19 maio 2007

Até algum dia


Faleceu o Presidente da Amnistia Internacional Portugal

18-May-2007
Na madrugada do dia 18 de Maio, dia do aniversário da AI Portugal, faleceu o seu Presidente, António João Simões Monteiro.Simões Monteiro, foi membro fundador da Amnistia Internacional Portugal. Ao longo dos anos, desempenhou várias funções, nomeadamente Presidente da Direcção, Conselho Fiscal e Presidente da Mesa da Assembleia Geral, entre outros. A sua vida sempre se pautou pelas causas sociais, uma vez que estava ligado a várias organizações.
O corpo estará na Igreja de S. João de Deus, na Praça de Londres a partir das 18 horas de hoje. A missa de corpo presente será amanhã às 14h30 e o funeral seguirá para o cemitério do Alto de São João.
No dia em que se celebra o 26º aniversário da AI Portugal, que fique o lema que tantas vezes professou “Direitos Humanos, sempre!”.
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O mundo perdeu um Homem e eu perdi um Amigo.
O António João trabalhou durante muitos anos comigo.
Primeiro na APM (Associação Portuguesa de Mecanografia) que passámos para API (Associação Portuguesa de Informática) durante os anos "quentes" (1974/75).
Juntos safámos uma associação profissional que estava prestes a fechar portas e com o entusiasmo e teimosia do António João sobreviveu e conheceu algum do seu tempo de maior e melhor actividade.
Depois na Norma, também abraçando o projecto de recuperar uma empresa de enorme prestígio que a cegueira política e ideológica de 75/76 arrasou.
Foram muitos os projectos em que entrei sob orientação do António.
Incansável, imperturbável, grande, inamovível.
Excepto pela razão final.
Fica o exemplo de fraternidade, humanidade, cidadania que o António João cultivou e mostrou a quem o conheceu, a quem teve a sorte de com ele conviver.
Teve um coração do tamanho do mundo.
Um abraço.
A gente vê-se.
JPSetúbal

18 maio 2007

Gastronomia Maçónica – 8

Ontem à noite cumpriu-se mais uma etapa do “ritual” sobre “Gastronomia Maçónica” !
Em Setembro do ano passado foram “postados” vários textos discorrendo, em lume brando, sobre uma possível, eventual, talvez haja, não… não há, afinal sempre apareceu…, …, …, gastronomia maçónica.
Estas dúvidas terríveis, existenciais e gastronómicais constituíram uma boa desculpa (desculpa, não… ”razão”, uma boa razão era o que eu queria escrever !) para que logo, logo, surgisse uma comissão de estudiosos (os 3 blogueiros mais usuais destas letras e mais o PauloR que também tem ajudado), assim como que uma espécie de um grupo de reflexão, que se atiraram…(“atiraram” parece-me pouco delicado, talvez mais propriamente se dedicaram…, é, parece-me mais apropriado), bem que se dedicaram ao estudo desta matéria com afinco, denodo, esforçadamente, estudando analisando, procurando, … e mais 24 coisas destas assim terminadas em “ando”, concluindo (esta é em “indo” para evitar versos) que, mais uma vez, é no Oriente que se deve ir buscar a sabedoria.
Verdadeiramente, assim !
E como da conhecida e muito divulgada sabedoria oriental vem uma máxima chinesa que diz que:

- Todo o conhecimento genuíno tem origem na experiência directa

pois não teve esse grupo de trabalho (trabalho, sim, não julguem que o pessoal brinca em serviço…) outra solução senão esforçar-se por experimentar, “in loco”, (quero dizer, no prato !) os espécimes gastronómicos que a história medieval (alguma é medieval de anteontem, mas a gente não liga a esses pormenores) trouxe até aos nossos tempos.
Quem leu os textos publicados em Setembro de 2006 (vá, confessem que já não se lembram de nada… seus distraídos, sempre de costas para a cultura do povo !) sabe que foram ali referidas algumas preciosidades, entre elas, “Gigot D'agneau de 7 Heures”, “Pavão com aipo”, “Perdiz trimolette”, “Capão em caldo de canela”, “Pombos estufados” … bem, um nunca mais acabar de pitéus que a curiosidade da “comissão” quer estudar até ao fim, custe o que custar, doa a quem doer.
Estas matérias são muito sérias e chega de deixar comida no prato… ah, não é nada disso, desculpem, estava distraído, chega de deixar os inquéritos em meio, para que o tempo os leve até ao arquivo da impunidade.
Somos responsáveis ! Não queremos ficar impunes !
Prometemos que connosco as coisas irão até às últimas consequências !!!

