa


Como disse Fernando Pessoa e o nosso PVM tem escrito "há momentos únicos".
É de um desses momentos que Vos falo.
A todos os Obreiros da R:.L:.Mestre Affonso Domingues devo um Tiplo Abraço de Fraternidade ritual e principalmente muito profanamente... Amigo.
O dia de ontem ficará para sempre como um marco na minha história pessoal, e mais feliz ainda se um dia me puder aperceber que também para Vocês ele significou algo de bom e de bem.

Foi uma colecção de emoções, desde a apresentação formal do "regresso" do Estandarte/Guião da Loja (infelizmente o nosso original está nas mãos de alguém de que apenas sei o nome da mãezinha respectiva, sendo este um exemplar novo) até ao leilão final do dia, cujo resultado foi bem superior às expectativas e cujo destino será o Cajil e a Cerciama.

Aos nosso Irmãos da R:.L:.Rigor, que vieram de Bragança de propósito para estar connosco, agradeço os 800 Km feitos, a Alegria da presença, a ajuda à Beleza da sessão que nos proporcionaram, a Força que nos trouxeram.
A R:.L:.Mestre Affonso Domingues e a R:.L:. Rigor são Irmãs desde sempre e Irmãs-Gémeas desde ontem.
A Maçonaria ficou mais forte e as nossas obrigações aumentaram.
Quanto ao nosso ágape festivo do Solstício de Inverno... tudo está bem quando acaba daquela maneira.
Nem quero saber se os pratos servidos estavam bem ou mal, se a pingota bebida era rasca ou de luxo.
Tivemos connosco alguns dos mais históricos da Loja, mesmo alguns dos que mais longe fisicamente têm estado mas que reafirmaram de novo que uma vez da "Affonso Domingues", para sempre com a "Affonso Domingues".
Bem hajam meus Irmãos.
JPSetúbal

07 dezembro 2007

Semear a Beleza

Um homem trabalhava numa fábrica que ficava a cinquenta minutos de autocarro da sua casa.

Na paragem a seguir à sua, entrava todos os dias uma senhora idosa, que se sentava sempre junto à janela do autocarro. Abria a mala, tirava um pacotinho e passava toda a viagem atirando algo pela janela. A cena repetia-se todos os dias.

Um dia, curioso, o homem perguntou-lhe o que atirava ela pela janela.

- Atiro sementes. - Respondeu ela.

- Sementes? Sementes de quê?

- De flores. É que eu olho para fora e a berma da estrada é tão vazia... Gostaria de poder viajar vendo flores coloridas ao longo de todo o caminho. Como seria bonito!

- Mas as sementes caem no asfalto, são esmagadas pelos pneus dos carros, comidas pelos pássaros. A senhora acha mesmo que vai germinar alguma semente na berma da estrada?

- Acho, meu filho! Mesmo que muitas se percam, algumas acabarão por cair na terra e, com o tempo, vão dar flor.

- Mesmo assim, vai demorar muito... E precisam de água...

- Eu faço a minha parte! A chuva ajudará. Se alguém deixa cair sementes, as flores hão-de surgir!

E a senhora idosa virou-se para a janela e recomeçou a sua tarefa. O homem, quando desceu na paragem junto ao seu emprego, pensava que a velha senhora já estava senil.

Mas, algum tempo depois, o homem, viajando no autocarro, ao olhar para fora, viu flores na berma da estrada! Muitas flores! A berma da estrada era uma paisagem colorida, perfumada, linda! Lembrou-se então da velha senhora, que não via já há algum tempo. Perguntou por ela ao motorista do autocarro, que conhecia todos os passageiros habituais.

- A velhinha das sementes? Morreu há quase um mês...

O homem voltou para o seu lugar e continuou a olhar a paisagem linda. E pensou:

- Quem diria? As flores nasceram mesmo! Mas de que adiantou o trabalho dela? Morreu sem ver esta Beleza toda!

