05 setembro 2011

O Tempo, a Idade e a Maçonaria - II



Mais do que uma idade certa, há uma maturidade certa para se ser iniciado. Muitos nunca atingem essa maturidade: nascem, vivem e morrem sem nunca perder um segundo com as "grandes questões", tal a azáfama com que passam por esta existência. Outros atingem-na, encontram as sua próprias respostas, e deixa, a partir de certo ponto, de fazer sentido procurarem outro método de aperfeiçoamento, pois já encontraram o seu próprio método, chegaram às suas próprias conclusões, traçaram o seu próprio caminho.

Cada maçon tem a sua própria história, o seu próprio ritmo, o seu próprio percurso. Uns chegam mais cedo, outros mais tarde. Uns caminham mais depressa, outros mais devagar. Outros ainda levam mais tempo numa fase, e noutra disparam a correr. Ou ao contrário.

Temos entre nós quem tenha sido iniciado aos vinte e poucos anos, e quem o tenha sido já depois de ser avô. Temos quem tenha sido aprendiz ou companheiro durante bastantes anos, e quem ao fim de menos de dois anos já fosse mestre. Temos quem tenha ficado pouco tempo, quem tenha ficado alguns anos, e quem ainda cá esteja. Por tudo isto, encontra-se numa loja uma grande diversidade de idades, maturidades e sensibilidades. A todos une, porém, a vontade de se tornarem pessoas melhores, e de o fazerem juntos, e aprendendo uns com os outros.

Os aprendizes mais jovens podem aproximar-se mais facilmente de mestres mais próximos da sua idade, até estarem mais à vontade com os mais velhos. Os aprendizes mais velhos terão porventura maior afinidade, pelo menos inicialmente, com os maçons mais maduros. Com o passar do tempo, à medida que aquelas caras vão adquirindo nomes, aos nomes se vão juntando feitios, e os feitios, as caras e os nomes se tornam pessoas que vamos conhecendo e distinguindo das demais, os aprendizes vão-se apercebendo com quem podem aprender melhor o quê, e acabam por aprender com todos - com uns mais do que com outros, mas isso também faz parte...

Chegado a companheiro, o maçon conhecerá já razoavelmente a maioria dos irmãos da sua loja, e estes a ele. Terá, para além disso, passado pela experiência de ter "irmãos mais novos", iniciados depois dele. Esses irmãos mais novos podem ser até mais velhos em idade, o que torna tudo muito mais interessante. E quando se chega a mestre, percebe-se por fim que todos têm alguma coisa a aprender com cada um dos demais.

Os mestres mais novos encontram nos mais velhos a experiência de quem já passou por muitas situações difíceis, tomou muitas decisões - algumas mais certas que outras - e tem, enfim, a sabedoria que só a idade, a experiência e as dificuldades proporcionam. Por seu lado, os mestres mais velhos encontram nos mais novos a possibilidade de reviver e questionar o seu próprio percurso, de tornar de novo novas as suas velhas dúvidas e questões, e a possibilidade de passarem para outros aquilo que receberam dos que os antecederam. Uns e outros partilham da alegria de estarem juntos, de serem diferentes, e de terem algo a aprender uns com os outros.

Sem sangue novo, uma loja está condenada, mais ano menos ano, a abater colunas: não há quem ensinar e, à medida que os mestres forem passando ao Oriente Eterno, a loja vai ficando mais pequena, até deixar de se poder manter. Por outro lado, sem o "sangue velho" - e muitas começaram assim - a loja pode até existir, mas é uma loja sem raízes nem memória, que só adquirirá com o decorrer dos anos.

Diz-se que em maçonaria nada se ensina, e tudo se aprende. É, por isso, um privilégio poder-se aprender com quem cá está há mais tempo.

Paulo M.

31 agosto 2011

Maçonaria e Poder (VII)


Illinois Masonic Medical Center, Chicago

A implantação e evolução da Maçonaria americana seguiu linhas muito próprias, diferentes do que sucedeu no resto do mundo. O imenso continente foi sendo povoado de leste para oeste, em localidades distantes umas das outras e cada uma autossuficiente. Em cada localidade com alguma importância (e mesmo em algumas de reduzida importância...) estabeleceu-se pelo menos uma Loja maçónica, que geralmente tinha como membros os elementos mais destacados dessa sociedade: o juiz, o médico, o banqueiro, os principais comerciantes, etc.).

