Refletindo na frase: “Existe algo maior que o céu: a alma humana” de Victor Hugo…
(imagem proveniente de Google Images)
Falarmos
de Alma Humana é abordarmos algo
quase que inefável e insensorial, o que pode parecer à primeira vista como algo
de paradoxal.
Digo
inefável, porque como pouco a conhecemos, quase não a conseguimos “pronunciar”
na sua especificidade ou a definir em profundidade. E também afirmo que a alma
pode ser considerada como algo insensorial, porque é algo que não é mensurável
e assumo que não conheço alguém que tenha afirmado que a tenha sentido, num
sentido sensorial e não num sentido metafísico.
Creio
que a alma humana é a nossa essência,
logo à partida algo que será imutável. Mas na realidade a mudança pode existir.
Tanto devido a fatores externos como
a fatores internos.
A
nossa educação, a nossa formação académica e profissional, e principalmente, a
nossa formação de cariz “social” (a forma como nos relacionamos com os outros),
será quiçá o mais importante agente de
mudança.
É
através da nossa experiência de vida, das nossas vivências, que somos o que “somos”. E ao sermos “algo”, isso é o reflexo do nosso estado de alma. E como esse estado está
em permanente mudança (fruto também das nossas alterações de humor), também Nós mudamos. É essa alteração/evolução que importa à reflexão.
Victor
Hugo (26/02/1802-22/05/1885), maçom, escritor e pensador francês, ao afirmar
que “existe algo maior que o céu: a alma humana” disse a verdade. Não existe
mesmo nada maior que ela.
Nós
próprios somos maiores que tudo! E somos mesmo! Somos “maiores”
que as nossas criações, as nossas suposições e que as nossas opiniões.
As
nossas crenças, as nossas atitudes dependem somente de nós. Independentemente do meio que nos rodeia, que também nos
poderá ajudar a modelar o nosso carácter; apenas a nossa vontade, os nossos
pensamentos e ideias é que serão os nossos decisores comportamentais – aquilo
que pensamos é realmente o que nos define!- e numa análise mais estrita, as nossas crenças
e correspondentes atitudes serão os nossos juízes morais. E mesmo que
consideremos que dominemos a razão, se ela não se enquadrar no que é definido pelo
bom-senso e pelo que é o senso comum do local onde nos
encontremos – pois é possível a variação do que é assumido como a lei comum mediante o lugar onde nos
encontremos…- nada disso nos valhará. Mas mesmo assim, se considerarmos que
deteremos a razão sobre algo, se nos quisermos manter íntegros nessa tomada de
posição (e se realmente a mesma seja a verdadeira e correta), teremos sempre de
ser responsáveis e humildes por agirmos dessa forma independentemente das consequências
que de aí poderão advir, sejam elas positivas ou em alguns casos mesmo,
infelizmente, nefastas para quem age desta maneira.
Porém,
também a mudança de opinião pode acontecer, seja para não por em perigo a nossa
integridade física ou de outrém (nos casos em que tal pode suceder…), e nesses
casos a mudança é apenas externa,
mantendo-se a nossa opinião internamente,
o que será refletido no nosso estado de alma
(nessa altura poderemos ter alguns comportamentos que poderão ser considerados
como hipócritas e/ou cínicos, resultantes das atitudes que tomemos); ou a
alteração da nossa opinião também poder suceder por de facto constatármos que realmente
nos encontramos errados nas nossas assumpções e/ou de que não era de todo a
mais correta a nossa opinião. E assumir a mudança nestes casos, é assumir uma
verticalidade de carácter que nos permitirá nivelar pelos demais.
E neste
caso, considero que a nossa alma quase se poderia mutar, uma vez que a nossa opinião e forma de ver algo evoluiu. O
que poderá parecer irreal, mas se o pensamento mudou e em consonância com ele passarmos
a agir de outra forma, porque não considerar que existiu também uma mudança na
nossa alma, uma vez que houve uma
alteração no nosso íntimo, do nosso ser?
