04 março 2009

Retrato caricatural do estado da Justiça

Faço hoje uma pausa na temática habitual deste blogue, para dar conta de um extraordinário documento que mão amiga hoje me fez chegar. Apesar da minha profissão de Advogado, recebi-o a título pessoal e posso por isso divulgá-o, sem estar peado pelo segredo profissional (pois é, a minha vida são só segredos...).

Costumo dizer, em jeito de brincadeira, que, como Advogado, sou especialista em ideias gerais. Sei um pouco de muito e a fundo de quase nada. Tenho de saber um pouco de construção civil, para poder intervir em processos referentes a litígios relacionados com obras, sei um pouco de anatomia e fisiologia humanas, para intervir em processos relacionados com erro ou negligência médica, ou acidentes, e por aí fora... Mas de muito pouco sei verdadeiramente algo a fundo, de A a Z ou, como se diz mais popularmente, de cabo a rabo. Em resumo, muita parra e pouca uva, é o que é... Mas, de uma forma geral, o jurista é suposto ter o que se chama uma cultura eclética, porque o Direito a quase todos os campos abrange e respeita.

A tão falada crise da Justiça já deu origem a variados diagnósticos de dezenas de iluminados. Pena é que, havendo tantos diagnósticos, haja tão poucas soluções ou curas - pelo menos, das que resultem e que vejamos que resultam, antes de o doente morrer de velho... Ele é que a culpa é das leis de processo, que só atrapalham e permitem todos os atrasos e mais alguns, ele é que o problema está nos malandros dos Advogados, que usam e abusam de truques para atrasar os processos em favor dos seus clientes, ele é que a culpa é dos Juízes, que não trabalham, ele é, afinal, que a culpa é de tudo e de todos, que casa em que não há pão, todos ralham e ninguém tem razão.

Tenho para mim que as causas são múltiplas e variadas, que todos os que trabalham na Justiça não estão, nem isentos de culpas,nem angelicalmente puros, enfim, que muitos, das várias profissões jurídicas trabalham muito e bem - e todos vêm o seu esforço prejudicado pela brutal quebra de eficiência que o insuficiente dimensionamento do sistema e as culpas no cartório de uns quantos calaceiros e ou incompetentes causam.

Mas, acima de tudo, tenho para mim que muito do que de deficiente há na Justiça resulta de males que lhe foram transmitidos do exterior. Desde logo, uma assinalável quebra na cultura geral média de quem opera na Justiça (juízes, procuradores, advogados). Que obriga a um esforço acrescido e a mais tempo gasto a estudar o que se não sabe de todo e se devia saber um bocadinho, porque é assunto sobre que se tem de intervir ou decidir. E gera erros escusados, por vezes infantis, com subsequentes perdas de tempo, trabalho e feitio, para serem emendados. Ou então injustiças flagrantes...

O documento que abaixo publico ilustra este meu entendimento. Trata-se de uma cópia de um despacho exarado numa execução (processo pelo qual se dá cumprimento, coativamente, a uma condenação anterior; se uma sentença condenou A a pagar X a B e A não paga, B executa a sentença e o Tribunal coordena as ações necessárias para apreender bens de A, transformá-los em liquidez e entregar a B a quantia a que este tem direito).

Repare-se, antes do mais, que se trata de um despacho de poucas linhas (e sobre questão jurídica não particularmente complexa ou duvidosa...). Mas veja-se que, tendo o processo tido conclusão (isto é, apresentação ao juiz para decisão) em 10 de novembro, só em 12 de dezembro, ou seja, mais de um mês depois, é proferido...

Mas, sobretudo, queiram os caros amigos fazer o favor de verificar o que foi pedido e comparar com o que, candidamente, foi decidido. Santa ignorância!

Assim se demonstra que até se pode ser um eminente conhecedor de direito, saber de cor, de trás para a frente e de frente para trás, todas as leis, decretos-leis, portarias e quejandas minudências, ser um craque na correta interpretação de todas as normas, palavras, vírgulas e pontos finais, mas isso não chega - nem lá perto anda! - para se ser um sofrível jurista. Tudo isso tem de ser acompanhado de cultura geral, conhecimentos, ainda que superficiais (mas que deem para perceber quando é preciso procurar e estudar mais a fundo determinado assunto e que permitam saber onde e como procurar), de tantas matérias quanto possível. E OBRIGATORIAMENTE DE CONHECIMENTOS MÍNIMOS DE MATEMÁTICA!!!!

