28 fevereiro 2009

O Orgulho



Certo dia, um casal, ao chegar do trabalho, encontrou algumas pessoas dentro da sua casa. Pensando que eram ladrões, ficaram assustados, mas um homem forte e saudável, com corpo de halterofilista disse:

- Calma, nós somos velhos conhecidos e estamos em toda parte do mundo.

- Mas quem são vocês? - pergunta a mulher.

- Eu sou a Preguiça - responde o homem másculo - Estamos aqui para que vocês escolham um de nós para sair definitivamente das vossas vidas.

- Como pode você ser a preguiça se tem um corpo de atleta que pratica regularmente desporto? - indagou a mulher.

- A preguiça é forte como um touro e pesa toneladas nos ombros dos preguiçosos; com ela ninguém pode chegar a ser um vencedor.

Uma mulher velha curvada, com a pele muito enrugada que mais parecia uma bruxa diz:

- Eu, meus filhos, sou a Luxúria.

- Não é possível! - diz o homem - Você não consegue atrair ninguém sendo tão feia.

- Não há feiura para a luxúria, meus queridos. Sou velha porque existo há muito tempo entre os homens, sou capaz de destruir famílias inteiras, perverter crianças e trazer doenças para todos, até a morte. Sou astuta e posso-me disfarçar na mais bela mulher.

E um homem mal cheiroso, vestindo umas roupas sujas e rasgadas, que mais parecia um mendigo diz:

- Eu sou a Cobiça. Por mim muitos já mataram, por mim muitos abandonaram pátria e família; sou tão antigo quanto a Luxúria, mas eu não dependo dela para existir.

- E eu, sou a Gula - Diz uma lindíssima mulher com um corpo escultural e cintura finíssima. Os seus contornos eram perfeitos e tudo no corpo dela tinha harmonia de forma e movimentos.

Os donos da casa assustaram-se, e a mulher disse:

- Sempre imaginei que a gula seria gorda.

- Isso é o que vocês pensam! - responde ela. - Sou bela e atraente porque se assim não fosse, seria muito fácil livrarem-se de mim. A minha natureza é delicada, normalmente sou discreta, quem me tem, não se apercebe, mostro-me sempre disposta a ajudar na busca da luxúria.

Sentado numa cadeira num canto da casa, um senhor, também velho, mas com o semblante bastante sereno, com voz doce e movimentos suaves, diz:

- Eu sou a Ira. Alguns conhecem-me como cólera. Tenho também muitos milénios. Não sou homem, nem mulher, assim como os meus companheiros que aqui estão.

- Ira? Parece mais o avô que todos gostariam de ter! - diz a dona da casa.

- E a grande maioria tem! - responde o “avô” - Matam com crueldade, provocam brigas horríveis e destroem cidades quando me aproximo. Sou capaz de eliminar qualquer sentimento diferente de mim, posso estar em qualquer lugar e penetrar nas mais protegidas casas. Mostro-me calmo e sereno para lhes mostrar que a Ira pode estar no aparentemente manso. Posso também ficar contido no íntimo das pessoas sem me manifestar, provocando úlceras e as mais temíveis doenças.

- Eu sou a Inveja. Faço parte da história do homem desde a sua criação - Diz uma jovem que ostentava uma coroa de ouro cravada de diamantes, usava braceletes de brilhantes e roupas de fino pano, assemelhando-se a uma princesa rica e poderosa.

- Como pode ser a inveja, Se é rica e bonita e parece ter tudo o que deseja. - diz a mulher da casa.

- Há os que são ricos, os que são poderosos, os que são famosos e os que não são nada disso, mas eu estou entre todos, a inveja surge pelo que não se tem e o que não se tem é a felicidade. Felicidade depende de amor, e isso é o que mais carece na humanidade... Onde eu estou está também a Tristeza.

Enquanto os invasores se explicavam, um garoto que aparentava cerca de cinco a seis anos brincava pela casa. Sorridente e de aparência inocente, característica das crianças, a sua face de delicados traços mostrava a plenitude da jovialidade, olhos vívidos...

E você garoto, o que é que faz junto desses que parecem ser a personificação do mal?

O garoto responde com um sorriso largo e olhar profundo:

- Eu sou o Orgulho.

- Orgulho? Mas você é apenas uma criança! Tão inocente como todas as outras.

O semblante do garoto tomou um ar de seriedade que assustou o casal, e disse:

- O orgulho é como uma criança, mostra-se inocente e inofensivo, mas não se enganem, sou tão destrutível quanto todos aqui; querem brincar comigo?

A Preguiça interrompe a conversa e diz:

- Vocês devem escolher quem de nós sairá definitivamente das vossas vidas. Queremos uma resposta.

O homem da casa responde:

- Por favor, dêem-nos dez minutos para que possamos pensar.

O casal dirige-se para seu quarto e lá fazem várias considerações. Dez minutos depois voltam.

- E então? - pergunta a Gula.

- Queremos que o Orgulho saia de nossas vidas.

O garoto olha com um olhar fulminante para o casal, pois queria continuar ali. Porém, respeitando a decisão, dirige-se para a saída.

Os outros, em silêncio, iam acompanhado o garoto, quando o homem da casa pergunta:

- Vocês também se vão embora?

O menino, agora com ar de severo e com a voz forte de um orador experiente diz:

- Escolheram que o Orgulho saísse de suas vidas e fizeram a melhor escolha. Pois onde não há Orgulho não há preguiça, já que os preguiçosos são aqueles que se orgulham de nada fazer para viver não percebendo que na verdade vegetam.

- Onde não há Orgulho, não há Luxúria, pois os luxuriosos têm orgulho de seus corpos e nas suas riquezas, julgando-se merecedores.

- Onde não há orgulho, não há Cobiça, pois os cobiçosos têm orgulho das migalhas que possuem, juntando tesouros na terra e invejando a felicidade alheia, não percebendo que na verdade são instrumentos do dinheiro.

Onde não há Orgulho, não há Gula, pois os gulosos orgulham-se das suas condições e jamais admitem que o são, arranjam desculpas para justificar a gula, não percebendo que na verdade são marionetas dos desejos.

Onde não há Orgulho, não há Ira, pois as pessoas cheias de ira condenam com facilidade aqueles que, segundo o próprio julgamento, não são perfeitos, não percebendo que na verdade a sua ira é resultado de suas próprias imperfeições. Os irosos não vêem a realidade pois estão cegos pela ira.

Onde não há Orgulho, não há inveja, pois os invejosos sentem o orgulho ferido ao verem o sucesso alheio, seja ele qual for. Os invejosos precisam constantemente de superar os outros nas “conquistas”, não percebendo que na verdade são ferramentas da insegurança.

Texto de Autor Desconhecido

27 fevereiro 2009

AMANHÃ, dar sangue... (conferir na agenda !)

Atenção ao dia de amanhã. Há encontro marcado para o ginásio da escola Melo Falcão, na Pontinha.
Quem queira ir de carro, tem parque a 20 (vinte) metros !
Quem fôr de Metro tem a estação da Pontinha a 5 (cinco) minutos a pé !

Se a V. saúde o permitir então ultrapassem todas as outras possiveis razões e não faltem, vão à Pontinha ou ao INS e façam a V. dádiva.
Alguém, em algum sítio de Portugal, estará à V. espera para continuar a viver.
Não é "fado choradinho", é uma realidade nua e crua.
Recorram aos Vs. ideais solidários, aos Vs. princípios de cidadania ativa, e cumpram esta função fraterna que é também a demonstração do V. interesse para com os restantes cidadãos portugueses.

Lá estaremos. Até amanhã.

JPSetúbal

Ironman ...

Um dia, o filho perguntou ao pai: - Pai, embora fazer a Ironman os dois ?
Ao que o pai respondeu: - Sim.

Para os que não saibam, Ironman é o mais duro dos triatlos.
A corrida conta com três provas de "endurance" de 2.4 milhas (3.86 kilometros) de natação, seguida de 112 milhas (180.2 kilometros) de corrida de bicicleta, e termina com 26.2 milhas (42.195 kilometros) de maratona ao longo da costa da Grande Ilha (Big Island), no Hawaii.
Pai e filho foram completar a corrida juntos.

Vejam a corrida em :

Video - My Redeemer Lives - Team Hoyt - tangle.com

Façam o possível para serem felizes.

JPSetúbal

26 fevereiro 2009

Ritos e rituais

José Restolho, um profano atento a este blogue e que tomou a iniciativa de se corresponder comigo, interessa-se, manifestamente, pelo tema do ritual. Já anteriormente me questionara a propósito deste tema, dando origem ao texto Pergunta de profano. Agora, enviou-me um novo e curto texto, no qual regista a sua visão de profano sobre ritos e rituais, algo que os maçons assumidamente praticam. Ao enviar-me este texto, o meu correspondente pretendia um comentário meu sobre o seu teor. Mais do que me limitar a corresponder a esse pedido, entendi por bem fazê-lo aqui no blogue, para tanto tendo solicitado e obtido autorização para publicar o pequeno texto que segue.

Bom mais uma vez, aproveito para deixar aqui o meu profano testemunho, desta vez sobre os ritos maçónicos.


Um dos aspectos da maçonaria que mais confusão provoca aos profanos é sem sombra de dúvida a existência de ritos “esotéricos”. Muito se tem especulado sobre a sua natureza, desde conspirações políticas, ritos de carácter satânico, etc. Gostaria então de começar com uma pergunta simples:


-O que é afinal um ritual?


Fazendo uma busca simples na auto-estrada da informação, conclui que um ritual é nada mais, nada menos do que “um conjunto de gestos, palavras e formalidades, várias vezes atribuídas de um valor simbólico, cuja performance das quais é usualmente prescrita por uma religião ou pelas tradições da comunidade.” Proponho agora ao leitor que pare para reflectir sobre aquilo que o rodeia. Eu propus-me a fazer o mesmo e apercebi-me que no final de contas estamos rodeados por rituais e não me refiro apenas aos ritos religiosos (baptismo, matrimónio, missa, etc). Por exemplo no meio académico, as tão polémicas praxes, que no fundo figuram um rito iniciático da vida académica (muito se pode escrever sobre a praxe, mas prefiro deixar esse tema para outro texto), ou ainda a queima das fitas, um rito de passagem tão carregado de simbolismo (o fim de uma grande caminhada e o início de uma outra ainda maior). Nas artes marciais, todo o cerimonial de entrada no dojo, de início e de fim de aula.