Nesse momento, ouviu uma criança a rir. No banco da frente, uma menina apontava pela janela, entusiasmada:

- Olha, pai, que lindo! Tantas flores à beira da estrada! Como se chamam estas flores?

Então, o homem compreendeu o que a velha senhora tinha feito! Mesmo não estando já ali para ver, ela fez a sua parte, deixou a sua marca, a Beleza, para a contemplação e a felicidade das pessoas!

No dia seguinte, o homem entrou no autocarro, sentou-se junto à janela, tirou um pacotinho de sementes do bolso e fez toda a viagem atirando-as pela janela... E assim deu continuidade ao que a velha senhora fizera, semeando o amor, a amizade, o entusiasmo e a alegria!

O futuro depende das nossas acções no presente. Se semearmos boas sementes, os frutos das plantas que nascerão serão igualmente bons. Semeemos as nossas sementes!

(adaptação minha de um texto, sem indicação de autor, recebido por correio electrónico)

Rui Bandeira

06 dezembro 2007

Tempo

O que há de mais valioso no Mundo não é dinheiro. nem jóias ou diamantes. Muito menos ouro, dourado ou negro. Nem sequer as crianças - como muitas vezes dizemos. O que há de mais valioso no Mundo é o Tempo. Não se pode comprar nem vender, não se pode guardar nem acumular. Tem-se o que se tem e é esse que se pode e deve administrar o melhor possível.

O que há de mais democrático no Mundo não é o voto. Nem as eleições. Muito menos a separação de poderes. Nem sequer a limitação de mandatos. O que há de mais democrático no Mundo é o Tempo. O dia tem vinte e quatro horas, a hora tem sessenta minutos, o minuto tem sessenta segundos, quer para o multimilionário mais rico do planeta, quer para o mais miserável pária sem abrigo do mais pobre recanto deste Mundo. O rico, por mais que o deseje, não consegue que o seu dia tenha trinta horas, nem a sua hora oitenta minutos, nem o seu minuto cem segundos. O pária miserável pode não ter nada de nada, mas tem exactamente as mesmas horas no seu dia que o multimilionário, os mesmos minutos na sua hora, os mesmos segundos no seu minuto.

O que há de mais implacável no Mundo não é o Mal. Muito menos o Déspota. Nem sequer o Terrorista. O que há de mais implacável no Mundo é o Tempo. Chega, passa e vai, insensivelmente, sempre ao mesmo exacto ritmo.

O que muda é a nossa percepção do Tempo. Se estivermos confortavelmente sentados vendo um belo pôr-do-sol, ouvindo uma música do nosso agrado, bebendo uma bebida da nossa preferência, sendo acariciados pela mulher que amamos, enquanto cheiramos o seu agradável perfume, esse Tempo, por muito longo que seja, parecer-nos-á sempre breve, seguramente muito mais breve do que nos pareceria a exacta mesma quantidade de tempo em que estivéssemos a ser agredidos por um energúmeno feio e malcheiroso, que nos berrava impropérios, sentindo na boca o sabor de alguma porcaria que ele ali nos enfiara...

Cada um dispõe em cada dia do mesmo tempo que todos os demais, exactamente 86.400 segundos em cada dia, nem mais um, nem menos um. Cada um tem a responsabilidade de usar esse Tempo da melhor forma possível, distribuindo-o profícua e harmonicamente entre o cumprimento dos seus deveres, o convívio com aqueles de quem gosta, o descanso, o lazer, o alimento do seu corpo e a nutrição do seu espírito, a busca e o encontro, a reflexão e a acção. Todos temos exactamente a mesma riqueza para gastar em cada dia. Se a aproveitamos ou desperdiçamos, é connosco e seremos nós que sentiremos as consequências, boas ou más, do nosso aproveitamento ou do nosso desperdício. O que não gastarmos, o que não usarmos, não podemos guardar. Está perdido e nunca mais será recuperado...