E assim, depois de um primeiro ensaio, experiência que o JoséSR orientou sabiamente em seu laboratório, por sinal magnificamente apetrechado não ficando nada a dever às cantinas dos nossos laboratórios de investigação, óh…, vejam que disparate de confusão, não fica a dever nada ao equipamento laboratorial, quem se lembrou de falar em cantinas… que confusão imperdoável (!), então ia eu dizendo que num 1º ensaio experimentámos uma tal “sopinha de melão” que óh… óh… parecia saltar sozinha das “bases de ensaio” (designação científica para os vulgares pratos que o povo menos preparado utiliza) para os locais pessoais de experimentação e saboreamento (também designados por “goelas”).

Em segundo lugar procurámos reconhecer os segredos da constituição subcutânea de um belo borrego assado/estufado acompanhado com os preparados químicos batatais convenientemente dispostos de forma a auxiliar o fácil reconhecimento dos constituintes interiores do animal que tivemos de dissecar.
Esta primeira experiência constituiu um êxito científico que superou de tal forma as exigências das revistas científicas mundiais que estas se sentiram incapazes de publicar o relatório respectivo por clara falta de capacidade de entendimento dos seus leitores !!!

Ontem cumpriu-se então o segundo ensaio, desta feita em laboratório independente, e que serviu para esclarecer várias dúvidas que perduravam há vários meses sobre alguns detalhes constituintes de algumas peças de “caca” que se diziam mal encaradas.
Preparado que foi o balcão laboratorial foram-nos entregues as peças para estudo.

Primeiro um “coelhinho medievo” que se anunciava como bravo mas que não pareceu nada, antes pelo contrário, comportou-se com uma mansidão só alterada pelos procedimentos relativos à dissecação que se seguiu.
Pudemos separar da sua estrutura alguns chumbos que atribuímos a alterações químicas de diagnosticadas “pedras no rim” de que, provavelmente, o animal sofreu em vida.
Enfim, é uma explicação possível… atendendo a que estávamos perante uma “caca” !
Finalmente foram-nos entregues as supostas “perdizes trimoletes” (“caca” também !).
A comissão mantinha fundadas dúvidas sobre a origem, datação e percurso histórico destas tais perdizes e, de facto pudemos constatar alterações significativas entre a expectativa histórica e a realidade contemporânea.
Digamos que da expectativa restou apenas… o tacho !!! Não foi mau. Tudo o resto pois… foi outra música, ou por outra forma, foi outro tempero.
Áh … mas eram magníficas, com um enquadramento inesperado.
Correu bem porque os instrumentos de análise têm-se mantido ao longo das épocas, o que quer dizer que já na época “trimolete” se utilizavam os garfos e as facas !.

E assim passámos esta segunda experiência, melhorando significativamente a nossa aprendizagem “maçónico-gastronómica”, dedicados como estamos ao estudo dos hábitos de muitos séculos passados.

A Maçonaria não tem tempo.
Desde sempre… até sempre…
Não há pois pressa na conclusão destes estudos nem na elaboração do respectivo relatório final.
Deixemos estas tarefas em lume brando (ou em “banho-maria” como se usa em algumas regiões).

Nota: Para que se não pense que este texto foi descuidadamente preparado, aqui ficam três “ ,,, “ cedilhas que sobraram.
Devem faltar em algum lugar aí para cima.




JPSetúbal

Ele perguntar-te-á...

