Baden-Powell e a Maçonaria
Ao sair anteontem da reunião da Loja Mestre Affonso Domingues, conversava com um de meus Irmãos sobre a acção de recolha de sangue de amanhã (a propósito: não esquecer! Amanhã de manhã, na Pontinha, EB de Mello Falcão) e sobre o Grupo 19 dos Escoteiros de Portugal e esse meu Irmão, de passagem, afirmou que Baden-Powell, o ideólogo e criador do Escotismo, fora maçon. Não duvidei - o Irmão que o afirmara é muito sabedor e de grande cultura - e tomei mentalmente nota para recolher na Rede elementos para publicar no blogue um texto sobre Baden-Powell.
Pois bem, até os melhores se enganam e, no caso, ao que parece, o erro é muito comum.
Segundo Frederick Smyth, in Ars Quatuor Coronatorum: Transactions of Quatuor Coronati Lodge, No. 2076, vol. CII, Londres, 1990, p. 264, não existe qualquer prova de que o Major-General Lord Robert StephensonSmyth Baden-Powell tenha sido um maçon, seja da Obediência inglesa, seja da irlandesa, seja da escocesa. É remotamente possível, mas improvável, que tenhasido iniciado em outra jurisdição. O Irmão George Kendall, na sua prancha "Maçonaria durante a Guerra Anglo-Boer, 1899-1902" (AQC 97) não faz qualquer menção a ele. Na obra de Paul Butterfield "Centenário: os primeiros cem anos da Maçonaria Inglesa no Transvaal" similarmente não existe também qualquer referência. Se Baden-Powell tivesse sido um membro da Ordem, tal teria seguramente vindo a lume durante a guerra na África do Sul, no decorer da qual a actividade maçónica está bem documentada".
No entanto, in Ars Quatuor Coronatorum: Transactions of Quatuor Coronati Lodge No. 2076, vol. CIV, Londres, 1991, p. 257, esclarece-se que Lord Baden-Powell claramente que aprovou a Maçonaria, pois entregou à primeira Loja identificada com o seu nome (n.º 488,Victoria) o Volume da Lei Sagrada que nela ainda hoje é utilizado.
Estas citações recolhi-as e traduzi-as daqui, donde também retirei mais alguns elementos que igualmente incluo neste texto.
Segundo o artigo de George W. Kerr "A Maçonaria e o Movimento Escotista", publicado aqui, existem por todo o Mundo Lojas maioritamente formadas por antigos e actuais escoteiros, agrupadas numa associação denominada Kindred Lodges Association, que promove reuniões bianuais. Esta associação de Lojas de dupla filiação maçons /escoteiros compreende 28 lojas em Inglaterra, 1 na Escócia, 1 na Irlanda, 2 no País de Gales, 10 na Austrália, 1 na Nova Zelândia e 1 na Alemanha.
Existem seis Lojas maçónicas com o nome de Baden-Powell na Austrália. Destas, localizei o sítio da já mencionada n.º 488, de Victoria e é referenciada no texto de onde retirei as citações a Loja n.º 505, que publicou em 1982 o opúsculo intitulado A Maçonaria e o Movimento Escotista. A Loja n.º 222 atribui anualmente o prémio Ted Whitworth, integrado no sistema de prémios dos South Australian Rovers, uma organização escotista.
Encontrei ainda sítios de Lojas com o nome de Baden-Powell na Irlanda, na Argentina e na África do Sul.
Encontrei ainda referenciada a Loja Baden-Powell n.º 381, na Nova Zelândia.
E por aqui me fico durante os próximos dias. Vou estar ausente aproveitando uma semana de férias. O blogue fica bem entregue aos demais colaboradores.
Pois bem, até os melhores se enganam e, no caso, ao que parece, o erro é muito comum.
Segundo Frederick Smyth, in Ars Quatuor Coronatorum: Transactions of Quatuor Coronati Lodge, No. 2076, vol. CII, Londres, 1990, p. 264, não existe qualquer prova de que o Major-General Lord Robert StephensonSmyth Baden-Powell tenha sido um maçon, seja da Obediência inglesa, seja da irlandesa, seja da escocesa. É remotamente possível, mas improvável, que tenhasido iniciado em outra jurisdição. O Irmão George Kendall, na sua prancha "Maçonaria durante a Guerra Anglo-Boer, 1899-1902" (AQC 97) não faz qualquer menção a ele. Na obra de Paul Butterfield "Centenário: os primeiros cem anos da Maçonaria Inglesa no Transvaal" similarmente não existe também qualquer referência. Se Baden-Powell tivesse sido um membro da Ordem, tal teria seguramente vindo a lume durante a guerra na África do Sul, no decorer da qual a actividade maçónica está bem documentada".