Muitos mais exemplos poderiam aqui ser descritos mas, com o produto desta minha modesta reflexão, pretendo apenas fazer uma ponte entre o profano e o maçónico e de alguma maneira contribuir para o derrubar dos vastos preconceitos existentes em relação à Maçonaria.


O texto de José Restolho explana, com acuidade, um ponto de vista possível de um profano, designadamente de um profano que procura conhecer e analisar, sem preconceitos, o fenómeno da Maçonaria. Muito acertadamente, regista que ritos e rituais não são realidades exclusivas da maçonaria, Existem em muitas atividades sociais, de diferente natureza. Por regra, tudo o que assume alguma importância para um conjunto de pessoas é ritualizado.
A espécie humana sente-se confortável com rituais. Transmitem-lhe segurança, identificação.

Os rituais maçónicos partilham desses desideratos e acrescentam mais outro: forma de preparação para aquisição de conhecimentos, forma de despertar a atenção para aspetos da vida interior, do Homem, da Sociedade e do Universo que, sem eles, seriam mais dificilmente identificáveis.

O ritual influencia o humano através de algo a que só muito recentemente a Ciência começou a dar atenção: a inteligência emocional, aquele espaço que está entre a Razão e a Emoção, ou, se quisermos, o ponto por onde os sentimentos e emoções influenciam a Razão. E, inversamente, o território onde, através da Razão,se influenciam as emoções. Um ritual, bem elaborado, bem executado, bem dirigido, pode, à pessoa certa e apta, preparada, para tal, influenciar, desenvolver, abrir horizontes mais largos do que todo um curso com longas e trabalhosas horas de estudo. Um ritual bem feito, relevante, é normalmente complexo e pormenorizado. E há aspetos que só se revelam após se ter apreendido noções que previamente se impunham fossem apreendidas.

Executo e assisto a rituais maçónicos há cerca de vinte anos. Alguns rituais já foram por mim presenciados dezenas, centenas de vezes. Não me é incomum, subitamente, uma qualquer passagem, um qualquer gesto ou ato, uma qualquer chamada de atenção, despertar em mim o acesso a um novo significado, uma distinta relação, um inesperado caminho de análise ou especulação. Não porque nas dezenas ou centenas de vezes anteriores tenha estado desatento. Mas porque é então, e só então, que estou preparado para descortinar esse aspeto. Razão e emoção. A sua interligação, a sua mútua influência, a forma como cada uma pode potenciar a outra, só muito recentemente começaram a ser estudadas em conjunto. Os maçons, através dos seus rituais, há muito que, empiricamente, exploram essa relação. Todos os rituais com significado para as pessoas existem e afirmaram-se e são praticados, porque correspondem a uma necessidade humana de os praticar. Porventura sem se saber porquê, quiçá quem os pratica inconsciente do plano de relação entre a Razão e a Emoção que os torna importantes.

Rui Bandeira

25 fevereiro 2009

Curso para Aprendizes e Companheiros (2)

No dia 10, publiquei aqui o texto Curso para Aprendizes e Companheiros. Verifiquei depois que este texto serviu de fonte para um texto informativo idêntico publicado no blogue italiano Arco Reale Rito de York. A Internet é assim, possibilita que uma notícia corra mundo com grande celeridade.

Nas informações incluídas no mencionado texto, constaram apenas os temas dos primeiros módulos de Aprendiz e Companheiro - porque só relativamente a esses obtive informação. Entretanto, posso agora completá-la.

O segundo módulo de Aprendiz será dedicado ao tema Arcabouço legal da Maçonaria, Regulamento Geral Federal, Constituição e Landmarks. O segundo módulo de Companheiro tratará o tema Simbolismo do grau e compreensão do ritual. Estes módulos serão ministrados no dia 7 de março.

No dia 4 de abril, lecionar-se-ão os terceiros módulos de Aprendiz e de Companheiro, com os temas, respetivamente, Comentários e estudo do ritual e As sete ciências e as sete artes liberais.

Finalmente, no dia 9 de maio, os quartos e últimos módulos serão disponibilizados. O tema para os Aprendizes será Simbolismo e esoterismo do grau. Os Companheiros dedicar-se-ão também ao Esoterismo do grau.

Para mais informações, reler o texto acima mencionado ou consultar o blogue da Grande Secretaria de Cultura e Educação do Grande Oriente de São Paulo.

Rui Bandeira

23 fevereiro 2009

Encontros no Pará

Organizados pela Grande Loja Maçônica do Estado do Pará, terão lugar, entre 5 e 7 de março de 2009, no município de Santarém (Pará, Brasil), o IV Encontro de Grão-Mestres da Região Norte (do Brasil) e o I Encontro das Damas da Fraternidade do Oeste do Pará (ou seja, o I Encontro das Cunhadas do Oeste do Pará).

São objetivos do evento promover a união e o engrandecimento das Grandes Lojas Maçónicas da Região Norte do Brasil e incentivar o encontro de Irmãos e Cunhadas, para troca de experiências, promovendo a união e a fraternidade.

Entre as 9 e as 17 horas de quinta-feira, 5 de março, decorrerá, no Hotel Amazônia Boulevard, a credenciação dos e das participantes. Pelas 18 horas, no Palladium, iniciar-se-á a sessão de abertura. Pelas 18,30 horas, decorrerá uma palestra conjunta, para os maçons e cunhadas, dedicada ao tema Fraternidade e família: Como isso pode mudar o mundo? Pelas 19,30 horas, será a altura de ocorrer um evento regional, a apresentação do boto cor de rosa. Às 21,30, o dia encerrar-se-á com um Cocktail.

Na sexta-feira, dia 6, os trabalhos decorrerão em separado, os dos maçons no Salão Alter do Chão e os das senhoras no Salão Tucunaré. Pelas 9 horas, os maçons assistirão à palestra dedicada ao tema Unificação da Ritualística Maçónica, que será proferida pelo Past Grão-Mestre da Grande Loja do Estado do Pará, Irmão Washington Lucena Rodrigues. À mesma hora, as cunhadas assistirão à palestra intitulada As damas da Fraternidade e o trabalho filantrópico, proferida pela Dra. Lenimar de Oliveira Vaz, médica pediatra e vice-presidente da Associação Comunitária Damas da Fraternidade. Às 10 horas, as senhoras assistirão à palestra sobre o tema Quarenta anos de filantropia, sendo palestrante Sheilla de Castro Abdud Vieira, professora de arte, enquanto os maçons dedicarão a sua atenção à palestra intitulada A ética maçónica nos tempos modernos, proferida pelo Juiz Federal do Trabalho Irmão Océlio de Jesus Moraes. Após um intervalo para café, entre as 11 e as 11,20horas, os trabalhos recomeçarão, quanto aos maçons, com uma palestra sobre Fraternidade Maçónica, que será proferida pelo Grão-Mestre do Estado do Acre, Irmão Luiz Saraiva Correia, enquanto as senhoras efetuarão uma mesa-redonda, coordenada por Goretti Miranda e por Patrícia Lima, esta última Presidente da Associação Damas da Fraternidade da Grande Loja Maçônica do Estado do Pará. Da parte da tarde, pelas 15 horas, no Salão Alter do Chão, terá lugar uma reunião com os delegados dos distritos maçónicos do Oeste do Pará, enquanto no Salão Tucunaré decorrerá uma mesa-redonda com os Grão-Mestres dos Estados. Pelas 19,30 horas, no Palladium, será proferida uma palestra conjunta para maçons e cunhadas intitulada A Amazónia e a Biodiversidade, proferida pelo Irmão Gilberto Pinheiro, Vice-Presidente do Tribunal de Justiça Estadual do Amapá. Pelas 20 horas, iniciar-se-á o convívio social, com a apresentação da orquestra jovem Wilson Fonseca e, pelas 21,15 horas, haverá um jantar-dançante, com Walsinho e Banda.

O sábado, dia 7, será dedicado a um passeio a Alter do Chão (Pará, Brasil) e no domingo ocorrerá a despedida das delegações e o regresso a suas casas.

