Eleição de Grão-Mestre 2014/2016: manifesto do candidato José Manuel Pereira da Silva
Conforme prometido e em cumprimento do princípio da igualdade de tratamento das candidaturas, que livremente assumimos neste blogue, divulga-se hoje o manifesto de candidatura do candidato José Manuel Pereira da Silva, também publicado no sítio na Internet da sua candidatura, de acesso livre, em http://jmpereiradasilva.wordpress.com/.
Carta aos M. Q. I. da GLLP/GLRP em que se explicam as razões duma candidatura ao cargo de Grão Mestre
Vivemos, nestes dias, um período que se espera de profunda reflexão para todos os M:.M:. que reúnem a qualidade para, no dia 21 de junho, decidir sobre qual o seu par a ser investido nas funções de Grão-Mestre da Obediência.
Se falo de reflexão e de decisão individual é porque me recuso a ver, neste processo, uma “campanha eleitoral”, uma “disputa entre candidatos” ou outra qualquer coisa que se assemelhe. Não porque esses processos me sejam estranhos, tantos foram aqueles em que, na minha vida profana, participei e me envolvi com entusiasmo. Porém, não os consigo conceber no interior duma Obediência Maçónica. Por duas razões principais.
A primeira, porque entendo que, ao contrário das organizações profanas, a Maçonaria dispensa individualidades de liderança ou chefia que se afirmem como constitutivos de orientações capazes de mobilizarem um conjunto de seguidores que neles confiem. Entre nós as mais altas funções só podem resultar como emanação duma vontade coletiva. Foi por isso que a minha candidatura não nasceu da minha vontade, mas sim da vontade de várias dezenas de irmãos cuja solicitação de disponibilidade se me impôs como um dever fraterno.
A segunda, assim sendo, porque me repugna a ideia duma disputa entre pessoas que, partilhando os mesmos princípios jurados, se devem dispor à Concórdia e à Fraternidade na mais solene recusa da divergência e do antagonismo.
Candidato-me porque acredito na Maçonaria como um projeto coletivo exemplar que tem no Amor Fraterno uma fonte suficiente de legitimação do serviço que cada um é chamado a prestar.
Todos conhecemos os princípios, apesar da sua origem na antiguidade dos tempos, que fundaram a criação da Maçonaria Universal moderna. A Grande Loja é um garante de que todos partilhamos os mesmos valores, as mesmas regras e o mesmo
respeito pela Tradição com que nos afirmamos como uma via iniciática e com que nos circunscrevemos como Sociedade e Fraternidade num contributo notável ao serviço da Humanidade. Mas, é um garante perante todos e cada um, precisamente porque é dessa necessidade coletiva, tornada consciência, que ela se ergue como realidade necessária e testemunho dum querer e dum crer coletivo.
A Grande Loja é, por isso, uma emanação das Lojas e só estas detêm a soberania que se expressa nas competências do órgão máximo da nossa governação: a Assembleia de Grande Loja. E não existe outra sede de detenção dum poder efetivo. Toda a função executiva se lhe deve submeter e nenhuma autonomia que
não resulte duma clara delegação desse poder deve ser questionada e corrigida. Este é o princípio da constituição do poder entre nós que, justamente, se inscreve na Constituição e no Regulamento Geral em cumprimento dos princípios da Regularidade e da Tradição.
Tal significa que essa constituição dum poder soberano, entre nós, se inicia, propriamente, na eleição de cada VM e se completa com a eleição do Grão-Mestre. Confundir o vértice com a própria pirâmide é um erro, deliberado ou inconsciente, próprio dos que sonham com a formação de nomenklaturas que se pretendem legitimadas para o exercício dum poder que tenho dificuldade em descortinar qual possa ser, mas que não deixa de ter um impacto negativo ao criar a desagradável sensação de que as Lojas devem servir a GL e as decisões que nela se tomem mesmo que ao arrepio da sua vontade. Esta lógica inversa é negativa e cria divisões
internas, por um lado, e um progressivo alheamento da participação coletiva.
Candidato-me porque acredito que a soberania das Lojas deve tornar-se efetiva para que possamos prosseguir o nosso trabalho e irradiar com força e vigor.
