07 novembro 2006

Obreiros


A Grande Loja é o reflexo de que as Lojas são e tem o que as Lojas lhe dão. E as Lojas são o que os seus Obreiros forem e têm o que os seus Obreiros lhes derem, em fraternidade, em solidariedade, em trabalho, em valorização cultural, em vontade de servir e na sua permanente luta pela superação.

Os obreiros são diariamente desafiados por si próprios a serem e agirem na qualidade de maçons: de homens honrados com uma iniciação, que lhes conferiu responsabilidades novas que os impele a lutarem contra os pobres e redutores hábitos profanos, os quais, instintivamente os conduziriam sempre, rotineira e mecanicamente, por uma senda de cinzentos e responsáveis comodismos.

Os maçons sentem, com plena naturalidade, que só poderão prosseguir, ou seja, valorizar-se espiritualmente, se aprenderem a cultivar as expressões mais nobres do respeito pelos outros e por si próprios.

E, com a mesma naturalidade, aceitarão os aumentos de salário que são atestados que comprovam aumento de conhecimento e de capacidade para assumirem maiores responsabilidades, sem caírem no logro profano de se envaidecerem com avanços que são, unicamente, simbólicos, na convicção de que todos, exactamente todos, estão conscientes da sua ignorância..

Por isso, é com constrangimento e tristeza que assistem à exibição de decorações ou ao enunciado de cargos, e de graus, que patenteiam mediocridades que ferem os ideais maçónicos.

Os Obreiros sabem bem que, independentemente das circunstâncias históricas, culturais e sociais de cada tempo, a Maçonaria deve ser discreta; passou o muito longo período em que fomos forçados a ser secretos mas, de acordo com o atrás dito, importa-nos, sempre, muito, o ser e nada o parecer.

Por estes, e por muitos outros motivos conhecidos dos maçons, a criteriosa selecção dos candidatos a Obreiros da Ordem deverá sempre ter em consideração que pretendemos que os iniciados sejam homens de bem, independentemente do estrato a que pertençam no mundo profano. Ainda devo acrescentar, para maior clarificação que, se não devemos impedir a entrada no Templo de um operário também, não devemos impedir a entrada de um ministro. O critério é outro e bem outro.

A formação dos Obreiros, à qual se podem em diversos casos apontar lacunas, é como sabemos, da responsabilidade de toda a Loja, em especial do Venerável Mestre, do 1º e do 2º Vigilantes.

Tarefa bem difícil, de todas a que melhor traduz a luta pela transformação da pedra bruta em pedra polida, encerra um imenso desafio: os maçons são filhos e foram moldados pela sociedade que eles querem transformar através da sua própria transformação.

Será, a este respeito muito em breve editado pela GLLP/GLRP um livro elaborado pela R...L... Pisani Burnay onde a nossa Ordem Maçónica Regular e os seus objectivos são levados ao conhecimento dos iniciados.

Para que a valorização se torne possível, é necessário que o maçon seja persistente, seja paciente, saiba suportar a incompreensão e a intolerância dos outros. E seja capaz, o que se reveste também de grandes dificuldades, de encarar, com isenção, o significado que deve atribuir à tolerância.

Se, como disse, devemos suportar, e em muitos casos compreender, a intolerância alheia, sempre oriunda da ignorância e da insegurança, não podemos usar da mesma bitola quando olhamos para nós e para os nossos Irmãos. O grau de exigência deve ser muito maior; não ignoremos que a quase totalidade dos problemas com que nos defrontamos são criados por nós próprios. Porque somos discretos, nos associamos e interagimos local, nacional e internacionalmente, muitos nos olham como um descuidado veículo para quem tem ambições pessoais sejam de carácter profissional ou envolvam necessidades de afirmação e de nós se quer servir.

E, quando surgirem dúvidas relativamente às proporções da nossa tolerância para com os que nos antagonizem, lembremo-nos que só uma atitude devemos tomar, consentânea com a cultura que nos especifica: não insultar quem nos insulta, não guerrear com quem guerreou, muito menos no Templo, mostrando que somos capazes de travar o diálogo e que partimos para este sempre mostrando que queremos ouvir os outros e, o que muito reforça moralmente a nossa posição, que estamos disponíveis para melhorarmos os nossos conhecimentos pela aceitação dos argumentos alheios se estes se mostrarem mais sólidos.

Porque a beleza da nossa cultura nasce do facto de estarmos mais interessados em aprender do que em ensinar, com a coragem intelectual de quem quer ter opinião fundada numa opinião livre e consciente.