Este erro porventura já foi emendado. Mais requerimento, menos promoção, lá se deve ter proferido despacho emendando a mão. Não sem mais algum trabalho e tempo perdido, é certo... A divulgação deste erro não é feita para achincalhar ninguém, para apontar o dedo a nenhuma classe. Este erro foi feito por um juiz, mas eu já vi erros iguais ou piores cometidos por procuradores e por advogados. Nem é feita a título de curiosidade ou de humor, que seria bacoco. Esta divulgação é feita para que se perceba que a crise da Justiça cava muito mais fundo do que umas leis de processo complexas, uns magistrados mais lentos ou menos diligentes, uns advogados mais chicaneiros e cheios de truques. A crise da Justiça, como outras da nossa sociedade, também é potenciada por uma quebra de qualidade na formação das nossas gentes, de que agora estamos a sofrer os efeitos, aqui como na falta de médicos ou na dificuldade de encontrar um canalizador de jeito e disponível para vir fazer uma reparação nos canos lá de casa, sem nos levar os olhos da cara por isso. Quero crer que se está já a remediar o erro e que a nova geração já não sofrerá deste mal. Oxalá!

Ah! E, para que não haja dúvidas, isto não tem nada a ver com políticas nem politiquices, nem com velhas ou novas senhoras. Erros, más escolhas, opções deficientes, sempre se fizeram, as velhas senhoras como as novas, os políticos assim como os políticos assado. Isto tem só a ver com tomarmos consciência das causas do que nos aflige, para podermos tentar remediar o que se puder, como se puder e tão depressa quanto se puder. Isto tem a ver, não com culpas ou recriminações ou aproveitamentos, mas com algo simples mas que, por vezes, nos esquecemos de ter em consideração: os erros cometem-se (sempre!); e pagam-se (sempre!); pagamos menos e por menos tempo quando conseguimos detetar o erro e emendá-lo. O passado já passou e nada podemos fazer quanto a ele. O futuro é o que fizermos dele no presente. De preferência, cometendo cada vez menos erros de palmatória!

Clique na imagem para a ampliar, se necessário.
Rui Bandeira

03 março 2009

ESCÂNDALO! A MAÇONARIA VIOLA AS LEIS LABORAIS!

A Maçonaria é uma Fraternidade. Fraternidade pressupõe convívio. Amizade. Vivenciar em conjunto momentos de alegria e boa disposição. E humor!

Desengane-se quem porventura pense que os maçons são um grupo de sisudos, constantemente embrenhados em esotéricos pensamentos e elaborados exercícios de aperfeiçoamento. Os maçons são, acima de tudo, homens normais, que tentam ser bons e buscam ser melhores, mas sempre e só normalíssimos homens, de carne e osso e sangue, com alegrias e tristezas, vitórias e derrotas, dedicando-se ao trabalho, mas também ao lazer, ao estudo, mas também à descontração. E forjam os seus laços de amizade e união no convívio, em que o respeito mútuo se mistura com a brincadeira. E sabem, e praticam-no, que há alturas em que se trabalha e não se brinca e há momentos em que se brinca e não se trabalha.

O humor também é cultivado e apreciado entre os maçons. As melhore anedotas de maçons que ouvi... foram inventadas por maçons. E, como todos aqueles que são equilibrados sabem, uma muito saudável forma de humor é exercê-lo sobre nós mesmos. Portanto, aqui vai!

ESCÂNDALO! A MAÇONARIA VIOLA AS LEIS LABORAIS!

Estudos feitos por investigadores do fenómeno maçónico, que rejeitaram suspeitas de serem antimaçons, não obstante admitirem integrar o D. I. O. G. O. (Departamento de Investigação da Ordem do Grande Arquiteto e seus Obreiros), trouxeram à luz do dia que a encoberta instituição da Maçonaria afinal não passa de uma sinistra organização, que viola descaradamente as leis laborais e atenta contra os mais elementares direitos dos trabalhadores.