No entanto, in Ars Quatuor Coronatorum: Transactions of Quatuor Coronati Lodge No. 2076, vol. CIV, Londres, 1991, p. 257, esclarece-se que Lord Baden-Powell claramente que aprovou a Maçonaria, pois entregou à primeira Loja identificada com o seu nome (n.º 488,Victoria) o Volume da Lei Sagrada que nela ainda hoje é utilizado.
Estas citações recolhi-as e traduzi-as daqui, donde também retirei mais alguns elementos que igualmente incluo neste texto.
Segundo o artigo de George W. Kerr "A Maçonaria e o Movimento Escotista", publicado aqui, existem por todo o Mundo Lojas maioritamente formadas por antigos e actuais escoteiros, agrupadas numa associação denominada Kindred Lodges Association, que promove reuniões bianuais. Esta associação de Lojas de dupla filiação maçons /escoteiros compreende 28 lojas em Inglaterra, 1 na Escócia, 1 na Irlanda, 2 no País de Gales, 10 na Austrália, 1 na Nova Zelândia e 1 na Alemanha.
Existem seis Lojas maçónicas com o nome de Baden-Powell na Austrália. Destas, localizei o sítio da já mencionada n.º 488, de Victoria e é referenciada no texto de onde retirei as citações a Loja n.º 505, que publicou em 1982 o opúsculo intitulado A Maçonaria e o Movimento Escotista. A Loja n.º 222 atribui anualmente o prémio Ted Whitworth, integrado no sistema de prémios dos South Australian Rovers, uma organização escotista.
Encontrei ainda sítios de Lojas com o nome de Baden-Powell na Irlanda, na Argentina e na África do Sul.
Encontrei ainda referenciada a Loja Baden-Powell n.º 381, na Nova Zelândia.
E por aqui me fico durante os próximos dias. Vou estar ausente aproveitando uma semana de férias. O blogue fica bem entregue aos demais colaboradores.
Nota: Mais Lojas com a designação Baden-Powell referenciadas aqui.
Rui Bandeira
7 comentários:
Caro Rui
fiquei surpreso com a grafia "escoteiro" tanto neste post quanto no anterior.
Não lhe dei muita importancia, mas hoje fui ao Priberam e ao Wikitionario.
O segundo escrito em lingua portuguesa do Brasil trazia como "sinônimo" de Escuteiro - Escoteiro.
Já o priberam define escoteiro como:
de escote
s. m.,
aquele que viaja sem bagagem, pagando escote pelo caminho para comida e dormida;
adj.,
que não traz bagagem;
só, desacompanhado.
Fiquei mais sossegado. Afinal o Rui nao se enganou escolheu usar um "sinônimo" para dessa forma agradecer aos nossos visitantes Brasileiros a gentileza de visitarem o nosso Blog, em vez de usar a palavra portuguesa:
Escuteiro
@ JoséSR:
Escoteiros e escuteiros são efectivamente sinónimos. Mas a utilização da grafia de uma ou outra forma tem também outras razões.O que Baden-Powell criou foi os "scouts" (exploradores, batedores). A forma de introduzir o neologismo em português podia ser feita com a grafia com o "o", em aproximação à escrita em língua inglesa, ou com a grafia com o "u", privilegiando a aproximação à fonética.
O que se veio a passar é que, em Portugal, como em vários outros pontos do globo, rapidamente passou a haver duas correntes de "scouts": a original, com princípios muito similares aos maçónicos e sobretudo COM INDEPENDÊNCIA E IMPARCIALIDADE RELIGIOSA; e uma corrente católica.
No Universo linguístico português, a primeira escreve-se com "o" - é a correspondente à orientação original, corporizada em Portugal na ASSOCIAÇÃO DOS ESCOTEIROS DE PORTUGAL - ver em http://www.escoteiros.net/site/.
A corrente católica utiliza a grafia com "u" e é corporizada em Portugal pelo CORPO NACIONAL DE ESCUTAS - ESCUTISMO CATÓLICO PORTUGUÊS - ver em http://www.cne-escutismo.pt/.
No caso, o Grupo 19 está integrado na Associação dos Escoteiros de Portugal e o que Baden-Powell criou não foi, seguramente, uma organização católica, antes aberta a todos os jovens que adiram aos sãos princípios dos "scouts".