Em cada povoação, a Loja maçónica integrava a rede social ali existente, fazia parte da vida da comunidade. Cedo começou a perfilar-se o que viria a ser uma importante caraterística da Maçonaria americana: a sua vertente filantrópica. Em termos espirituais muito influenciados pelo puritanismo, para a mentalidade americana é muito importante o conceito de charity (que, no meu entendimento, mais corretamente se traduz por filantropia do que pelo aparentemente mais direto termo caridade). A Loja maçónica local foi naturalmente um espaço e uma estrutura adequados para o exercício do dever de filantropia.

A importância dada pela Maçonaria americana à filantropia, elevando-a a polo essencial da sua atividade, distingue-a da Maçonaria continental europeia, em que a filantropia é uma vertente presente, mas não atinge o nível de essencialidade da sua congénere americana.

A Maçonaria americana criou e sustenta grandes hospitais (gerais, pediátricos, ortopédicos, de assistência a grandes queimados, etc.), o que, como se calcula, implica a reunião e disponibilização de grandes quantidades de fundos financeiros.

Isto implicou a necessidade constante de fluxos financeiros apreciáveis, quer através de donativos, quer através de fundos obtidos pela própria atividade maçónica. Mais do que propriamente as quotas (destinadas ao suporte das despesas das próprias Lojas), importante eram e são os fundos obtidos através do que (algo impropriamente, mas mais facilmente compreensível por todos) poderemos designar por joias: joias de iniciação, de passagem de grau, de acesso e progressão nos Altos Graus.

A atividade filantrópica da Maçonaria americana em grande parte foi e é sustentada por um constante fluxo de novos elementos e de contribuições extraordinárias dos elementos existentes.

Necessário foi - e é - iniciar novos membros em quantidade e assegurar a sua progressão em novos graus como forma de financiar a atividade filantrópica.

Isso levou a uma outra caraterística distintiva da Maçonaria americana, em relação às suas congéneres europeias: a existência de muitas Lojas com várias centenas de membros, mas das quais apenas uns poucos são membros efetivamente ativos.

Nos Estados Unidos, em grande parte ser-se maçom é ser-se inscrito na Maçonaria, fazer uma espécie de "recruta" e a modos que umas "especialidades", atingindo-se o topo dos Altos Graus, ou perto disso, com uma rapidez impensável na Europa (mas pagando as respetivas joias de iniciação e progressão, claro...) e depois ... é assim, mal comparado, como que ser-se sócio da Associação dos Bombeiros da terra: paga-se as quotas anuais e raramente (ou nunca) se vai à Loja. Mas, no entanto, por regra existe o orgulho em ser maçom, expresso em autocolantes colados nos automóveis, no uso do anel de Mestre, ao menos em ocasiões festivas, e na comparência nos regulares eventos de angariação de fundos.

Claro que a Maçonaria americana não tem só esta vertente filantrópica, também compartilha dos princípios e objetivos de formação e aperfeiçoamento dos seus membros que é tónica da Maçonaria mundial - mas esta vertente filantrópica é ali de tal forma importante que influenciou a forma de a sociedade ver e participar na Maçonaria.

A Maçonaria americana, apesar de ter contado com membros ilustres nos Pais Fundadores dos Estados Unidos não tem qualquer intervenção no Poder ou na política federal, não tem influência relevante (que ultrapasse a decorrente de garantir a subsistência de importantes estruturas e instituições de interesse coletivo) a nível estadual e, a nível local, terá apenas a influência que os seus membros individualmente tenham.

A Maçonaria americana e o Poder naquele país são completamente independentes um do outro.

Rui Bandeira

24 agosto 2011

Maçonaria e Poder (VI)



Um dos primeiros destinos de exportação da Maçonaria foram as colónias britânicas no Novo Mundo. A colonização do imenso espaço que hoje são os Estados Unidos da América estava ainda na sua fase inicial, praticamente confinada à costa leste e a pouco mais, com colónias separadas por grandes distâncias e evidentes dificuldades de comunicação - mas cedo as Lojas maçónicas se começaram a implantar ali!