(Excerto do artigo "A actualidade da Maçonaria", da autoria do Mui Respeitável Grão Mestre da Grande Loja Legal de Portugal /GLRP, Alberto Trovão do Rosário, originalmente publicado em "O Aprendiz", Revista da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP - Nova Série, Ano 6, n.º 25; este é o quinto de nove excertos que serão aqui publicados; o anterior foi publicado em 6/11/2006, sob o título "Maçonaria e Maçonarias"; o próximo terá o título "As Respeitáveis Lojas").

Rui Bandeira

06 novembro 2006

Maçonaria e Maçonarias


Quer no mundo profano quer por vezes no próprio seio da Maçonaria surgem algumas perplexidades, criadas pela auto anunciada existência de grupos que se consideram maçons e que vão, num ou noutro ponto, dando origem a confusões de diversa índole.

Há que, a este propósito reflectir um pouco, no respeito pela nossa cultura, pelos nossos princípios e por quanto representamos.

De dois pontos devemos partir: por um lado, não nos considerarmos detentores da verdade única e sermos tolerantes, por outro, devemos ser rigorosos e exigentes.

Por outras palavras: devemos respeitar todos os que de boa fé, respeitam os mesmo princípios que nós e não devemos nem podemos respeitar os que, sem pudor, se aproveitam do nome da Maçonaria, erguido laboriosa e persistentemente por muitos ao longo de séculos, colocando-o ao serviço de ridículas vaidades pessoais ou de desígnios menos claros.

Em linhas gerais, há em Portugal, duas grandes Ordens Iniciáticas Maçónicas: o Grande Oriente Lusitano e a Grande Loja Legal de Portugal/GLRP.

Como é sabido, ainda que por vezes, tal seja escamoteado, o mundo maçónico, em 1877, afastou da sua convivência o Grande Oriente de França por este pretender seguir por uma via que, por ser ateia, antagonizava os próprios Landmarks da Maçonaria. O facto da principal corrente maçónica portuguesa de então ter secundado a atitude do GOF fez com que tanto um como outro fossem a partir de então – até hoje – considerados irregulares.

Só no decurso da década de oitenta, na esteira da abertura introduzida em 1974 pelo movimento de 25 de Abril, se intensificaram os esforços que levariam ao restabelecimento da Maçonaria Regular em Portugal, que culminariam com a consagração da Grande Loja Regular de Portugal em 1991.

Hoje, a Maçonaria Regular Internacional, que se estima representar bem mais de noventa por cento de toda a Maçonaria Internacional, reconhece a GLLP/GLRP como lídima, e única representante da Regularidade em Portugal.

Como em muitos outros períodos, os interesses individuais, e até, naturais diferenças de opinião e de postura, deram origem a algumas secessões; destas a que deixou cicatrizes mais fundas foi a da chamada “Casa do Sino” tendo permanecido na facção então criada diversos Obreiros iniciados entre nós, vários dos quais já regressaram ao nosso convívio.

Uma ou outra vez ouvimos algumas vozes clamar pela unidade de todos os maçons portugueses. Ainda que por detrás da proposta haja muitas intenções sãs, devemos atentar em que:

  • A fusão entre as duas grandes potências maçónicas portuguesas – e só no caso destas tal se poderia conjecturar – seria sempre um acto contra natural. Se uma das Ordens mostrasse – ou mostre – interesse na fusão, reconheceria que abdicava das suas convicções, abjurava os juramentos feitos e, implicitamente, admitia aderir aos princípios pela outra Ordem respeitados; também de forma bem implícita aceitava que se encontrava numa fase de declínio ou de confusão institucional e que desistia das formas de luta que vinha adoptando.

  • Porém, e repetindo o já muitas vezes dito, a nossa coerência e a nossa tolerância, determinam que abramos as portas do nosso Templo aos que estão convictos de que merecem o título nobre de maçons desde que, naturalmente, se apresentem um a um – nunca em grupo – se encontrem nas condições impostas pelos Regulamentos da GLLP/GLRP e sejam aceites no seio de uma R:.L:. Foi esta situação já vivida diversas vezes, devendo acentuar-se que nunca houve qualquer tipo de aliciamento ou convite nascido na nossa Ordem. Tal seria abusivo, condenável e assumiria até formas próximas do não entendimento do que são valores maçónicos.

  • Por maior força de razão, esta atitude vem sendo adoptada, e continuará a sê-lo, para com os elementos dos outros grupos que se auto intitulam maçons.

  • A nossa Ordem não pode agir de outro modo, já que tal se traduziria no não cumprimento dos nossos deveres e , eventualmente, no risco de vermos negado o reconhecimento internacional, a que vimos fazendo jus.

