04 janeiro 2012

O vigésimo Venerável Mestre


O vigésimo Venerável Mestre, que foi instalado na Cadeira de Salomão em 12 de setembro de 2009, era, dos obreiros à data integrando o quadro da Loja, um dos dois mais antigos da Loja. Com efeito, da primeira lista de obreiros da Loja, aquando da sua fundação, constam os nomes do já então Mestre Maçom Alexis Botkine e do então Aprendiz Rui. C. L., o vigésimo Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues.

Rui. C. L., normalmente, já teria sido Venerável Mestre muito antes. Mas, nos idos de 90 do século passado, cometeu a ousadia de bater o pé ao então Grão-Mestre Fundador e sofreu a sua ira. Teve de se afastar durante uns tempos. Só regressou depois da cisão de 1996/1997. Teve depois um grave problema de saúde de que teve de se cuidar - e que ainda hoje o limita. Apesar da sua antiguidade, fez o normal percurso na "linha de sucessão" informal que é prática da Loja. Tudo isto motivou que o segundo mais antigo obreiro da Loja em atividade nela só no vigésimo ano da sua existência assegurasse a sua liderança.

Ao fim e ao cabo, esta liderança em ano "redondo", que a Loja decidiu assinalar com a publicação do livro R. L. Mestre Affonso Domingues - 20 anos de história, acabou por ter um certo simbolismo. E foi o melhor marco para assinalar a transição geracional da Loja. O Venerável Mestre que assegurou os destinos desta no seu vigésimo ano de atividade foi um dos mais antigos obreiros. Organizou e dirigiu a celebração deste aniversário. E depois passou o malhete a um obreiro que já não viveu os tempos da implantação e da cisão o qual, por sua vez, foi rendido por obreiro já iniciado no século XXI.

Rui C. L. assinalou assim o fecho de um ciclo da Loja. Um ciclo feliz de vinte anos. Com sucessos e retrocessos, com alegrias e tristezas, mas um ciclo rico, que mereceu a pena viver e que permitiu assentar as fundações, crê-se que sólidas, em que assentará o futuro da Loja.

Rui C. L., gestor de formação, tem uma especial capacidade de motivação para objetivos. O seu mandato foi a ilustração desta capacidade. Desde o primeiro momento, a Loja andou num reboliço de ideias, de mudança, de fixação e cumprimento de objetivos.

Em termos da sua composição, Rui C. L. começou por compor a coluna de Companheiros, passando alguns Aprendizes prontos para tal. Mas a coluna de Aprendizes não ficou desguarnecida, pelo acelerado trabalho de iniciações levado a cabo. Pelo contrário, desde há alguns anos que a coluna de Aprendizes não estava tão preenchida. E a visibilidade que a Loja tem tido nos últimos anos faz com que, aguardando a sua vez, alguns desde muitos meses, vários candidatos se perfilem à porta do Templo...

Em termos de pranchas, rara foi a sessão de Loja em que uma prancha não tivesse sido apresentada e discutida. Fosse prancha de proficiência de Aprendiz ou Companheiro, fosse prancha traçada por Mestre. Os assuntos foram os mais variados, segundo os interesses e a especialização de quem as elaborou.

Em termos de relações com outras Lojas, para além de pontuais visitas de obreiros às Lojas-gémeas Fraternidade Atlântica e Hippokrates, traçou e executou, na parte final do seu mandato, um exigente plano de visitas a várias Lojas da Obediência, renovando assim os laços de fraternidade entre a Loja Mestre Affonso Domingues e as demais Lojas da GLLP/GLRP.

Como pano de fundo de tudo isto, traçou, dinamizou e dirigiu todos os trabalhos de preparação para as comemorações do vigésimo aniversário da Loja.

Em termos de relações internas, fomentou e aplicou uma simples mudança: os ágapes após as reuniões de Loja deixaram de ter lugar em estabelecimentos da zona de reunião da Loja, todos sem condições de privacidade suficientes, e passou-se a encomendar um catering e o ágape a ter lugar imediatamente após a reunião da Loja, nas próprias instalações desta. Mais barato e com todos mais à-vontade! Resultado imediato: exponencial aumento de participação de obreiros da Loja no ágape, reforço dos laços de fraternidade, melhoria das condições de integração dos novos elementos, melhoria e variedade de escolhas de forma de trabalhar (por exemplo, pranchas não rituais passaram a poder ser apresentadas e discutidas após a sessão, no decorrer ou após o ágape).

