INQUIRIÇÃO, DESAFIO DE LIBERDADE
A Maçonaria é, por definição, um conjunto de homens “livres
e de bons costumes”, que se consideram como tal e se reconhecem como tal,
perseguindo os ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
São conceitos que serviram uma revolução em 1789 em França,
mas que são tão antigos quanto o próprio homem. Nem sempre cumpridos...
raramente cumpridos… mas existentes !
A condição de Maçon diz que somos “livres e de bons
costumes”, ou que nos reconhecemos conjuntamente como Homens “livres e de bons
costumes”. Deixo os “bons costumes” de lado, por agora, e foco-me em “ser
livre”, e pode-se ser livre dentro das grades de uma prisão e sentir-se
acorrentado no cimo de uma montanha com o horizonte por limite.
O “infinito” é um conceito teórico que os matemáticos
arranjaram para trabalharem com o Universo que, sendo material, não tem “folha
de cálculo” ou “plano de contas” que o suporte. Sem princípio nem fim.
E é por aqui que entendo a liberdade dos Maçons.
Ser livre é a capacidade de olhar e ver o Universo de uma só
olhada, é abarcar a globalidade universal de uma só vez, é construir a folha de
cálculo onde cabe o Universo. Isso é ser livre !
O Universo não é vermelho ou verde, não é claro ou escuro,
não é aqui ou ali.
O Universo é o vermelho e o verde, é o claro e o escuro, é o
aqui e o ali.
Ser livre é poder ver numa visão única o vermelho e o verde,
o fogo e a água, Israel e a Palestina.
Ser livre é poder olhar e sentir todas as cores, todas as
“sem fronteiras”, o Sol e a Lua.
É isso que é ser livre e é isso que deve ser um Maçon. Somos
Maçons porque somos livres… porque nos reconhecemos uns aos outros como Homens
livres. E por isso, e se não houver mais razões, só por isso, temos de ter…
somos obrigados a ter no mesmo olhar todas as cores, todas as fronteiras (todas
as sem fronteiras prefiro eu). Porque o Universo não tem fronteiras, não tem
princípio nem fim, não tem muros nem limites. Tal qual a Maçonaria !
A Liberdade é um desafio. E pode não ser simples. Sejamos
livres. Sejamos livres sempre. Aqui e lá fora. Em Loja e no Mundo. Sejamos
livres quando em Loja cumprimos os rituais. Sejamos livres quando na nossa
profissão damos duro. Sejamos livres quando vivemos a nossa vida, sós, ou
acompanhados. Sejamos livres quando executamos as nossas tarefas, os nossos
encargos, mesmo que pouco agradáveis.
E sejamos livres, completamente livres, quando incumbidos da
tarefa de apreciar um candidato a Maçon. A Inquirição, é assim que se chama, só
tem que saber se “Aquele” é também um Homem livre, ou se é capaz de o vir a
ser. Só isso interessa. Se usa mais o vermelho ou o verde… se fala mais árabe
ou hebraico… se vota mais azul ou laranja… mas o que é que isso interessa se
ele for capaz de com um olhar apenas abarcar o vermelho e o verde, o azul e o
laranja, Israel e a Palestina, o Arco-Iris inteiro, o Universo todo ?
Para que queremos nós saber se é coxo ou marreco se de facto
for um Homem Livre ?
Se os candidatos são
coxos ou marrecos, altos ou magros, pretos ou brancos… isso interessa para quê
? e a quem ?
Há uns anos, na R:.L:.M:.Affonso Domingues, discorremos
sobre o tema e acabamos concluindo que a Inquirição serve para perceber se “Aquele”
com quem estamos a conversar pode ser convidado, de bom grado, para nossa casa.
É essa a conclusão que há a tirar e é a conclusão que o Maçon inquiridor tem a
passar, em relatório, aos Irmãos na Loja. Porque o que estamos a fazer numa
Inquirição é exatamente isso, e apenas isso, tentar saber se aquele profano
pode ser bem vindo a nossa casa.
Tudo o resto é acessório e muito pouco interessante.
Aos meus Irmãos peço que sejam Livres, de Liberdade plena,
capazes de abarcar o Universo todo com um só olhar.
No Universo não há parcelas, nem partidos, nem clubes, nem
fronteiras.
Sejam livres ou então… libertem-se.
E se na Inquirição concluírem que não convidam o Candidato
para vossa casa só porque é marreco… meus irmãos peçam o atestado de quite porque
estão no sítio errado.
Não são nem livres, nem de bons costumes.
JPSetúbal
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