06 dezembro 2025

A mesa está posta! Qualquer candidato pode aparecer

Nos últimos dias, voltou à discussão sobre o nosso futuro Presidente da República a ideia de que a Maçonaria apoia determinado candidato, ultimamente com mais ênfase no Almirante Gouveia e Melo. O Fábio respondeu com inteligência no seu “Vamos jantar, Cotrim?, mas parece-me importante clarificar alguns pontos, porque estes equívocos reaparecem sempre que entramos em época eleitoral e acabam por transformar um tema sério numa caricatura conveniente.

A verdade é simples e jamais que explicada, seja neste blogue ou na imprensa. A Maçonaria não apoia candidatos, não apoia partidos e não participa em campanhas. Não deve, não pode e, acima de tudo, não quer fazê-lo. Está tudo inscrito nos landmarksque, desde o século XVIII, determinam que nenhuma Loja pode envolver-se em política partidária ou tomar posições eleitorais. Qualquer Obediência que o fizesse deixaria de ser reconhecida como Maçonaria legítima.

Por isso, em Portugal, falamos apenas de três Obediências sérias. A Grande Loja Regular de Portugal (Maçonaria Regular), o Grande Oriente Lusitano (Maçonaria Irregular) e a Obediência feminina. São estas que seguem as regras, que têm reconhecimento internacional e que respondem perante a tradição iniciática. Depois há muitos grupos de amigos espalhados pelo país que se auto-intitulam “maçonaria”, uns são soberanos, outros simbólicos, outros tradicionais, até pode aparecer um “grupo maçónico do bailinho da Madeira”. Existem dentro da liberdade de associação, claro, mas não representam, de todo, a Maçonaria Universal, nem são reconhecidos por qualquer autoridade maçónica legitimada. Confundir estas realidades distintas é abrir a porta ao ruído e, por vezes, ao oportunismo. Qualquer grupo pode auto-denominar-se maçónico, mas daí até ser reconhecido como tal o caminho é longo e são precisas várias viagens.

Outro ponto que parece sempre surpreender quem vê de fora é que, dentro de uma mesma Loja, podem conviver irmãos com visões políticas radicalmente diferentes. Um pode votar Bloco de Esquerda, outro Chega, outro CDS, outro PS, é indiferente. Trabalham lado a lado, como irmão e no fim da sessão seguem alegremente para junto das suas famílias e amigos. Basta lembrar exemplos como Paulo Portas e Miguel Portas, ou Adriano Moreira e Isabel Moreira, que representam leituras políticas opostas e continuam família. Na Maçonaria, como na vida, as diferenças não anulam a relação, tornam-na mais rica. Estamos aqui para aprender uns com os outros, não para concordar uns com os outros. Como se diz com humor, se todos gostassem do vermelho, o que seria do verde?

Dentro de uma Loja não se discute política partidária, tal como não se discute religião ou futebol. Não porque sejam temas tabus, mas porque despertam paixões que facilmente transformam o racional em irracional. O que se discute são questões universais como liberdade, justiça, dignidade humana, combate à desumanidade, entre muitos outros temas que nos permitem crescer enquanto homens mais justos e um pouco mais perfeitos, como tão bem descrito no texto da nossa Loja sobre o bom standing maçónico

A Maçonaria não elege governos nem nomeia CEOs, trabalha consciências e forma Homens.

Por isso, quando alguém afirma que “a Maçonaria apoia o candidato tal”, está simplesmente a confundir a instituição com a liberdade individual dos seus membros. Se há maçons que apoiam Gouveia e Melo, é porque são cidadãos livres. Se há maçons que simpatizam com Cotrim de Figueiredo, igualmente. E se há maçons que não se revêem em nenhum dos dois, também está correcto. O voto pertence ao cidadão, não ao avental, seja ele de cozinha ou de maçom. Estou seguro que dentro dos apoiantes de qualquer um dos actuais candidatos Presidente da Republica, existem muitos maçons, como existem muitos médicos, jornalistas, professores, canalizadores, o que seja...

No meio disto tudo, há o convite do Fábio. E já que foi lançado, deixo o meu também, não só a Cotrim de Figueiredo, mas estendido a qualquer um que queira sentar-se connosco e conversar de frente. Lá estaremos, seja à esquerda, à direita ou ao centro. Um jantar franco, entre pessoas livres, vale sempre mais do que qualquer suspeição lançada ao longe. Porque, no fim, é sempre mais fácil falar olhando para a pessoa do que discutir fantasmas.



A Maçonaria é um caminho de aperfeiçoamento pessoal, a política, o jogo do poder. Confundi-las dá sempre mau resultado.

João B. M∴M∴