Daí que eu tenha entendido adequado utilizar a grafia ESCOTEIRO e não ESCUTEIRO, ciente de que cada uma das grafias tende a corresponder a organização diferente.
Boas férias amigo Rui. Aproveite o descanso, que é sempre bom para o retemperar de forças.
Um abraço
Em primeiro lugar, desculpem-me o longo "comentário"(?)mas não pude resistir. Parabéns pelo vosso blog!
J.P.
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Esco/u/tismo, maçonaria e laicidade
-depoimento de J.A.Paiva, pedagogo social e animador da REGRALL/Terra Viva!
Embora tenha sido baptizado católicamente, s filiei-me aos meus 11-12 anos num grupo da AEP-Assoc.dos Escoteiros de Portugal, em Algés (o 14), anexo a uma igreja prebiteriana.
Tinha, com os meus 8 anos, ficado fascinado com a história do Esc/o/u/tismo e de B.Powell no "Cavaleiro Andante" (uma revista juvenil semanal de banda desenhada de então) e impressionou-me positivamente a ideia de um movimento mundial de jovens aventureiros, uma "irmandade mundial das florestas"- que seria o oposto à nacionalista e obrigatória (nas escolas primárias, secundárias e liceus, até ao antigo 2ºano)- e a mim bastante antipática -"Mocidade Portuguesa".
Assim,filiei-me naquele grupo da AEP porque não me exigiam pertencer à igreja à qual estava anexo (e eu...era católico!) - o que achei simpático. Aí conheci outros jovens, alguns angolanos, que igualmente não pareciam gostar muito do regime...
No fim desse ano (1962), por motivos familiares, tive que vir viver com a minha mãe para o Porto, na altura uma cidade bastante conservadora...
No antigo liceu D.Manuel II conheci alguns colegas que tinham lido também o tal "Cavaleiro Andante", e entusiasmados se tinham feito "escutas"do CNE (associação escutista confessional católica) e que me convidaram a fazer parte do grupo deles em Cedofeita. Estive lá uns meses -embora mantendo a minha filiação à AEP -mas entretanto descobri que havia AEP também no Porto e depois de uma tentativa frustrada de criar um grupo anexo aos Bombeiros de Leça da Palmeira (a minha mãe era funcionária pública e no liceu em Matosinhos, os chefes da "M.P."local ameaçaram-me de represálias sobre ela e de "partir tudo" se o grupo, apoiado pelos bombeiros e pelo 14 de Lisboa, fosse para a frente...), acabei por me filiar no então existente grupo 44 da AEP em Gaia - um grupo muito sui-generis, formado exclusivamente por gente jovem trabalhadora...Até porque eu, com 13 anos, tivera entretanto que deixar o liceu e era igualmente jovem trabalhador.
Mas uma coisa que me fez decidir foi o facto de num então "manual de 2ªclasse" do CNE se apontar a AEP como praticante de "actividades maçónicas" e esta associação ser amiúde apelidada por alguma gente que eu conhecia do CNE como "escuteiros democráticos"- o que naquele tempo era um autêntico e perigoso anátema mas então mais simpático aos meus olhos!...´
Também em Perafita, onde morei, tinha um vizinho que tinha sido do CNE mas, já adulto, tinha-se afastado por se tornar maçónico - mas que não queria falar disso pois já tinha tido problemas com a PIDE...
Foram o meu avô- que fôra "anarco-carbonário" e estivera no 3 de Fevereiro de 27 no Porto- e a minha mãe -que grávida de mim, tinha sido despedida da RARET, em Alverca do Ribatejo, por se ter recusado a dar dinheiro para flores para o Salazar- quem mais ou menos me explicaram então o que queria dizer "maçónico".
Depois, foi através da leitura do Julgamento de Nuremberga, do Heminguay, do Steinbeck, do Ferreira de Castro, do Aquilino, Jorge Amado, e do Máximo Gorki, entre outros (para além do Baden Powell) , somados às minhas experiências vivenciais como jovem trabalhador , que fui definindo uma posição crítica relativamente ao mundo de então.
Estive até aos meus 17 anos na AEP e tentei criar um grupo, inicialmente secção do grupo de Gaia, no Padrão da Légua,numa igreja católica bastante progressista e anti-colonialista (onde se organizavam procissões que acabavam por ser autênticas manifestações contra a guerra...)
Ao mesmo tempo, apercebera-me que a AEP, embora mais aberta em termos religiosos, era bastante controlada pelo regime (o Alm.te Tenreiro, figura grada da ditadura, era o seu chefe máximo e existiam bastantes dirigentes de grupos que eram agentes da PIDE e informadores -como aliás no CNE também!) e que, pelo menos no Norte, a carga ideológica do escotismo era sobretudo nacionalista e "patrioteira"-herança talvez de um dirigente filo-nazi dos anos 30: Amâncio Salgueiro Júnior.