Segundo o A Partir Pedra apurou, da aprofundada investigação resultaram algumas embaraçosas perguntas:
  • Se a lei laboral estipula que o horário de trabalho é de oito horas diárias e 40 horas semanais, porque é que a Maçonaria obriga os seus Obreiros a trabalhar desde o meio-dia até à meia-noite, todos os dias do ano?
  • Sendo proibido o trabalho infantil e estando assente que assim se considera o trabalho de menores de 14 anos, como é possível que a Maçonaria permita em suas Lojas Obreiros com menos de 4 (quatro) anos?
  • Sendo do conhecimento comum que as normas de Higiene e Segurança do Trabalho impõem o uso de equipamento de proteção individual, como se justifica que a Maçonaria permita que os seus Obreiros trabalhem partindo, aparelhando e polindo pedras brutas, usando apenas um avental, sem óculos, máscaras e outros equipamentos de proteção?
  • A Maçonaria paga subsídio de trabalho noturno pelo trabalho realizado após as 22:00 horas?
  • Verificando-se que a Maçonaria não tem representação de classe (sindicato), com que critérios estabelece, sem audição das Centrais Sindicais, o Aumento de Salário de seus Obreiros?
  • Porque a Maçonaria permite um Grande Arquiteto na direção de seus trabalhos que, ao que se saiba, não se encontra inscrito na Ordem dos Arquitetos?
  • O ágape servido aos Irmãos é computado como pagamento de salário em espécie?
  • Como pode o V. M. aceitar a manifestação dos obreiros de que estão satisfeitos, apenas através de um batimento da mão no avental? Por acaso é emitido recibo ou alguma declaração escrita?
  • As Colunas possuem projeto de segurança aprovado e certificado e sinalização de segurança adequada?
Perguntas baseadas em trabalho elaborado por "John Gotheyra" e publicado na página 19 da revista Cultural Maçónica brasileira "Engenho e Arte", nº. 1, de outubro de 1998, complementado pelo Irmão R. B. P., da A.R.L.S. Acácia de Avaré nº 590, G.L.E.S.P. e com adaptação livre para publicação neste blogue efetuada por

Rui Bandeira

02 março 2009

Cornerstone Lodge #178 - Grand Lodge of New York

Imagem retirada do site da GLNY - Renaissance Room




Estive recentemente em Nova York (NY), por motivos pessoais. Sempre que viajo tento conciliar a agenda para encaixar uma sessão de Loja, qualquer que ela seja, no local de destino.

Desta vez não foi excepção. A primeira coisa que tratei foi de pedir a documentação necessária para me poder identificar junto da Grande Loja de Nova York (GLNY) como pertencente a uma obediência reconhecida.

Recorri para tal aos sempre simpáticos, eficientes e eficazes serviços da Milu e da Sandra e obtive assim um passaporte maçónico e uma carta de apresentação dirigida à Grande Loja a visitar. A estes juntei o cartão de Membro da GLLP/GLRP.

Com tudo isto no bolso dirigi-me, num belo dia de sol mas frio (muito frio) pelas 9h00 da manhã à GLNY a fim de tratar da parte burocrática e solicitar que me referenciassem uma Loja que reunisse nessa noite e que estivesse disposta a receber um visitante.

Cumpridas as formalidades e já com a lista de lojas que reuniam essa noite e conhecedor do “modus faciendi” para assistir a uma sessão, cruzei-me já na saída com um dos Irmãos encarregues de mostrar o edifício a visitantes. Assinei o livro de visitantes e comecei a percorrer uma parte dos 19 andares de um dos prédios que compõe a GLNY.

O Irmão guia, ou melhor Right Worshipful Brother A.J.K. (Respeitável Irmão A.J.K. na versão portuguesa) mostrou-me uma parte dos Templos e informando-se das minhas qualidades passou sempre a tratar-me como Right Worshipful Brother e a convidar-me para me sentar na cadeira do Venerável enquanto me mostrava e explicava as particularidades de cada templo. Passamos por uma das salas de reunião do Grão Mestre, e que por especial deferência me foi mostrada por dentro, uma vez que dados os livros aí existentes (raridades) não está incluída nas visitas.
A visita terminou no Grande Templo, com os seus 1200 lugares. Uma sala impressionante não só pelo tamanho mas especialmente pela acústica, pois o mais leve som proferido no Oriente é audível na sala toda.

Poderão ver uma apresentação dos vários templos aqui

Voltei à minha agenda privada passando o resto da manhã e a tarde em NY. Pelas 17h30 recolhi ao hotel, que por uma coincidência (e não fui eu que o escolhi!!) era apenas 2 ruas da GLNY , onde vesti o fato e a camisa branca colocando logo a gravata apropriada. Pus o avental e as luvas numa pequena mochila e ai fui.

