"Os grandes portugueses"
Mas outra forma há de interacção, para quem pretenda opinar ou sugerir algo: o uso dos endereços de correio electrónico dos vários autores de textos, disponíveis nos respectivos perfis (excepto no caso do JPSetúbal; mas, para esse, podem comunicar comigo, que eu depois retransmito para ele...).
Foi o que sucedeu com um dos nossos visitantes, que me enviou uma mensagem de correio electrónico, em que, além do mais, escreveu o seguinte:
"a razão pelo e-mail, prende-se pelo facto de me ter surgido uma ideia/curiosidade, talvez que o Sr. ate possa esclarecer ou ate mesmo escrever no Blog:
Dos dez nomeados no concurso do "Melhor Português"
http://www.rtp.pt/wportal/sites/tv/grandesportugueses/index.php) quantos e quais foram maçons?
Pelo que li no livro de José Braga Gonçalves o Marques de Pombal foi um dos primeiros maçons em Portugal e dos nomeados Fernando Pessoa também tinha alguma ligação com a maçonaria. Mais alguém?"
Esta mensagem resolveu pela alternativa positiva uma dúvida com que me debatia: fazer ou não um texto a propósito deste programa televisivo? Por um lado, estava tentado a fazê-lo, pela temática histórica do programa e pela sua potencialidade de, pela via lúdica da "eleição" do "maior", reinteressar os portugueses pela História; por outro, o desagradável e infantil "campeonato" de cultores de ideologias representadas por dois dos "nomeados" em que publicamente se transformou o programa e a escolha, fez desaparecer instantaneamente o meu interesse pelo programa. Aquilo deixou de ser um programa lúdico-didáctico, passou a ser um banal pretexto para uma pueril pugna entre saudosistas de Salazar e cultores da personalidade de Cunhal, qual pseudo Benfica - Sporting de baixo nível, que nem Cascalheira - Carcavelinhos chega a ser. Enfim, tacanha mediocridade transformou uma ideia que até era interessante em reality show de baixo nível, como todos o são!
Mas se alguns assim estragaram o que indiscutivelmente era uma boa ideia, muitos - felizmente! - continuam fiéis à boa ideia e aproveitam o pretexto do programa para se interessar pela nossa História. É o caso do meu correspondente electrónico, e será o caso de muitos e muitos, e ainda bem! É, assim, com todo o gosto que vou procurar responder à questão colocada: quantos e quais dos dez nomeados no dito concurso foram maçons?
Os dez nomeados são, por ordem cronológica: D. Afonso Henriques, Infante D. Henrique, D. João II, Vasco da Gama, Camões, Marquês de Pombal, Fernando Pessoa, Aristides de Sousa Mendes, Salazar e Cunhal.
Em primeiro lugar, recorde-se que a Maçonaria Especulativa, a Maçonaria tal como a entendemos hoje teve o seu início em princípios do século XVIII. Antes disso, o que existia era o o que designamos por maçonaria operativa, isto é, a organização profissional dos construtores em pedra, que se organizavam em Lojas de trabalho operativo. A construção em pedra abrangia não só a elaboração dos projectos e planos de construção (actividade hoje associada à profissão de arquitecto), como a direcção da execução da mesma (engenheiro), como ainda a execução da obra (pedreiro, canteiro) e a elaboração das peças decorativas (escultor, gravador, pintor). A partir da segunda metade do século XVII, as oficinas de construção, as Lojas, passaram a admitir também elementos estranhos à arte da construção em pedra, mas nela interessados, particularmente nobres e intelectuais, assim iniciando a transição da maçonaria operativa, organização profissional com ética e princípios próprios, para a Maçonaria Especulativa, sistema de aperfeiçoamento ético e espiritual, independentemente da profissão de cada um.
Portanto, anteriormente ao século XVII, a inclusão de alguém na maçonaria só enquanto operativa, e, portanto, só se tratando de alguém que trabalhasse a pedra.
Dos dez nomeados ficam, assim, automaticamente excluídos dessa hipótese cinco: D. Afonso Henriques, Infante D. Henrique, D. João II, Vasco da Gama e Camões. Vejamos então os restantes cinco.
Cunhal é público e notório que não foi maçon. Dedicou-se à luta política, dedicou-se à ideologia que abraçou.
Salazar é também evidente que não foi maçon, antes se opôs à Maçonaria e contra ela usou o seu poder, tendo feito publicar diploma legal proibindo-a.
Aristides de Sousa Mendes podia perfeitamente ter sido maçon. Os seus princípios, a sua ética, os seus actos, qualificavam-no abundantemente para tal. Os maçons sentir-se-iam honrados em tê-lo na sua companhia! Aliás, na GLLP/GLRP existe uma Loja que homenageia a sua memória, a R:. L:. Aristides de Sousa Mendes, n.º 32. Mas não existe qualquer registo de entrada na Ordem Maçónica. Mas sem dúvida que o seu comportamento, a sua postura e os seus ideais permitem que, sem objecções, dele se diga que foi um autêntico "maçon sem avental".
Quanto a Sebastião José de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras e Marquês de Pombal, existem efectivamente indícios de que terá sido iniciado maçon. A época, as viagens, as ligações pessoais e o sentido de modernidade autorizam essa ideia. José Braga Gonçalves, designadamente no seu livro O maçon de Viena sustenta essa tese com abundância de pormenores, alguns dos quais talvez um pouco forçados (estou a pensar na tese de que os planos da Baixa Pombalina reproduzem a disposição de uma Loja Maçónica: só com algum esforço e alguma dose de boa vontade se pode concluir pela afirmativa). Mas, apesar dos pesares, o conjunto de indícios apontados por Braga Gonçalves é de considerável peso. No entanto, até agora não se encontraram provas irrefutáveis que confirmem essa forte possibilidade. O Marquês de Pombal também é homenageado por uma Loja da GLLP/GLRP, a R:. L:. Marquês de Pombal, n.º 19.
De referir, ainda, que a GLLP/GLRP dedica à memória do Poeta dos Lusíadas a R:. L:. Camões, n.º 15, e à do Navegador a R:. L:. Infante D. Henrique, n.º53.
Rui Bandeira
2 comentários:
bOaS!
Sempre ouvi dizer que o Marquês de Pombal teria sido iniciado na "Arte Real" aquando da sua estadia em Viena. Será essa informação que tenho, incorrecta?
Muito Bom,
O Salazar era impensável.....Mas sempre pensei que Aristides Sousa Mendes e Álvaro Cunhal tivessem alguma ligação
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