Rui Bandeira

22 fevereiro 2009

O perfil e o Segredo de um Venerável justo e perfeito


Antes de mais, importa esclarecer que o cargo de V:. M:. não deve ser encarado como um passo inevitável no percurso de um maçon. Pretendo com isto dizer que, eventualmente, nem todos os maçons chegarão a ser VV:. MM:., já que o critério de escolha deve ser o da capacidade e competência e nunca o da antiguidade.
Anualmente é eleito pelos seus pares um novo Venerável Mestre que, entusiasmado pelo cargo, cheio de enorme boa vontade e responsabilidade, prepara o seu programa de actividades, nem sempre o conseguindo cumprir com o êxito desejado. Isso pode ser visto através da forma como a Loja evolui ao longo do Veneralato:
  • pelo nível de envolvimento e adesão dos II:. às actividades da Loja,
  • pelo nível de indiferença ou ausências às Sessões;
  • pelo nível de não cumprimento de compromissos junto do Tes:.,
  • pela falta de apoio, comprometimento, incompreensão e afastamento de alguns Irmãos.
Formalmente falando, o V:.M:. deve ser um homem sensato, de conduta irrepreensível, com as qualificações para ensinar e para aprender a desempenhar muito bem a sua função. É preciso iniciar a jornada pela base, pelo estudo, de modo a não nos faltar a paz, o equilíbrio e a tolerância para discernir quem será o melhor candidato.
Um brilhante orador, professor, empresário, médico, juiz ou advogado, nem sempre pode ser qualificado para "guia dos Irmãos" de uma Loja Maçónica. Ter um nome famoso, riqueza e posição social, dispor de força ou de autoridade, não são qualificações para este fim.
Devemos ter a certeza de que ele possui conhecimentos maçónicos, compreensão e prática da fé raciocinada que deverá utilizar para facilitar a jornada evolutiva de todo o quadro de obreiros da Loja. Devemos também assegurar-nos de que tem a vontade "correcta" para desempenhar este cargo.
A vaidade pode conduzir um homem a considerar-se poderoso e infalível; porém, os mais avisados sabem que na Maçonaria não existem "poderosos e infalíveis" e, sendo uma fraternidade, não há outra Instituição onde melhor se aplique o lema: "liberdade, igualdade, fraternidade".
Um dos problemas internos das Lojas é que muitos Irmãos mais presunçosos e despreparados, depois de serem exaltados, deixam de estudar, achando que atingiram a "Plenitude Maçónica".
Estes são os primeiros a tentar encontrar vias rápidas e alternativas para serem candidatos ao cargo de V:.M:., tendo sucesso em Lojas que, sem critérios ou cuidados, promovem a sua eleição, propiciando o desrespeito pelas tradições da Ordem por pura omissão, conivência ou até cobardia. Outras vezes Irmãos, por melindres, intrigas, ou apenas pela satisfação de vaidades pessoais ou birra, indicam candidatos para o "trono de Salomão", somente em função dos seus relacionamentos.
Estes candidatos, uma vez eleitos e empossados, pouco contribuem para a Ordem Maçónica e/ou para a Loja, tendem a banalizar a ritualística, ou a achar que mudar e inventar futilidades é sinónimo de modernização e inovação.
É necessário que meditem sobre a disciplina que envolve o estudo, a reflexão em torno dos princípios maçónicos, e o empenho responsável de renovação do verdadeiro maçon.
O que devemos fazer para ajudar a impedir o sucesso desses insensatos que faltam à fé jurada?
  • Percebendo qual será o seu "programa administrativo ou de trabalho";
  • Vendo o modo como se comportaram nos cargos exercidos nos últimos anos;
  • Avaliando se aprenderam a lidar com o diferente;
  • Percebendo que grau e que tipo de envolvimento têm com a Loja e com os II:..
  • Considerando o seu carisma, ou seja, as suas qualidades de liderança.
É imprescindível ter também em consideração aspectos como, o conhecimento doutrinário; se chefia a sua família de forma ajustada; se dispõe de tempo disponível que possa dedicar à Loja e à Ordem, sem com isso prejudicar a sua actividade profissional e familiar, etc. Quanto mais claramente conseguirmos ver as qualidades do candidato, mais valioso ele se torna para nós.
Somando o conjunto destas e de outras qualidades, podemos avaliar se, no seu conjunto, o candidato reúne o necessário para assumir este desafio.
Uma escolha apressada de alguém desqualificado poderá trazer resultados muitas vezes desastrosos. Não bastam anos de frequência às reuniões ou a leitura de alguns livros maçónicos, para se dominar o conhecimento exigido.
Para desempenhar este cargo, é preciso estudar - única forma de alcançar o conhecimento necessário - porque aprender é, evidentemente, um acto de humildade. Mas para adquirir sabedoria, é preciso observar. Só assim conseguiremos, ao invés de colocar o homem no centro de tudo, descobrir o tudo que está no centro do homem.
Para desempenhar este cargo, é preciso também "estarmos envolvidos"; é preciso preocuparmo-nos com os nossos II:., com a Loja em si mesma, com a Ordem, etc. Em resumo, é preciso sentirmos que o nosso percurso está intimamente ligado a todos os que de alguma forma se relacionam, directa ou indirectamente, com a Loja. Desempenhar as funções de V:. M:. implica reconhecer quem são estes "stakeholders", e investir no reforço das suas ligações à Loja e entre eles próprios.
O candidato, quando preparado e com o perfil adequado, pode desempenhar esta missão, conduzindo-a com mãos suficientemente fortes para afagar e aplaudir; sabedoria para ensinar e modéstia para aprender, e por este conhecimento, fazer-se paciente, puro, pacífico e justo; adquirindo a aptidão para reconhecer o seu limitado poder e abundantes erros; a sua capacidade e suas falhas; os seus direitos e deveres; dispor de força para, ciente de tudo isso, libertar-se das paixões humanas e assim adquirir a antevisão e o equilíbrio necessários para se livrar dos obstáculos no seu Veneralato, levando Paz, Amor Fraternal e Progresso à sua Loja.
O V:. M:. escolhido tem que ser um líder agregador que entusiasme os seus Irmãos pela sua dedicação e abnegação à Maçonaria. Os grandes Mestres sabem ser severos e rigorosos sem renegarem a mais perfeita benevolência. Tratam os Ilr:. da forma como desejam ser tratados e ajudam-nos a serem o que são capazes de ser: filhos amados do Grande Arquitecto do Universo, portanto IRMÃOS.
O V:. M:. precisa compreender que assiste ao outro o direito de ter uma opinião divergente da sua. Deve procurar criar uma empatia com o crítico, ver o assunto do ponto de vista dele, manifestando entender o seu sentimento. Sendo todos iguais, ninguém é mais forte ou mais fraco e deixa que perceba isso. Só assim ele compreenderá que o seu direito de opinar (participar) está a ser respeitado.
Quando um Irmão necessita falar ouve-o; quando acha que vai cair, ampara-o; quando pensa em desistir, estimula-o.
A bondade e a confiança dos seus pares que o elevaram a essa posição de destaque, exige ser usada com sabedoria, aplicando-a no comprometimento da justiça, nunca na causa da opressão.
No desempenho de sua função terá sempre em consideração que ninguém vence sozinho, mas jamais permanecerá ofuscado pelas influências dos que o apoiaram ou se deixará dominar por qualquer tentativa de predominância.
Ele, como V:.M:., é responsável por tudo o que acontecer de certo ou de errado em sua Loja. Por mais que se queixe da "herança perversa recebida" do seu antecessor; de Iniciações de candidatos mal seleccionados, fardos que agora estão a seu cargo; de Irmãos que faltam ao sigilo, à disciplina; da desorganização da Secretaria e da Tesouraria da Loja, que motivam contrariedades, causam prejuízos de ordem moral e monetária de difícil reajustamento. Perante um cenário destes, deve concentrar-se antes no que tem feito para modificar, agilizar e melhorar este quadro.
A condução de uma Loja dá trabalho, requer paciência, é como se fossemos tecer uma colcha de retalhos, tratar de um jardim, cuidar de uma criança. Deve ser feita com destreza, dedicação, vontade e habilidade.
Importa também perceber que temos nos nossos Irmãos os reflexos de nós mesmos. Cabe-nos, por isso mesmo tentar compreendê-los, pela própria consciência, para poder extirpar espinhos, separar as coisas daninhas, ruins, que surgem entre as boas que semeamos no solo bendito do tempo e da vida, já que que se não forem bem cuidadas serão corrompidas.
A atitude do V:. M:. pode ser descrita como um conjunto de diversos aspectos complementares:
  • Fraternidade - quando o V:. M:. lança a semente da união.
  • Consciência - quando nos convida a analisar os nossos feitos para reconhecer erros cometidos.
  • Indulgência - quando aos defeitos alheios pede paciência.
  • Amor - quando floresce um sentimento puro de amizade aos olhos de todos.
  • Bondade - quando convive com os nossos erros, incompreensões, medos, desânimos, perdoando de boa vontade.
  • Justiça - quando deixa que cada um receba segundo os seus actos.
  • Felicidade - quando nos lábios de um Irmão aparecer um sorriso, e outro sorri também, mesmo de coisas pequenas para provar ao mundo que quer oferecer o melhor.
  • Instrutor - quando valoriza a ritualística, o simbolismo, utilizando as Sessões Ordinárias como uma forma objectiva de instruir o Irmão, incentivando o estudo e a discussão de tudo que seja relevante para a Ordem em particular e para a sociedade em geral.
  • Mestria - quando estimula os II:. a apresentarem trabalhos de conteúdo, elaborados por eles, e recusa simplesmente cópias retiradas de livros, revistas ou Internet, e o que é ainda mais inconveniente, insensato e desastroso, o recurso do plágio, ou seja, à cópia ou imitação do trabalho alheio, sem menção do legitimo autor.
Mestre sim, porque, sempre independente, nunca perde a alegria, nunca se acomoda e, como fiel condutor que representa o grupo, que ocupa a primeira posição de comando, isto é, comanda (manda com) os seus liderados em qualquer linha de ideia, se assume como o líder. Quando ao sair das reuniões cada um de nós se sentir fortalecido na prática da Arte Real, do bem e do amor ao próximo, podemos apelidar o local de Loja Maçónica Regular, Justa e Perfeita.
Acabando a tristeza e a preocupação, surge então a força, a esperança, a alegria, a confiança, a coragem, o equilíbrio, a responsabilidade, a tolerância, o bom humor, de modo que a veemência e a determinação se tornam contagiantes, mas não esquecendo o perigo que representa a falta do entusiasmo que também contagia.
E, finalmente, quando se aproximar o final do seu Veneralato, deve fazer uma reflexão sobre quais foram as atitudes reais de beneficência que tomou; referimo-nos não só ao auxílio financeiro a alguma Instituição filantrópica, mas também ao "ombro amigo" na hora necessária, ou o empréstimo do seu ouvido para que as queixas fossem depositadas.
O V:. M:. nunca deve deixar de agradecer por ter sido a ferramenta, o instrumento de trabalho criado por Deus, usado como símbolo da moralidade, para trazer luz, calor, paz, sabedoria, beleza para muitos corações e amor sem medida no caminho de tantos Irmãos.
Ao encerrar o se mandato, é importante que consiga afirmar a todos os obreiros de sua Loja: "não sinto que caminhei só. Obrigado por estarem comigo. Obrigado por me demonstrarem quanto bem me querem. Eu também vos quero bem. Gostaria de continuar, mas é tempo de "passar o malhete" e dizer: MISSÃO CUMPRIDA!"
Nas nossas reflexões, que o amor desperte nos nossos corações e juntos, com os olhos voltados para frente, consigamos tenacidade para construir o presente e audácia para arquitectar o futuro, por isso, NUNCA DEVEMOS DEIXAR O NOSSO VENERÁVEL LUTAR E CAMINHAR SÓ!
Esta não é a enumeração exaustiva de todas as qualidades que distinguem o Venerável Mestre ideal, mas todo aquele que se esforce em possuí-las, estará no caminho que conduz a todas as outras.
Caro leitor, espero tê-lo ajudado a entender "O perfil e o Segredo de um Venerável Justo e Perfeito..."
Adaptado (de forma muito livre) de texto escrito pelo I:. Valdemar Sansão
O Original deste texto pode ser encontrado aqui
A Loja Mestre Affonso Domingues encontrou uma forma bastante eficaz de assegurar a continuidade na qualidade, dos seus VV:. MM:. - estabeleceu um percurso que leva os candidatos designados a percorrerem diversas funções na Loja, até chegarem ao cargo de V:. M:.. No meu entender, esta solução permite atingir diversos fins igualmente importantes:
  1. O futuro V:. M:. desempenha diversas funções cujo conhecimento contribui e é importante para o seu trabalho como V:. M:.
  2. O futuro V:. M:. é envolvido progressivamente na actividade de gestão da Loja, chegando a V:. M:. já com algum domínio sobre os problemas que a Loja possa ter.
  3. Os mestres mais antigos (normalmente antigos VV:. MM:.), podem acompanhar a progressão do futuro V:. M:., aconselhando-o e apoiando-o na sua progressão.
  4. "Permite detectar precocemente" se o candidato vai ou não vai conseguir ser V:. M:. e, em casos extremos, tomar decisões.
Paradoxalmente, no meu caso pessoal, serei eventualmente V:. M:. dentro de algum tempo, o que significa que o sistema que temos não é perfeito - permite ainda erros de "casting". Tenho contudo esperança que, se necessário, haja a coragem de aplicar o ponto 4 (acima), sendo assim a loja consequente com o inicio deste texto - o critério de escolha tem de ser o da capacidade e competência e nunca o da antiguidade. A Loja prevalece sobre os II:. e o conjunto destes prevalece sobre cada um, mesmo que possa vir a ser V:. M:..