Criou as condições e iniciou uma tranquila renovação da Loja. O número de Aprendizes e Companheiros em atividade e o número de candidatos em processo de avaliação superou o número de Mestres. O resultado deste trabalho não se viu no imediato, mas será, não tenho dúvida, marcante a médio prazo. Daqui a meia dúzia de anos, estará pronta uma nova geração de Mestres maçons apta a dirigir a Loja, renovada mas fiel à sua Tradição.

A geração dos mais antigos, dos que viveram estes primeiros vinte anos, pode assistir, descansada, à evolução da Loja: esta está pujante, moderna, dinâmica, reforçada e sobretudo é, sem sombra de dúvida, uma Loja do século XXI!

Resumindo: Rui C. L. dirigiu a Loja num ano de muito dinâmica atividade. Elevou a fasquia bem alta para o seu sucessor... Mal sabíamos nós que, ao mesmo tempo, também propiciava acrescida dificuldade para esse seu sucessor... Mas disso falarei no texto que dedicarei ao vigésimo primeiro Venerável Mestre - nunca antes do próximo outono.

Rui Bandeira

28 dezembro 2011

Exortação de mudança de ano



Segundo as notícias que chegam a Portugal, o Brasil vive um bom período, o otimismo medra na mesma proporção do desenvolvimento, espera-se que o ano de 2012 seja melhor do que o de 2011. Que assim seja!

Do outro lado do Atlântico, neste jardim da Europa à beira-mar plantado (expressão que se tornou um lugar-comum para designar Portugal e que é um verso do poema A Portugal, incluído no livro D. Jaime do hoje quase esquecido poeta oitocentista Tomás Ribeiro - e escrevo quase apenas porque uma movimentada rua no centro de Lisboa tem o seu nome; mas tenho poucas dúvidas de que a esmagadora maioria dos que nela passam não tem sequer uma vaga noção de quem foi, ou o que fez, o patrono de tal artéria), neste velho Portugal, cada vez mais velho, demograficamente falando, o panorama é bem mais sombrio: a seguir a um mau ano de 2011 espera-se um pior ano de 2012, o pessimismo está instalado em proporção superior à percentagem de queda do Produto Interno Bruto. Por estas bandas, os tradicionais, nesta época, votos de Feliz Ano Novo soam a esperança vã, palavras ocas, simulacro de boa disposição.

No entanto, também neste cantinho sudoeste da Europa, onde a terra se acaba e o mar começa (outro lugar-comum, este com origem num verso da vigésima estrofe do Canto III de Os Lusíadas, do muito lembrado, celebrado e invocado, mas hoje menos lido do que deveria, Luís de Camões) há lugar e tempo e modo para pôr o pessimismo no baú das coisas inúteis, ou, pelo menos, pouco usadas, e concentrar-nos no que de bom podemos encontrar em tempos que aparentemente variam entre o mau e o péssimo.

É verdade que os tempos por aqui (no velho Portugal, mas também, de uma forma geral, na não menos velha Europa) não andam propícios a prosperidades materiais para a esmagadora maioria dos que vivem do seu suor, labor e capacidades, sem acumulações de capitais que almofadem a dureza dos golpes com que a nova Grande Depressão vai fustigando os cidadãos comuns.

Os tempos de vacas magras (mais um lugar-comum, este vindo diretamente do bíblico Génesis, mais concretamente do sonho do Faraó, cujo significado perguntou ao israelita José - algo que nos dias conflituosos de agora parece quase impossível: um líder egípcio a aconselhar-se com um líder israelita...) têm, para o homem sábio, o potencial de o relembrar da abissal diferença entre o SER e o TER.

