A Maçonaria: tecnologia avançada (IV)
A admissão de um aprendiz numa Loja operativa não era feita em privado; pelo contrário, envolvia todos os obreiros. Feita à noite - depois de um dia de trabalho - envolvia um ritual durante o qual era exposta ao aprendiz a história e importância da arte, salientado o privilégio que era para ele ser admitido, e explicado o que dele se esperava. A progressão de um artesão era, assim, uma cerimónia em que, envergando os seus trajes e instrumentos de trabalho - nomeadamente o avental e as luvas - para acolher no seu seio um novo membro, participavam quantos já por ela haviam passado.
Para além da transmissão de conhecimento tecnológico, era inculcado no recipiendário todo um conjunto de ensinamentos históricos, religiosos, mitológicos e morais. A utilidade e o âmbito desses ensinamentos, por sua vez, ultrapassava de longe o do mero trabalho da pedra. Podemos compará-los - evidentemente, com alguma latitude de conceito - aos ensinamentos de deontologia e ética que são, ainda hoje, essenciais ao ingresso, por exemplo, nas Ordens dos Médicos ou dos Advogados, mas com um espírito que os tempos modernos já perderam. Na prática, estes rituais - com uma grande componente mística - giravam em torno da leitura das "old charges", episódios retirados da bíblia, da História, da lenda ou do imaginário que descreviam a importância, ascendência e grandes feitos dos construtores ao longo dos tempos, e mostrando serem eles os Mestres da Geometria. Um dos mais antigos manuscritos das "old charges" que persistiu até aos nossos dias remonta a 1588; encontra-se no museu da Grande Loja Unida de Inglaterra, e consiste num rolo de papel com a altura de um homem e um palmo de largura.
Mesmo no final do século XVI dá-se na Escócia um evento essencial ao surgimento da maçonaria moderna: William Schaw, funcionário da Coroa, leva a cabo a tarefa de regular o funcionamento das lojas que, até então, eram completamente autónomas. Fá-lo através de dois textos fundamentais, conhecidos pelos "Estatutos de Schaw", dois textos legais aprovados pela Coroa da Escócia - um em 1598 e o outro em 1599 - que, pela primeira vez, organizavam os pedreiros escoceses em entidades chamadas "lojas" e os sujeitavam a obrigações administrativas. Entre estas contava-se o pagamento de uma jóia para admissão nas lojas, a formalização da estrutura das reuniões, e a obrigatoriedade de existir um secretário que registasse o sucedido em todas as reuniões - aquilo a que hoje chamamos "atas" - o que permite que, por exemplo, a "Mary's Chapel Lodge" tenha registos ininterruptos das reuniões dos últimos mais de 400 anos.
Ficava também formalizado e regulado um antigo costume dos maçons operativos: o uso de senhas e sinais secretos. De acordo com o nível de conhecimento que um maçon obtinha, à medida que progredia na arte, era informado de certas palavras ou certos sinais de reconhecimento. Agora, de acordo com os estatutos de Schaw, tomava carácter obrigatório outro costume: a proibição de um Mestre dar trabalho a um operário a não ser que este lhe desse a sua "chave": a palavra e/ou o sinal que atestavam que estava capacitado a fazer determinado tipo de trabalhos.
Curiosamente, os Estatutos contemplam também um sistema de mnemónicas, de memorização. Recorde-se que, não obstante a maior parte dos artesãos ser iletrada - não sabiam nem ler nem escrever - era necessário que não esquecessem o que aprendiam. Para esse efeito, era-lhes ensinado um sistema de memorização a que os oradores do período Clássico recorriam para não esquecerem os leus longos discursos. Baseado na visualização mental de um edifício com várias divisões, cada uma com vários objetos, cada um dos quais se associava à ideia que se pretendia recordar, consistia na deambulação mental pelo edifício evocando os símbolos em sucessão. É deste método que vêm as "tábuas de traçar" ("tracing boards") ainda hoje usadas em Loja.