Pontualmente às 18h45 apresentei-me ao segurança, a quem expliquei ao que ia. Imediatamente ele decidiu qual a Loja que eu deveria visitar e depois de verificar se estava vestido de fato ou pelo menos de Blazer e calças de fazenda, solicitou a uma empregada que me acompanhasse ao 6 piso, ao Renaissance Room.

Aí fui recebido pelo Venerável da Loja Cornerstone #178, Irmão R., que numa primeira instancia verificou os meus documentos todos, informando-me no entanto que seria o “brother Tyler” (Irmão telhador, ou guarda Externo) que faria a ultima verificação.

Eis que chega este Irmão e que depois de ver todos os documentos novamente, e estando satisfeito com a parte burocrática, me solicitou que o acompanhasse conjuntamente com outro Irmão para uma sala contigua, uma espécie de sala de espera, na qual fui testado ritualmente, sendo-me pedidas todas as palavras e todos os sinais dos 3 primeiros graus.

Satisfeito com as minhas respostas deu-me então as boas vindas e concedeu-me entrada no templo, para que pudesse assistir a toda a sessão.

É hábito na GLNY a sessões decorrerem em Grau de Mestre, e por isso o extenso interrogatório. A Cornerstone Lodge #178 reúne como aliás quase todas as Lojas da GLNY no Rito de York, rito este que não me sendo totalmente estranho, também não me é muito familiar.

Assisti então a uma sessão de Instrução dada por um dos Assistant Grand Lecturer (o Grand Lecturer é um equivalente do Grande Inspector) da GLNY, sobre desempenho ritual em sessões de Iniciação.

Estava deliciado a ouvir a apresentação, pois o método usado era-me muito familiar, tão familiar que até julguei que quem estava a fazer a apresentação era um tal Grande Inspector da GLLP de nome José Ruah. Eis senão quando que sou convidado para ilustrar como se processava uma determinada parte do ritual de iniciação aqui em Portugal e em especial no Rito Escocês Antigo e Aceite (REAA). Lá fui para o centro do templo e comecei a exemplificar e a debitar matéria.

Pensei, coitados já não lhes bastava um e hoje levam com dois Zé Ruah. Mas a coisa não ficou por ali, porque deu entrada em cena o “Rui Bandeira” local e logo a sessão se animou mais um pouco.

É que a Cornerstone Lodge não é muito diferente da Affonso Domingues, ambas têm nas suas fileiras Maçons muito antigos e outros recentes, têm Irmãos com grande conhecimento e outros ainda em fase inicial de aprendizagem, misturando-se assim experiências e pontos de vista, têm ambas o desígnio de ensinar aos seus membros um correcto desempenho do ritual, e das regras maçónicas.

A Cornerstone Lodge também contribui com o seu esforço na campanha de recolha de Sangue da GLNY, e à semelhança das demais organiza refeições de confraternização com as famílias, tal qual a RLMAD o faz.

Terminada a sessão, e com uma sensação de aceitação muito maior que no início fiquei com pena de não os acompanhar na refeição que se seguiu, mas outros compromissos estavam já agendados para o jantar.

Enquanto arrumava as minhas coisas ia respondendo a Irmãos mais novos que inquiriam sobre os costumes em Portugal e no REAA.

Nunca tinha visto aquelas pessoas, mas fui recebido como se fosse um deles e como se o normal fosse estar presente nas sessões daquela loja. E na verdade senti-me em casa, senti-me com os meus. Foi esta mais uma experiência, que me mostrou que aquela coisa da fraternidade Universal não é só um conceito teórico dos livros, é uma prática entre os Maçons.

Da GLNY só guardo boas recordações, tão boas que numa próxima viagem tudo farei para visitar uma loja novamente e não ficaria nada desagradado se fosse a Cornerstone Lodge #178 a Oriente de Nova York.

Dear Brethren, Worshipful Master Brother R.

It was a great pleasure to visit your Lodge. You have made me feel like home, and among brothers. Participating in your lodge and having the possibility to learn about your way and showing a bit of our way here in Portugal, was most interesting and positive. It was an experience that I’ll keep in my heart forever.

Please feel free to call me if ever you are coming this way.

Frats


José Ruah

28 fevereiro 2009

O Orgulho



Certo dia, um casal, ao chegar do trabalho, encontrou algumas pessoas dentro da sua casa. Pensando que eram ladrões, ficaram assustados, mas um homem forte e saudável, com corpo de halterofilista disse:

- Calma, nós somos velhos conhecidos e estamos em toda parte do mundo.