Chegam-me ecos dum desconforto crescente entre os Irmãos que manifestam sentir que, entre nós, tem crescido aquilo que podemos identificar como aquela tendência de alguns que se sentem, particularmente, “iluminados” e “talhados” para o exercício de cargos e funções, ou que veem no exercício do grande oficialato uma forma de promoção e ascensão hierárquica. Como se isso pudesse ter algum sentido entre nós e como se esse exercício não seja, ainda, apenas a manifestação daquela disponibilidade que a humildade fraterna reclama para o serviço de todos. Não deixo, contudo, de reconhecer a existência de Irmãos que, por refletirem essas mesmas qualidades de disponibilidade e humildade, desenvolvidas num intenso e assíduo trabalho nas suas Lojas e pela exemplar sabedoria revelada na sua execução ritual se revelam como figuras incontornáveis e como uma mais-valia cerimonial e espiritual, constituindo um exemplo que se deve acentuar e manter.
Mas estes são já sinais dum “desvio” de que todos somos responsáveis na medida em que para ele todos temos contribuído. É, por isso, muito importante a criação dum espaço de reflexão coletiva em que possamos questionar-nos sobre a natureza e a finalidade contemporânea da Maçonaria. Considero-o como um grande, necessário e urgente debate, capaz de nos motivar e unir para os grandes desafios do futuro. Não basta reclamarmo-nos da Tradição, de nos constituirmos como uma via iniciática e simbólica se a essa reivindicação não pudermos atribuir uma significação e um sentido que ilumine a nossa pertença e a nossa escolha dum caminho que, só podendo ser transformante de cada um para se instituir como contributo universal, deve continuar a ser vivido como uma das mais surpreendentes e belas construções dos homens “livres e de bons costumes”: a Maçonaria. Porque se não clarificarmos e aprofundarmos, coletivamente, esse significado e esse sentido continuaremos a deixar que se instalem, entre nós os mal-entendidos e os epifenómenos que nos prejudicam e nos dificultam o trabalho que, iniciado no Templo, devemos continuar no mundo profano. E como esse mundo precisa hoje de nós e do nosso trabalho!
Candidato-me porque acredito que todos nos podemos reconhecer em todos, sem exceção, dando conteúdo a essa ideia primordial de que nos constituímos como Fraternidade.
Sei que os compromissos assumidos pela Grande Loja exigem uma gestão rigorosa e difícil. No entanto, sinto-me perfeitamente preparado para o exercício da função de Grão-Mestre e para enfrentar com o maior rigor essas dificuldades. Estive durante mais de uma década envolvido nessa gestão e em tempos que não foram, por certo, mais fáceis. Mas esse é um aspecto menor, quando sabemos que existem na Obediência tantos Irmãos que, em termos de preparação e qualificação nas áreas da gestão e da administração, organizacional e financeira, se situam em
patamares de excelência e cujo apoio me foi fraternamente manifestado. Será, por isso, garantida uma gestão que assegure o cumprimento dos compromissos adquiridos e que adeque o orçamento aos tempos difíceis que vivemos, limitando as despesas ao essencial, com rigor e frugalidade. Não sendo rico, tenho a vantagem de compreender a dificuldade sentida por tantos Irmãos no cumprimento das suas responsabilidades e a razão, pela qual, têm diminuído os troncos nas nossas Lojas.
Nesse sentido deveremos ser particularmente rigorosos na organização de eventos e iniciativas, garantindo que a participação de todos se possa fazer sem qualquer sacrifício material. Considero a ideia de que a iniciação é acessível apenas a uma
“elite económica” é antimaçónica e compromete, gravemente, o nosso futuro e a irradiação da Ordem. E sendo essa irradiação um dos nossos deveres constitucionais devemos pugnar para que se nos possam juntar todos os que, considerados como “livres e de bons costumes”, o queiram fazer, independentemente do seu estatuto económico e social.
Temos, por isso, que cuidar de um orçamento que se sustente na realidade suportável pelas Lojas, num período em que a crise económica se abate sobre a generalidade dos Irmãos e muitos havendo a passar por grandes dificuldades financeiras, que deverão ser objeto da nossa mais alta atenção e solidariedade.
Nesse sentido defendo que um plano anual de atividades deve basear-se na capacidade e na iniciativa das Lojas a que a GL se deve associar, promovendo-as, divulgando-as e se necessário coordenando-as. Todas as iniciativas da GL, que tenham impacto orçamental acrescido face aos compromissos atuais devem ser objeto de parecer prévio do Conselho de Veneráveis e de aprovação da Assembleia.
Candidato-me porque acredito que a nossa energia coletiva é suficiente para a resolução de qualquer problema que tenhamos que enfrentar.
A Obediência tem visto crescer o número de Lojas, sobretudo no último ano. Considerando esse crescimento como um fator positivo em si, não deixo de recear que ele possa pôr em causa o normal funcionamento de muitas Lojas, tantas são as que têm que recorrer à fraterna solidariedade e disponibilidade dos seus Mestres Auxiliares para poderem funcionar com o quórum ritual.
