30 janeiro 2011

A maçonaria vista de fora - vista de dentro



Hoje comecei por pensar escrever simplesmente sobre "A maçonaria vista de fora", mas nesse caso versaria sobre o que quem está de fora vê da Maçonaria. Vi então que não era o que pretendia. Pretendo antes mostrar um pouco do que, quem está dentro, vê quem, de fora, tenta espreitar para dentro.

Há muita coisa disponível na Internet, em Livrarias, alfarrabistas, bibliotecas, enfim... um pouco por todo o lado. Quando me comecei a interessar pela maçonaria não me coibi de perguntar a quem tinha paciência para me responder. Ao mesmo tempo, comecei a comprar livros, a procurar filmes e videos, e a ler outros sites. Muito do que sobre Maçonaria se lê na Internet é de duvidosa qualidade, mas eu lá ia - ou assim acreditava - conseguindo separar o trigo do joio. A certa altura, quando contei, muito orgulhoso - creio que ao José Ruah - que estava a ler "The Meaning of Masonry", de Walter Leslie Wilmshurst, ele respondeu-me com certa secura algo como "Eu não perderia tempo a ler coisas que não entendesse, ou que eventualmente só estaria capacitado a compreender depois de ter uma década ou mais de maçonaria - mas força, mal não há-de fazer. Mas é um bocado árido.".

Na altura achei que ele era parvo, e que a leitura me abriria os horizontes, já que tudo pareciam apostado em "fazer caixinha". De facto, li muita coisa, mas aquela miscelânea de referências esotéricas trocava-me as voltas como naqueles livros que, de tantas personagens terem, nos obrigam a escrever uma lista de "Quem-é-quem", para não nos perdermos na história... Ia lendo coisas, ia memorizando significados e, por vezes, ia tendo aqui e ali alguns vislumbres das razões por detrás de tudo aquilo...

Foi um bom entretém, mas pouco mais que isso. Afinal, tive que esperar largos meses até que "se dignassem" iniciar-me... Curiosamente, depois de ser iniciado, os livros começaram a ganhar pó, os que se encontravam a meio foram fechados e arrumados, para só, muito esporadicamente, os vir a abrir com fins precisos, para logo os fechar de novo. Idem para os videos, filmes, blogues e afins - com exceção do "A-Partir-Pedra", que continuei a frequentar, mais discretamente, mas sem nunca deixar de ser leitor assíduo.

Agora, já de dentro, vejo o quanto é curiosa a vista de dentro de quem quer ver para dentro, o esforço que faz quem quer perceber o que lá se passa, e usa livros e videos como forma de iluminação. Em primeiro lugar, são poucos os que ultrapassam a análise dos símbolos, ou do fito pela benemerência. Para não falar nos paparazzi - em português: cuscovilheiros - que apenas querem saber quem está, de que modo nos ocultam coisas, e que maquinações engendram.

Acabei por dar alguma razão ao Zé Ruah: o que eu estava a fazer era algo como estudar muito bem as regras do futebol, as várias táticas, toda a teoria sobre o Desporto-Rei, no sentido de me tornar um novo Cristiano Ronaldo - mas sem nunca tocar uma bola, quanto mais treinar em equipa. Por isso, quando vejo alguém assim, entusiasmado com a Maçonaria, a ler muito, a pesquisar mais, não posso deixar de pensar que é tempo, em certa medida, perdido. Que se queira, depois de se ser aceite numa equipa, e de se aprender as passagens de bola básicas, e de fazer exercícios que até nem tenham - aparentemente - nada que ver com futebol, e de se apurar a técnica até onde esta pode ser apurada só com o instinto - então aí sim, pegar nuns livros e ler umas coisas pode fazer a diferença. Agora começar por aí...

Mas para quem o fez, deixo algumas palavras de encorajamento de Henry David Thoreau: "If you have built castles in the air ...that is where they should be. now put the foundations under them." (Se construiste castelos no ar... estão onde devem estar. Agora põe as fundações sob eles.)

Paulo M.

13 comentários:

Alexandre disse...

Se construíste castelos no ar... estão onde devem estar. Agora põe as fundações sob eles.
A Maçonaria não é isto?
As pedras brutas no chão como fortes alicerces a tentarem serem as fundações do templo que se pretende construir?
Como ainda não sei trabalhar com a alavanca sinto que apesar de estar dentro espreito por fora, mas, um avental branco fica mesmo bem e dá segurança e orgulho uma aba levantada.

Nuno Raimundo disse...

Boas Paulo...

Também li esse livro e acho que ele é interessante para Profanos e Iniciados.
Certamente não retirará o véu, mas a sua opacidade ficará um pouco mais translúcida.

Não será tempo perdido a quem se interessa por "estes" assuntos. :)

Aquele Abraço...

JPA disse...

Também foste coscuvilheiro. Ainda bem.
No final o circulo fecha-se.

Um abraço
JPA

Jocelino Neto disse...

@Paulo M: Coincidência ou não, havia citado através de um post anterior (Origem e primórdios do Rito Escocês Antigo e Aceite - Antecedentes em Inglaterra / Mestre Rui bandeira) o mesmo pensamento de Thoreau. Vislumbro, pois, que estou a empreender - mesmo que por esta via tortuosa - a atitude que porventura me aproximará das Luzes, e porque não, dos luzeiros. Abraços Fraternos! Glória ao Grande Arquiteto!

Osga disse...