Os tempos europeus e lusitanos de agora são tempos de pouco TER. Não são, porém, tempos perdidos ou improdutivos para aqueles que se preocupam essencialmente, não com o TER, mas com o SER. São tempos que nos mostram e ensinam a diferença entre o que é verdadeiramente essencial e o que, afinal, é apenas simplesmente confortável. São tempos que nos alertam para a precariedade do TER e que nos mostram a perenidade do SER. Que - com dureza mas também com clareza - nos ensinam que o que possuímos, o que amealhamos, os rendimentos que obtemos, estão à mercê dos desvarios de anónimos financeiros, dos apetites de insaciáveis banqueiros, das debilidades dos políticos a que entregamos os nossos destinos, dos conceitos dos teóricos económicos da moda e do acefalismo cinzento dos burocratas que a todos estes enquadram. Mas são também tempos que nos relembram que o nosso verdadeiro tesouro é aquilo que SOMOS, o que aprendemos, o que melhorámos, as capacidades que adquirimos, a nossa força, tenacidade, confiança em nós, o conjunto das capacidades que laboriosamente adquirimos ao longo da nossa existência e que é com o que cada um verdadeiramente É que resiste e ultrapassa e vence a falta ou diminuição do que TEM, que reconstrói sobre os destroços do que caiu, que avança e deixa para trás o deserto da penúria. Enfim, aquele que se concentra no que É sente menos falta do que não TEM.

O essencial é SER, não TER. Os tempos de crise servem para que o homem sábio o relembre e possa não o esquecer nas épocas de prosperidade.

Todos aqueles que dão ou agora aprendem ou reaprendem a dar primazia ao SER sobre o TER estão mais aptos a, apesar dos pesares, ter aquilo que, sem ironias, sem descabelados otimismos, mas também sem desnecessários pessimismos, a todos desejo: UM FELIZ ANO DE 2012!

Rui Bandeira

21 dezembro 2011

Exortação solsticial

Seria bom, mas não podemos esperar que todos os templos sejam utilizáveis e utilizados pelos crentes de todas as religiões.

É bom que, como referi no texto da semana passada, esteja projetado num hospital português um espaço de assistência espiritual e religiosa concebido para ser utilizado pelos crentes e ministros de todas as religiões, mas essa é (ainda?) uma exceção.

Deve-se aspirar a que a tolerância religiosa seja, mais do que um facto, uma naturalidade, e que locais de culto utilizáveis e utilizados por crentes de todas as religiões não só existam, como sejam uma banalidade.

Mas o ótimo é inimigo do bom e não devemos confundir sonhos e aspirações com a realidade. Até que a tolerância religiosa seja tão banal e tão natural que se entenda, sem rebuço, que o que importa é que cada um cultue o Criador e não a forma como o faz e seja comummente entendido que o espaço de culto pode ser indiferentemente utilizado pelos crentes de qualquer religião, muitas águas passarão debaixo de muitas pontes de muitos rios, muitas pontes se construirão, serão derrubadas e reconstruídas, muitas gerações têm de passar. É assim a vida e a evolução da espécie humana. Tudo tem o seu tempo, tudo tem de medrar e crescer, de evoluir e de florescer. O sonho de ontem tem de ser a aspiração de hoje, o desejo de amanhã, a hipótese de depois de amanhã, o trabalho do dia seguinte - e isto a uma escala temporal obviamente bem mais alongada.

Mas no presente de cada um há lugar e modo e tempo para a concretização desse ideal, desde que cada um tenha a noção de que o que importa não são as pedras, as edificações, os lugares, os locais, o que verdadeiramente importa somos nós, cada um de nós, elemento individual e importantemente imprescindível da imensa comunidade que chamamos de espécie humana e que tem dentro de si, no íntimo do mais íntimo do seu íntimo, a centelha divina que nos fez, desde tempos imemoriais, descer das árvores e caminhar, eretos, pela terra, evoluir da brutidão à civilização e que em nós desperta e mantém o insaciável apetite de aprender, aprender sempre, melhorar, melhorar sempre, paulatinamente aproximando o bruto primata da inefável Perfeição que tudo originou.

O que importa, repito, não são as pedras, somos nós - cada um de nós. Não é assim, no fundo, essencial que haja um, vários ou muitos locais edificados que sejam utilizáveis e utilizados para o culto do Criador segundo as diversas crenças, religiões, tradições. O essencial é que cada um tenha a noção de que pode procurar a aproximação, o convívio, a comunhão, o culto, o louvor, a adoração - chame-lhe cada um o que quiser chamar - com o Criador, não importa onde esteja.