A Loja maçónica era mais um fator de congregação, um elemento importado da terra de origem que confortava quem desenvolvia e explorava um Novo Mundo. Nelas se juntavam os grandes e pequenos proprietários de terras, militares, professores e outros intelectuais. Enfim, a Loja maçónica era a reprodução, na colónia, de instituição existente na terra de origem de cada um. Nas Lojas maçónicas das colónias juntava-se a elite dos colonizadores.

O conflito entre as colónias do Novo Mundo e a Coroa Britânica que iria redundar na Independência dos Estados Unidos da América começou a desenvolverse em torno de razões económicas e comerciais, mas teve larga influência de maçons. A gota de água foi o imposto sobre o chá. Em 16 de dezembro de 1773, colonos americanos lançaram às águas do porto de Boston a carga de chá de três navios britânicos. Esta ação, que ficou conhecida por Boston Tea Party, foi planeada e organizada na Green Dragon Tavern, também conhecida por... Freemasons' Arms.

Dos 56 signatários da Declaração de Independência, 9 eram confirmadamente maçons. É possível que até mais dez dos outros também o tenham sido. Trinta e três dos setenta e quatro generais do exército continental (independentista) eram maçons. George Washington, o Comandante em Chefe das tropas colomiais e o primeiro Presidente da novel nação era maçom, como o eram Benjamin Franklin, Paul Revere e o General Lafayette, o oficial de ligação francês nas colónias, sem cuja ajuda possivelmente os independentistas teriam perdido a guerra. Dos cinco redatores do projeto da Declaração de Independência, dois (Franklin e Robert Livingston) eram maçons e um terceiro (Robert Sherman) pode tê-lo sido, mas não há de tal confirmação inequívoca. George Washington prestou juramento como primeiro Presidente dos Estados Unidos da América perante Robert Livingston, Chanceler de Nova Iorque, o mais alto cargo de magistratura então existente e... Grão-Mestre da Loja Maçónica de Nova Iorque. A Bíblia sobre a qual Washington prestou juramento era a utilizada na sua própria Loja como Volume da Lei Sagrada.

Os princípios enformadores da organização política e social norte-americana têm fortíssima inspiração maçónica. Liberdade - Igualdade - Fraternidade, governo do Povo, pelo Povo, para o Povo, o respeito pelas liberdades fundamentais, incluindo obviamente a liberdade de religião, o princípio da separação de poderes, tudo isso são temas caros à Maçonaria.

Os maçons americanos deram a sua colaboração, juntamente com outros ilustres cidadãos que prezavam a liberdade e a democracia, para o estabelecimento das regras definidoras da atuação do Poder político da novel nação. É o caso que conheço de maior influência maçónica no Poder político.

Convenhamos que - independentemente de ideologias e de preferências por sistemas de governo - não fizeram, de todo, um mau trabalho!

Fontes:



Rui Bandeira

22 agosto 2011

O tempo, esse maravilhoso conselheiro.

Há algum (muito) tempo atrás, tinha adquirido de forma instintiva um exercício diário, visitar o A Partir Pedra.

Era por aqui que passava o meu tempo livre, por aqui vagueava horas a fio, onde lia e relia todos os textos, desde os novos aos mais antigos, desde os que me chamavam de forma natural a atenção até àqueles que pouco ou nada me diziam.

O tempo, esse maravilhoso conselheiro, que tudo cura e tudo constrói, foi passando e quando me apercebo o exercício era já rotineiro, em que a necessidade era superior à curiosidade. Quando se perde a necessidade e, a curiosidade é algo sempre presente, algo está por acrescentar no nosso dia a dia…

Era inevitável o querer ser maçom, disse-o uma e outra vez, durante alguns dias.

Se mais depressa o decidi, mais devagar o concretizei.

O tempo, esse maravilhoso conselheiro, surpreendeu-me pelo seu lado original e à altura negativo, pois avançou silenciosamente e sobretudo sem pressa alguma e como eu tinha pressa, queria ser maçom, queria aprender e crescer, quando na realidade, já com o processo em andamento estava já a fazer tudo isso e de uma forma instintiva, sem ter essa perceção.