Com o agravar da guerra colonial e a manutenção do regime por Marcelo Caetano, como muitos outros jovens de então, passei a actividades de resistência até que em 1971 fui preso pela PIDE, primeiro no Porto e depois em Peniche. Numa carta que o Eng.Nobre dos Santos, da chefia nacional da AEP, escreveu à minha mãe eu era acusado de "desvairio político"...
Em 1973, depois de beneficiar de uma "amnistia" ,por pressão internacional e da "ala liberal" do regime, voltei à actividade e a dada altura tive que "dar o salto", mas não para França (que “ficava muito longe”), mas para as Astúrias, onde trabalhei como mineiro (para chegar lá foram-me bem úteis os meus conhecimentos de orientação e sobrevivência, em parte aprendidos nos escoteiros).
Uns dois meses antes do 25 de Abril, trabalhava como operário numa fábrica do Minho, tentando desenvolver contactos e "trabalho político operário". Depois do 25 de Abril, cheguei a reaproximar-me dos círculos da AEP em Gaia mas...continuava por lá a grassar o tal "nacionalismosinho" e em 1980 tentei, c/alguma gente saída da AEP e do CNE, criar os "Escuteiros Livres".
Com a tentativa de alguns elementos tentarem atrelar aquela iniciativa a um partido político (uma espécie de "Pioneiros" mas não do PCP) o grupo que restou dos 3 grupos iniciais, todos em Paranhos, no Porto acabou por se anexar à Terra Viva (então "grupo ecológico" e actualmente associação de ecologia social).
Daqui surgiu em 97-98 a REGRALL-Rede de Grupos de Ar Livre/Eco-escutismo livre, actualmente com 3 grupos e com perspectivas de criação de mais 3 na área do Grande-Porto. Actualmente discutimos o seu PROJECTO EDUCATIVO, no sentido de ser criada uma alternativa esco/utista à obrigatoriedade confessional católica do CNE e à obrigatoriedade inter-confessional da AEP- porque não há por cá ESCO/U/TISMO LAICO -ao contrário da França, por exemplo, onde a associação "Eclaireuses et Eclaireurs de France" está bastante ancorada na Educação Popular e...LAICA! A nós serve-nos bastante de inspiração a sua estrutura e o seu projecto pedagógico. E é no sentido do LAICISMO que vamos…Esperamos que não nos venham a chamar “maçónicos”- porque de facto não o somos. ( alguns de nós somos sim LIBERTáRIOS - mas nem isso pode servir de anátema porque temos gente com diferentes formas de pensar, diferentes pontos de vista sobre religião e não somos nem pretendemos ser monolíticos –embora tenhamos os nossos princípios!
-depoimento de J.A.Paiva, pedagogo social e animador da REGRALL/Terra Viva (mais informações http://terraviva.weblog.com.pt )
(mais informações http://terraviva.weblog.com.pt )
Fui escuteiro 8 anos no Agrp. 191 de Aveiro do CNE. Baden-Powell ou BIPI para os miúdos dele era efectivamente maçon, muitos dos ideias e conceitos escutistas foram baseados na maçonaria. A mística escutista é um exemplo de como BIPI adaptou conceitos da maçonaria.
Não me arrependo de ter sido escuteiro e de ser até ao fim da vida como dizia BIPI
Prezados Senhores leirores do blog, prezado senhor Rui Bandeira.
Aqui no Brasil usa-se o termo Escoteiro. O Escotismo Brasileiro não é ligado a nenhuma organização religiosa. É conhecido por muitos como A Maçonaria-Mirim. É reconhecido pela GLESP - Grande Loja do Estado De São Paulo, como Instituição Para-Maçônica.
Sempre Alerta a todos!
Os Ideais da Maçonaria e do Escotismo são os mesmos!
Alfredo Sanseverino
Chefe Escoteiro - G.E. Irapuã - 189 SP - Brasil
O que me intriga meu amigo é que o Baden Power era amigo do Duque de Connaught, que na época era um Gran Mestre da maçonaria, era tão amigos que o filho de Baden depois levou o nome de Arthur em homenagem do Duque, não tenha sido iniciado, nos mistérios da maçonaria... e tantas lojas levarem seu nome.
Todos sabemos que muitos maçons daquela época permaneciam no mais completo sigilo.
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