O Tempo é uma dimensão diferente das outras. O comprimento, a largura, a altura são dimensões em relação às quais nos sentimos exteriores. E medimos o comprimento da mesa, a largura do quadro, a altura do armário. Somos exteriores a essa medida. Mesmo em relação às nossas medidas... Mas a dimensão do Tempo é diferente. Nós todos estamos DENTRO do Tempo. Por isso o não vemos. Por isso o Tempo Presente é tão fugaz que, mal o apercebemos, já é Tempo Passado. Comprimento, largura e altura são dimensões terrenas. O Tempo é dimensão divina. Por isso podemos mudar o comprimento, alterar a largura, modificar a altura do que quisermos, mas não podemos mudar, nem num centésimo de segundo, o Tempo que é. Podemos aproveitá-lo melhor, fazendo mais em menos Tempo. Não podemos mudá-lo. Podemos apenas usar em cada dia a exacta quantidade de Tempo que o Criador determinou que todos e cada um de nós dispuséssemos em cada dia.

O Tempo não pode ser comprado, nem vendido (pode-se comprar ou vender uma ocupação do tempo, o que é diferente), mas pode ser usado, aproveitado, individualmente ou em conjunto. O mesmo Tempo, aproveitado ou usado em conjunto por vários ou por muitos, multiplica-se automaticamente, potenciando a capacidade do grupo que o aproveita em conjunto. No entanto, sendo globalmente mais rentável o Tempo aproveitado em conjunto, o Tempo individual de cada um continua a ser pessoal, só seu, com um significado preciso e definido para esse preciso indivíduo. O Tempo que um músico despende a dar um concerto numa sala de espectáculos é rentabilizado pelas centenas ou milhares de pessoas que desfrutam desse espectáculo. O Tempo de um multiplica-se por muitos. Mas um concerto para mil equivale a mil concertos individuais. O músico é o mesmo. A música é individualmente, quiçá diferentemente, apreendida por cada um dos mil ouvintes. O Tempo de cada um continua a ser pessoal e único. E o mesmo se passa se, em vez de ser um a criar e mil a beneficiar, forem mil e um a criarem para esses mil e um e incontáveis milhares ou milhões mais beneficiarem.

Quando os maçons se reúnem, e repetem o ritual, tratam dos assuntos da ordem do dia, estudam, ensinam ou aprendem símbolos e seus significados, moralidades e seus motivos, condutas e suas consequências, aproveitam em conjunto o Tempo, potenciando o seu valor, cada um beneficiando individualmente, ao seu modo, do uso desse Tempo.

Os maçons aprenderam uma coisa singela: que o Tempo de cada um é potenciado pelo seu uso em conjunto, afectando e aproveitando a cada um da forma que convém a cada qual. Tempo de Estudo, Tempo de Paz, Tempo de Debate, Tempo de Repouso, sobretudo Tempo de Confiança nos seus Irmãos e Tempo de Harmonia com eles. Todos estes Tempos, e mais, valem infinitamente mais em conjunto, revertendo esse valor para cada um dos indivíduos. Por isso os maçons reservam uma parte do seu Tempo para o aproveitar em conjunto com seus Irmãos.

Assim aprendem e praticam entre si e podem e devem praticar no exterior, na sua vida de todos os dias, perante os seus parceiros de vida, de negócios, de viagem, de tudo, que a Cooperação é mais eficaz que a Competição, que a Harmonia é mais gratificante que a Cizânia, que a melhoria de Um ajuda Todos a melhorar e que a melhoria de Todos se reflecte na melhoria de cada Um. E podem e devem viver e aproveitar o seu Tempo na sua vida de todos os dias, perante todos aqueles que os rodeiam, pela mesma forma que vivem e aproveitam o seu Tempo entre seus Irmãos. E o seu exemplo frutificará onde houver condições para que frutifique, em quem estiver apto para tal. E assim o Mundo melhorará mais um pouco. E de pouco em pouco se fará muito. Em pouco Tempo, em muito Tempo, no Tempo que for...

Rui Bandeira