Tanto tempo faz-nos, por vezes, desiludir e pensar em desistir, mas na realidade é apenas o ponto de partida para o que vem a seguir.

Já iniciado, o tempo, sempre ele, começou uma interior e dura batalha comigo, onde impera o silêncio e a incerteza do passo a dar em seguida.

A (minha) verdade é afinal tão simples.

O tempo passa e a integração vai surgindo de uma forma racional, de novo rosto desconhecido de todos, a forma como se é recebido entre os demais irmãos é acolhedora, afável, alegre e natural.

A batalha interior continua diariamente, onde a regra do silêncio imposta começa a revelar toda a sua essência, ou seja, quero falar e não posso e logo eu que tenho tanto a dizer.

Não sou dos que nada têm para dizer, nunca fui, quando tinha oportunidade falava sem qualquer problema de consciência e sempre com a certeza do que estava a dizer…como estava eu enganado, isto de falar só para não estar calado é realmente uma grande asneira e revela-se quando percebemos a diferença entre ouvir e falar.

Não falar é inicialmente algo penoso, no entanto, ao fim de algum tempo começamos a perceber que o fato de não falar nos permite um exercício mental bastante útil, pensar.

O local preveligiado do aprendiz e do companheiro, é isso mesmo, o local ideal para ouvir todas as opiniões e sobre elas pensar, fazendo algo que raramente se faz de forma natural, que no fundo é tão só isto, “caso eu pudesse falar, que diria eu sobre isto?”.

O tempo fez o que tinha a fazer, até que um dia, inesperadamente e de forma informal, ou seja, extra sessão, um irmão que por acaso era o VM desse ano maçónico, me questiona de forma direta:

- Então meu irmão, que tens tu a dizer sobre tudo isto, qual a tua opinião?

E em três segundos lá se foi o tapete debaixo dos pés, eu, logo eu, que tanto tinha para dizer e queria dizer, não articulei uma só frase, limitei-me a responder, “não tenho ainda opinião formada, afinal estou cá para aprender”.

Na realidade desenrasquei uma atribulada e apressada resposta e o que escrevi acima pareceu-me ser a melhor forma de lidar com aquele momento, é sempre assim, quando não estamos à espera as coisas acontecem.

E este era, afinal, o caminho certo, pois finalmente percebi que de tanto querer falar e não poder, se me pedem opinião e não a consigo articular de forma conveniente é porque me falta todo um percurso para fazer.

É um percurso sem fim, é um caminho a percorrer e sempre sem pressa alguma de o caminhar, seguramente é mais firme um passo exato a avançar na direção certa que um passo amedrontado numa direção qualquer.

Escrever hoje aqui é para mim, algo especial, era e é aqui que passo algum do meu tempo livre, foi e é aqui que me vou “perdendo” em leituras e nas minhas interpretações, logo, a possibilidade de aqui escrever é mais que natural, é um dever para comigo mesmo e para quem me acolheu.

Se esta foi a minha porta de entrada na M:., que esta seja agora, depois de elevado a M:.M:., uma das variadas formas de poder contribuir com tudo aquilo que me falta aprender.

Daniel Martins

21 agosto 2011

Parabéns!


Uma vez mais, e pontualmente - como, de resto, tem sucedido há mais de meio século - o nosso Rui Bandeira ficou um ano mais velho sábio. Que os contes pontualmente por mais outros tantos quantos contaste até aqui - se esse for o teu desejo! Um grande abraço de parabéns!

17 agosto 2011

Maçonaria e Poder (V)



Desde o seu início, a Maçonaria especulativa foi, em Inglaterra, interclassista, reunindo no seu seio nobres, burgueses, artesãos e intelectuais.

No século XVIII, muito por influência dos espíritos progressistas do Iluminismo inglês, as Lojas eram polos de divulgação do espírito científico, do Conhecimento. A reunião dos melhores espíritos da época, a sua influência nos círculos populares e urbanos, não escaparam à atenção da nobreza, da classe que detinha e continuava a deter o essencial das rédeas do Poder. E a nobreza inglesa teve a lucidez suficiente para embarcar no mesmo barco e, mesmo, rapidamente, capitanear o navio.