  • As muitas sugestões que chegam às nossas RR:. LL:. para a realização de encontros e reuniões com membros de instituições que actuam em áreas próximas da nossa, mas não são reconhecidas, deve ser encarada, como claramente os Regulamentos o determinam, com toda a prudência e, obviamente, nunca poderão assumir qualquer expressão ritual.

A imprudência suscitada pela nossa tolerância unicamente poderia trazer benefícios aos autores das sugestões, sejam ou não estas formuladas desinteresseiramente.

Numa perspectiva adjacente, devemos recordar que as Ordens Iniciáticas que se reclamam da Regularidade respeitam todas elas, inclusivamente para merecerem, o reconhecimento internacional das suas pares, as mesmas Regras que são consideradas desde há muito imutáveis.

Determinam, entre outras disposições, que “A Maçonaria é uma Ordem, à qual só podem pertencer homens livres e de bons costumes...” e, mais adiante que “Os Maçons só devem admitir nas suas Lojas homens de honra...”.

Não é assim consentida a presença feminina nos Templos nem nos Trabalhos Rituais.

Todavia não deve tal ser entendido como sinal de menor respeito pelas mulheres nem pelas instituições em que se agrupam e que tenham relação cultural com os nossos valores e objectivos, como sucede no tocante à Grande Loja Feminina.

Todas estas questões, como muitas outras relacionadas com a legitima integração dos maçons numa vastíssima família, transportam-nos, naturalmente para um outro plano: o da Maçonaria Internacional, para as suas regras e exigências.

E aqui, bem ao contrário do que por vezes se anuncia, o quadro é mais claro do que poderíamos conjecturar: toda a Maçonaria visa os mesmos objectivos, toda obedece aos mesmo princípios, toda se rege pelas mesmas normas. Não há por parte das potências maçónicas internacionais nem vontade nem legitimidade para intervirem na vida interna das suas Irmãs. Unicamente, e a sabedoria maçónica o determinou, há a possibilidade de aceitarem que se sentem à mesma mesa os que respeitam os mesmos princípios e as formas de os observarem, assim como de rejeitarem, a presença dos restantes.

A aceitação é tanto maior quanto mais se reveste de dignidade; as rasteiras subserviências não são obviamente toleradas neste cenáculo de homens livres que representam outros homens livres.

Algumas interrogações levantadas em Ordens estrangeiras, levadas a hesitações quanto ao reconhecimento da GLLP/GLRP, suscitadas pela secessão de 1996, foram respondidas com o uso da única forma que a Maçonaria reconhece nestes casos: com a verdade, a persistência e a discrição.

Os laços que têm sido estabelecidos ou reforçados com as Ordens estrangeiras que podemos e devemos reconhecer são hoje sólidos e traduzem-se em acções nas quais participam não só os seus mais altos representantes como em acções que conduzem a geminações entre RR:.LL:. de países diferentes, desde que, naturalmente, suscitem a concordância dos respectivos Grão-Mestres. Não esqueçamos também a importância de que se reveste a visita que individualmente muitos maçons fazem a RR:.LL:. estrangeiras, para o que devem ser portadores do necessário passaporte maçónico.

Para o reforço destes laços, têm contribuído, e mais contribuirão, com o seu trabalho os Irmãos que são Garantes de Amizade, ou Grandes Representantes junto de ordens estrangeiras irmãs.

(Excerto do artigo "A actualidade da Maçonaria", da autoria do Mui Respeitável Grão Mestre da Grande Loja Legal de Portugal /GLRP, Alberto Trovão do Rosário, originalmente publicado em "O Aprendiz", Revista da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP - Nova Série, Ano 6, n.º 25; este é o quarto de nove excertos que serão aqui publicados; o anterior foi publicado em 2/11/2006, sob o título "A Maçonaria hoje"; o próximo terá o título "Obreiros").

Rui Bandeira

03 novembro 2006

O MUSEU DO SILVA




Alguma vez ouviram falar no “Val Pequeno” ?
Pois é um lugar no concelho da Amadora, freguesia de S. Brás, à beira da estrada de ligação Pontinha-Caneças que separa os concelhos de Odivelas para um lado e Amadora para outro.
Val Pequeno calhou do lado da Amadora !
Ora bem... Val Pequeno vem à conversa porque quem segue estrada fora, se mantiver alguma atenção aos letreiros (mais que muitos), verá uma placa surpreendente, indicando o “Museu do Silva” !
Assim tal qual, “Museu do Silva”.