A partir de certa altura as lojas operativas terão aceite no seu seio pessoas que não trabalhavam a pedra: nobres, burgueses, oficiais do exército, em suma, pessoas de estratos sociais mais elevados, conhecidos por "gentlemen masons". Os primeiros destes eram aristocratas com funções dentro do governo, e responsáveis pela edificação de palácios, castelos e afins, pelo que havia com os mesmos uma ligação laboral. Por um lado, essas pessoas buscavam o conhecimento que era transmitido nas lojas, e que, por ser secreto, gerava curiosidade, para além do prestígio que a sua nova qualidade de membros lhes conferia. Por outro lado, as lojas, apesar de serem organizações conceituadas e prestigiosas, mais prestígio ganhavam através do reconhecimento social destes seus novos membros. Estes, durante a iniciação como aprendizes nas Lojas, recebiam, além dos segredos, o avental e as luvas (uma vez que não dispunham dos seus próprios objectos de trabalho), e era a última vez que eram vistos: apenas vinham por causa do fascínio com os segredos, e não estavam propriamente interessados no convívio com os trabalhadores.
A aura das lojas operativas prolongou-se até ao tempo dos Tudor, altura em que os pedreiros começaram a perder relevância em virtude do início do uso do tijolo, muito mais barato do que a pedra, que levou ao progressivo abandono desta última, usada a partir daí apenas nas partes mais nobres dos edifícios. Foi assim que, pelo início do século XVII já não havia em Londres lojas operativas em funcionamento. Não fora a admissão dos "gentlemen masons" e as Lojas ter-se-iam extinto de todo; contudo, à medida que o número destes foi suplantando o de membros operativos, foi mudando o funcionamento e o propósito das Lojas. Já não se dedicando à construção de edifícios de pedra, construiam agora templos simbólicos em que cada um aparava e polia as suas próprias asperezas de caráter no sentido de se tornar uma pessoa melhor, tomando com base as regras morais da maçonaria operativa, e como símbolos os instrumentos de trabalho desta bem como as mnemónicas que serviam para recordar as suas lições tecnológicas. Enquanto se extinguia a Maçonaria Operativa, ia surgindo em seu lugar a Maçonaria Especulativa.
Referências:
http://libcom.org/library/trade-guilds-initiation-through-work-andre-nataf
http://www.scottishkey.com/
Paulo M.
Para além da transmissão de conhecimento tecnológico, era inculcado no recipiendário todo um conjunto de ensinamentos históricos, religiosos, mitológicos e morais. A utilidade e o âmbito desses ensinamentos, por sua vez, ultrapassava de longe o do mero trabalho da pedra. Podemos compará-los - evidentemente, com alguma latitude de conceito - aos ensinamentos de deontologia e ética que são, ainda hoje, essenciais ao ingresso, por exemplo, nas Ordens dos Médicos ou dos Advogados, mas com um espírito que os tempos modernos já perderam. Na prática, estes rituais - com uma grande componente mística - giravam em torno da leitura das "old charges", episódios retirados da bíblia, da História, da lenda ou do imaginário que descreviam a importância, ascendência e grandes feitos dos construtores ao longo dos tempos, e mostrando serem eles os Mestres da Geometria. Um dos mais antigos manuscritos das "old charges" que persistiu até aos nossos dias remonta a 1588; encontra-se no museu da Grande Loja Unida de Inglaterra, e consiste num rolo de papel com a altura de um homem e um palmo de largura.
Mesmo no final do século XVI dá-se na Escócia um evento essencial ao surgimento da maçonaria moderna: William Schaw, funcionário da Coroa, leva a cabo a tarefa de regular o funcionamento das lojas que, até então, eram completamente autónomas. Fá-lo através de dois textos fundamentais, conhecidos pelos "Estatutos de Schaw", dois textos legais aprovados pela Coroa da Escócia - um em 1598 e o outro em 1599 - que, pela primeira vez, organizavam os pedreiros escoceses em entidades chamadas "lojas" e os sujeitavam a obrigações administrativas. Entre estas contava-se o pagamento de uma jóia para admissão nas lojas, a formalização da estrutura das reuniões, e a obrigatoriedade de existir um secretário que registasse o sucedido em todas as reuniões - aquilo a que hoje chamamos "atas" - o que permite que, por exemplo, a "Mary's Chapel Lodge" tenha registos ininterruptos das reuniões dos últimos mais de 400 anos.
