14 abril 2007

Rudyard Kipling na Esquadra da Policia

Pois também achei estranho "cruzar-me" com o Irmao Kipling numa esquadra de policia em Lisboa.

Ontem desloquei-me a uma esquadra de Lisboa para participar o assalto do qual fora vitima a minha irmã, mais propriamente o carro dela.

Depois de me identificar e cumprir todas as formalidades e do Sub-chefe diligentemente ir escrevendo no seu computador todas as coisas que lhe ia dizendo, olhei para a parede e vi afixado um poema. Nao liguei de inicio pois pensei que era daquelas "baboseiras" que se penduram em locais como este.

Mas o texto ficou a ressoar e olhei outra vez e li com atenção o seguinte poema que transcrevo.

SE...


Se puderes guardar o sangue frio diante
de quem fora de si te acusar, e, no instante
em que duvidem de teu ânimo e firmeza,
tu puderes ter fé na própria fortaleza,
sem desprezar contudo a desconfiança alheia...

Se tu puderes não odiar a quem te odeia,
nem pagar com a calunia a quem te calunia,
sem que tires daí motivos de ufania,
sonhar, sem permitir que o sonho te domine,
pensar, sem que em pensar tua ambição se confine,
e esperar sempre e sempre, infatigavelmente...

Se com o mesmo sereno olhar indiferente
puderes encarar a Derrota e a Vitória,
como embustes que são da fortuna ilusória,
e estóico suportar que intrigas e mentiras
deturpem a palavra honesta que profiras...

Se puderes, ao ver em pedaços destruída
pela sorte maldosa, a obra de tua vida,
tomar de novo, a ferramenta desgastada
e sem queixumes vãos, recomeçar do nada...

e tendo loucamente arriscado e perdido
tudo quanto era teu, num só lance atrevido,
se puderes voltar à faina ingrata e dura,
sem aludir jamais à sinistra aventura...

Se tu puderes coração, músculos, nervos
reduzir da vontade à condição de servos,
que, embora exausto, lhe obedeçam ao comando...

Se, andando a par dos reis e com os grandes lidando,
puderes conservar a naturalidade,
e no meio da turba a personalidade,
impávido afrontar adulações, engodos,
opressões, merecer a confiança de todos,
sem que possa contar, todavia, contigo
incondicionalmente o teu melhor amigo...

Se de cada minuto os sessenta segundos
tu puderes tornar com teu suor fecundos...

a Terra será tua, e os bens que se não somem,
e, o que é melhor, meu filho, então serás um Homem!


Rudyard Kipling
Tradução de Alcantara Machado


Fiquei surpreso e sem saber exactamente o que pensar. Estou em crer que quem o pôs na parede se ateve ao significado literal do poema, não entendendo que nele vêm as condições básicas para um Maçon progredir e ser melhor pessoa e ser melhor Homem.

Ganhei o dia.

JoseSR

1 comentário:

J.Paiva Setúbal disse...

José, não sejas tão céptico.
Não sei se o Kipling está em todas as esquadras, mas garanto-Te que não está só numa delas e certamente quem o expôs em tais locais não o fez por acaso.
Talvez não tivesse subjacente qualquer sentido maçónico, mas tem o sentido do Homem e isso é suficiente. Ser "Homem" é uma obrigação maçon mas,não é um exclusivo maçon... Faço este comentário porque estou em contacto com uma série de gente da PSP (por sinal em esquadras bem problemáticas pelas zonas que controlam) e constato que fazem o melhor que podem com os meios de que dispõem, muitas vezes excedendo tudo o que seria humanamente exigivel face aqueles meios.
É claro que nós não gostamos da polícia... ninguém gosta (!) mas isso é só mais um componente dos meios com que têm de trabalhar, e bem desagradavel, convenhamos, e...
Se vires um Polícia
Se puderes falar com ele
Se ele precisar de ajuda
Se o puderes ajudar
... faz o que puderes para lhe facilitar a vida. E se calhar dessa vez será ele a ganhar o dia.
Abração.