A Maçonaria da Esperança
Desde sempre que o Homem, por razões que a Genética poderá explicar, é impelido a valorizar-se, a aperfeiçoar-se, a procurar o mais e a tentar o melhor.
Depois de procurar a valorização no mundo material, e de ter concluído que por essa via só daria pequenos passos, olhou mais longe, para além dos limites que sentia e imaginou como poderia libertar-se e ganhar novos horizontes. Estruturou religiões, burilou filosofias, amparou-se em crenças. Todas datadas, todas caracterizando melhor as angústias e os desejos dos homens do que apontando soluções e tranquilidades.
Há milhares de anos que assim sucede.
Consciente de que sozinho não poderia ir muito longe, o homem juntou-se a outros homens e procurou, racionalmente, encontrar vias seguras por si escolhidas que o conduzissem para os mundos onde vivem as transcendências.
Uma via foi escolhida por homens que foram somando saberes oriundos de muitas áreas e de muitas paragens. Dos seus primeiros passos nenhuma História reza; podemos só imaginar como foram colocadas as primeiras pedras do Templo que queriam construir. E isto ocorreu, seguramente há muitas centenas – ousam alguns apontar milhares - de anos.
Grande é o espólio ao qual podemos ir buscar datas, factos, conceitos. Mais difícil é separar as pedras que, de facto, foram utilizadas na construção do Templo das que nós imaginamos ou gostaríamos que tivessem sido utilizadas.
Tendo esta via, a que chamamos desde há muito Maçonaria, transitado, como afirmamos hoje, de uma fase operativa para uma fase especulativa, é natural que, no afã de tudo justificarmos, inclusivamente pela via simbólica, entrelacemos as muitas achegas que nos chegam para que o edifício seja cada vez mais sólido e coerente.
Assim, podemos ir buscar raízes - para além das que são procuradas em textos incluídos ou não em livros sagrados – em corporações romanas, em ordens religiosas militares (e aqui julgo que é atribuído um protagonismo excessivo, de quase exclusividade, aos Templários), em associações de classe, como em documentos que vão de um Manuscrito Régio, que terá tido origem no final do século XIV, no Manuscrito Cook, do século seguinte, na “Old Charges” (Antigos Deveres), não falando já noutras, bem mais antigas que podem ser chamadas à colação como éditos de Numa Pompílio ou Sérvio Túlio, etc. etc. Este acervo de conhecimentos foi sendo progressivamente harmonizado e vazado em formas simbolicamente dramatizadas.
Importa porém salientar que esta transição da Maçonaria Operativa para a Maçonaria Especulativa não define uma ruptura entre situações distintas; bem longe disso, já que no primeiro período muito do que se fazia tinha carácter e fundamento especulativo e no segundo também o inverso se verificou e verifica.
Depois de procurar a valorização no mundo material, e de ter concluído que por essa via só daria pequenos passos, olhou mais longe, para além dos limites que sentia e imaginou como poderia libertar-se e ganhar novos horizontes. Estruturou religiões, burilou filosofias, amparou-se em crenças. Todas datadas, todas caracterizando melhor as angústias e os desejos dos homens do que apontando soluções e tranquilidades.
Há milhares de anos que assim sucede.
Consciente de que sozinho não poderia ir muito longe, o homem juntou-se a outros homens e procurou, racionalmente, encontrar vias seguras por si escolhidas que o conduzissem para os mundos onde vivem as transcendências.
Uma via foi escolhida por homens que foram somando saberes oriundos de muitas áreas e de muitas paragens. Dos seus primeiros passos nenhuma História reza; podemos só imaginar como foram colocadas as primeiras pedras do Templo que queriam construir. E isto ocorreu, seguramente há muitas centenas – ousam alguns apontar milhares - de anos.
Grande é o espólio ao qual podemos ir buscar datas, factos, conceitos. Mais difícil é separar as pedras que, de facto, foram utilizadas na construção do Templo das que nós imaginamos ou gostaríamos que tivessem sido utilizadas.
Tendo esta via, a que chamamos desde há muito Maçonaria, transitado, como afirmamos hoje, de uma fase operativa para uma fase especulativa, é natural que, no afã de tudo justificarmos, inclusivamente pela via simbólica, entrelacemos as muitas achegas que nos chegam para que o edifício seja cada vez mais sólido e coerente.
Assim, podemos ir buscar raízes - para além das que são procuradas em textos incluídos ou não em livros sagrados – em corporações romanas, em ordens religiosas militares (e aqui julgo que é atribuído um protagonismo excessivo, de quase exclusividade, aos Templários), em associações de classe, como em documentos que vão de um Manuscrito Régio, que terá tido origem no final do século XIV, no Manuscrito Cook, do século seguinte, na “Old Charges” (Antigos Deveres), não falando já noutras, bem mais antigas que podem ser chamadas à colação como éditos de Numa Pompílio ou Sérvio Túlio, etc. etc. Este acervo de conhecimentos foi sendo progressivamente harmonizado e vazado em formas simbolicamente dramatizadas.