Circulam na Rede várias mensagens de conteúdo mais ou menos moral, exortando os leitores a serem melhores, a agirem melhor. A maior parte delas tem um certo tom meio kitsch, com música suave e imagens idílicas. É um estilo que parece ter pegado e que, devo dizer, não aprecio. Mas uma coisa é o estilo, outra é o conteúdo. Este, por vezes, é de molde a, pelo menos, nos fazer parar um pouco e pensar no que é, realmente, importante na vida.

O texto que vou reproduzir traduzido circula na Rede em francês. Designa a Divindade por Deus. Mas o seu ensinamento aproveita por igual a quem não seja cristão: basta substituir a designação de Deus por Javeh, Allah, Grande Arquitecto do Universo, Espírito Criador ou qualquer outra designação que seja confortável para quem lê!

1. Deus não te perguntará a marca do automóvel que conduziste.
Ele perguntar-te-á quantas pessoas transportaste nele.

2. Deus não te perguntará qual era o tamanho da tua casa.
Ele perguntar-te-á quantas pessoas recebeste nela.

3. Deus não te perguntará o que tinhas no teu roupeiro.
Ele perguntar-te-á quantas pessoas ajudaste a vestir.

4. Deus não te perguntará qual foi o teu salário mais elevado.
Ele perguntar-te-á o que deste em troca para o obter.

5. Deus não te perguntará se foste doutor, arquitecto ou engenheiro.
Ele perguntar-te-á se fizeste o teu trabalho o melhor que podias.

6. Deus não te perguntará quantos amigos tiveste.
Ele perguntar-te-á quantos te escolheram para seu amigo.

7. Deus não te perguntará onde tu viveste.
Ele perguntar-te-á como trataste os teus vizinhos.

8. Deus não te perguntará qual a cor da tua pele.
Ele perguntar-te-á pela qualidade dos teus valores.

9. Deus não te perguntará porque demoraste tanto para encontrar o teu Caminho.
Ele perguntar-te-á que fizeste para o encontrar.

10. Deus não te perguntará a quantas pessoas tu divulgaste estes valores.
Ele perguntar-te-á a quem deste o teu exemplo.

Rui Bandeira

17 maio 2007

Caixa de recibos maçónica

Chamam-lhe uma caixa de recibos. Na realidade é uma caixa metálica com as dimensões aproximadas de 6x4 cm e a espessura de cerca de 1 cm, no interior da qual se podem guardar recibos, cartões de visita ou todo o género daqueles pequenos papéis que normalmente deixamos num canto ou no fundo de uma gaveta, antevendo que um dia necessitaremos de os consultar. Claro que, quando efectivamente precisamos do bendito papel, na maior parte das vezes não damos com ele senão ao fim de meia hora de intensas buscas...

É para evitar isso que existe esta caixinha.

Deve ter pertencido a um maçon ou sido feita para um, atento o símbolo que ostenta.

Um pormenor: o metal de que é feita é... ouro!

Está em leilão no e-bay. A base de licitação é de 24 dólares americanos ( cerca de 17,68 Euros) e os custos de expedição para Portugal (o vendedor é de Boston, Estados Unidos) são de 7 dólares (cerca de 5,16 Euros) que, naturalmente, acrescem ao valor da licitação. O arrematante pode pagar através do sistema PayPal (pagamento por via electrónica, método preferido pelo vendedor), em dinheiro ou por transferência bancária. É indicado como prazo de entrega, após o pagamento, o de 4 a 6 dias úteis.

O leilão decorre até às 17,30 h (hora da Costa Oeste dos Estados Unidos, menos oito horas do que em Portugal Continental) do dia 19 de Maio de 2007, sábado (1,30 h da madrugada de 20 de Maio, domingo, em Portugal Continental).

No momento em que escrevo, ainda não existe qualquer lanço apresentado.

Informação obtida através do blogue Freemason's Corner.