A Maçonaria inglesa, como instituição nascida nesse país, compartilhava da idiossincracia muito particular do povo inglês. Assim, as Lojas assumiam também as características conviviais dos clubs ingleses - e a tradição da sua exclusiva masculinidade, que permanece ainda hoje na Maçonaria Regular... -, particularmente na importância atribuída aos ágapes (refeições) partilhados entre obreiros. Mas, ao contrário, dos distintos e exclusivos clubs, a integração numa Loja não implicava exagerado dispêndio financeiro, sendo os custos inerentes comportáveis para o comum cidadão com uma situação económica que estivesse acima do nível da luta pela sobrevivência. Daí o seu caráter interclassista, sentando-se lado a lado o rico e o meramente remediado, o nobre e o burguês, o intelectual e o artesão.

Mas, como é natural - talvez inevitável - em grupos heterogéneos, os mais cultos, mais bem preparados, os mais bem colocados socialmente, gradualmente acabaram por sobressair. Não admira, assim, que a breve trecho, a direção formal da Grande Loja passasse a ser assegurada por membros da nobreza, depois da alta nobreza e finalmente da Família Real, embora a gestão diária fosse assegurada por elementos socialmente mais discretos, mas porventura mais entrosados na organização e seguramente com maior disponibilidade pessoal para as tarefas do dia-a-dia. Daí a particular importância que, na Maçonaria anglo-saxónica - mas não só - tem o ofício de Grande Secretário, verdadeiro Diretor Administrativo da instituição.

Seja como seja, desde o início da sua implantação que a Maçonaria inglesa foi protegida pelo Poder, integrada como instituição social de relevo. Para além da sua função básica, de polo de melhoria, de crescimento e aperfeiçoamento pessoal dos seus membros, passou a exercer lateralmente tarefas na área social e beneficente, integrande a rede de instituições de suporte social num país em que - não o esqueçamos - a mentalidade socialmente dominante é individualista. E este aspeto beneficente, de suporte social, como é óbvio, na medida em que contribuía para a diminuição e controlo das tensões sociais, sempre agradou ao e favoreceu o Poder.

Mas não só a este nível a maçonaria foi utilizada pelo Poder britânico. A expansão imperial britânica teve como uma das suas pontas-de-lança a Maçonaria, rapidamente "exportada" para todos os confins do globo onde existia um espaço integrante do Império Britânico. A Maçonaria era parte do "british way of life", era uma instituição característica da sociedade inglesa e, como tal, estava presente, tal como a "Union Jack" e os regimentos britânicos, onde quer que existisse o Império Britânico.

Este caráter institucional que rapidamente a Maçonaria inglesa logrou atingir possibilitou e favoreceu o seu crescimento e implantação por todo o Mundo.

Em Inglaterra, indubitavelmente que a Maçonaria beneficiou do beneplácito do Poder. Mas não nos enganemos: mais do que ser a Maçonaria a influenciar o Poder, foi o Poder quem dirigiu e utilizou a Maçonaria, como um dos instrumentos da sua política.

Ainda hoje gentleman que é gentleman é maçom...

Esta caraterística de integração social da Maçonaria inglesa foi partilhada, de uma forma muito similar, em muitos países do Norte da Europa - Escandinávia, reinos alemães, Países Baixos, entre outros - em que, na sua fase de implantação, a Maçonaria foi protegida e integrada pela nobreza, nalguns locais mesmo dirigida pelo monarca ou por um membro da Família Real.

Por sua vez, esta integração social da Maçonaria inglesa influenciou - sobretudo ao nível dos princípios, da organização e da prática quotidiana - a Maçonaria Regular em todo o Mundo.

Em todo o Mundo, a Maçonaria Regular contém-se nos limites da Lei vigente, como instituição integrada na sociedade, existindo e funcionado em plena legalidade, à luz do dia, sem secretismos, tal como qualquer outra instituição social. E, tal como qualquer outra instituição social, influenciando e sendo influenciada pelo Poder. É assim a realidade da vida em sociedade...