Mais importante que haver um local onde todos os crentes de todas as religiões possam praticar os seus cultos é que todos os crentes de todas as religiões tenham a noção e a prática de que podem praticar os seus cultos em qualquer lugar, em qualquer edificação, em qualquer templo de qualquer religião. Porque Aquele que se cultua é sempre o mesmo, independentemente de nome, de hábitos, de culturas, de tabus, de proibições e de obrigações.

Eu sinto-me bem e confortável em qualquer local de culto, seja ele católico, adventista, de Testemunha de Jeová, islâmico, judeu, bahá'í, mitraico ou de candomblé. Em qualquer desses locais sinto -me em paz e sinto a predisposição para a ligação ao Divino. Não me importam as diferenças - interessa-me apenas e sempre e só o essencial: o Criador.

Os verdadeiros templos não são feitos de pedra e cal e tijolo e telha. São feitos de carne e osso e sangue e, sobretudo, espírito. Cada um de nós é o mais livre e essencial dos templos, onde se pode e deve, em todos os momentos, cultivar a ligação com o Criador, trilhar o Caminho, desbastar o que de impuro se tem para que, em toda a sua glória, se descubra a Luz que cada um de nós É - e tantos não o sabem, por isso a mantêm escondida, velada, inacessível a todos os olhares, até aos de si próprios.

Vejo e sinto e exorto todos a que vejam e sintam todos os locais de culto de todas as religiões como seus locais de culto e que, mais ainda, não precisem realmente de locais para o exercer, cientes de que cada um é o seu próprio e insubstituível local do seu culto.

Que assim seja e, se assim for, quando assim for, mais um (grande) passo no sentido da melhoria terá dado a Humanidade. E esse passo, como sempre, depende sempre e só de cada um de nós.

Esta a mensagem que eu, maçom, sem segredos, aqui deixo, a menos de vinte e quatro horas do solstício, de inverno no hemisfério norte e de verão no hemisfério sul, de 2011.

A todos, Boas Festas!

Rui Bandeira

19 dezembro 2011

Quinze anos, 10 dias e 12 horas depois


Terminou a contenda, a separação e a desunião.

 Já aqui neste blog foi falado e escrito sobre os negros momentos de separação vividos no passado quando aconteceu a cisão em 1996.

Não pode acontecer de maneira diversa agora que aconteceu a união. É apenas normal que aqui dela se fale.

Este sábado,  15 anos, 10 dias e 12 horas deu-se a junção das duas facções resultantes da cisão de 1996 sob a liderança do MRGM José Moreno, Grão Mestre da GLLP/ GLRP.

Nunca a sigla GLLP/ GLRP significou tanto, quanto a partir desse momento.

Mas e haverá muito mais a dizer ? Há mas não agora ! 

E quem sabe se agora a Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues vai ficar novamente completa.

Quem sabe se os desígnios do GADU permitirão que a esperança plasmada num documento  cuja maioria da resoluções foi votada unanimemente se torne uma realidade.

Quinze anos, 10 dias e 12 horas depois recomeçou o futuro.


José Ruah

Liberdade e tratamento da doença



Os cuidados de saúde não se limitam aos cuidados do corpo e à erradicação da doença física. Se assim fosse não haveria psicólogos, psiquiatras ou assistentes sociais, não haveria formação específica para os prestadores de cuidados de saúde no que concerne a relação com o doente, e não haveria tantos estudos que apontam para que o melhor ou pior ânimo do doente fazem muitas vezes a diferença entre a convalescença e a morte.

Por outro lado, no nosso país (e em muitos outros) o paciente tem - desde que lúcido - sempre a última palavra quanto aos cuidados que lhe são prestados, podendo recusá-los ou procurar outros prestadores. Se um médico, o seu diagnóstico os a terapia que preconiza não nos agradam, podemos consultar outro, e escolher entre os dois - ou não escolher nenhum. A saúde de cada um é algo sobre que a cada um incumbe decidir, e não pode ser imposto a ninguém (que se encontre mentalmente capaz de decidir) qualquer tipo de tratamento.