Defendo que o crescimento do número de Lojas deve, por isso, resultar do crescimento do efetivo de obreiros e que esse crescimento deve constituir um desafio mobilizador para os próximos anos. Mas não a todo o custo porque, infelizmente, todos sabem como a ausência de cuidado em algumas admissões se transformou num prejuízo sentido internamente e percebido no exterior.
Por outro lado, o bom trabalho das Lojas pode e deve ser aprofundado com ações de formação simbólica e ritual bem como a criação de condições para que a investigação maçónica se faça, entre nós, de forma estruturada e rigorosa. A Academia de Formação Maçónica pode e deve assumir este processo, recorrendo aos Irmãos que, tendo a necessária preparação científica, possam orientar e formar, metodologicamente, todos aqueles que mostrarem essa disponibilidade e gosto pelo estudo e pela investigação: a construção de uma atividade de investigação em teoria e história da Maçonaria, de uma verdadeira maçonologia, seria um notável contributo da GLLP/GLRP para a cultura maçónica universal. Temos obreiros com capacidade e vontade para isso. Garantir condições de trabalho e de divulgação está ao alcance da GL e deve ser tomada como uma prioridade. Tanto mais quanto esta é, exatamente, o tipo de atividade que nos pode prestigiar externamente e contribuir para a irradiação da Ordem. As tecnologias de informação e comunicação permitem-nos, hoje, ter recursos poderosos ao serviço desses desígnios com elevada eficiência.
Também como prioridade e urgência deve ser tomado o inventário do acervo documental e testemunhal que permita a consolidação da nossa memória histórica.
Candidato-me porque acredito que, crescendo com qualidade e esclarecimento, cumprimos a nossa obrigação de via transformante, numa resposta às necessidades espirituais duma sociedade em progressiva erosão ética.
A Grande Loja está hoje comprometida, e bem, com a criação de laços de cooperação e desenvolvimento da maçonaria regular nos espaços lusófono e ibero-americano. Estaremos mesmo comprometidos com a organização, em 2015, com um grande evento como a Conferência Maçónica Interamericana. Devemos honrar os nossos compromissos e cumpri-los de forma a consolidar o nosso prestígio. Mas temos que ser realistas quanto à nossa participação e envolvimento na organização de eventos que impliquem custos que se traduzam em dificuldades orçamentais. Tenho consciência das dificuldades das Lojas e, por isso, defendo que, para além dos compromissos já assumidos, todas as iniciativas futuras devem resultar duma decisão e implicação coletiva e só depois de submetidas a parecer favorável do Conselho de Veneráveis. Penso que é numa agenda interna que devemos, para já, concentrar a nossa atenção e energia, sem prejuízo de todas as iniciativas que, a baixo custo ou sem ele, sempre podemos ir desenvolvendo no plano externo, sobretudo no plano da lusofonia e ibérico.
Candidato-me porque considero como prioritária a consolidação dos aspetos
internos, sobretudo os orçamentais, e que só resolvidos esses podemos ter a
pretensão, no plano maçónico, duma afirmação externa.
Meus Queridos Irmãos
Estas são as principais ideias que quero partilhar convosco e com as quais justifico a minha disponibilidade para, em nome das largas dezenas de Irmãos que fraternalmente mo “exigiram”, me apresentar como candidato à função de Grão-Mestre da GLLP/GLRP. Uma função para a qual, reafirmo, me sinto preparado por
um passado de entrega ao serviço da Obediência, incluindo a sua fundação.
Não vos apresento um programa porque isso, para mim, não tem qualquer significado numa organização maçónica. Não porque sobre isso não tenha ideias concretas mas, apenas, porque entendo que o “programa” da GL só pode ser aquele que as Lojas, na sua inalienável soberania, decidirem e construírem. A Grande Loja e o seu Grão-Mestre são apenas o garante da nossa Regularidade, ou
seja, do escrupuloso cumprimento da Constituição e do Regulamento Geral que decidimos adotar de acordo com a Tradição, os Usos e os Costumes da Maçonaria Universal.
Sinto-me feliz e realizado com o trabalho maçónico que desenvolvo, assiduamente desde sempre, na minha querida Loja Amor e Justiça.
Mas um Mestre tem que estar à Ordem e servir onde os Irmãos entendam que ele deve servir. Se tiver que ser, por vossa vontade, como Grão-Mestre, que assim seja com a ajuda do G:.A:.D:.U:.
José Manuel Pereira da Silva
Publicado por Rui Bandeira