21 março 2012

As Obrigações dos Maçons: VI. 5 - Conduta em casa e na vizinhança


Deverá agir como um homem sensato e de moral; ter um especial cuidado em não deixar a família, amigos ou vizinhos conhecer os assuntos da Loja, etc, mas sabiamente levar em conta a sua própria honra, e a da Antiga Fraternidade, por razões que não são mencionadas aqui. Deve ter em conta, também, a sua saúde, não continuando a reunião até muito tarde, sem necessidade, nem permanecendo muito longe do lar, depois das Sessões da Loja terminarem; e evitar a gula ou embriaguez. e que suas famílias não sejam negligenciadas ou prejudicadas, nem vós próprios incapacitados de trabalhar.

Junto dos seus e no seu meio ambiente, o maçom tem o especial dever de ser e agir de modo sensato e moral. De modo sensato, porque a sensatez é apanágio daquele que estuda, que procura ver para além das aparências, que procura conhecer-se a si mesmo e, por isso, conhece o mundo e os outros. Assim, conduz-se pela Razão, não cedendo facilmente ao Impulso. Não que a Emoção não o influencie. Pelo contrário, o Homem completo é um misto de Razão e de Emoção. Mas o mero Impulso é um ato gerado apenas pela Emoção não temperada pela Razão. E é a combinação das duas que permite que tomemos as nossas opções melhores.

Tão perniciosa como agir puramente por Emoção, sem a têmpera da Razão, é a atuação puramente racional, sem pingo de Emoção, que acaba por se traduzir em Indiferença. A escolha mais racional pode não ser a mais correta, se desnecessariamente causar danos que poderiam ser evitados com uma atuação porventura com um resultado em absoluto um pouco pior, mas mais equilibrado e rentável no saldo do custo com o benefício.

Por isso o maçom deve agir de modo sensato, em equilíbrio entre a Razão e a Emoção, e moral, isto é, em consonância com o sentimento social. O Homem não vive por si só. O Homem vive em sociedade e, portanto, tem de a ela atender na sua atuação. É inaceitável uma escolha que racionalmente conduza a uma atuação socialmente censurável, por muito "eficiente" que ela seja seja. Os fins não justificam os meios!

Como inaceitável é a atuação meramente populista, que atenda apenas à "opinião pública" e ao que emocionalmente apetece fazer, se essa atuação é ineficaz ou, pior, perniciosa, agravando em vez de resolver. Devem-se utilizar os meios socialmente permitidos que se adequem aos fins pretendidos.

É nesta constante dialética entre a Razão e a Emoção que, sem nunca ceder ao Impulso nem se deixar enredar na Indiferença, deve o maçom enquadrar a sua conduta, com Sensatez e Moral.

Assim, sem divulgar publicamente o que só aos maçons diz respeito, age com honra e honra-se a ele próprio e à Fraternidade de que faz parte.

Deve ainda o maçom agir sempre com Temperança. As suas reuniões devem ter a duração adequada para não prejudicar a sua vida familiar, o seu repouso, a sua capacidade de trabalho. A convivência fraternal após as reuniões deve igualmente pautar-se por esses limites. Sob pena de aquilo que é intrinsecamente bom ser visto ou entendido como mau, desviante, pernicioso.

No fundo, a noção que esta Obrigação transmite é a de Equilíbrio, o equilíbrio que se alcança através da sensatez, da consideração da Moral, da preservação da Honra, da Saúde, da Família e da Capacidade de trabalhar honrada e produtivamente.

O maçom não procura ser melhor por mero interesse pessoal - fá-lo para melhor se integrar na Sociedade, desde a sociedade mais próxima e chegada, a Família, à sociedade onde obtém o sustento, seu e dos seus, a Empresa ou local de trabalho, à Sociedade em geral, em que harmoniosamente se deve inserir, ser produtivo e para cujo equilíbrio e progresso deve contribuir. O maçom deve sempre ter presente que a Sociedade melhora e evolui, antes de mais, através da melhoria e da evolução de cada um dos seus membros. E, tirando a consequência disso, fazer a sua parte, isto é, efetuar o trabalho, o esforço, do seu próprio aperfeiçoamento.

