IA e Maçonaria: uma nova ferramenta ou um atalho perigoso?
“O que chamas de prompt engineering, eu chamo de preguiça mental.”
“Se usares isso para fazer pranchas, deixas de pensar por ti.”
Ouvi tudo isto, e mais alguma coisa, de Irmãos que respeito e admiro e percebo o seu ponto de vista. A Maçonaria é, acima de tudo, um caminho pessoal, é natural que, quando se introduz algo novo, especialmente algo que parece vir do mundo da superficialidade, surjam resistências. É humano e os Maçons, mesmo que super Humanos, não deixam de ser Humanos.
Mas também é humano evoluir.
Depois de algumas discussões em conversas, àgapes ou até em Loja, de trocas de ideias mais acesas, outras mais serenas, decidi partilhar o meu ponto de vista sobre o papão que é a Inteligência Artificial, principalmente na "pessoa" do Sr ChatGPT. Não tenho certezas, nem quero ter razão, mas talvez o meu percurso com a Inteligência Artificial, ajude a desmontar alguns receios e a abrir espaço para um debate mais honesto.
Comecei com desconfiança, como qualquer um, mesmo usando-a profissionalmente nunca imaginei passar a fronteira para a vida pessoal profana e para os caminhos que percorro no templo. A primeira vez que pedi ajuda ao ChatGPT para uma prancha, o que recebi foi muito fraco, lixo, um texto genérico, sem sal, sem ponta por onde se lhe pegue, foi directamente para o arquivo morto. Mas a experiência ensinou-me que a IA não substitui o esforço, só responde à pergunta. E se a pergunta for mal feita, a resposta também o será.
Com o tempo, aprendi a usá-la para aquilo em que é realmente boa, pesquisar referências, estruturar ideias, encontrar pontes entre temas improváveis. Um dos casos mais curiosos foi um texto neste blog que escrevi sobre o que une o futebol e a Maçonaria, sem IA, talvez nunca tivesse avançado com ele. Com IA, penso que consegui fazer uma travessia de conceitos, símbolos e vivências que me surpreendeu a mim próprio. A "prompt" (o texto que se dá à IA para gerar algo) foi mais longa que a prancha final, mas valeu a pena.
Com o uso percebi que não se pede à IA que escreva por nós, pedimos-lhe que penso conosco.
E tal como um Maçom usa o cinzel para desbastar a pedra bruta, eu uso a IA como ferramenta, não me tira o trabalho, mas ajuda-me a ver melhor onde cortar, onde polir, onde aprofundar.
Sim, há quem diga que isto tira autenticidade. Mas o que é mais autêntico? Um texto vazio, mas “feito à mão”, ou uma prancha onde cada frase foi revista, debatida, ajustada até que fizesse sentido, mesmo que com ajuda digital?
A diferença está na intenção, e a IA, como qualquer ferramenta, pode tanto ser usada para empobrecer como para enriquecer. O problema não está nela. Está em nós, ou como se diz corriqueiramente o problema está sempre entre a cadeira e o teclado.
Usar o ChatGPT sem contexto ou reflexão é como chegar ao gabinete de um arquitecto e dizer “quero uma casa”. Qual seria o resultado? A IA, tal como o arquitecto, devolve algo verdadeiramente alinhado com a visão do autor/dono da casa. A casa continua a ser nossa, mesmo que tenha sido desenhada com apoio especializado do arquitecto, o mesmo se aplica a um texto, uma ideia ou uma prancha, a autoria reside na clareza da vontade e na qualidade da orientação, não apenas no instrumento usado.
Também já ouvi que “isto vai matar o espírito iniciático” e a verdade é que a IA não tem espírito nenhum, o espírito vem de quem a usa. E, até ver, nenhum Maçom deixou de ser Maçom só por ter usado uma nova forma de estruturar pensamentos.
Aliás, talvez o maior valor desta nova tecnologia esteja precisamente aí. Ensinar-nos a fazer melhores perguntas e a estruturar melhor as nossas ideias. A Maçonaria, mais do que dar respostas, sempre foi a Arte de perguntar bem.
Como dizia Einstein:
“The important thing is not to stop questioning. Curiosity has its own reason for existence.”
No fundo, a IA pode ser mais um espelho. Tal como cada um vê algo diferente diante da pedra bruta, cada Maçom verá nesta nova ferramenta aquilo que traz dentro de si. Há que abraçar a mudança e a evolução com vontade.
"The greatest enemy of change is the illusion of security.", John C. Maxwell
João B. M∴M∴ e também o Sr ChatGPT
1 comentário:
A IA ainda precisa de alguém a dizer-lhe o que escrever, a pensar no tema e a revisar a precisão da resposta. As pranhas não acabaram quando passaram a ser feitas no MS Word :-)
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