Fui até lá com a dúvida existencial que me acompanha desde que o AJJ se referiu ao Sr. Silva, na expectativa de que, finalmente havia descoberto o Silva...
Não foi assim, não acredito que seja este o tal Silva do AJJ.

O Museu do Silva é um espectacular repositório de recordações de um Casal que tendo nascido em Jales, Trás-os-Montes, trouxe para a grande cidade as recordações de infância e do tempo de trabalho no campo e nas minas, que sendo as suas recordações são simultâneamente parte da história do povo português, profundo como alguém costuma dizer de tudo o que não se refira a Lisboa ou Porto.

Albano Teixeira da Silva tem investido todo o tempo que lhe resta para além do emprego diário para alimentar a arte extraordinária de miniaturista, que “nocturnamente” desenvolve na sua mini-oficina ao canto do museu (50 m2 de arte das miniaturas), construindo as peças, os ambientes, os edifícios que marcaram a sua memória da vida em Jales.
Os moínhos, as máquinas de tratamento do centeio, do algodão, as minas de ouro, a escola onde aprenderam a ler, os animais que ajudaram ao trabalho na terra, fontanários, a igreja, a casa da tia,... os pormenores da vida da aldeia, a que existiu e a que ainda resiste.


Aconselho vivamente a visita.
Vão ver que vale a pena ser recebido pelo artista, Sr. Silva, ou pela esposa, companheira das recordações e da conservação deste museu da vida.
A visita ao museu, que é gratuita, é a única paga que o casal recebe pela disponibilização deste espaço de cultura a quem se lhes apresenta à porta.
Porque de resto tudo corre por conta dos próprios, sem subsídios, sem rendas, sem bilhetes de entrada.

Rua do Casal de Branco, 39
Casal da Mira - S. Brás
Tel. 214 939 330

Sábado e Domingo está aberto todo o dia.
Durante a semana convém marcar.

JPSetúbal

QUEREMOS MAIS SANGUE!!!

Não, não é nenhum apelo à violência, pelo contrário!


Como se pode ver pela simpática imagem aqui ao lado, a ideia é efectuar mais uma acção de doação de sangue.

Como de costume, não se esqueçam que não custa nada, não paga imposto nem taxa moderadora e contribui para salvar vidas!

Façam o favor de reservar JÁ na vossa agenda a manhã de sábado, dia 11 de Novembro. Entre as 9 e as 12,30 horas, lá vos esperamos, como habitualmente nas instalações do Instituto Português de Sangue, no Parque da Saúde, Av. do Brasil, Lisboa.

Quem já deu, já sabe que por mero e automático efeito da sua doação de sangue, fica incluído no Grupo de Dadores de Sangue Mestre Affonso Domingues (basta ter o cuidado de mencionar pretender essa inclusão no preenchimento da sua ficha) e, assim, imediatamente beneficiário, para si e sua família dos depósitos de sangue que todos os membros do grupo vêm fazendo.

Quem ainda não deu, fica a saber e vai dar!

Quem já deu uma vez e der pela segunda vez em menos de um ano, vai receber em casa um elegante cartão de dador de sangue, emitido pelo IPS, com o respectivo grupo sanguíneo inscrito. Para além disso, fica oficialmente autorizado a usar no peito um emblema com a frase "Eu não pago taxas moderadoras!" ou, se preferir a nova versão, disponível a partir de 2007, pode optar pela frase "Ó Campos, eu não pago taxas por operações nem internamentos!". Como vêem, cá connosco é só mimos!

Em tom (um pouco) mais sério, convém lembrar que esta acção NÃO É RESTRITA a membros da Loja Mestre Affonso Domingues, nem sequer a maçons. TODOS são bem-vindos! O que importa é recolher dádivas de sangue, que muita falta faz! Assim, os caros visitantes do blogue que quiserem aparecer e contribuir estendendo os respectivos bracinhos à simpática agulhinha dos não menos simpáticos enfermeiros e enfermeiras do IPS, não se acanhem e apareçam! Como bónus, ainda têm oportunidade de conhecer uns quantos indivíduos, tidos por misteriosos, que costumam chamar-se reciprocamente por "Irmãos" - só não vão ver é os famosos aventais, que nós, nestas coisas, costumamos andar à civil...

Todas as pessoas saudáveis e sem comportamentos de risco, entre os 18 e os 60 anos, podem dar sangue, SEM QUALQUER PREJUÍZO PARA A SAÚDE. Aliás, previamente à doação, cada pessoa beneficia de uma consulta médica e faz uma análise rápida ao nível de hemoglobina e, à mínima dúvida de que a doação possa causar qualquer problema ou risco, é o próprio médico do IPS que declara não dever ocorrer a doação.