- Mas quem são vocês? - pergunta a mulher.

- Eu sou a Preguiça - responde o homem másculo - Estamos aqui para que vocês escolham um de nós para sair definitivamente das vossas vidas.

- Como pode você ser a preguiça se tem um corpo de atleta que pratica regularmente desporto? - indagou a mulher.

- A preguiça é forte como um touro e pesa toneladas nos ombros dos preguiçosos; com ela ninguém pode chegar a ser um vencedor.

Uma mulher velha curvada, com a pele muito enrugada que mais parecia uma bruxa diz:

- Eu, meus filhos, sou a Luxúria.

- Não é possível! - diz o homem - Você não consegue atrair ninguém sendo tão feia.

- Não há feiura para a luxúria, meus queridos. Sou velha porque existo há muito tempo entre os homens, sou capaz de destruir famílias inteiras, perverter crianças e trazer doenças para todos, até a morte. Sou astuta e posso-me disfarçar na mais bela mulher.

E um homem mal cheiroso, vestindo umas roupas sujas e rasgadas, que mais parecia um mendigo diz:

- Eu sou a Cobiça. Por mim muitos já mataram, por mim muitos abandonaram pátria e família; sou tão antigo quanto a Luxúria, mas eu não dependo dela para existir.

- E eu, sou a Gula - Diz uma lindíssima mulher com um corpo escultural e cintura finíssima. Os seus contornos eram perfeitos e tudo no corpo dela tinha harmonia de forma e movimentos.

Os donos da casa assustaram-se, e a mulher disse:

- Sempre imaginei que a gula seria gorda.

- Isso é o que vocês pensam! - responde ela. - Sou bela e atraente porque se assim não fosse, seria muito fácil livrarem-se de mim. A minha natureza é delicada, normalmente sou discreta, quem me tem, não se apercebe, mostro-me sempre disposta a ajudar na busca da luxúria.

Sentado numa cadeira num canto da casa, um senhor, também velho, mas com o semblante bastante sereno, com voz doce e movimentos suaves, diz:

- Eu sou a Ira. Alguns conhecem-me como cólera. Tenho também muitos milénios. Não sou homem, nem mulher, assim como os meus companheiros que aqui estão.

- Ira? Parece mais o avô que todos gostariam de ter! - diz a dona da casa.

- E a grande maioria tem! - responde o “avô” - Matam com crueldade, provocam brigas horríveis e destroem cidades quando me aproximo. Sou capaz de eliminar qualquer sentimento diferente de mim, posso estar em qualquer lugar e penetrar nas mais protegidas casas. Mostro-me calmo e sereno para lhes mostrar que a Ira pode estar no aparentemente manso. Posso também ficar contido no íntimo das pessoas sem me manifestar, provocando úlceras e as mais temíveis doenças.

- Eu sou a Inveja. Faço parte da história do homem desde a sua criação - Diz uma jovem que ostentava uma coroa de ouro cravada de diamantes, usava braceletes de brilhantes e roupas de fino pano, assemelhando-se a uma princesa rica e poderosa.

- Como pode ser a inveja, Se é rica e bonita e parece ter tudo o que deseja. - diz a mulher da casa.

- Há os que são ricos, os que são poderosos, os que são famosos e os que não são nada disso, mas eu estou entre todos, a inveja surge pelo que não se tem e o que não se tem é a felicidade. Felicidade depende de amor, e isso é o que mais carece na humanidade... Onde eu estou está também a Tristeza.

Enquanto os invasores se explicavam, um garoto que aparentava cerca de cinco a seis anos brincava pela casa. Sorridente e de aparência inocente, característica das crianças, a sua face de delicados traços mostrava a plenitude da jovialidade, olhos vívidos...

E você garoto, o que é que faz junto desses que parecem ser a personificação do mal?

O garoto responde com um sorriso largo e olhar profundo:

- Eu sou o Orgulho.

- Orgulho? Mas você é apenas uma criança! Tão inocente como todas as outras.

O semblante do garoto tomou um ar de seriedade que assustou o casal, e disse:

- O orgulho é como uma criança, mostra-se inocente e inofensivo, mas não se enganem, sou tão destrutível quanto todos aqui; querem brincar comigo?

A Preguiça interrompe a conversa e diz:

- Vocês devem escolher quem de nós sairá definitivamente das vossas vidas. Queremos uma resposta.