Fonte:

Constituição de Anderson, 1723, Introdução, Comentário e Notas de Cipriano de Oliveira, Edições Cosmos, 2011, página 135.

Rui Bandeira

4 comentários:

Streetwarrior disse...

Boas @Rui

[...O maçom não procura ser melhor por mero interesse pessoal - fá-lo para melhor se integrar na Sociedade, desde a sociedade mais próxima e chegada, a Família, à sociedade onde obtém o sustento, seu e dos seus...]

Falo para melhor se integrar na sociedade mas não permite que a sociedade se integre na Maçonaria...inclusive a sua própria familia!!

[O maçom não procura ser melhor por mero interesse pessoal - fá-lo para melhor se integrar na Sociedade, desde a sociedade mais próxima e chegada, a Família, à sociedade onde obtém o sustento, seu e dos seus...]

Será que actualmente ainda se justifica esta descrição toda?
É que quase que chega a roçar a paranoia, no entanto, compreensivel á data a que foram elaboradas.

Rui Bandeira disse...

@ Streetwarrior:

!) Quem lhe disse que não permite que a Sociedade se integre na Maçonaria, enganou-o. Permite, através da entrada dos homens livres e de bons costumes que batam à porta e se conclua estarem de boa fé.

2) Será que não se justifica, ainda hoje, esta discrição toda? Tenha em atenção as recentes campanhas noticiosas de que foi objeto a maçonaria e, sobretudo, leia os inúmeros comentários de ódio existentes nas caixas de comentários das notícias on-line que contenham as palavras "maçonaria" ou "maçons" e tire a sua conclusão...

Streetwarrior disse...

@ Não sei o que se passou mas ou postei mal o comentário e não dei por isso ou houve aqui qualquer Bug.

Vou comentar de novo.


[ Deverá agir como um homem sensato e de moral; ter um especial cuidado em não deixar a família, amigos ou vizinhos conhecer os assuntos da Loja, etc, mas sabiamente levar em conta a sua própria honra, e a da Antiga Fraternidade, por razões que não são mencionadas aqui.]

[O maçom não procura ser melhor por mero interesse pessoal - fá-lo para melhor se integrar na Sociedade, desde a sociedade mais próxima e chegada, a Família, à sociedade onde obtém o sustento, seu e dos seus...]

Portanto, eu deduzo a conclusão acima...que o maçon não deixa a sociedade ( leia-se o poder participar se assim o desejarem ) se inserir.
A Maçonaria não permite...a maçonaria seleciona aqueles que são do seu interesse, por isso os convida.
Talvez o ódio existente parta, desse mesmo, eletismo, dai ficar sujeita á ignorancia do desconhecido.

Rui Bandeira disse...

@ Streetwarrior:

Que a Maçonaria tem necessariamente algo de elitista não se duvide.

Nem todos estão em condições de a entender e de a praticar. É necessário um certo estádio de desenvolvimento interior (um boçal ou alguém apenas preocupado com questões materiais não tem condições para ser maçom) e é imprescindível ter a sua subsistência e dos seus satisfatoriamente assegurada (quem necessita de se preocupar com a sua subsistência, tem pouca disponibilidade para se dedicar a assuntos esotéricos e de aperfeiçoamento...).

Mas não penso que seja essa a razão do ódio de alguns em relação á maçonaria. Tem, a meu ver, mais a ver com o desagrado da hierarquia da Igreja católica em relação á maçonaria. Nos +países de maioria religiosa protestante, a Maçonaria é uma instituição social como qualquer outra, normalmente inserida e aceite na sociedade (e, por isso, ela própria também mais aberta...) e só é atacadapor fundamentalistas evangélicos.

Os fundamentalismos nunca se deram bem com a Maçonaria...