Estas duas condicionantes levaram à inevitável mas controversa consequência - plasmada na legislação de muitos países - de que cabe ao paciente a escolha de uma terapia que o satisfaça - mesmo que esta seja menos convencional, como a acupunctura, homeopatia ou o reiki.  Em muitos casos, mesmo, os sistemas de saúde e as seguradoras pagam essas terapias.

A alternativa seria o Estado definir que terapias comparticipa e quais deixa para serem suportadas pelo próprio. Neste caso, os critérios podem ser os mais diversos. Pode adotar-se critérios estritamente objetivos, como o da comprovada eficácia em ensaios clínicos controlados ou o custo da terapia per capita. Por outro lado, pode ter-se em conta fatores estritamente culturais, como o da aceitação da população por certa prática, ou a sua revolta em caso de esta deixar de ser comparticipada.

Num mundo ideal, e numa perspetiva estritamente científica, seria talvez desejável que cada terapia fosse previamente validada em ensaios clínicos que comprovassem o seu grau de eficácia e os riscos que a mesma possa comportar. Todavia, como o mundo é imperfeito, não há dinheiro que pague esses ensaios a não ser que dos mesmos possam advir lucros para os seus promotores (ou, pelo menos, o ressarcimento dos custos do ensaio). Por outro lado, impedir o recurso a uma prática que, se bem que de eficácia duvidosa, não será, por outro lado, certamente prejudicial, não prejudica senão o próprio, e não caberá, talvez, ao Estado decidir sobre o que diz respeito à vida privada de cada um...

Em causa está, de facto, a liberdade individual. Terá o indivíduo o direito de tomar uma decisão com consequências funestas para si mesmo? Ou só tem a liberdade de decidir o que se espera que decida, e que tenha sido previamente validado? Caso decida "contra a corrente", terá o Estado, enquanto garante da Solidariedade Social, a obrigação de disponibilizar os meios para a aplicação de uma terapia de eficácia discutível e não comprovada? Terá o Estado o direito de recusar o pagamento de certos tratamentos - aceites e comuns noutras partes do mundo - por razões culturais?

Esta questão tem vindo a colocar-se recentemente no Reino Unido, com nova legislação a permitir aos sistemas de saúde, público e privados, rejeitar o pagamento de terapias muito dispendiosas, com o argumento de que o custo do tratamento de uma só pessoa permitiria tratar várias com uma terapia mais barata. Uma terapia ineficaz pode ser vista como um "sorvedouro" de dinheiro mal gasto. 

Tomemos uma qualquer doença que seja inevitavelmente mortal se não tratada, como a meningite bacteriana neonatal, por exemplo. Suponhamos que um certo tratamento para esta tem uma eficácia de 90%, e custa 10.000€ por pessoa. Outro tem uma eficácia de 95%, mas custa 100.000€ por pessoa. Tratar 1000 pessoas com o primeiro custaria 10 milhões de euros, e acarretaria 100 mortes; tratá-las com o segundo custaria 100 milhões de euros, e levaria a 50 mortes. Ou, por outras palavras: para salvar 50 pessoas, gastar-se-ia mais 90 milhões de euros: um milhão e oitocentos mil euros por cada pessoa adicionalmente salva da morte certa. Com esses 90 milhões poder-se-ia salvar, eventualmente, muito mais de 50 pessoas, desde que aplicados de outra forma. O custo para os 50 que morrem seria alto, mas para a sociedade no seu todo seria mais baixo.

Claro que estas contas são simplistas. Há que ter em conta o que sucede nos casos mais frequentes de que a doença desapareça por si mesma, mesmo sem tratamento. Se três quartos das pessoas não tratadas a certa patologia acabarem por se curar sozinhas, então qualquer tratamento, para ser digno desse nome,  deve permitir que se cure uma percentagem superior. Mas isso não basta: há o efeito placebo a ter em conta, que mais baralha as contas. E o efeito de várias terapias alternativas sobre a esperança e qualidade de vida. Enfim, o tema não é simples.