Assim, no sábado 11 de Novembro esperamos o vosso SANGUE!!!

ATENÇÃO: ao contrário do que muitos pensam, NÃO É NECESSÁRIO, NEM SEQUER ACONSELHÁVEL, ir em jejum. Deve-se apenas ter o cuidado de não consumir gorduras nem álcool nas horas anteriores à doação. Portanto, já sabem: tomem o leitinho e comam um pãozinho (sem manteiga...) ao pequeno almoço, para evitar quebras de tensão...

UMA ÚLTIMA NOTA: a fim de evitar grandes esperas, seria conveniente que se tivesse antecipadamente (até dia 8) uma noção do número de dadores que vão comparecer, para, em caso de necessidade, o IPS reforçar a sua equipa. Para o efeito, os membros da Loja devem avisar o Venerável Mestre de quantas pessoas do seu círculo familiar e social vão comparecer. Os caros visitantes deste blogue que nos quiserem dar o gosto da sua presença e solidariedade, podem fazer o favor de avisar para o endereço de correio electrónico bandeira.rui@gmail.com.

Para acabar em beleza: é importante que venham e que avisem! Este ano esmerámo-nos a negociar com o IPS e, se conseguirmos garantir, até ao dia 8, um mínimo de 100 doações naquela manhã, temos direito a TRATAMENTO VIP . Qual é ele? Não digo, mas só para terem uma ideia, quando o tratamento é VIP, o reforço de enfermeiras é particularmente cuidado. Ora vejam lá:
























E, para não haver injustas acusações de machismo, meninas e senhoras dadoras, o tratamento VIP, se a ele tivermos direito, também abrange especial cuidado no reforço de enfermeiros, como também podem ver...

Rui Bandeira

02 novembro 2006

A Maçonaria Hoje


Depois de ouvirmos e de lermos muitas opiniões sobre a Maçonaria, grande parte das quais elaboradas sobre preconceitos, em especial num País como o nosso onde durante décadas não foram consentidas instituições onde pudessem germinar ideias avessas ao poder dominante, formámos também as nossas opiniões. Estas eram, naturalmente as resultantes das informações tendenciosas transmitidas pelos meios que nos estavam mais próximos e eram, novamente, de esperança ou de suspeição, Se alguns imaginavam que a Maçonaria era uma escola de cidadãos perfeitos, outros garantiam que, quem nela entrasse tinha garantida a entrada no inferno com as mais vivas brasas.

Se os segundos se mantiveram, para tranquilidade dos seus votos, afastados da Ordem, alguns dos outros ousaram franquear as portas do Templo.

Aqui chegados, mantiveram as posturas que na vida profana vinham já adaptando: os que procuravam o aperfeiçoamento, estudaram, valorizaram-se, tornaram-se mais exigentes consigo próprios e tolerantes com os outros; perceberam que os textos rituais são inesgotáveis fontes de ensinamentos ainda que não entendessem facilmente todas as lições neles contidas. Os que, na vida profana se acomodavam e usavam a crítica como escudo, prosseguiram, apesar dos exemplos dos seus Irmãos, na mesma senda; e, porque lhes escasseia a capacidade para polirem a própria pedra olham com azedume a forma como os seus irmãos cuidam das suas. Nada dão de si próprios já que colocam à frente de quaisquer conceitos a defesa dos seus próprios interesses. E, o que não pode deixar de ser motivo de reflexão, estes que entraram, sem respeito, no Templo, viram as portas franqueadas pelos que já se encontravam no seu interior; buscavam favores profanos e, o que nos entristecia, em muitos casos, o reconhecimento obtido com a mais rica decoração de um avental que compensava uma vida profana apagada e triste.

Uns e outros, como que esquecidos de que são todos filhos da mesma sociedade levados por um imaginário que a História ajudou a construir e que não podemos desprezar, vieram para o nosso convívio, na expectativa de, num mundo diferente, encontrarem modelos culturais e sociais diferentes.

E novamente aqui a dicotomia se manifestou: os que sabem, e sentem, o que é a Maçonaria, encontraram muitas das respostas que procuravam; para tal estudaram, para tal trabalharam, para tal confiaram nos seus Irmãos, a tal se deram na percepção plena de que, efectivamente a Maçonaria é muito mais do que parece e de que, tudo o que nos pode oferecer é o resultado do trabalho de muitos que já não estão connosco e do trabalho solidário, fraterno e consciente de cada um de nós.