Uma questão...

Por que locais ou livros devo começar?

Nuno Raimundo disse...

Caro Osga,

Em qualquer boa Livraria, na seção "Esoterismo/Espiritualidades" existem sempre livros que abordem a Maçonaria.
Penso eu, pela experiencia que tenho na leitura de vários, que são todos muito válidos.
Eu aconselho começar pelos que tratam sobre a História da Ordem. :)

Aquele abraço...

Jocelino Neto disse...

Além de quaisquer indícios de estreiteza de pensamento ou proselitismo creio que o "A Partir Pedra" venha a ser uma das fontes - em língua portuguesa - seguras sobre o tema.

De certo que revela a visão de maçons sobre a maçonaria. Mas qual seria a outra visão que se procuraria? Dos teóricos das conspirações? Dos opositores a Arte Real? Dos místicos que se arrogam descendentes dos seus conhecimentos “secretos”? Em meu breve percurso, lhes testemunho que as opções citadas (e miríades mais) são válidas. Não para que se conheça objetivamente a maçonaria, mas como exercício para que se estabeleça o gosto pela pesquisa/análise, que levará a descobrir o véu aparente ao qual a maioria das mentes está sujeita.

Entretanto, haverá o momento que esta cordilheira de informações não mais terá utilidade. Que vistoriar a construção exotericamente não mais fará sentido. E que a vivência íntima do conhecimento será solicitado. Estarás pronto para compreender que além de tuas impressões há universos inteiros a serem vividos? Estarás pronto para bater as portas do Templo?

Abraços Fraternos!

Candido disse...

Eu aconselho começar pelos que tratam sobre a História da Ordem. :) By Nuno
Como as opiniões não pagam imposto,fica aqui a minha.
Primeiro saber o que é e para que serve a Maçonaria... e depois, estou com o Luismatos que diz que ser iniciado não é para qualquer um e a Maçonaria não é para todos.
Um abraço a todos

Paulo M. disse...

Fico satisfeito por este texto - escrito com a pouca inspiração e vontade de quem está febril - ter atraído tal diversidade de comentários - e de comentadores!

@Alexandre: Esta frase é normalmente interpretada como "sonhaste um objetivo; agora faz por concretizá-lo". Serem as "pedras brutas" as fundações - ou seja, serem os Aprendizes as "fundações" da maçonaria - pode aceitar-se no sentido de que sem estes esta desapareceria. No entanto, contraria a orgânica desejada, de que as pedras se vão polindo e integrem o Templo...

@Nuno Raimundo: Não nego que o livro seja interessante; mas não é, a meu ver, livro por onde se comece.

@JPA: Entendeste-me mal. Nunca fui coscuvilheiro. Reservei esse epíteto aos que só procuram o conhecimento dos escândalos, tricas e periferias da maçonaria, para os publicar em revistas com nome de dia da semana, por exemplo. Mas admito que muito do que li me aproveitou pouco. Ao menos mantive-me entretido...

@Jocelino Neto: De facto, ao escrever o texto, recordei a frase - cuja autoria encontrei depois com a ajuda do Google - mas não me lembrava de onde a lera. Obrigado pela referência!

@Osga: Ah, esta é simples, e neste aspeto concordo com o candido. Há um livro - infelizmente, apenas em língua inglesa, tanto quanto sei - que é sério, ligeiro, escrito por quem sabe, que explica magnificamente como surgiu, o que é e para que serve a maçonaria, e até tem um blogue associado: é o "Freemasons for Dummies". Encomendei o meu através da Amazon. Depois de se saber o que é, pode então começar-se a ler coisas sobre a história da maçonaria, por exemplo, mas atenção que há muita coisa publicada sobre a maçonaria que não serve nem para... assoar o nariz. Mas, de facto, concordo com o Jocelino Neto: uma forma barata e instrutiva é ler cronologicamente - comentários incluídos - os textos deste blogue, dos primeiros até ao dia de hoje. Para além do A-partir-pedra há, especialmente em língua inglesa, inúmeros sites sobre maçonaria. Depois de consolidado este conhecimento, leia os sites dos teóricos das conspirações, dos detractores da maçonaria, dos intolerantes religiosos. É bom saber o que os outros pensam e dizem de nós: só por oposição é que se assenta as ideias!

Um abraço,
Paulo M.

Candido disse...

Quando começamos a estudar estas matérias, como diz o sábio, os rios deixam de ser rios e as montanhas deixam de ser montanhas. Quando o conhecimento passa a ser vivenciado, os rios voltam a ser rios e as montanhas voltam a ser montanhas.
As melhoras e um abraço Paulo.

Paulo M. disse...

Obrigado, candido. E a conclusão foi na mouche: o propósito deste texto era precisamente chegar a ela.

Um abraço,
Paulo M.

Vendado disse...

Caro Paulo M.,
Vejo que certamente estou a "desperdiçar" tempo. O seu post inspirou-me a agir! Procurarei uma equipa, e com fé esperarei ser aceite. Obrigado pelas suas sempre sábias palavras!

Abraços

Paulo M. disse...

@vendado: O tempo não é desperdiçado desde que lhe seja proveitoso. O que quis dizer foi que há momentos e contextos para tudo. Ler certos "tratados" sobre maçonaria não tem mal nenhum. Contudo, a sua leitura pode ser muito mais proveitosa quando já se esteja "por dentro".

Um abraço,
Paulo M.