21 fevereiro 2009

Le seul Orchestre Symphonique de Kinshasa

(Por "razões de ordem técnica" este post sai com um dia de atraso)

Para fazer inveja ao "Zé da Música" e ao Rui, hoje 6ª feira, que por acaso até é um dia especial para mim, resolvo ser eu a deixar um convite de fim de semana.
E logo este que é de Carnaval.

Como logo se verá, inveja ao "Zé da Música"... porque se trata de música no blogue, ao Rui porque se trata de desafio para o fim de semana, implicando com as habituais estorinhas que ele aqui costuma deixar para "des-setressar" (?).

Pois um caríssimo Mano dos nossos, o AD (até podia ser Affonso Domingues, mas não é) mandou -me numa mensagem uma ligação que resolvi trazer para aqui.
Este AD tem dias, é como eu, e de vez em quando abro o correio (à noite como é habitual) e o rapaz (correio, já se vê) até se engasga com um quarteirão bem medido de mensagens dele ! Entretanto é capaz de estar semanas sem dar notícias.

Convém notar que o AD passou "pelas Áfricas" e ficou meio "cafrealizado", como quase todos os que por lá passam, razão porque em cada 3 mensagens que manda, 4 têm alguma ligação àquelas terras.

Desta vez é a música supostamente erudita (é coisa que não existe, mas para já facilita o texto), mas em África e de África vem música de espanto.
Não é o caso deste vídeo em que a música é tão africana como eu, que nasci em Lisboa, embora bem melhor do que eu, naturalmente.

O que aqui há de significativo é o contraste entre limitações de vida e alegria de vida.
Como é fácil ser feliz, quando o coração tem dimensão para isso... E é só isso que é necessário, coração grande e cabeça com vontade !

Vejam o vídeo, vale a pena.
Obrigado ao AD pelo envio

JPSetúbal

19 fevereiro 2009

Loja azul

Por vezes, esquecemo-nos que o que é simples e básico para quem já conhece e está habituado a determinado tema pode não ser assim tão facilmente entendido por quem esteja a iniciar o seu contacto com o assunto.

Veio-me este pensamento à tona há alguns dias quando li o texto do José Ruah Música no blogue - uma nova etapa, vi as alterações que efetuou e, sobretudo, assisti a um comentário brincalhão, com água no bico de "futebolês", do simple e à resposta, a sério, do Ruah à "provocação futebolesa" do simple sobre o uso da cor azul para uma das listas de músicas colocadas no blogue pelo Ruah. Este respondeu, muito a sério, repito:

As Lojas são Azuis e o REAA é Vermelho. Não pense o meu caro amigo que as cores foram escolhidas por acaso.

Os maçons entenderam perfeitamente o alcance da resposta do Ruah. Mas interroguei-me sobre se um profano que deparasse com este comentário o entenderia. E concluí que, embora porventura muitos profanos o entendessem ou pudessem perceber com uma simples busca num motor de busca, certamente haveria alguns que teriam dificuldade em perceber a alusão.

Portanto, vamos lá esclarecer, porque o facto de ser básico para uns não significa que o seja pra todos.

Em Maçonaria, designam-se por Lojas azuis as Lojas que trabalham nos três graus essenciais da Maçonaria: Aprendiz, Companheiro e Mestre. Porquê azuis? Simplesmente porque, na sua origem, essa foi a cor escolhida pelos maçons que, no século XVIII, criaram, em Inglaterra, a Grande Loja de Londres. Nesse tempo, havia apenas um rito praticado e a cor que o identificava, a cor principalmente usada nos artefatos dos maçons, era o azul.

E assim permaneceu, designadamente nos países anglo-saxónicos, que, praticamente em exclusivo, praticam apenas o Rito de York ou suas variantes. A cor deste rito é o azul.

Como nos países anglo-saxónicos a tendência é para a prática de um único rito, e sendo a cor associada a esse rito, passou a designar-se por Lojas Azuis as lojas dos três graus essenciais da Maçonaria.

Com efeito, outras cores são associadas a outras situações em Maçonaria. Por exemplo, os Grandes Oficiais das Grandes Lojas anglo-saxónicas usam, normalmente, colares e aventais orlados na cor púrpura.

Após a implantação da Maçonaria, seguiu-se um período de criação e proliferação de ritos. Cada rito era, pelos que o criavam, associado a uma cor. Das dezenas de ritos que apareceram, como é natural só uns poucos subsistiram. De entre estes, o Rito Escocês Antigo e Aceite, cuja cor é o vermelho.

Na Maçonaria anglo-saxónica, os três graus básicos são, quase exclusivamente (existe uma exceção célebre, que adiante referirei) trabalhados no rito de York ou suas variantes, cuja cor, como acima referi, é o azul. Existem, para além dos três graus básicos e essenciais da maçonaria, sistemas de Altos Graus, que prolongam o caminho iniciado nesses três graus básicos. Mas todos os maçons, nos países anglo-saxónicos, trabalham na Maçonaria Azul (os três graus básicos, no Rito de York ou suas variantes). Os que o pretendem e a tal são admitidos, podem ainda trabalhar em Altos Graus, seja do Rito de York, seja do Rito Escocês Antigo e Aceite. Nos países anglo-saxónicos (ressalvada a tal exceção...) não se trabalha no Rito Escocês Antigo e Aceite nos três primeiros graus. Só a partir do quarto grau.

Na Maçonaria Continental Europeia, em África e na América Latina, pelo contrário, as Lojas que trabalham no Rito Escocês Antigo e Aceite utilizam-no desde o primeiro grau. Aqui, o Rito não é exclusivamente um rito de Altos Graus, antes é um sistema coerente, que vai desde a iniciação até ao último dos Graus Filosóficos. Apesar de a cor do rito ser a vermelha, continua-se a designar as Lojas dos três primeiros graus do Rito Escocês Antigo e Aceite como Lojas Azuis, em uniformidade com o estabelecido no resto do mundo maçónico.

Consequentemente, embora a designação de Loja Azul tivesse originalmente decorrido da cor do rito que no século XVIII se praticava, hoje em dia essa designação aponta as Lojas dos três primeiros graus da Maçonaria, qualquer que seja o rito praticado.

Quanto à tal exceção, que é, afinal, uma mera curiosidade. Presentemente, nos EUA, toda a Maçonaria Regular trabalha num único rito, a variante norte-americana do Rito de York, fixada por Preston e Webb (normalmente denominada por Rito Preston-Webb). À exceção de uns irredutíveis gauleses... Não propriamente a aldeia de Astérix, mas algo de parecido. A Louisiana foi originalmente colonizada por franceses e foi território colonial francês. Foi durante esse período que ali foi introduzida a Maçonaria, segundo o rito mais praticado em França, o Rito Escocês Antigo e Aceite. Ulteriormente, a Louisiana foi vendida pela França aos Estados Unidos e passou a Estado integrante dos Estados Unidos da América. Quando ali se organizou, ao estilo continental norte-americano, a Maçonaria, sob a égide da Grande Loja da Louisiana, todas as Lojas a partir daí criadas passaram a utilizar a variante local do Rito de York. Mas as Lojas pré-existentes que manifestaram o desejo de continuar a trabalhar segundo o Rito Escocês Antigo e Aceite, mesmo nos três primeiros graus, foram autorizadas a assim continuar a fazer. Até hoje! Subsiste presentemente cerca de uma dúzia dessas Lojas. Os maçons americanos chamam-lhe "Maçonaria Vermelha" e... são um polo de curiosidade...

Rui Bandeira

18 fevereiro 2009

Um Grupo de Macacos

Há algum tempo que não colocava um texto aqui, já que tenho estado envolvido no desenvolvimento do Website da Mestre Affonso Domingues (www.rlmad.net), o que não deixa muito tempo livre; contudo, não resisti a partilhar este texto no Blog:


Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula, tendo no centro colocado uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas. Quando um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jacto de água fria sobre os que estavam no chão. Depois de algum tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros enchiam-no de pancadas. Passado mais algum tempo, nenhum macaco se atrevia a subir a escada, apesar da tentação das bananas.

Os cientistas decidiram então substituir um dos cincos macacos. A primeira coisa que ele fez foi subir a escada, dela sendo rapidamente retirado pelos outros, que o agrediram. Depois de algumas agressões, o novo integrante do grupo deixou também ele de subir a escada. Um segundo foi substituído, e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto participado, com entusiasmo, na surra ao novato. Um terceiro foi trocado, e repetiu-se o facto. Um quarto e, finalmente, o último dos veteranos foi substituído. Os cientistas ficaram, então, com um grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam batendo naquele que tentasse chegar às bananas.

Se fosse possível perguntar a algum deles porque motivo batiam em quem tentasse subir a escada, certamente que a resposta seria: "Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui...", ou “sempre que alguém tenta subir a escada, há que lhe bater …”, ou ainda "os que tentam subir a escada, gostam de apanhar; estamos a prestar-lhes um serviço...".

Creio que nem sempre nos questionamos sobre por que motivo "batemos" ou se faz sentido fazê-lo – limitamos a agredir ou a dizer mal, até porque nesta nossa atitude tão Portuguesa, dizer que está mal (bater), “é uma forma de competência”.