Naturalmente, e poderei dizer felizmente, para os que entram com a intenção de muito receberem sem quase nada darem, a Maçonaria não é a instituição que gostariam de encontrar. Uma instituição que, pela sua forma discreta de viver pelas relações nacionais e internacionais que possui, poderia constituir um veículo útil. De entre estes muitos afastam-se, enquanto outros permanecem, apaticamente, lendo mecanicamente rituais sem os entenderem, participando de iniciativas sem entusiasmo, no desejo de que algum Irmão os possa apoiar na vida profana ou de que as aparências o satisfaçam com aventais, colares, medalhas, diplomas, etc. etc. Ficarão sempre na convicção de que a Maçonaria é pouco, sem perceberem que eles são muito pouco.

Porque, quando falamos em aperfeiçoamento espiritual, e fazemo-lo sem reticências, sabemos que a pedra não é polida por outros: é polida, laboriosamente por cada um de nós, com a fraterna ajuda dos outros.

Na certeza de que cada Maçon está a trabalhar num momento em que a humanidade, cercada por angústias e incertezas, espera que ele cumpra a sua missão. Porque hoje, e verificamo-lo todos os dias, o homem deixou de confiar em muitos dos apoios a que se agarrou durante séculos e, numa deriva de confusões, em que se vê obrigado a correr no meio de uma turba sem saber para onde nem porquê, tenta evitar situações de desregulação psicossocial onde a esperança nele e nos outros já não existirá.

As agências de controlo social, a quem vinha entregando a responsabilidade de definir o que se deve fazer e o que não se deve fazer, no que devemos acreditar e no que não devemos acreditar, e às quais não eram feitas perguntas que não contivessem já as respostas acopladas, foram perdendo a função de bússola, impotentes que se foram mostrando face às novas avalanches de dúvidas e de contestações.

A Família já não representa o que representava, o Estado já não tem o poder que tinha, não se sabendo onde começa e onde acaba, desempenhando um papel crescentemente difuso, a Escola não logra emparelhar-se com a sociedade, a Religião, ainda que cada dia mais plurifacetada não é já respeitada nem temida como já foi, a Justiça perdeu credibilidade...

Mas o Homem, com as suas fragilidades carece, como sempre careceu, de se segurar em esperanças, pelo que é tentado a deitar a mão ao primeiro bote que passar desde que pareça sólido. Cedo se está a dar conta de que estes botes nenhuma confiança merecem e de que, afinal, é bem mais seguro procurar a segurança dos princípios, com outros homens, em lugares onde seja ouvido e respeitado.

E a Maçonaria oferece, de forma que continua a ser ímpar, a possibilidade de progredirmos espiritualmente sem perdemos o direito de pensarmos livremente. É um caminho bem difícil mas é, para nós, o que nos permite sermos melhores sem que seja menosprezada a nossa responsabilidade.

(Excerto do artigo "A actualidade da Maçonaria", da autoria do Mui Respeitável Grão Mestre da Grande Loja Legal de Portugal /GLRP, Alberto Trovão do Rosário, originalmente publicado em "O Aprendiz", Revista da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP - Nova Série, Ano 6, n.º 25; este é o terceiro de nove excertos que serão aqui publicados; o anterior foi publicado em 31/10/2006, sob o título "Tópicos históricos"; o próximo terá o título "Maçonaria e Maçonarias").

Rui Bandeira

31 outubro 2006

Tópicos Históricos


Após terem sido apontados os seus objectivos, após terem sido laboriosa e persistentemente apurados os conceitos e os padrões que deveriam ser respeitados e após terem sido coligidos, burilados e aperfeiçoados os textos rituais que serviriam de referência e apoio, a Maçonaria foi estruturando, com a prudência que as evoluções da História sugeriam, formas de organização próprias.

Como se esperaria, os diversos poderes olharam-na com preocupação e desde há muito optaram por uma de duas atitudes: a hostilidade, que foi traduzida em perseguições, prisões, suplícios e até penas de morte, e a complacência desconfiada que levou, em especial no norte da Europa, a que várias cabeças coroadas se tivessem intitulado protectoras da Maçonaria e tenham, directamente ou através de familiares, desempenhado as funções de Grão-Mestres, de modo a melhor acompanharem e controlarem uma instituição que olhavam mais com desconfiança do que com apreço.

Se os poderes políticos bolinavam entre estas duas margens, os poderes religiosos ficavam sempre amarrados à margem donde a Maçonaria era vista com absoluta intolerância e inquietação.