O homem da casa responde:

- Por favor, dêem-nos dez minutos para que possamos pensar.

O casal dirige-se para seu quarto e lá fazem várias considerações. Dez minutos depois voltam.

- E então? - pergunta a Gula.

- Queremos que o Orgulho saia de nossas vidas.

O garoto olha com um olhar fulminante para o casal, pois queria continuar ali. Porém, respeitando a decisão, dirige-se para a saída.

Os outros, em silêncio, iam acompanhado o garoto, quando o homem da casa pergunta:

- Vocês também se vão embora?

O menino, agora com ar de severo e com a voz forte de um orador experiente diz:

- Escolheram que o Orgulho saísse de suas vidas e fizeram a melhor escolha. Pois onde não há Orgulho não há preguiça, já que os preguiçosos são aqueles que se orgulham de nada fazer para viver não percebendo que na verdade vegetam.

- Onde não há Orgulho, não há Luxúria, pois os luxuriosos têm orgulho de seus corpos e nas suas riquezas, julgando-se merecedores.

- Onde não há orgulho, não há Cobiça, pois os cobiçosos têm orgulho das migalhas que possuem, juntando tesouros na terra e invejando a felicidade alheia, não percebendo que na verdade são instrumentos do dinheiro.

Onde não há Orgulho, não há Gula, pois os gulosos orgulham-se das suas condições e jamais admitem que o são, arranjam desculpas para justificar a gula, não percebendo que na verdade são marionetas dos desejos.

Onde não há Orgulho, não há Ira, pois as pessoas cheias de ira condenam com facilidade aqueles que, segundo o próprio julgamento, não são perfeitos, não percebendo que na verdade a sua ira é resultado de suas próprias imperfeições. Os irosos não vêem a realidade pois estão cegos pela ira.

Onde não há Orgulho, não há inveja, pois os invejosos sentem o orgulho ferido ao verem o sucesso alheio, seja ele qual for. Os invejosos precisam constantemente de superar os outros nas “conquistas”, não percebendo que na verdade são ferramentas da insegurança.

Texto de Autor Desconhecido

27 fevereiro 2009

AMANHÃ, dar sangue... (conferir na agenda !)

Atenção ao dia de amanhã. Há encontro marcado para o ginásio da escola Melo Falcão, na Pontinha.
Quem queira ir de carro, tem parque a 20 (vinte) metros !
Quem fôr de Metro tem a estação da Pontinha a 5 (cinco) minutos a pé !

Se a V. saúde o permitir então ultrapassem todas as outras possiveis razões e não faltem, vão à Pontinha ou ao INS e façam a V. dádiva.
Alguém, em algum sítio de Portugal, estará à V. espera para continuar a viver.
Não é "fado choradinho", é uma realidade nua e crua.
Recorram aos Vs. ideais solidários, aos Vs. princípios de cidadania ativa, e cumpram esta função fraterna que é também a demonstração do V. interesse para com os restantes cidadãos portugueses.

Lá estaremos. Até amanhã.

JPSetúbal

Ironman ...

Um dia, o filho perguntou ao pai: - Pai, embora fazer a Ironman os dois ?
Ao que o pai respondeu: - Sim.

Para os que não saibam, Ironman é o mais duro dos triatlos.
A corrida conta com três provas de "endurance" de 2.4 milhas (3.86 kilometros) de natação, seguida de 112 milhas (180.2 kilometros) de corrida de bicicleta, e termina com 26.2 milhas (42.195 kilometros) de maratona ao longo da costa da Grande Ilha (Big Island), no Hawaii.
Pai e filho foram completar a corrida juntos.

Vejam a corrida em :

Video - My Redeemer Lives - Team Hoyt - tangle.com

Façam o possível para serem felizes.

JPSetúbal

26 fevereiro 2009

Ritos e rituais

José Restolho, um profano atento a este blogue e que tomou a iniciativa de se corresponder comigo, interessa-se, manifestamente, pelo tema do ritual. Já anteriormente me questionara a propósito deste tema, dando origem ao texto Pergunta de profano. Agora, enviou-me um novo e curto texto, no qual regista a sua visão de profano sobre ritos e rituais, algo que os maçons assumidamente praticam. Ao enviar-me este texto, o meu correspondente pretendia um comentário meu sobre o seu teor. Mais do que me limitar a corresponder a esse pedido, entendi por bem fazê-lo aqui no blogue, para tanto tendo solicitado e obtido autorização para publicar o pequeno texto que segue.