Casa do maçom

Iniciativa da Augusta e Respeitável Loja Simbólica Fraternidade Paulista, foi inaugurada, em 27 de abril de 2008, na localidade de Barretos, Estado de São Paulo, Brasil, a Casa do Maçom "João Baroni", que recebe pacientes de várias cidades do país. O espaço oferece hospedagem a maçons e familiares de todo o Brasil, que se encontrem em tratamento no Hospital de Câncer da Fundação Pio XII, de Barretos. Localiza-se na rua Paraguai, nº 1.800, a cerca de 800 metros do Hospital.

A cerimónia de inauguração reuniu representantes das Maçonarias de vários Estados, bem como o Venerável Mestre da Augusta e Respeitável Loja Simbólica Fraternidade Paulista e membros das várias Lojas Maçónicas de Barretos.

A casa é formada por onze apartamentos totalmente mobiliados, apropriados para receber pacientes com acompanhantes. Cinco deles são adaptados para utilizadores de cadeira de rodas. O espaço conta ainda com receção, lavandaria, área de convívio, sala de TV, cozinha e refeitório, num terreno de 1.100 m2, com um total de 460 m2 de área construída.

A casa, concebida com base nos símbolos usados na Maçonaria (esquadro, compasso e régua), foi projetada pelo engenheiro André Ponciano, colaborador do projeto. A construção foi realizada no período de dois anos. A primeira pedra foi colocada no dia 23 de abril de 2006.

(Informação obtida através de mensagem de divulgada no Grupo Maçônico Orvalho do Hermon e pesquisada nos sítios da A.R.L.S. Fraternidade Paulista e A.R.L.S. Cavaleiros de São João, n.º115)

Rui Bandeira

17 fevereiro 2009

Meio por cento


Uma das instituições de solidariedade social que é cara aos obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues é a CERCIAMA - COOPERATIVA DE EDUCAÇÃO E REABILITAÇÃO DE CIDADÃOS INADAPTADOS DA AMADORA, CRL. A CERCIAMA tem a sua sede e instalações de assistência, guarda, ensino, apoio, formação e reabilitação de cidadão inadaptados, designadamente em consequência de serem afetados pela trissomia 21 (vulgo: mongolismo) ou outras doenças ou insuficiências do sistema cognitivo, na R. Mestre Roque Gameiro nº 12, 2700-578 AMADORA e está reconhecida como instituição de utilidade pública (DR, II Série. n.º 152, de 03/07/1984). No seu blogue , a CERCIAMA faz o seguinte apelo, que temos todo o gosto em aqui reproduzir e secundar:

A partir da declaração de IRS, respeitante ao Ano 2008, a tributar em 2009, informa-se que pode consignar 0,5% do Imposto Liquidado (Lei nº16/2001 de 22 de Junho, Art. 32º e Portaria nº 80/2003 de 22 de Janeiro) à CERCIAMA.

Basta inscrever no Anexo H, caixa 9, coluna 901, o número de IDENTIFICAÇÃO DE PESSOA COLECTIVA, neste caso da CERCIAMA.

A CERCIAMA tem como Número de Identificação de Pessoa Colectiva (NIPC), o seguinte:

500 636 826

Quer no modelo de IRS electrónico, quer no modelo de IRS entregue em suporte de papel à vossa Repartição de Finanças, a vossa consignação deve ser assinalada no Anexo H, caixa 9, coluna 901, marcando um X no quadradinho com que termina a linha que refere:

-INSTITUIÇÕES PARTICULARES DE SOLIDARIEDADE SOCIAL ou PESSOAS COLECTIVAS DE UTILIDADE PÚBLICA (art. 32º, nº4 e 6).

Recorda-se que não assinalando nada na Caixa 9, … todo o benefício será directamente consignado à Fazenda Pública!

A CERCIAMA AGRADECE o vosso gesto de solidariedade pessoal, sem descurar que outra possa ser a entidade destinatária do donativo.

Seja Solidário uma vez mais!

Ajude a CERCIAMA

Obrigado

Meio por cento é quase nada! Mas lembrem-se que muitos meios por cento ajudam - e de que maneira! - quem, muitas vezes, é a única ajuda de quem dela absolutamente precisa!

Portanto, meus caros leitores sujeitos passivos de IRS em Portugal, é assim: basta ter o cuidado de guardar estes dados e, quando preencherem a vossa declaração de IRS, colocar o número de pessoa coletiva da CERCIAMA e o tal "X" no quadradinho da caixa 9 do Anexo H e, sem custos para vós, 0,5 % do IRS que vos é liquidado é entregue pela fazenda Pública à CERCIAMA. Se nada fizerem, se nada cuidarem, se não quiserem ter o pequenininho esforço de se recordarem de assim fazerem e de efetivamente o fazerem, a Fazenda Pública, em vez de ficar apenas com 99,5 % do vosso IRS e entregar 0,5 % dele à CERCIAMA, fica com os 100 % todinhos do vosso IRS.

A escolha é vossa!

Mas para quem reclama, resmunga ou murmura que o Estado podia aplicar melhor o dinheiro dos nossos impostos, convenhamos que prescindir de determinar-lhe que entregue a pequenina parte do nosso IRS que ele, Estado, aceita que nós determinemos a quem deve entregá-la, não será muito coerente...

E a CERCIAMA merece que nos lembremos dela e que tenhamos para com ele este gesto pequeno, fácil e sem custos para nós: determinar à Fazenda Pública que lhe entregue 0,5 % do nosso IRS! Quem porventura duvidar, tem uma maneira muito fácil e rápida de tirar as dúvidas: é ir visitar a CERCIAMA e ver, com os seus próprios olhos, o fantástico trabalho que ali é feito!

Leitor de Portugal: não guarde para amanhã o que pode fazer hoje! Imprima este texto e guarde-o na pasta dos documentos que precisará consultar quando fizer a sua declaração de IRS. Assim não se esquece!

Rui Bandeira

16 fevereiro 2009

MISERÁVEL MESTRE crónica de ‘MILLÔR FERNANDES’ (?)

Reapareci com o convite para a dádiva de sangue do próximo dia 28.
Acontece que o nosso inesgotável Rui, já há 3 ou 4 semanas, me enviou uma estórinha supostamente de autoria de Millôr Fernandes, autor de quem sou fã indiscutível desde há muitos anos, pelo humor sem paralelo com que escreve crónicas da vida diária, em críticas tão humoradas quanto verrinosas e certeiras.
Desde o tempo de ‘O Cruzeiro’ que o admiro, e já lá vão várias dezenas de anos (ele tem mais do que eu…).
No início do ‘A Partir Pedra’ um dos primeiros posts que coloquei foi exatamente um texto do Millôr, extraordinário ( a famosa definição da ‘Rôsca’… uma rosca é uma rosca, é uma rosca, é uma rosca.) e aí descobrimos, ambos (eu e o Rui), que era-mos igualmente fãs do Millôr Fernandes.
Este texto, após chegar ao nossos correios, teve um acerto igualmente suposto porque neste momento não temos qualquer certeza quanto à sua autoria.
Chegou como sendo do Millôr, mas a logo depois apareceu-nos um desmentido que nos merece tanta credibilidade quanto a primeira autoria.
Com autor ou sem ele fica uma certeza, não é minha autoria e tão pouco do Rui.
Mas ambos estamos de acordo que merece ser postado !
A questão está em que o que aqui vai no texto ‘não é moleza, não…’, bem pelo contrário, é dureza mesmo !
Eu conheço alguns… por muito que isso me doa, e dói, podem crer.
É o caminho para a perfeição…? pois será… !
Por isso é tão duro, por isso é dureza !
Aí vai :


Tô falando....não param de me perseguir! Estão sempre contra a minha pessoa. E ainda se dizem irmãos. O negócio é que a Loja estava um marasmo. "Tava um saco".
Aliás, por falar nisso, sempre preferi AMASSARMARIA à Maçonaria, vocês sabem. Só tem um negócio lá que atrai: O PODER!
Foi aí que resolvi: quero ser Venerável!
Comecei a conversar com os caras, mas eles me vieram com um papo de que era cedo, que eu não tinha sido secretário...! Função subalterna, trabalha mais do que fala. Jamais! Não tenho tempo para isso... QUERO MESMO É SER VENERÁVEL! Mas tudo tem seu jeito. Os dias passaram, bati papo com uns e outros, fui enrolando. Fiz um leilãozinho de cargos.
Pouco trabalho e muita pose. As Vigilâncias vão para dois alérgicos ao trabalho. Nada de preparar Instruções. Se elas já estão escritas, quem quiser que leia, bolas.
A oratória vai para um caso patológico de exibicionismo que precisa de platéia - vai ter sempre! E por ai continuei...
Quanto àquelas condições de elegibilidade, atropelei todas. Pra freqüência, atestado médico comprovando ‘Mal de Escroque’. Nada como uns livrinhos misticistas. Dou uma cheirada neles e viajo no esoterês...

Bons costumes? Não tem problema, eles ainda não me conhecem direito...
Capacidade administrativa? Bah, administração é coisa para jogar em cima do secretário. Meu negócio é bater malhete e usar paramento. O resto, eu leio e só assino. Mas tem uma turminha que se acha dona da Loja só porque não falta, arruma e desarruma o Templo, chega cedo, comparece no Tronco ou na obra de amor e outras besteiras dessas. Eles resolveram lançar um candidato deles. Mesmo que ele não tenha chance, não custa pichar um pouco.
Como dizia meu guru, "da calúnia sempre fica alguma coisa..." Fui armando nos bastidores, fazendo cabalas com minha grande capacidade de persuasão... Vocês sabem, ele é muito jovem, não presta para mandar...
Comprei presentinhos, fiz longos discursos e botei algumas notas no Tronco (pô que desperdício). Prometi, bajulei e menti. Beijei criancinhas, abracei sogras, fui a batizado e enterro. Enfim, tornei-me o candidato ideal.
O outro boboca, coitado, nem fez campanha. Apresentou um tal plano de trabalho que fazia jus ao nome, só falava de trabalho. Argh! Ninguém deve ter gostado.