De facto, é muito difícil, e choca, chegar ao pé de várias vidas, colar-lhes uma etiqueta de preço, e escolher então as mais baratas. Numa sociedade com recursos ilimitados isso seria uma escolha inaceitável. Contudo, e como sabemos, o mundo não é perfeito, nem o dinheiro nasce nas árvores. Por outro lado, a qualidade de vida é, muitas vezes, preferível à "quantidade de vida": todos preferiríamos, certamente, viver apenas mais 2 anos sem dores de monta mas talvez um pouco narcotizados por causa da medicação que, lentamente, vá destruindo mais o nosso organismo já doente, a viver mais 3 anos sob dores horríveis.

A assistência espiritual é, muitas vezes, o paliativo mais eficaz - e o único "tratamento" que pode ser aplicado. A lei que temos no nosso país não é igual à inglesa, e talvez por isso determine o direito à assistência espiritual na doença, suportado pelo Estado, no pressuposto de que aumente a qualidade de vida da pessoa. De facto, a sociedade em que vivemos rege-se por um princípio muito claro: um homem, um voto. É uma democracia, não uma tecnocracia. E, se por um lado é revoltante que, nas urnas, toda a perícia de um especialista valha tanto quanto a ignorância de um qualquer patarata, a verdade é que ainda não se encontrou um sistema com menos defeitos...

Paulo M.

15 dezembro 2011

Uma realidade próxima



Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.

(Fernando Pessoa - verso inicial da Segunda Parte / Mar Português, da Mensagem)


Na sequência do texto da semana passada, mão amiga proporcionou-me o acesso ao relatório e contas relativo ao ano de 2009 do Hospital de S. João, no Porto, que foi ultimado em 26 de março de 2010. Na página 106 desse relatório, inserida no capítulo Responsabilidade social e sob as epígrafes Outros - Religião, pude ler:

No Hospital de São João, já há muitos anos que padres e ministros de outras religiões acompanham espiritualmente os seus crentes, num apoio personalizado que pretende ajudar a suportar o sofrimento.
No dia seguinte ao internamento, os doentes são visitados por voluntários que lhes propõem assistência religiosa, seja qual for o credo: católico, islâmico, hindu, judaico, budista, baha'i ou de outras confissões cristãs.
O espaço de culto ainda é a capela católica, mas em breve haverá um lugar multirreligioso que poderá ser utilizado por todos, com a capacidade de se adaptar à simbologia de todos os credos.
O pólo inter-religioso será construído após a ampliação do 9.º e 10.º piso. Será um bloco espiritual.
Em 2010 o projecto deste novo espaço será apresentado ao Ministério da Saúde, pelo grupo inter-religioso para a assistência espiritual e religiosa no Serviço Nacional de Saúde.
O capelão do HSJ, padre José Nuno Silva, ingressa esse grupo como coordenador católico das capelanias hospitalares.
Quem me informou disse-me ainda que o grupo interreligioso para a assistência espiritual e religiosa no Serviço Nacional de Saúde aprovou o projeto, que havia dinheiro para o executar e que as obras do Hospital de S. João estão em execução, pelo que espera que, no próximo ano de 2012, esse espaço seja inaugurado e comece a funcionar. Segundo essa pessoa, a conceção e projetado funcionamento desse espaço será muito parecida com o que escrevi a semana passada. Não será totalmente assim, nem poderia - ou porventura deveria - sê-lo, até porque se tratará de um espaço específico para assistência espiritual e religiosa em ambiente hospitalar, em que não cabem algumas das valência que referi naquele texto. Mas, como se lê no relatório e como me foi reafirmado, o espírito será muito semelhante.

Fico contente - muito contente.

Só espero que os conhecidos constrangimentos orçamentais do presente não sirvam de pretexto ou motivo para a atual gestão do setor da Saúde em Portugal fazer alguma marcha-atrás neste projeto e que ele se concretize efetivamente. Se assim for, será um exemplo de boa decisão, de bom projeto. Perante a doença, a dor, a fragilidade assolando o ser humano (e todos, mais tarde ou mais cedo, mais ou menos vezes, passaremos por doenças e fragilidades físicas) que, ao menos, a tolerância, a concórdia, a cooperação na assistência religiosa e espiritual sejam garantidas.