Rui Bandeira

16 maio 2007

O Segundo Venerável Mestre

José M.M. foi o segundo Venerável Mestre, mas, na realidade, foi o primeiro a conduzir os destinos da Loja Mestre Affonso Domingues, entre 1990 e o Verão de 1992, primeiro por designação do Grão-Mestre Fernando Teixeira, em virtude da incapacidade do Venerável Mestre fundador e, depois, como seu primeiro Venerável Mestre eleito.

Conheci José M.M. quando ele me telhou. Com efeito, tendo eu sido iniciado e passado a Companheiro na Alemanha, na Loja Miguel Cervantes y Saavedra, ao Oriente de Bonn e tendo iniciado trabalhos uma Obediência Regular em Portugal, diligenciei a minha transferência maçónica para Portugal. Foi-me indicada como Loja mais adequada a Loja Mestre Affonso Domingues e assim me apresentei ao seu Venerável Mestre em exercício, que, para início de conversa, me telhou, isto é, assegurou-se da minha qualidade de Companheiro Maçon, fazendo-me demonstrar perante ele tal facto mediante os meios de reconhecimento do segundo grau da Maçonaria.

José M.M. era, e creio que continua a ser, um homem extremamente afável e, sobretudo, um grande condutor de homens, um excepcional líder de grupos. Penso que muito daquilo que a Loja Mestre Affonso Domingues ainda hoje é resulta da marca que ele lhe imprimiu no seu início.

No período do seu mandato, a Maçonaria Regular em Portugal estava a organizar-se e a implantar-se. Foi na Loja Mestre Affonso Domingues, sob a direcção de José M.M., que se fixaram os primeiros rituais do Rito Escocês Antigo e Aceite em uso na Obediência.

José M.M. já tinha experiência como Venerável Mestre. Orgulhava-se, aliás, de ter sido o mais jovem Venerável Mestre de uma Loja, ainda no GOL. Sob a sua direcção e beneficiando da sua experiência, a Loja Mestre Affonso Domingues dedicou-se à aprendizagem da correcta execução do ritual, em todas as cerimónias maçónicas, de tal forma tendo conseguido atingir esse objectivo que, por decreto do Grão-Mestre Fernando Teixeira, teve, durante algum tempo, o quase exclusivo de iniciar, passar a Companheiro e elevar a Mestre (para além dela, só o próprio Grão-Mestre e a Grande Loja o podiam fazer). Assim, virtualmente durante cerca de dois anos, quase todos os Maçons da Obediência foram iniciados por Oficiais da Loja Mestre Affonso Domingues.

Foram dois anos de arrasar, sempre e só em Iniciações, Passagens e Elevações! A Loja cimentou-se no trabalho ritual, as relações fraternais assentaram na mútua colaboração, na atenção aos lapsos e sua correcção, no esforço de fazer bem e cada vez melhor.

Este legado, esta marca, diria que quase genética, da Loja Mestre Affonso Domingues ainda hoje permanece. A Loja dispõe de vários membros que, sem sequer necessitarem de preparação prévia, estão aptos a dirigir ou executar funções em qualquer cerimónia do Rito Escocês Antigo e Aceite, em qualquer ofício ritual. E continua a estimular os seus membros mais recentes para que aprendam e executem todos os ofícios em Loja, aprendendo a razão de ser de cada frase, de cada movimento, a surpreender o seu significado, a executar sempre bem e procurando fazê-lo melhor. Hoje muitas outras Lojas felizmente também o fazem, tão bem ou melhor que nós, e isso só nos alegra e estimula a procurarmos sempre progredir!

Para além desse legado da atenção ao bom exercício do trabalho ritual, José M.M: deixou um outro importante legado à Loja: a noção de que a função de Venerável Mestre é susceptível de ser exercida por qualquer Mestre maçon e que é a Loja que faz o Venerável Mestre, tanto quanto este faz aquela. Desenvolverei o assunto no texto dedicado ao Venerável Mestre que lhe sucedeu.

José M.M., elemento muito ligado, até afectivamente, a Fernando Teixeira, acompanhou-o na cisão de 1996. Foi essa a primeira vez que a Loja não o seguiu. A partir daí, os nossos caminhos passaram a ser diversos.