Chegou o grande dia da eleição, eu lá tranqüilo, já até pensando na reeleição. Aliás preciso até ver quantas vezes é permitido, de repente, dá até para mudar o regulamento... Por falar nisso, será que venerável é como comprar toca-fitas: instalação é de graça? Não importa. Se não for, ponho na conta da Loja, junto com as dos paramentos, que já mandei fazer, bordados a ouro.
Enfim, o grande momento. Começa a apuração.
Há Unanimidade, estão dizendo. É a glória. Eu mereço...
O quê...? Ganhou o outro? Não absurdo! É roubo! E o meu voto e os compars..., quero dizer, correligionários? Heim...? Não tínhamos freqüência? Vocês não me merecem. Vou fundar uma outra Loja, para ser Venerável.
Vocês ainda vão ver a ‘VIGARICE & PICARETAGEM’ em funcionamento ainda este ano. Quero meu Quit Placet! O quê? Tem de pagar? Deixa pra lá então!
TFA
Ir.·. Millôr Fernandes (?)

E hoje fica assim.

JPSetúbal

13 fevereiro 2009

6ª feira, 13 ! Quem falou em DIA DE AZAR ?

Meus Caríssimos Irmãos, Amigos, Leitores, Comentadores, Críticos e demais interessados no "A Partir Pedra", de vez em quando 'dou à costa', que é como quem diz, reapareço para postar umas bocas...
Acontece que já há muito tempo não se 'faz sangue' neste blog e hoje é o dia do regresso às lides consanguíneas.
Pois bem, não vale a pena pôr muito na carta, porquanto é sabido da maioria dos nossos seguidores, embora nos últimos meses tenham aparecido muitas adesões, que através do 'A Partir Pedra' a R:.L:. Mestre Affonso Domingues faz periódicamente uma chamada aos dadores, antigos, novos e futuros, para colaborarem nas nossas sessões de dádiva de sangue.
É uma prática antiga e desde há 2 anos com a colaboração do magnífico Grupo 19, dos Escoteiros da Pontinha, que com o entusiasmo dos jovens de boa vontade contribuem para a angariação de dadores, sendo que eles próprios são os primeiros a dar o exemplo e a apresentarem-se em peso no ginásio da Escola Melo Falcão (justamente na Pontinha, a 5 minutos do Metro).
Então cá fica o desafio do costume para o próximo dia 28 de Fevereiro, Sábado, durante a manhã das 9 e até às 13 horas.
Não há razão para faltas, desde que as condições físicas o permitam.
Não custa nada, nem fisicamente nem económicamente.
Com a certeza antecipada de que alguém, nalgum lugar, se salvará graças a um tão pequeno gesto de cidadania ativa.
Meus Amigos, a deslocação até à Pontinha, se forem de Metro, até é uma viagem bonita, porque a vista pelas janelas das composições é particularmente colorida para aqueles lados, e se por acaso não virem nada não se preocupem demasiadamente, é sinal de que precisam mesmo de dar sangue !!!
Evidentemente que não será do V. conhecimento, mas alguém, algum dia, Vos irá agradecer o pequeno gesto de humanidade que é a V. dádiva.
Não faltem e tragam um Amigo também.

JPSetúbal

12 fevereiro 2009

Continuação da resposta a outra pergunta

Para além da evolução da maçonaria em dois ramos distintos, Regular e Liberal, o outro fator que, na minha opinião, tem dado origem a criação de diversos corpos que, no mesmo espaço territorial, se reclamam de maçónicos é aquilo a que no texto de ontem apelidei de "insuficiente êxito de alguns em polir a pedra do seu caráter, mantendo-se permeáveis e dominados por vícios como a vaidade, o desejo ou apego ao que consideram Poder, a intolerância". Traduzido por miúdos: vaidades, lutas e ambições por vão "poder", incapacidades de integrar desacordos pontuais, transformando-os desnecessariamente em profundas diferenças, geradoras de afastamentos. A minha própria formulação da frase é demonstrativa de que, se compreendo e encontro justificação para a emergência da Maçonaria Liberal, sou claramente crítico destas outras criações.

Historicamente, no mundo a Maçonaria criou-se segundo os princípios da Maçonaria Regular. Pelas razões e no contexto aludidos no texto de ontem, emergiu também a Maçonaria Liberal. Ambas são formas de Maçonaria. A opção por uma ou por outra depende de conceções da vida e do mundo. Resulta de princípios. São, em qualquer dos casos, escolhas inatacáveis.

Por outro lado, a Maçonaria criou-se como uma instituição masculina. Porém, a seu tempo, se colocou a questão de que as mulheres também podiam e eram suscetíveis de se aperfeiçoar seguindo o método maçónico. Criaram-se assim organizações femininas buscando o autoaperfeiçoamento, segundo o método maçónico, com recurso ao simbolismo e trabalho ritual, adaptado à sensibilidade e idiossincrasia femininas. Essas organizações adotam normalmente designações de Grandes Lojas Femininas e são vulgarmente designadas por Maçonaria Feminina. A Maçonaria Regular, embora considere que a designação de "Maçonaria", sem adjetivos, deve corresponder ao conceito de uma instituição exclusivamente masculina, reconhece o direito ao autoaperfeiçoamento feminino, segundo o método da especulação simbólica e prática ritual, adaptada ao género feminino. É uma realidade distinta da Maçonaria, mas que os maçons regulares reconhecem como louvável. Inclusivamente, em Inglaterra não é incomum a partilha de instalações entre Lojas masculinas e femininas. A Maçonaria Regular, a exemplo da sua posição quanto à Maçonaria Liberal, só não admite intervisitação em reuniões rituais entre maçons regulares e senhoras. Porque as práticas rituais de uns e de outras são específicas para a melhoria dos respetivos grupos, não se justificando presenças ou intromissões que seriam meramente do foro da curiosidade ou de praxe social.

Mas, sendo a Maçonaria Regular exclusivamente masculina, aceitando esta sem reservas o direito feminino a emular, em benefício do seu próprio aperfeiçoamento o método maçónico e sendo a diferença de género um facto da vida, é também inatacável o direito de as senhoras se agruparem no que designam por Lojas e Grandes Lojas Femininas.

Também nalguns pontos do globo se criaram organizações mistas de género, autodesignadas de Co-Maçonaria, isto é, organizações abertas a homens e senhoras. Do ponto de vista da Maçonaria Regular, estas organizações não se justificam. Sendo as sensibilidades masculina e feminina diferentes (é conhecida a frase, que vale o que vale, mas é ilustrativa, de que os homens são de Marte e as mulheres são de Vénus), não se afigura útil nem eficaz um método ou, sobretudo, uma prática ritual única e comum. Ao contrário do que sucede com as organizações femininas, que são reconhecidas como uma realidade que, embora necessariamente diferente, é similar à Maçonaria e de utilidade para as suas destinatárias, a Maçonaria Regular não reconhece utilidade nem necessidade a essas organizações mistas. No entanto, pessoalmente admito que quem optar por integrar uma dessas organizações o faça por princípio, pelo que considero também inatacável o direito de, quem assim o desejar, assim fazer.

Questão completamente diferente é, quer no âmbito dos princípios da Maçonaria Regular, quer segundo as opções da Maçonaria Liberal, que haja quem entenda constituir organizações paralelas. Nesse caso, ou haverá pura imitação, ou criação de organizações justamente consideradas pelas originais como clandestinas. E nesse caso o que estará em causa não serão princípios (pois os imitadores ou clandestinos proclamam os mesmos princípios da organização original), mas apenas manifestações de egos.

Esse tipo de situações ocorreu já em todo o mundo maçónico, quer no âmbito da Maçonaria Regular, quer no da Maçonaria Liberal. Ressalvadas algumas exceções, normalmente dão origem a pequenas e isoladas, interna e internacionalmente, organizações, que estiolam durante algum tempo, até ao seu desaparecimento. A maior parte dura umas dezenas de anos (o que, em Maçonaria, é muito pouco...) desde o nascimento à extinção. As que sobrevivem e permanecem durante mais de um século é porque, algures na sua génese ou desenvolvimento, acabaram por corresponder a interesses ou valores ou princípios diversos e que justificam essa existência.

Na minha opinião, não é grave - até porque - repito - normalmente resultantes de meros egos inchados - a ocorrência desses episódios. O tempo se encarrega de separar o trigo do joio. Cada um que faça o seu caminho e se preocupe consigo e com os seus e deixe viver quem quer seguir, certa ou erradamente, caminhos diferentes.

Nestas situações só há, a meu ver, uma questão a ter em atenção: durante a vida da organização clandestina, alguns elementos de boa vontade aderirão a ela, crentes no seu valor e pretendendo seguir os princípios, seja da Regularidade, seja da Maçonaria Liberal. Esses elementos de boa vontade e boas intenções não devem ser penalizados nem sofrer consequências devido aos inchaços de ego alheios. As organizações originais devem estar atentas a essas situações e, em bases estritamente individuais, criar mecanismos que permitam a quem, ciente que esteja do seu engano, poder prosseguir o seu caminho livre do labéu da clandestinidade.

E não é possível a reintegração da organização clandestina na original? Claro que nunca se deve dizer nunca, salvo em questões de princípio. Mas tenho para mim que isso só é passível de ser encarado, com hipóteses de êxito, quando os egos inchados tiverem terminado a sua passagem pela organização clandestina. É certo que, normalmente, o que incha desincha, mas, em matéria de egos, esse processo costuma ser demasiado demorado... Portanto, na minha opinião, sempre que ocorrem situações de cisão ou clandestinidade, o melhor que há a fazer é dar tempo ao tempo, ter presente que atrás de tempo, tempo vem e que o tempo (quase) tudo cura...

Em resumo, meu caro José Luciano: na minha opinião, não há qualquer estilhaçamento, mas apenas alguma borbulhagem. Efeitos de inchaços de ego...

Rui Bandeira

11 fevereiro 2009

Começo de resposta a outra pergunta

Na sequência do texto Pergunta de profano, José Luciano, através de uma mensagem de correio eletrónico, questiona:

Escreve o Sr. em "Pergunta de Profano":

"Especulativa também porque o trabalho primordial do maçon é especular,...", e eu pergunto, será de tão especulativa que a Maçonaria se estilhaça? será do trabalho sobre a "espiritualidade e a moral" que ela se perde, tantas vezes, em caminhos tão enviesados?

Seria útil que José Luciano concretizasse um pouco mais o seu entendimento, assim limitando o risco de se estar a referir a alhos e eu a responder a bugalhos. De qualquer forma, procurarei dar a minha opinião, segundo o que alcancei da questão colocada. Se errar o tiro, José Luciano fará o favor de me corrigir o azimute, para que eu vise melhor...