Importa porém salientar que esta transição da Maçonaria Operativa para a Maçonaria Especulativa não define uma ruptura entre situações distintas; bem longe disso, já que no primeiro período muito do que se fazia tinha carácter e fundamento especulativo e no segundo também o inverso se verificou e verifica.
Porque só é entendivel o percurso feito se associarmos o gesto laborioso do pedreiro que colocava uma pedra na parede da catedral aos conceitos defendidos pelo catolicismo medieval maçónico e só se justifica a nossa acção actual se os estudos ritualísticos que promovemos se traduzirem em acções que, para além do aperfeiçoamento espiritual, se traduzam em formas concretas de beneficiar cultural e socialmente a humanidade de que fazemos parte.
A especificidade da cultura assim, criada, e permanentemente burilada, com a rigorosa apreciação e introdução de conhecimentos oriundos de paragens diversas e de saberes distintos, originou uma nova forma de intervenção na sociedade, com características que a tornaram uma figura ímpar que não andava com o passo rotineiro e inquestionado das figuras pares.
E é justamente o facto da Maçonaria impelir os seus Obreiros a buscarem o aperfeiçoamento sem terem a ousadia insensata de julgarem que um dia alcançarão a perfeição que os diferencia dos seguidores de certezas monolíticas.
Olhada por uns com grande esperança e por outros com negras suspeições, consoante queriam avançar com destemor na busca da justiça social, do livre conhecimento e da tolerância ou queriam parar, fechando as portas e as janelas com o receio de que novos tempos e novas ideias ameaçassem estatutos, privilégios e velhas construções feitas de toscas ideias.
Essa esperança e essas suspeições, permanecem vivas, ainda que assumam dimensões e expressões diferentes de país para país e até de região para região.
E de outro modo não podia ser, tão específicos são os passados históricos, as culturas, as economias e as formas de olhar o mundo.
E é daqui que temos de partir: somos uma Ordem Iniciática, criada pelos méritos e pelos defeitos dos homens que, independentemente do local onde vivermos e dos meios de que dispusermos, continua a lutar, coerente e persistentemente, pelos princípios que sempre respeitou.
A Maçonaria da esperança cresceu porque trouxe consigo formas de justiça social, independências de jugos ancestrais, e uma forte e pura articulação espiritual com formas culturais que até então estiveram muito dependentes de outras sedes.
É gritante, por exemplo, a profunda transformação sofrida na música onde os grandes temas todos de índole religiosa foram substituídos por grandes temas profanos por influência de compositores maçons. E aqui não resisto a evocar e a sugerir uma ponderada reflexão sobre um texto lapidar que ilustra este contraste e que foi escrito pelo actual Santo Padre, então Cardeal Ratzinger, na sua “Introdução ao Espírito da Liturgia”: “Ouvindo Bach ou Mozart na igreja – ambos nos fazem sentir de um modo magnífico o significado de gloria Dei – glória de Deus: nas suas músicas encontra-se o infinito mistério da beleza, deixando-nos, mais do que em muitas homilias, experimentar a presença de Deus de forma mais viva e genuína – todavia, aqui já se anunciam, perigos, embora o subjectivo e a sua paixão ainda disponham de docilidade (...). Mas as ameaças da virtuosidade e da vaidade do talento já se manifestam; elas já não expõem as suas faculdades ao serviço do todo, querendo elas próprias avançar para o primeiro plano”.
Creio que se todo este texto merece muito atenta leitura, é o final, com uma clara condenação do abrir das asas que suscita maior interesse nesta abordagem que fazemos.
Também durante séculos e em especial na taça que primeiro modelou o Império Romano e depois acolheu o Cristianismo que daí irradiaria para o Mundo, os textos escritos obedeciam aos ditames da religião dominante; só pouco a pouco e com larga influência de maçons – não tão evidente como na música – se alastraram para temas profanos.
Se de mais provas e exemplos precisássemos, iriam buscá-los a paragens como a pintura ou a escultura onde as aberturas verificadas seguiram passos semelhantes.
Isto é: só por teimosia poderíamos insistir em interpretações parcelares, quando todas estas transformações foram de facto só uma. E, se nem sempre foi determinante a intervenção dos maçons, ela esteve sempre presente e, na larga maioria das circunstâncias, com inegável coerência.
(Excerto do artigo "A actualidade da Maçonaria", da autoria do Mui Respeitável Grão Mestre da Grande Loja Legal de Portugal /GLRP, Alberto Trovão do Rosário, originalmente publicado em "O Aprendiz", Revista da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP - Nova Série, Ano 6, n.º 25; este é o primeiro de nove excertos que serão aqui publicados; o próximo terá o título "Tópicos históricos")
Rui Bandeira
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