Mas isso não impede que se reconheça que muito deve a Loja Mestre Affonso Domingues ao seu segundo Venerável Mestre, primeiro no efectivo exercício de funções, José M.M.. Porque os caminhos podem divergir, mas a Memória permanece.

Rui Bandeira

15 maio 2007

Diálogo (VI)

- Ontem foi a votação sobre se serias admitido à Iniciação ou não...


- Já não era sem tempo! Há meses que apresentei a candidatura... Vocês não encaram a hipótese de fazer um curso de produtividade? São piores que os Tribunais...
- Produtividade é analisar bem as situações, ser prudente e reunir todos os elementos para chegar à melhor solução possível. Produtividade é diminuir os erros.

- Mas porque é que demoram taaaannnto tempo?

- Nem sequer demorámos muito tempo. Para tua informação, só dois meses ficou a tua candidatura exposta no quadro de informações...

- Para quê?

- É o tempo mínimo que uma proposta de candidatura tem de ficar exposta para poder ser vista por todos e poder qualquer maçon, mesmo se de Loja diferente da que a vai votar, colocar objecções.

- E se alguém colocar objecções?

- O Venerável Mestre da Loja onde decorre o processo analisa-as e decide se continua com o processo normalmente, se diligencia a recolha de mais informações (por exemplo, ouvir o visado sobre a objecção exposta) ou se pára o processo.

- Com tantas precauções é milagre uma candidatura ser aceite...

- Não. É simplesmente responsabilidade...

- Mas afinal qual foi o resultado da MINHA votação????

- Foste aprovado para Iniciação com uma votação pura e sem mácula!

- Votação pura e sem mácula?

- Por unanimidade! As votações por voto secreto são realizadas pelo método bola branca - bola preta. Quem concorda, coloca uma bola branca na urna; quem discorda, coloca uma bola preta: Uma votação pura e sem mácula é aquela em que, verificada a urna, só se vêem bolas brancas, que não é maculada por nenhuma bola preta...

- YYYYEEESSSS! Arrasei! Maioria super-hiper-mega absoluta...

- Calma com o entusiasmo. Passaste à justa!

- À justa? Se foi por unanimidade!

-
Pois, isso mesmo. É que uma candidatura só é aprovada se não tiver votos contra, isto é, se for aprovada por unanimidade. Percebes agora porque é que eu disse antes que era vantajoso para o candidato designar-se para o inquirir quem tivesse na votação inicial manifestado objecções... É a melhor forma de verificar se as objecções são ultrapassadas, de forma a que não seja colocada uma bola preta na hora da verdade...

- Mas... Unanimidade? Assim qualquer maçon pode bloquear uma admissão.

- Quase... Há válvulas de escape para prevenir injustiças. Por exemplo, na Loja Mestre Affonso Domingues, se houver três ou mais bolas pretas, a candidatura é rejeitada. Mas se houver, apenas uma ou duas bolas pretas, a decisão final fica adiada para a sessão seguinte.

- Porquê?

- Porque, nessa eventualidade - e só nessa!-, quem colocou a bola preta tem a obrigação de, em privado, explicar ao Venerável Mestre as razões da sua oposição solitária. O Venerável Mestre tem o poder de, em face da explicação recebida, confirmar a bola preta (o que implica a rejeição da candidatura) ou anulá-la, se entender que essas razões são fúteis ou infundamentadas. Se anular o ou os dois votos contrários, então só contam as bolas brancas e a candidatura é aprovada.

- Então e se quem votar contra não for justificar a sua razão?

- É impensável que um maçon não assuma a responsabilidade de justificar um seu voto ao Venerável Mestre. Portanto, se porventura ocorrer uma votação em que haja uma bola preta que não seja justificada, o Venerável Mestre só pode tirar uma conclusão: a bola preta foi colocada por lapso, inadvertidamente, e portanto anula-a.

- E três votos contra? Também precisam de ser justificados?