Que o projeto se concretize e sirva de exemplo para outros lugares, outros espaços, outras comunidades, é o meu voto.

E, já agora, noto o agradável simbolismo, para um maçom, que este projeto tenha nascido no Hospital de S. João. Como todos os maçons sabem e os profanos que não sabiam ficam agora a saber, os maçons consideram S. João o seu patrono. Qual S. João? Ambos, S. João Batista e S. João Evangelista, cujos dias de festa rondam os solstícios, respetivamente, de verão e de inverno no hemisfério norte (e inversamente, no hemisfério sul), dualidade para nós também muito simbólica (sobre este tema, aconselho a leitura deste excelente texto, da autoria do Paulo M., por ele apresentado na Loja Mestre Affonso Domingues já lá vão mais de três anos).

Rui Bandeira

14 dezembro 2011

Deveria ser Instrução em Maçonaria -VII - Mas Não é ! é outra coisa !




Salvo raríssimas excepções não são publicados neste blog  dois textos no mesmo dia. Hoje é um desses dias.O texto das quartas-feiras, assinado pelo Rui, aparecerá à hora do costume, ao meio dia. Este aparece pela noite, embora a dia 14, porque está escrito “ e foi noite e foi dia “.

Ultimamente tenho escrito às segundas-feiras, não o tendo feito propositadamente esta semana porque o tempo não dá para dois textos por semana.

O dia 14 de Dezembro é no calendário de 2011 dia de sessão da Loja Mestre Affonso Domingues, mais propriamente dia da primeira sessão do Mês. Este facto na história da Loja só aconteceu nos anos de 2002, 1996 e 1991, isto é a primeira sessão do mês de Dezembro da Loja Mestre Affonso Domingues calhar ao dia 14.

Ora, em 1996 apesar de ser dia de sessão, esta não ocorreu..

Analisando as datas ao abrigo do método usado com muito apreço dos leitores e de grande fiabilidade aqui temos então que:

A soma dos algarismos da data de 1991 = 28 cuja soma = 10
A soma dos algarismos da data de 2011 = 12 cuja soma = 3
A soma dos algarismos do ano de 1996 = 7  ( aqui apenas o ano conta porque não se realizou a sessão)

Estas análises profundas não acontecem por um acaso, e muito menos porque me apetece. Acontecem porque em Maçonaria tudo é explicável e porque de acordo com antigas tradições esotéricas tudo tem uma razão de ser.

E essa razão de ser tem também um momento para ser explicada. Porque se explicada antes do tempo não é compreendida. Como sabemos a Maçonaria é intemporal e por isso normalmente tanto faria que se explicasse hoje como ontem ou amanhã, mas não é bem assim porque mesmo intemporal é também simultaneamente temporal (não daqueles com vento e chuva) e por isso o tempo tem muito a ver com o que acontece.

Mas explicando:

O 3 obtido acima representa o número de vezes que o evento se repetiu de facto num período de tempo. Mas representa também quando medido em horas e/ou anos uma diferença.

O 7 e o 10 representam posições dentro de uma ordem sequencial histórica.

A soma de  3 + 7 + 10 = 20 é o período de tempo referido acima medido em anos.

Com base nisto não foi uma coincidência que :

a) O Rui e Eu fomos admitidos na mesma data 14/12/1991 na R.L Mestre Affonso Domingues.

b) O Rui foi admitido 3 horas antes de mim

c) Eu fui o 7º Venerável Mestre

d) O Rui foi o 10º Venerável Mestre

e) A diferença de tempo entre o meu Veneralato e o do Rui foi de 3 anos


E os dois festejamos o nosso 20º Aniversário enquanto membros da Loja , mas mais do que isso festejamos o 20º Aniversário da nossa Irmandade mutua, mas isso tudo comparado com os 20 anos de amizade é nada.

Como podem comprovar a análise numérica previu isto tudo porque não há coincidências em Maçonaria! (há alguns “patos” que acreditam em tudo e acham que é verdade, como acontece amiúde com a Derrogação Pelicano)

Chamam-nos os Marretas, nós gostamos! Mas na verdade os Marretas logo a seguir à Sessão de mais logo vão beber uma cerveja um com o outro e o resto é conversa.




José Ruah