A questão contém em si pressupostos com os quais não concordo: que a Maçonaria se estilhaça e que se perde, tantas vezes, em caminhos tão enviesados.

Assumindo que José Luciano classifica como estilhaçar da Maçonaria a existência de diversas Obediências, com diferentes orientações, cada uma reclamando jurisdição sobre um conjunto de Lojas maçónicas, a minha convicção é que tal não deriva de a Maçonaria ser "tão especulativa". Resulta, antes de dois fatores, um positivo, outro nem por isso: essencialmente, da incomensurável bênção de que beneficia a espécie humana, comummente designada por livre arbítrio; nalguns casos, do insuficiente êxito de alguns em polir a pedra do seu caráter, mantendo-se permeáveis e dominados por vícios como a vaidade, o desejo ou apego ao que consideram Poder, a intolerância.

Especular é uma das mais nobres caraterísticas da espécie humana. É o que nos possibilita evoluir, crescer, avançar. A Ciência Experimental nasce, em cada dia, da especulação. O processo científico resulta da elaboração de uma hipótese (especulação sobre se determinada ideia corresponde à realidade) e sua verificação ou infirmação por via experimental. A capacidade de especular, ínsita na natureza humana, é um componente essencial do Livre Arbítrio com que fomos dotados. Cada um de nós faz, em cada momento, as suas escolhas em função da sua análise das hipóteses que descortina viáveis e da probabilidade da sua ocorrência. Especular, portanto, é tão inerente à natureza humana como respirar. Nisto, a Maçonaria nada trouxe de novo ao Homem. O caráter distintivo da Maçonaria - e que eu sublinhei no texto que suscitou a colocação da questão - é o facto de essa especulação ter como ponto de partida símbolos, de cuja apreensão, estudo e compreensão cada um deve partir. Por isso também a Maçonaria, além de Especulativa, muitas vezes é designada por Simbólica.

A especulação simbólica, em si e só por si, em nada contribui, ao menos decisivamente, para a existência de diversas correntes e Obediências maçónicas. O caso mais paradigmático, o que alguns consideram a cisão entre a Maçonaria Regular e a que é designada ou se designa por Maçonaria Irregular ou Liberal ou Universal, e que eu considero antes uma natural, previsível e frutífera divisão do tronco comum em dois ramos, ambos alimentados pela mesma seiva, provinda da mesmas raízes, mas cada um inclinando-se para o lado que melhor lhe convém - e afinal ambos contribuindo para o equilíbrio do todo... -, resultou, mais do que de diversas conclusões sobre diferentes análises, da porventura inevitável consequência de diferentes ambientes, inserções e convulsões sociais. A Maçonaria de matriz anglo-saxónica, a Maçonaria Regular, implantou-se e cresceu no seio da sociedade e das classes dirigentes da sociedade, enquanto instituição integrada na ordem social existente, com o propósito de aperfeiçoar pessoas e, por essa via, contribuir para a melhoria, a evolução da sociedade em que se integrou. A Maçonaria dita Irregular ou Liberal ou Universal resulta de uma implantação em terreno que rapidamente seria sacudido pelos tumultos de uma Revolução, que tudo pôs em causa, que tudo virou e revirou, baralhou e deu de novo, desfez e refez.

É essencialmente destes dois diferentes ambientes evolutivos que - talvez inevitavelmente - resultam estas duas diferentes cambiantes da Maçonaria. A Maçonaria Regular, inserida na ordem social, procurando contribuir para a sua melhoria, permaneceu fiel à conceção original de que "no princípio era o Verbo". Acrescenta às convicções herdadas do antecedente as noções de Razão, de Ciência, de Tolerância. Evolui da Idade das Trevas para o mundo moderno através do Iluminismo e do Racionalismo, sem perder a sua ligação ancestral ao conceito do Criador. Evolui do teísmo para o deísmo, sem deixar de integrar quem se considere teísta, assimilando a noção de que o Criador existe para além das conceções individuais ou coletivas da sua natureza, identidade, aspeto, forma, caraterísticas, etc.. Com isso, integra qualquer noção individual ou coletiva do Criador como respeitável, aceitável. Institui a Tolerância como paradigma. Mas nunca perde a noção do Criador. O Homem procura aperfeiçoar-se, evoluir, porque essa é a sua natureza, assim resulta da Criação. Separando os planos do divino e do humano, não deixa de especular como o humano se aproxima, surpreende, entrevê, o divino. A Maçonaria dita Irregular, ou Liberal, ou Universal, caldeada nos tumultos sociais, confrontada com intoleráveis vícios sociais, extremas desigualdades, opressões inaceitáveis, assume um cariz muito mais interventivo. Mais do que melhorar o Homem e, por essa via, melhorar a Sociedade, entendeu que se impunha, prioritariamente, melhorar, modificar, a Sociedade, para, por essa via, poder melhorar o Homem. E, assim, evoluindo em sentindo diferente do outro ramo, intervém ativamente na política e na conformação e organização social. Mais do que simples força propiciadora de evolução, assume, sempre que o entende necessário, caráter revolucionário. E, assim, claramente que entra em rota de colisão com as forças sociais de cariz conservador das sociedades cuja modificação rápida pretende. Entre essas forças, historicamente está a Igreja Católica. O conflito é inevitável. Do questionamento da Igreja ao dos seus ministros vai um passo. Da colocação em crise do que estes representam um outro, mais curto. Do questionamento da crença, um outro, mais curto ainda. Por outro lado, a luta por valores tão absolutos, tão válidos, tão corretos, como inquestionavelmente são a Liberdade, a Igualdade, a Fraternidade, faz-se com todos os que partilhem esses valores. Ainda que não partilhem crença... Se a Maçonaria Regular já abolira as diferenças religiosas através da capa da Tolerância perante todas as crenças, por que não estender, alargar, essa capa também a quem não tem opinião formada sobre a existência ou não de Criador? E, mais ainda, a quem entende que não existe Criador, mas partilha os valores da Liberdade, Igualdade, Fraternidade?

Na minha opinião, os diferentes ambientes de implantação da então jovem instituição, após a sua transformação de Operativa em Especulativa, explicam com clareza porque ocorrem estas duas diferentes evoluções. Que só podemos considerar naturais, senão inevitáveis. É da natureza das coisas que o que evolui em ambientes diversos evolua diferentemente. A racionalização especulativa, neste caso, vem depois. Ao analisar as diferenças, as consequências, de cada uma das conceções. Racionalização, especulação, que não pode deixar de reconhecer o que é evidente. Diferente evolução, assunção, ainda que apenas parcialmente, de diferentes conceções estruturantes da Maçonaria, seu propósito, sua inserção, implicam o reconhecimento que não se está já perante uma única realidade, mas de duas, embora muito próximas, muito parecidas, irmãs gémeas criadas em ambientes diferentes, mas por isso não menos irmãs, por isso não melhor nem pior uma do que a outra. Afinal, a Maçonaria, raiz e tronco comum, ao deitar dois ramos, ambos fortes, ambos dando frutos de natureza similar, ambos saudáveis, um de Maçonaria Regular, outro de Maçonaria Liberal (a quem uns chamam também de Irregular, outros de Universal), acaba por permitir acolher e melhorar um mais alargado leque de Homens Bons e contribuir para um positivo aperfeiçoamento social.

Estes dois ramos, tendo raízes e tronco comuns, são hoje claramente distintos. Ambos úteis. Ambos respeitáveis. Cada um partilhando com o outro muito, tanto. Cada um crescendo na direção que entende crescer, por si, sem que necessite de arrastar ou prejudicar o outro. Muito em comum e podendo comummente cooperar. Algo em separado, por cada ramo fruído e cuidado.

Não, meu caro José Luciano. O crescimento destes dois ramos autónomos da mesma árvore não é nenhum estilhaçamento, antes natural evolução. E não resulta da tendência especulativa dos maçons, antes, e simplesmente, do resultado do livre arbítrio humano, em confronto com diferentes ambientes.
Porventura reunir-se-ão estes ramos? Duvido! Questiono mesmo se seria bom, se não seria uma involução. Afinal de contas, existem porque correspondem a necessidade diferentes, possibilitando evolução e aperfeiçoamento a pessoas com diferentes formas de conceber princípios fundamentais. Cada Homem Livre e de Bons Costumes pode integrar-se no local onde se sentir mais confortável. E crescer. E melhorar. E evoluir. Para mim, isso é bom. Não um mal!

O texto já vai longo e ainda me falta responder-lhe sob outra perspetiva: a existência de diferentes Obediências que se reclamam de maçónicas, não em resultado destes diferentes ambientes propiciadores de diferente evolução, mas de outros fatores. Com a sua condescendência, deixarei isso para um próximo texto.

Rui Bandeira

10 fevereiro 2009

Curso para Aprendizes e Companheiros

O Grande Oriente de São Paulo (Brasil) inicia no próximo sábado, dia 14 de fevereiro, pelas 10 horas, um curso para Aprendizes e Companheiros, em quatro módulos.

O primeiro módulo de Aprendiz é dedicado ao tema Origens históricas da Maçonaria no Brasil e no mundo.

O primeiro módulo de Companheiro tratará dos temas Origem e história do grau e Particularidades do rito.

Embora o curso se destine diretamente a Aprendizes e Companheiros, a Grande Secretaria de Cultura e Educação Maçônicas do Grande Oriente de São Paulo, entidade organizadora, anuncia que o seu público alvo inclui, não só os maçons destes graus, mas também os Mestres. Que, acrescento eu, se devem sempre considerar eternos Aprendizes, se efetivamente aprenderam algo que valha a pena.

Serão emitidos e entregues certificados aos Irmãos que tiverem frequentado pelo menos 75 % do Curso, ou seja, pelo menos três dos quatro módulos.

O curso será dado no Palácio Maçónico do Grande Oriente de São Paulo, sito na Rua São Joaquim, n.º 457, Liberdade, São Paulo. (E que bem que soa que o Palácio Maçónico se situa na Liberdade...)

O curso é ministrado gratuitamente, mas é solicitada a doação de um quilo de alimentos não perecíveis - a que, obviamente, será dado o adequado uso solidário. (Excelente princípio!)