Bom mais uma vez, aproveito para deixar aqui o meu profano testemunho, desta vez sobre os ritos maçónicos.


Um dos aspectos da maçonaria que mais confusão provoca aos profanos é sem sombra de dúvida a existência de ritos “esotéricos”. Muito se tem especulado sobre a sua natureza, desde conspirações políticas, ritos de carácter satânico, etc. Gostaria então de começar com uma pergunta simples:


-O que é afinal um ritual?


Fazendo uma busca simples na auto-estrada da informação, conclui que um ritual é nada mais, nada menos do que “um conjunto de gestos, palavras e formalidades, várias vezes atribuídas de um valor simbólico, cuja performance das quais é usualmente prescrita por uma religião ou pelas tradições da comunidade.” Proponho agora ao leitor que pare para reflectir sobre aquilo que o rodeia. Eu propus-me a fazer o mesmo e apercebi-me que no final de contas estamos rodeados por rituais e não me refiro apenas aos ritos religiosos (baptismo, matrimónio, missa, etc). Por exemplo no meio académico, as tão polémicas praxes, que no fundo figuram um rito iniciático da vida académica (muito se pode escrever sobre a praxe, mas prefiro deixar esse tema para outro texto), ou ainda a queima das fitas, um rito de passagem tão carregado de simbolismo (o fim de uma grande caminhada e o início de uma outra ainda maior). Nas artes marciais, todo o cerimonial de entrada no dojo, de início e de fim de aula.


Muitos mais exemplos poderiam aqui ser descritos mas, com o produto desta minha modesta reflexão, pretendo apenas fazer uma ponte entre o profano e o maçónico e de alguma maneira contribuir para o derrubar dos vastos preconceitos existentes em relação à Maçonaria.


O texto de José Restolho explana, com acuidade, um ponto de vista possível de um profano, designadamente de um profano que procura conhecer e analisar, sem preconceitos, o fenómeno da Maçonaria. Muito acertadamente, regista que ritos e rituais não são realidades exclusivas da maçonaria, Existem em muitas atividades sociais, de diferente natureza. Por regra, tudo o que assume alguma importância para um conjunto de pessoas é ritualizado.
A espécie humana sente-se confortável com rituais. Transmitem-lhe segurança, identificação.

Os rituais maçónicos partilham desses desideratos e acrescentam mais outro: forma de preparação para aquisição de conhecimentos, forma de despertar a atenção para aspetos da vida interior, do Homem, da Sociedade e do Universo que, sem eles, seriam mais dificilmente identificáveis.

O ritual influencia o humano através de algo a que só muito recentemente a Ciência começou a dar atenção: a inteligência emocional, aquele espaço que está entre a Razão e a Emoção, ou, se quisermos, o ponto por onde os sentimentos e emoções influenciam a Razão. E, inversamente, o território onde, através da Razão,se influenciam as emoções. Um ritual, bem elaborado, bem executado, bem dirigido, pode, à pessoa certa e apta, preparada, para tal, influenciar, desenvolver, abrir horizontes mais largos do que todo um curso com longas e trabalhosas horas de estudo. Um ritual bem feito, relevante, é normalmente complexo e pormenorizado. E há aspetos que só se revelam após se ter apreendido noções que previamente se impunham fossem apreendidas.

Executo e assisto a rituais maçónicos há cerca de vinte anos. Alguns rituais já foram por mim presenciados dezenas, centenas de vezes. Não me é incomum, subitamente, uma qualquer passagem, um qualquer gesto ou ato, uma qualquer chamada de atenção, despertar em mim o acesso a um novo significado, uma distinta relação, um inesperado caminho de análise ou especulação. Não porque nas dezenas ou centenas de vezes anteriores tenha estado desatento. Mas porque é então, e só então, que estou preparado para descortinar esse aspeto. Razão e emoção. A sua interligação, a sua mútua influência, a forma como cada uma pode potenciar a outra, só muito recentemente começaram a ser estudadas em conjunto. Os maçons, através dos seus rituais, há muito que, empiricamente, exploram essa relação. Todos os rituais com significado para as pessoas existem e afirmaram-se e são praticados, porque correspondem a uma necessidade humana de os praticar. Porventura sem se saber porquê, quiçá quem os pratica inconsciente do plano de relação entre a Razão e a Emoção que os torna importantes.

Rui Bandeira