Rui Bandeira

10 agosto 2011

Maçonaria e Poder (IV)


Príncipe Edward, Duque de Kent




A transição entre a Maçonaria Operativa e a Maçonaria Especulativa decorreu num período de instabilidade e conflito em Inglaterra: Stuarts contra Hanovers, Protestantes contra Católicos, Parlamento contra Rei. Foi um período de conflitos, de guerras civis, de tumultos e vinganças.

As Lojas maçónicas eram pontos de encontro de todos, independentemente dos lados dos conflitos em que se situassem, fossem católicos ou anglicanos, leais aos Stuarts ou aos Hanovers, adeptos do Parlamento ou fieis ao Rei. Por isso se instituiu na Maçonaria inglesa a regra de que em Loja não se discute política nem religião.

Esta regra, a admissão, permanência e convívio mútuo de pessoas que defendiam ideias diferentes, que, mesmo, batalhavam por conceções diversas, teve uma consequência benéfica para a Maçonaria inglesa: os detentores do Poder, em cada momento, estavam nela inseridos - tal como os derrotados desse momento... Mas, se os ventos sopravam diferentemente e os derrotados de ontem eram os vencedores de hoje, e vice-versa, a situação, em relação à Maçonaria, mantinha-se.

Quando, em 1717, foi criada a Premier Grand Lodge, em Londres, por quatro Lojas desta cidade, o primeiro Grão-Mestre designado foi um burguês, Anthony Sayer, gentleman não particularmente abonado de meios materiais (existem registos de que solicitou e obteve auxílio financeiro da Grande Loja em 1724, 1730 e 1741, ano do seu falecimento). Anthony Sayer era membro da Loja da Apple Tree Tavern, que não era aristocrática. Na época, os aristocratas reuniam-se na Loja Rummer & Grapes.

Em 1718, o Grão-Mestre foi George Payne, também burguês, que mais tarde veio a ser Secretário da Repartição de Impostos. Em 1719, o Grão-Mestre foi o filósofo huguenote francês John Theophilus Desaguliers, também membro da Royal Society, a sociedade inglesa onde se juntaram os melhores cérebros e cientistas da época, verdadeiro alfobre do Iluminismo em Inglaterra. Sucedeu-lhe de novo George Payne, em 1720.

Em 1721, foi eleito Grão-Mestre o primeiro membro da alta nobreza britânica a assumir o cargo: John Montagu, 2.º Duque de Montagu, anteriormente Visconde e depois Marquês Monthermer, que, em 1745, veio a ser nomeado Par do Reino. Foi o primeiro de uma longa lista de nobres, incluindo o Príncipe de Gales entre 1792 e 1812, que dirigiram a Premier Grand Lodge até à sua fusão com a Grande Loja dos Antigos e criação da Grande Loja Unida de Inglaterra, em 1813, realizada sob a égide do seu último Grão-Mestre, o Príncipe Augustus Frederick, Duque de Sussex, que viria a ser o primeiro Grão-Mestre da Grande Loja Unida de Inglaterra (UGLE).

A Grande Loja Unida de Inglaterra só teve como Grão-Mestres membros da alta nobreza - e mesmo da família real - desde a sua fundação até à atualidade. Repare-se na lista dos seus Grão-Mestres:
Como se vê, a Maçonaria inglesa muito cedo foi, não só integrada por membros da nobreza britânica, como por ela diretamente dirigida.

A Maçonaria inglesa insere-se, desde o seu início, na esfera do Poder, é uma organização claramente integrante da estrutura social britânica - ao contrário do que sucedeu, como iremos ver, noutras paragens, mas também a exemplo do que sucederia noutros tantos lugares.

Qual o seu papel na sociedade, a sua autonomia em relação ao Poder político e económico - já que, quanto ao Poder social britânico é inequívoca a sua pertença - é matéria que será objeto do próximo texto.

Fontes:

http://en.wikipedia.org/wiki/Premier_Grand_Lodge_of_England
http://en.wikipedia.org/wiki/Anthony_Sayer
http://en.wikipedia.org/wiki/George_Payne_%28Freemason%29
http://en.wikipedia.org/wiki/John_Montagu,_2nd_Duke_of_Montagu
http://en.wikipedia.org/wiki/United_Grand_Lodge_of_England
http://en.wikipedia.org/wiki/Prince_Edward,_Duke_of_Kent

Rui Bandeira