Para melhor organização das sessões, os interessados devem inscrever-se para a frequência do curso, seja através do endereço de correio eletrónico biblioteca@gosp.org.br, seja através do telefone da rede de
São Paulo, Brasil, 11-3346-7088, extensão (como se diz em Portugal) ou ramal (como se refere no Brasil) 150.

Rui Bandeira

09 fevereiro 2009

Casa Emanuel

A crise está aí! Vejo e sinto que as pessoas estão cada vez mais inquietas, temerosas. Vejo e sinto crescer a tendência para que cada um se feche nas sua concha, se abrigue até que a tempestade passe, em cada dia assumindo que ela será de maior duração do que lhe parecia no dia anterior. Vejo e sinto as pessoas a retraírem-se, a adiar ou anular despesas ou investimentos, por receio de arriscar um mínimo que seja. Enfim, vejo as pessoas a fazerem crescer a crise...

Se bem me recordo dos meus já longínquos estudos sobre os rudimentos de Economia que aprendi, uma das razões de aprofundamento de uma crise / recessão é precisamente o efeito psicológico que gera nas pessoas, levando-as a encerrarem-se no seu casulo que pensam protetor e a tentar passar pelos intervalos da chuva. E aí instala-se o ciclo vicioso de que é trabalhoso sair: o medo gera retração do consumo e do investimento, esta leva à diminuição da atividade económica e ao excesso de capacidade instalada, diminuição de vendas e de faturação, redução de pessoal, desemprego, nova diminuição de consumo, e por aí fora...

Ainda por cima aqui no hemisfério norte o tempo está de chuva, cinzentão, frio e desagradável - não ajuda nada à boa disposição. Suspeito, cá por mim, que os primeiros a sair da crise havemos de ser os portugueses, mas só quando o Sol voltar a brilhar, o tempo aquecer e a praia apetecer. Aí, sim, o pessoal vai decidir que já basta de estar sempre a pensar nas dificuldades, um cidadão também tem direito ao sol, mar e descanso, esta vida, afinal, são só dois dias e... quando dermos por nós já estamos a achar que afinal isso da crise é para os islandeses... E, por incrível que pareça, isso será bom e será um dos remédios para efetivamente ajudar à saída da crise...

Mas, entretanto, importa que mantenhamos a cabeça fria, os pés bem assentes na terra e não embarquemos em pânicos ou derrotismos. E, sobretudo, que tenhamos sempre bem presente que, por difíceis que as coisas estejam para nós, há sempre quem tenha muito maiores dificuldades, mais fundas, mais graves.

Os tempos de crise não devem por nós ser encarados como época de medos, cautela e caldos de galinha.Devem ser encarados como épocas em que aumenta a necessidade de SOLIDARIEDADE. Da nossa solidariedade. Do nosso menos, bem vistas as coisas, ainda podemos retirar uma migalha que, junto com miríades de outras migalhas, serão algo de indispensável a quem está com muitíssimo menos do que nós, quase nada.

Crise não pode, não deve ser sinónimo de egoísmo, antes de solidariedade.

Por isso, aqui se divulga um apelo à solidariedade formulado pelo secretário-geral da Fundação Sousa Pedro:


No dia 19 de Janeiro teve início a campanha
"Coração na Guiné" que visa a angariação de bens de primeira necessidade para enviar para o orfanato Casa Emanuel, na Guiné-Bissau, a única instituição do país que recebe crianças órfãs, com deficiências e HIV.

Esta terá a duração de três semanas e contará com uma divulgação diária no programa da RTP1 "Portugal no Coração" onde serão apresentadas imagens e depoimentos relacionados com este projecto e onde podem também contribuir ligando para o número 760307307, pois o custo desta chamada (0.60€) reverte a favor do Orfanato Casa Emanuel.

Imaginem que
com apenas 0.60 € conseguimos pagar a alimentação de uma criança por dia!

Todas as semanas surgem novos pedidos para o acolhimento de crianças órfãs e em situação de risco e é com a nossa ajuda que é possível à instituição aceitá-los. (Desde que este projecto arrancou a Casa Emanuel já "adoptou" mais 8 bebés...).

É por isso que mais uma vez apelo para esta causa pois todas as ajudas e donativos que queiram dar terão que ser feitos até ao dia 16 de Fevereiro, altura em que o contentor terá que ser fechado e enviado para a Embaixada de Portugal na Guiné-Bissau.

Agradeço-vos em nome de todas aquelas crianças e peço que reencaminhem os contactos que disponibilizo em baixo:

Links com mais informações sobre o projecto

http://www.casaemanuel.org/pt/missaocasaemanuel_ficheiros/frame.html ( em Português)

http://www.casaemanuel.org ( Geral)

CONTAMOS CONSIGO! Juntos podemos fazer a diferença!

Um telefonema. Sessenta cêntimos. Uma criança alimentada durante um dia.

Simples, não é?


Portanto, meus caros amigos, colaborem na campanha e ajudem a CASA EMANUEL.


De caminho, pensem um pouco e vejam como isto da crise é uma coisa muito relativa, afinal...!


Rui Bandeira

06 fevereiro 2009

O tempo

Hoje vais ser um pouco diferente das outras sextas-feiras. Normalmente, neste dia da semana publico uma historieta para reflexão, quase sempre de autor que desconheço, selecionada de entre a correspondência eletrónica que recebo.

Hoje, publico uma pequena história, mas integrada num texto que me enviou José Restolho. Uma reflexão merecedora de atenta consideração e, portanto, geradora de mais reflexão.


Hoje enquanto dialogava com alguém a quem devo muito, por sinal, dei por mim a reflectir sobre o Tempo. Não sobre a meteorologia mas sim sobre o Tempo enquanto medida de intervalos de duração. Bom, Einstein, na sua teoria da relatividade, demonstrou que o Tempo não era afinal absoluto, mas sim relativo. Mas não é sobre a mecânica relativista que a minha reflexão se baseia. O Tempo é como uma cascata de água. Sempre contínuo, impossível de parar. E, tal como se estivéssemos no meio dessa cascata, por mais que se nade contra, acabamos sempre por ir no mesmo sentido da corrente. Já que não podemos fugir ao implacável Tempo, então que podemos fazer? Muita gente prefere ficar parada a pensar “Ai porque fiz eu isto?”, ou então “se eu soubesse o que sei hoje…”. É verdade que não podemos alterar as nossas escolhas, muito menos o passado, mas também não podemos encarar o futuro como algo planeado ao milímetro pois, citando o Princípio da Incerteza de Heisenberg, “No Universo nada é absoluto”. Existem várias correntes filosóficas sobre esta temática: Epicuro dizia que devíamos viver cada dia como os seguidores do Carpe diem defendiam que se devia de viver cada momento com toda a sua intensidade. Não que discorde com estas correntes filosóficas mas prefiro virar-me para oriente e, mais uma vez, encontrar lá a resposta. No meio de um manancial de contos e provérbio zen, encontrei este conto:

Certo dia, Buddha contou a um jovem que parecia desesperado:

Há algum tempo atrás, um homem que estava a caminhar pelo campo encontrou um tigre. Assustado, ele começou a correr e o tigre correu atrás dele. Aproximando-se de um precipício, o homem pegou nas raízes expostas de um arbusto selvagem e pendurou-se, precipitadamente, para baixo. O tigre farejava-o acima. Tremendo de medo, o homem olhou para baixo e viu, no fundo do precipício, outro tigre à sua espera. Apenas a raiz do arbusto o sustinha. Porém, ao olhar para a planta viu dois ratos, um negro e outro branco, que estavam a roer aos poucos a raiz. Nesse momento, os seus olhos descobriram no arbusto um belo morango, ali mesmo ao seu lado. Aí, o homem segurou a raiz só com uma mão, e com a outra pegou no morango e comeu-o. "Que delícia!" - disse ele.


Este conto faz-nos reflectir na importância de aproveitar e de viver o momento na sua plenitude. Quando paro e observo a nossa sociedade contemporânea, vejo a grande maioria das pessoas envoltas no stress do trabalho, sem tempo para nada nem ninguém. Vão-se tornando cada vez mais egoístas, isto é, concentram-se apenas nas suas carreiras profissionais e vão esquecendo o resto (família, amigos, etc). Não menosprezando a importância da carreira profissional, há que não esquecer o resto. Se todos arranjássemos um pouco mais de tempo para os que nos rodeiam, certamente que a nossa sociedade se tornaria mais tolerante. Pessoalmente tento manter esta ideia presente no meu pensamento, faz parte do caminho que percorro diariamente para, e passo a expressão, construção do meu modesto “templo”. Mais uma vez trata-se apenas de um testemunho profano que vos deixo para, tal como eu, reflectirem.

Como se vê, reflexão e busca de aperfeiçoamento não são exclusivo dos maçons! Genericamente, concordo com as conclusões do José Restolho. Apenas sublinho que a capacidade de aproveitar e viver o presente, na sua plenitude não deve corresponder ao abandono da perspetiva de futuro. Como em tudo na vida, fundamentalismos dão sempre mau resultado! O Presente é para ser desfrutado, mas é algo tão frágil que, mal damos por ele, já é Passado. E O Futuro é algo de intangível e incerto, mas, mal cuidamos, estamos imersos nele, não já como Futuro, mas no momento Presente!

Equilíbrio entre o desfrutar do Presente, o Recordar do Passado e o Preparar do Futuro. Esta, na minha opinião, a melhor fórmula para agirmos perante a Vida.


O José Restolho vira-se para o oriente, para aí procurar as respostas às questões filosóficas que o assolam. É um meio como outro qualquer. E, sentindo-se confortável com isso, tão eficaz como qualquer outro. A Sabedoria Oriental tem ainda o bónus de, usualmente, se expressar de uma forma poética ou semi-poética, que é uma feliz aliança entre a Sabedoria e a Beleza.


Mas permita o nosso amigo que puxe dos meus galões lusos e aqui consigne que a lição deste conto zen também está, muito mais terra-a-terra, é certo, presente em dois provérbios populares portugueses:
O que não tem remédio, remediado está e Morra Marta, morra farta! (quanto mais não seja, de moranguinhos...)

Um abraço e o meu agradecimento ao José Restolho pela sua autorização de publicação deste seu texto. E, a todos os leitores, pensem no texto me tirem também as vossas conclusões. Lembrem-se que pensar, refletir, é uma forma de prevenção do Alzheimer
...

Rui Bandeira