- Aí já não. Já há três cabeças a declarar oposição, já não há necessidade de mais qualquer explicação. A candidatura fica rejeitada.

- Mas a minha foi aceite! E agora?

- Agora esperas que eu te diga quando serás iniciado. A paciência é, decididamente, uma virtude indispensável aos maçons...

Rui Bandeira

14 maio 2007

Gomes Freire de Andrade

No texto Fundação da Loja e Primeiro Venerável Mestre, menciono os nomes das cinco Lojas com a numeração de 1 a 5 da GLLP/GLRP. Dessas, uma foi dedicada a um maçon patriota e mártir: Gomes Freire de Andrade.

Gomes Freire de Andrade nasceu em Viena de Áustria em 27 de Janeiro de 1757 e passou ao Oriente Eterno executado no Forte de S. Julião da Barra, em 18 de Outubro de 1817.

Era filho de Ambrósio Freire de Andrade, embaixador de Portugal, e de uma senhora, condessa de Schafgoche, vinda de antiga e ilustre família da Boémia.

Teve a educação que na época se costumava dar aos filhos da nobreza. Destinado à carreira militar, assentou praça de cadete no regimento de Peniche, sendo em 1772 promovido a alferes. Passou à Armada Real, embarcando em 1784 na esquadra que foi auxiliar as forças navais espanholas no bombardeamento de Argel.

Regressou a Lisboa em Setembro, promovido a tenente do mar da Armada Real, e em Abril de 1788 voltou ao antigo regimento no posto de sargento-mor. Tendo alcançado licença para servir no exército de Catarina II, em guerra contra a Turquia, partiu para a Rússia. Em São Petersburgo conquistou as maiores simpatias na corte e da própria imperatriz. Na campanha de 1788-1789, comandada pelo príncipe Potemkin, distinguiu-se nas planícies do Danúbio, na Crimeia e sobretudo no cerco de Oczakow, sendo o primeiro a entrar na frente do regimento quando a praça se rendeu em 17 de Outubro de 1788, depois de cerco prolongado. Praticou muitos actos de bravura, sendo aos 26 anos recompensado com o posto de Coronel do exército da imperatriz, que em 1790 lhe foi confirmado no exército português, mesmo ausente.

Em 1816 foi eleito Grão-Mestre da Maçonaria portuguesa e tornou-se a «alma» de uma conspiração liberal contra o Marechal Beresford, oficial que administrava Portugal sob mão de ferro, como se tratasse uma colónia inglesa, despertando grande descontentamento junto dos oficiais e intelectuais portugueses. A 25 de Maio de 1817, em estado avançado dos preparativos da insurreição contra Beresford, Gomes Freire foi preso conjuntamente com outros 11 conspiradores, por denúncia de três maçons (três traidores, como na Lenda do 3.º grau...), José Andrade Corvo de Camões, Morais de Sarmento e João de Sequeira Ferreira Soares.

Gomes Freire de Andrade foi enforcado por ordem do Marechal Beresford no cadafalso na Torre de S. Julião da Barra e os demais no Campo de Santana, hoje denominado, em sua memória, Campo dos Mártires da Pátria.

Narra Borges Grainha que um dia antes da execução um coronel inglês, Robert Haddock, visitou o Grão-Mestre na cadeia e ofereceu-lhe como irmão a oportunidade para a fuga. Gomes Freire recusou a oportunidade!

Em 1853 foi erguido um monumento no sítio onde morreu sendo desde então homenageado como um dos heróis da luta pela instituição da monarquia constitucional em Portugal e um dos mártires mais eminentes da Maçonaria portuguesa.

A execução de Gomes Freire de Andrade é tema de uma das obras relevantes do teatro português do século XX, Felizmente há luar, de Luís de Sttau Monteiro.

Tem o seu nome uma Ordem Honorífica da Maçonaria Regular Portuguesa, a Ordem General Gomes Freire de Andrade, destinada a honrar os que prestam relevantes serviços à Maçonaria Regular.

Rui Bandeira