Aliás, acredito que quem não for capaz de mudar também não me parece que tenha uma grande capacidade para aprender. Só os ignorantes não são capazes de mudar…
Será que a alma permanecerá inabalável na sua “estrutura”
e não ser passível de mudança, e o restante ser possível de ser alterado?
Pois,
creio que tal assim pode acontecer. A
nossa alma é a nossa essência.
Logo,
mesmo que aconteçam várias transformações, e mesmo sabendo que a própria
matéria de que somos feitos se pode transformar
(o nosso corpo sofre mutações, evoluções ao longo da nossa vida) sem que a alma
sofra alterações com essas mudanças, acredito que a mesma registará algumas “marcas”
que serão originadas pela alteração da
nossa consciência, fruto da sucessão de determinados acontecimentos que podem alterar
a nossa forma de pensar e de estar, ao longo do nosso crescimento e tempo de
vida. Por isso tão facilmente se fala em “estados de alma”. Acredito que esses estados apesar de passageiros em alguns casos, fiquem registados no
nosso ADN e que assim dessa forma, fiquem “registados” na nossa alma e que
esses mesmos estados, determinem o
nosso comportamento. Até o conceito de Alma, é o de algo que nos anima, de algo que nos define, de algo que
nos gere… Conceito que subscrevo na
íntegra.
Ou
seja, acredito que por muito que tudo mude - porque para mim tudo é possível de
mudar, de ser alterado, de evoluir, de ser passível de alcançar novos
horizontes ou adquirir novos objetivos - a alma permanecerá com a sua “integridade”
inalterada. Pois é a nossa alma que nos caracteriza como somos e que nos difere
dos restantes seres humanos. É a alma que nos cria a nossa identidade pessoal e
confere aquilo que se pode designar por humanismo. Sem ela seríamos apenas mais
uns, na grande cadeia animal…
Todavia
e abordando também um pouco sobre a forma de como a nossa Alma interage no mundo através do
nossa matéria/corpo e ideário/pensamento/mente, deparamos que quase
tudo o que existe, depende ou se centra exclusivamente no Homem e/ou na sua
dependência. A tecnologia foi criada pelo Homem para o servir, as estradas
existem para que a humanidade possa estar ligada entre si, as habitações
existem para que nos possamos abrigar, as comunicações existem para que seja
possível estarmos todos conetados, etc etc… Ou seja, tudo advém do Homem,
para o Homem…Da sua matéria, da sua mente para o seu espírito, para a sua Alma…
E
após esta abordagem que fiz acima, poderá existir ou se confirmar algum interesse da Maçonaria pela
“alma” dos seus obreiros?
Naturalmente
que sim! Não num sentido religioso, mas antes, num sentido metafísico.
A
Maçonaria requer a mudança aos seus
membros. A sua mudança pessoal, a sua
evolução de consciência (do
pensamento), a sua progressão
enquanto pessoa. De aí advir a vontade de aprimoramento/aperfeiçoamento moral e
espiritual dos maçons.
Tanto
que é usual se afirmar “que à Maçonaria
não interessa gente perfeita. Antes sim, gente que se quer aperfeiçoar”. Logo, gente que deseja evoluir e mudar de estado de alma. Mudar algo que à partida
se poderia levar a supor como sendo imutável.
Interessa à Maçonaria ter nos seus quadros, gente
que assumiu os seus defeitos e que os deseja “anular”, e que acima de tudo, queira
potenciar as suas qualidades, para si e em prol dos outros que o rodeiam. Por
isso, a Maçonaria lhes pede, ou mais claramente exige, que sejam honestos, íntegros
e de carácter pobro. E nesse caso, será através da sua alma, que lhes poderá ser proporcionado
tal comportamento; gerindo esta assim, os seus pensamentos, as suas atitudes e a sua conduta
no mundo profano. Desta forma, a alma humana tem um interesse particular para a Maçonaria, não por aquilo que ela será para os seus membros, mas por aquilo que ela poderá representar para esta Augusta Ordem, como sendo modeladora de carácteres.
Poderemos
então constatar que existe algo maior que a alma
humana?!
Quanto
a mim, não! Já o mano Victor Hugo tinha a mesma opinião…
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