Ficava também formalizado e regulado um antigo costume dos maçons operativos: o uso de senhas e sinais secretos. De acordo com o nível de conhecimento que um maçon obtinha, à medida que progredia na arte, era informado de certas palavras ou certos sinais de reconhecimento. Agora, de acordo com os estatutos de Schaw, tomava carácter obrigatório outro costume: a proibição de um Mestre dar trabalho a um operário a não ser que este lhe desse a sua "chave": a palavra e/ou o sinal que atestavam que estava capacitado a fazer determinado tipo de trabalhos.
Curiosamente, os Estatutos contemplam também um sistema de mnemónicas, de memorização. Recorde-se que, não obstante a maior parte dos artesãos ser iletrada - não sabiam nem ler nem escrever - era necessário que não esquecessem o que aprendiam. Para esse efeito, era-lhes ensinado um sistema de memorização a que os oradores do período Clássico recorriam para não esquecerem os leus longos discursos. Baseado na visualização mental de um edifício com várias divisões, cada uma com vários objetos, cada um dos quais se associava à ideia que se pretendia recordar, consistia na deambulação mental pelo edifício evocando os símbolos em sucessão. É deste método que vêm as "tábuas de traçar" ("tracing boards") ainda hoje usadas em Loja.
A partir de certa altura as lojas operativas terão aceite no seu seio pessoas que não trabalhavam a pedra: nobres, burgueses, oficiais do exército, em suma, pessoas de estratos sociais mais elevados, conhecidos por "gentlemen masons". Os primeiros destes eram aristocratas com funções dentro do governo, e responsáveis pela edificação de palácios, castelos e afins, pelo que havia com os mesmos uma ligação laboral. Por um lado, essas pessoas buscavam o conhecimento que era transmitido nas lojas, e que, por ser secreto, gerava curiosidade, para além do prestígio que a sua nova qualidade de membros lhes conferia. Por outro lado, as lojas, apesar de serem organizações conceituadas e prestigiosas, mais prestígio ganhavam através do reconhecimento social destes seus novos membros. Estes, durante a iniciação como aprendizes nas Lojas, recebiam, além dos segredos, o avental e as luvas (uma vez que não dispunham dos seus próprios objectos de trabalho), e era a última vez que eram vistos: apenas vinham por causa do fascínio com os segredos, e não estavam propriamente interessados no convívio com os trabalhadores.
A aura das lojas operativas prolongou-se até ao tempo dos Tudor, altura em que os pedreiros começaram a perder relevância em virtude do início do uso do tijolo, muito mais barato do que a pedra, que levou ao progressivo abandono desta última, usada a partir daí apenas nas partes mais nobres dos edifícios. Foi assim que, pelo início do século XVII já não havia em Londres lojas operativas em funcionamento. Não fora a admissão dos "gentlemen masons" e as Lojas ter-se-iam extinto de todo; contudo, à medida que o número destes foi suplantando o de membros operativos, foi mudando o funcionamento e o propósito das Lojas. Já não se dedicando à construção de edifícios de pedra, construiam agora templos simbólicos em que cada um aparava e polia as suas próprias asperezas de caráter no sentido de se tornar uma pessoa melhor, tomando com base as regras morais da maçonaria operativa, e como símbolos os instrumentos de trabalho desta bem como as mnemónicas que serviam para recordar as suas lições tecnológicas. Enquanto se extinguia a Maçonaria Operativa, ia surgindo em seu lugar a Maçonaria Especulativa.