A atitude dos poderes religiosos era de um necessário distanciamento, aliás a única que se poderia aguardar, e que se deveu a um alargado conjunto de circunstâncias: a Maçonaria falava em aperfeiçoamento espiritual, tema e prática que eram exclusivos dos que definiam o caminho a seguir pelas religiões; a Maçonaria apregoava livres formas de pensar, o que muito contrariava quem respeitava monólitos de certezas; a Maçonaria usava como usa, muitos conhecimentos, criteriosamente seleccionados e simbolicamente entrosados, contidos em livros sagrados, o que, para além de ser visto como um abuso sacrílego, poderia induzir interpretações e versões afastadas dos cânones; a Maçonaria, ainda que tal não estivesse de acordo com os seus princípios, poderia ser, e não poucas vezes o foi, ponte entre as forças dominantes da sociedade, competência que as instituições religiosas, também ao arrepio dos seus objectivos, muitas vezes utilizaram; a maçonaria cultivava formas de secretismo, para melhor se proteger, proteger os seus membros e as suas práticas, o que muito incomodava as forças da intolerância que assim tinham maior dificuldade em situar os seus elementos e calar as suas actividades, em particular quando estas se relacionavam com a luta contra injustiças sociais que eram ignoradas, quando não estimuladas, pelas estruturas que usavam as religiões como máscara, a exemplo do que sucede hoje ainda em muitas paragens.

Do trajecto feito, das lutas travadas e dos resultados obtidos outros textos poderão falar com mais a propósito.

São no geral bem conhecidos e sobre eles se debruçaram estudiosos de diversas áreas do conhecimento como historiadores, sociólogos, políticos, filósofos e religiosos.

(Excerto do artigo "A actualidade da Maçonaria", da autoria do Mui Respeitável Grão Mestre da Grande Loja Legal de Portugal /GLRP, Alberto Trovão do Rosário, originalmente publicado em "O Aprendiz", Revista da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP - Nova Série, Ano 6, n.º 25; este é o segundo de nove excertos que serão aqui publicados; o anterior foi publicado em 30/10/2006, sob o título "A Maçonaria da Esperança"; o próximo terá o título "A Maçonaria hoje").

Rui Bandeira

30 outubro 2006

A Maçonaria da Esperança


Desde sempre que o Homem, por razões que a Genética poderá explicar, é impelido a valorizar-se, a aperfeiçoar-se, a procurar o mais e a tentar o melhor.

Depois de procurar a valorização no mundo material, e de ter concluído que por essa via só daria pequenos passos, olhou mais longe, para além dos limites que sentia e imaginou como poderia libertar-se e ganhar novos horizontes. Estruturou religiões, burilou filosofias, amparou-se em crenças. Todas datadas, todas caracterizando melhor as angústias e os desejos dos homens do que apontando soluções e tranquilidades.

Há milhares de anos que assim sucede.

Consciente de que sozinho não poderia ir muito longe, o homem juntou-se a outros homens e procurou, racionalmente, encontrar vias seguras por si escolhidas que o conduzissem para os mundos onde vivem as transcendências.

Uma via foi escolhida por homens que foram somando saberes oriundos de muitas áreas e de muitas paragens. Dos seus primeiros passos nenhuma História reza; podemos só imaginar como foram colocadas as primeiras pedras do Templo que queriam construir. E isto ocorreu, seguramente há muitas centenas – ousam alguns apontar milhares - de anos.

Grande é o espólio ao qual podemos ir buscar datas, factos, conceitos. Mais difícil é separar as pedras que, de facto, foram utilizadas na construção do Templo das que nós imaginamos ou gostaríamos que tivessem sido utilizadas.

Tendo esta via, a que chamamos desde há muito Maçonaria, transitado, como afirmamos hoje, de uma fase operativa para uma fase especulativa, é natural que, no afã de tudo justificarmos, inclusivamente pela via simbólica, entrelacemos as muitas achegas que nos chegam para que o edifício seja cada vez mais sólido e coerente.

Assim, podemos ir buscar raízes - para além das que são procuradas em textos incluídos ou não em livros sagrados – em corporações romanas, em ordens religiosas militares (e aqui julgo que é atribuído um protagonismo excessivo, de quase exclusividade, aos Templários), em associações de classe, como em documentos que vão de um Manuscrito Régio, que terá tido origem no final do século XIV, no Manuscrito Cook, do século seguinte, na “Old Charges” (Antigos Deveres), não falando já noutras, bem mais antigas que podem ser chamadas à colação como éditos de Numa Pompílio ou Sérvio Túlio, etc. etc. Este acervo de conhecimentos foi sendo progressivamente harmonizado e vazado em formas simbolicamente dramatizadas.