Referências:
http://libcom.org/library/trade-guilds-initiation-through-work-andre-nataf
http://www.scottishkey.com/
Paulo M.
19 comentários:
Boas...
Esta série de posts, é uma grande lição para Aprendizes e para os profanos mais curiosos...
A ver se estes últimos aprendem alguma coisa. ;)
abr...prof...
Perdoe-me Paulo M., mas isto não convence ninguém:
«A partir de certa altura as lojas operativas terão aceite no seu seio pessoas que não trabalhavam a pedra: nobres, burgueses, oficiais do exército, em suma, pessoas de estratos sociais mais elevados, conhecidos por "gentlemen masons". Os primeiros destes eram aristocratas com funções dentro do governo, e responsáveis pela edificação de palácios, castelos e afins, pelo que havia com os mesmos uma ligação laboral. Por um lado, essas pessoas buscavam o conhecimento que era transmitido nas lojas, e que, por ser secreto, gerava curiosidade, para além do prestígio que a sua nova qualidade de membros lhes conferia. Por outro lado, as lojas, apesar de serem organizações conceituadas e prestigiosas, mais prestígio ganhavam através do reconhecimento social destes seus novos membros. Estes, durante a iniciação como aprendizes nas Lojas, recebiam, além dos segredos, o avental e as luvas (uma vez que não dispunham dos seus próprios objectos de trabalho), e era a última vez que eram vistos: apenas vinham por causa do fascínio com os segredos, e não estavam propriamente interessados no convívio com os trabalhadores.
A aura das lojas operativas prolongou-se até ao tempo dos Tudor, altura em que os pedreiros começaram a perder relevância em virtude do início do uso do tijolo, muito mais barato do que a pedra, que levou ao progressivo abandono desta última, usada a partir daí apenas nas partes mais nobres dos edifícios. Foi assim que, pelo início do século XVII já não havia em Londres lojas operativas em funcionamento. Não fora a admissão dos "gentlemen masons" e as Lojas ter-se-iam extinto de todo; contudo, à medida que o número destes foi suplantando o de membros operativos, foi mudando o funcionamento e o propósito das Lojas.»
Abraço
Caro Paulo M.
Este texto, não convence convencidos.
Um bom fim de semana a todos
JPA
Boas Paulo...
Aquilo que escreves, é uma boa lição sobre as origens da Maçonaria.
Qualquer interessado, se quiser obviamente, pode procurar em livros vários sobre as Orgiens da Maçonaria, que as livrarias portuguesas teem para vender, constatar que aquilo que escreveste de boa vontade, é de fácil constatação.
( Eu proprio possuo alguns)
abr...prof..
Viva Paulo
Boa sintese de historia.Não me parece que tenha falta de rigor. É um bom trabalho! felicito-o por isso, "mas olhe que ainda não me esqueci", sou como as crianças.. não prometas! Abraço
Viva Diogo
"Perdoe-me Paulo M., mas isto não convence ninguém":
Diogo, você deixa-me deveras confuso.Vem ao blog deixa umas bocas como se estivesse á espera que alguem lhe dissesse não sei bem o quê. Insinua-se conhecedor de tanto, mas para alem de citações pouco "sumo" deixou por por estas bandas.
Aproveito para salientar que não entendo que no seu blog (por onde passo ás vezes)use a escrita de outros para divulgar ideias "anti"... Ainda não entendi bem onde pretende chegar, mas se for o que desconfio não é nada de prestigiante, e até me surpreende. Abraços
Caro Candido,
Reconheço que quanto ao post de Paulo M. fui deveras sucinto. Isso deveu-se a falta de tempo. Amanhã posso focar ponto a ponto o que não me convence nesta história.
Quanto ao que escrevo no meu blogue, não tenha susceptibilidades em dizer ou comentar. Eu procuro a verdade esteja ela onde estiver. E acho que todos deveríamos fazer o mesmo.
@Nuno Raimundo
De facto, nada do que aqui está é novidade. O que tentei foi fazer uma síntese daquilo que os livros dizem mas que poucos se dão ao trabalho de ler. A História não é o meu ramo, mas procurei coligir os dados com algum rigor e estabelecer uma linha de continuidade temporal que permita que os nexos de causalidade sejam aparentes. Espero estar a consegui-lo.
_______________________
@candido:
Afazeres vários impedem-me de escrever com mais regularidade do que duas vezes por semana - o que tenho feito, com um texto à 2ª e outro à 6ª feira, desde o primeiro que escrevi aqui no A-Partir-Pedra. Estou a tentar estabelecer uma certa continuidade naquilo que escrevo, pelo que nem sempre será oportuno introduzir um novo tema de imediato. Esteja, no entanto, descansado: eu também não me esqueci.
_______________________
@Diogo: Nos comentários ao meu primeiro texto trocámos uma pergunta e uma resposta:
Paulo: «não irei discutir consigo até que concorde, mas apenas expor o que sei até que entenda. Serve?»
Diogo: Perfeitamente.
Entenderá que, a não ser que me diga o que não entendeu - para que eu tente explicá-lo - eu não tentarei convencê-lo seja do que for...
Já aprendi a respeitar quem teima em crer em coisa diferente daquela que as evidências demonstram. Afinal, é precisamente nisso que se baseia a liberdade religiosa. O Diogo crê em determinadas coisas com um fervor que raia o religioso. Não sou eu quem o irá rebater.
Esta é uma das características da Maçonaria que o Diogo ainda não percebeu: no que concerne as convicções profundas de cada um, um maçon não debate, não discute, não contesta. Quando muito, apresenta o seu ponto de vista e as razões que o levam a pensar como pensa. Quem ouve - se quiser - pode tomar a iniciativa de absorver e interiorizar o que ouve ao ponto de mudar a sua posição.
Ou não.
Um abraço,
Paulo M.
Perdoe-me Paulo M., mas isto não convence ninguém (esta parte é repetida mas destina-se à compreensão do contraditório):
«A partir de certa altura as lojas operativas terão aceite no seu seio pessoas que não trabalhavam a pedra: nobres, burgueses, oficiais do exército, em suma, pessoas de estratos sociais mais elevados, conhecidos por "gentlemen masons". Os primeiros destes eram aristocratas com funções dentro do governo, e responsáveis pela edificação de palácios, castelos e afins, pelo que havia com os mesmos uma ligação laboral. Por um lado, essas pessoas buscavam o conhecimento que era transmitido nas lojas, e que, por ser secreto, gerava curiosidade, para além do prestígio que a sua nova qualidade de membros lhes conferia. Por outro lado, as lojas, apesar de serem organizações conceituadas e prestigiosas, mais prestígio ganhavam através do reconhecimento social destes seus novos membros. Estes, durante a iniciação como aprendizes nas Lojas, recebiam, além dos segredos, o avental e as luvas (uma vez que não dispunham dos seus próprios objectos de trabalho), e era a última vez que eram vistos: apenas vinham por causa do fascínio com os segredos, e não estavam propriamente interessados no convívio com os trabalhadores.
A aura das lojas operativas prolongou-se até ao tempo dos Tudor, altura em que os pedreiros começaram a perder relevância em virtude do início do uso do tijolo, muito mais barato do que a pedra, que levou ao progressivo abandono desta última, usada a partir daí apenas nas partes mais nobres dos edifícios. Foi assim que, pelo início do século XVII já não havia em Londres lojas operativas em funcionamento. Não fora a admissão dos "gentlemen masons" e as Lojas ter-se-iam extinto de todo; contudo, à medida que o número destes foi suplantando o de membros operativos, foi mudando o funcionamento e o propósito das Lojas.»
-
Diogo – donde,e citando o seu texto:
1 - «A partir de certa altura as lojas operativas terão aceite no seu seio pessoas que não trabalhavam a pedra: nobres, burgueses, oficiais do exército, em suma, pessoas de estratos sociais mais elevados, conhecidos por "gentlemen masons".»