Importa porém salientar que esta transição da Maçonaria Operativa para a Maçonaria Especulativa não define uma ruptura entre situações distintas; bem longe disso, já que no primeiro período muito do que se fazia tinha carácter e fundamento especulativo e no segundo também o inverso se verificou e verifica.

Porque só é entendivel o percurso feito se associarmos o gesto laborioso do pedreiro que colocava uma pedra na parede da catedral aos conceitos defendidos pelo catolicismo medieval maçónico e só se justifica a nossa acção actual se os estudos ritualísticos que promovemos se traduzirem em acções que, para além do aperfeiçoamento espiritual, se traduzam em formas concretas de beneficiar cultural e socialmente a humanidade de que fazemos parte.

A especificidade da cultura assim, criada, e permanentemente burilada, com a rigorosa apreciação e introdução de conhecimentos oriundos de paragens diversas e de saberes distintos, originou uma nova forma de intervenção na sociedade, com características que a tornaram uma figura ímpar que não andava com o passo rotineiro e inquestionado das figuras pares.

E é justamente o facto da Maçonaria impelir os seus Obreiros a buscarem o aperfeiçoamento sem terem a ousadia insensata de julgarem que um dia alcançarão a perfeição que os diferencia dos seguidores de certezas monolíticas.

Olhada por uns com grande esperança e por outros com negras suspeições, consoante queriam avançar com destemor na busca da justiça social, do livre conhecimento e da tolerância ou queriam parar, fechando as portas e as janelas com o receio de que novos tempos e novas ideias ameaçassem estatutos, privilégios e velhas construções feitas de toscas ideias.

Essa esperança e essas suspeições, permanecem vivas, ainda que assumam dimensões e expressões diferentes de país para país e até de região para região.

E de outro modo não podia ser, tão específicos são os passados históricos, as culturas, as economias e as formas de olhar o mundo.

E é daqui que temos de partir: somos uma Ordem Iniciática, criada pelos méritos e pelos defeitos dos homens que, independentemente do local onde vivermos e dos meios de que dispusermos, continua a lutar, coerente e persistentemente, pelos princípios que sempre respeitou.

A Maçonaria da esperança cresceu porque trouxe consigo formas de justiça social, independências de jugos ancestrais, e uma forte e pura articulação espiritual com formas culturais que até então estiveram muito dependentes de outras sedes.

É gritante, por exemplo, a profunda transformação sofrida na música onde os grandes temas todos de índole religiosa foram substituídos por grandes temas profanos por influência de compositores maçons. E aqui não resisto a evocar e a sugerir uma ponderada reflexão sobre um texto lapidar que ilustra este contraste e que foi escrito pelo actual Santo Padre, então Cardeal Ratzinger, na sua “Introdução ao Espírito da Liturgia”: “Ouvindo Bach ou Mozart na igreja – ambos nos fazem sentir de um modo magnífico o significado de gloria Dei – glória de Deus: nas suas músicas encontra-se o infinito mistério da beleza, deixando-nos, mais do que em muitas homilias, experimentar a presença de Deus de forma mais viva e genuína – todavia, aqui já se anunciam, perigos, embora o subjectivo e a sua paixão ainda disponham de docilidade (...). Mas as ameaças da virtuosidade e da vaidade do talento já se manifestam; elas já não expõem as suas faculdades ao serviço do todo, querendo elas próprias avançar para o primeiro plano”.

Creio que se todo este texto merece muito atenta leitura, é o final, com uma clara condenação do abrir das asas que suscita maior interesse nesta abordagem que fazemos.

Também durante séculos e em especial na taça que primeiro modelou o Império Romano e depois acolheu o Cristianismo que daí irradiaria para o Mundo, os textos escritos obedeciam aos ditames da religião dominante; só pouco a pouco e com larga influência de maçons – não tão evidente como na música – se alastraram para temas profanos.

Se de mais provas e exemplos precisássemos, iriam buscá-los a paragens como a pintura ou a escultura onde as aberturas verificadas seguiram passos semelhantes.

Isto é: só por teimosia poderíamos insistir em interpretações parcelares, quando todas estas transformações foram de facto só uma. E, se nem sempre foi determinante a intervenção dos maçons, ela esteve sempre presente e, na larga maioria das circunstâncias, com inegável coerência. 

(Excerto do artigo "A actualidade da Maçonaria", da autoria do Mui Respeitável Grão Mestre da Grande Loja Legal de Portugal /GLRP, Alberto Trovão do Rosário, originalmente publicado em "O Aprendiz", Revista da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP - Nova Série, Ano 6, n.º 25; este é o primeiro de nove excertos que serão aqui publicados; o próximo terá o título "Tópicos históricos")

Rui Bandeira