2 – Havia entre estes "gentlemen masons" e os masons uma ligação laboral, porque os primeiros eram responsáveis pela edificação de palácios, castelos e afins.
3 – Esses "gentlemen masons" buscavam o conhecimento que era transmitido nas lojas, para além do prestígio que a sua nova qualidade de membros lhes conferia.
4 - Estes, os "gentlemen masons", após a iniciação, era a última vez que eram vistos: vinham apenas por causa do fascínio com os segredos, e não estavam propriamente interessados no convívio com os trabalhadores (não obstante o prestígio que a qualidade de membros lhes conferia).»
5 – Mas em virtude da introdução do tijolo (em substituição da pedra), as Lojas ter-se-iam extinto de todo não fora a admissão dos "gentlemen masons" que suplantou o de membros operativos, o que alterou o funcionamento e o propósito das Lojas.
Ou seja,
A - Nobres, burgueses, oficiais do exército, em suma, pessoas de estratos sociais mais elevados, conhecidos por "gentlemen masons", que por três vinténs (ou tortura), poderiam sacar aos mais sofisticados masons todos os segredos da arquitectura e construção, decidem fazer parte das Lojas para buscar o "conhecimento".
B – Não obstante o prestígio que a sua nova qualidade de membros lhes conferia, os "gentlemen masons" nunca mais punham os pés nas Lojas, porque «não estavam propriamente interessados no convívio com os trabalhadores».
C – Mas com a introdução do tijolo (em substituição da pedra), e subsequente perda de relevância dos pedreiros, os "gentlemen masons" tomaram conta das Lojas.
Não será isto uma história muito mal amanhada para justificar a edificação de uma sociedade secreta?
Abraço
Boas Paulo...
O que eu quis dizer, é que o que escreves é verdadeiro e toda a gente que passa neste blog, se quiser, pode ter acesso à mesma, sem #esperar# pelo que dizes. ( Assim, quem duvida, pode procurar outros locais/livrarias onde pode confirmar a veracidade do que escreves, e não ficar com dúvidas se estás a "puxar a brasa à tua sardinha ou não)
;)
E se um profano como eu, tem acesso a eles, então é porque não é tão dificil assim aceder a esses conhecimentos tão secretos como afirmam alguns.
O problema é que para se aceder a tais conhecimentos, à que dispender tempo e euros (lol):)
E de facto estás a dar-nos boas lições de História, até porque em alguns casos, a própria História da Humanidade se mescla com a História da Maçonaria. :)
abr...prof...
Viva Diogo:
Estou tentado a optar pela sua linha e fazer também uma citação;VÊS GURREIROS SAO GUERREIROS VÊS MOINHOS SAO MOINHOS! facil, não é?. Abraço
@Diogo:
A - Confrange-me e repugna-me que considere ser o suborno e a tortura meios mais "fáceis" para aceder à informação que do que, simplesmente, solicitar o ingresso e receber a informação voluntária e legitimamente. Nem sei que lhe responda a este respeito - e por isso não lhe respondo nada.
B - Qual foi a parte do "apenas vinham por causa do fascínio com os segredos, e não estavam propriamente interessados no convívio com os trabalhadores" que não deixei bem clara?!
C - Os "gentlemen masons" que referi foram os primeiros dos que foram admitidos nas lojas sem serem maçons operativos, os que estabeleceram o precedente. Outros se lhes seguiram, e esses não se limitavam a ir uma vez e desaparecer. Foram especialmente estes últimos que tomaram conta das lojas à medida que os maçons operativos iam desaparecendo.
Se a história é mal amanhada ou não, deixo-o uma vez mais ao seu critério. Já tem pistas mais do que suficientes para fazer uma investigação séria sobre o tema se, de facto, pretende deitar alguma luz sobre o mesmo, mas é um trabalho que terá que fazer por si. Não espere que eu lhe abra os olhos à força e o incandeie com um holofote...
Um abraço,
Paulo M.
Paulo M.
A - Os masons eram pagos para construir palácios, castelos e afins em pedra. Esta era a sua profissão. Se lhes fosse oferecido dinheiro ou honrarias (esqueça a tortura), não ensinariam eles a sua técnica a outros?
Eu sou programador e faço programas, mas de tempos a tempos sou pago para dar cursos de programação. Qual é o mal?
B - «Qual foi a parte do "apenas vinham por causa do fascínio com os segredos, e não estavam propriamente interessados no convívio com os trabalhadores" que não deixei bem clara?!»
Você no texto diz:
1 - «essas pessoas (os gentlemen) buscavam o conhecimento que era transmitido nas lojas, e que, por ser secreto, gerava curiosidade, para além do prestígio que a sua nova qualidade de membros lhes conferia».
2 - «Estes, os gentlemen, () era a última vez que eram vistos: apenas vinham por causa do fascínio com os segredos, e não estavam propriamente interessados no convívio com os trabalhadores.»
Ou seja, a sua nova qualidade de membros conferia-lhes prestígio, mas não voltavam a pôr lá os pés porque era desprestigiante conviver com os trabalhadores.
C - Com a introdução do tijolo (em substituição da pedra), o conhecimento que era transmitido nas lojas, e que era secreto, deixou de ter interesse. Porque haveriam os gentlemen de tomar conta das Lojas dos? Porque não criariam os seus próprios clubes?
Essa passagem de Lojas de trabalhadores especialistas no manejo da pedra, para Lojas de gentlemen interessados nas ideias e na sociedade parece-me demasiado forçada.
Abraço
@Diogo:
A: Os maçons operativos juravam guardar segredo. Se o revelassem mediante contrapartidas estariam a trair a sua palavra. Convirá que é diferente de receber um pagamento para dar um curso de programação...
B: Não disse eu em lado nenhum que era desprestigiante o convívio com os trabalhadores; isso é conclusão sua. O que eu disse foi que "não estavam interessados", não que "era desprestigiante". Pense em futebol. Consegue, certamente, conceber que alguém se sinta orgulhoso em se tornar sócio de um clube, e esteja mesmo interessado em assistir a um jogo desde que seja de um camarote, mas afaste por completo a ideia de o fazer no meio do odorzinho a sovaco dos braços levantados...
C: A mudança foi progressiva, não foi repentina. Por outro lado, não esqueça que as Lojas Operativas tinham ainda uma aura de prestígio, e uma coisa muito procurada na época: eram antigas. Naquele contexto era totalmente diferente dizer-se "pertenço a um clube com 200 anos" e dizer "pertenço a um clube que foi formado no ano passado"...
Um abraço,
Paulo M.
Paulo M. - «Não disse eu em lado nenhum que era desprestigiante o convívio com os trabalhadores; isso é conclusão sua. O que eu disse foi que "não estavam interessados", não que "era desprestigiante".»
Não meu caro, você disse «não estavam propriamente interessados no convívio com os trabalhadores» o que significava desprestígio.
@Diogo: As Lojas tinham, como tem sido repetido, vários tipos de trabalhadores. Se fosse hoje, haveria de arquitetos e engenheiros civis a capatazes, operadores de máquinas e serventes de pedreiro.
É assim tão difícil para o Diogo conceber que pudessem achar prestigiante pertencer-se a uma "Associação de Construção Civil", onde teriam parte naquilo que os arquitetos e os engenheiros sabiam, mas ao mesmo tempo evitassem o convívio com o "pessoal menor"?!
Um abraço,
Paulo M.
Afinal sempre era desprestigiante!
Abraço
Não, não era.
Abraço.
P.S. (de mim para com os meus botões): Tenho que cultivar este estilo... dá muito menos trabalho do que fazer uma argumentação séria e consegue-se ficar, na mesma, com a última palavra... Fantástico... O que tenho vindo a perder...
Enviar um comentário