24 outubro 2008

As nove respostas do sábio

Recebi há tempos uma mensagem de correio eletrónico com uma apresentação dedicada ao filósofo grego Tales de Mileto e à sua sabedoria. Não sei se a situação descrita existiu ou se se trata de uma situação imaginada e que a sabedoria atribuída a Tales de Mileto é afinal devida a desconhecido autor da história... Seja como for, seja real ou putativa a sabedoria atribuída a Tales, não deixa de ser sabedoria. E bem avisado anda aquele que lhe der atenção! Como de costume, o texto abaixo publicado foi editado por mim, tendo-lhe sido introduzidas alterações que tive por adequadas.

Tales de Mileto foi um filósofo grego, fundador da Escola Jónica, considerado como um dos 7 sábios da Grécia Antiga.

Matemático, astrónomo e um grande pensador, Tales de Mileto viajou para o Egito, onde realizou estudos e entrou em contato com os mistérios da religião egípcia. Ali realizou uma façanha incrível, para a época: o seu talento matemático era tão pouco comum, que conseguiu estabelecer com precisão a altura das pirâmides, apenas medindo a sombra que projetavam. Terá sido o primeiro a dar una explicação lógica,para a ocorrência dos eclipses. Aliás, é-lhe atribuída a previsão de um eclipse do Sol, no ano de 585 A.C.. Foi o primeiro a sustentar que a Lua brilhava pelo reflexo do Sol e determinou o número exato de dias de um ano. Destacou-se principalmente pelos seus trabalhos em filosofia e matemática. Nesta última ciência, são-lhe atribuídas as primeiras demonstrações de teoremas geométricos, mediante o raciocínio lógico. Foi por estes trabalhos que foi considerado o pai da Geometria.

Para provar que o seu conhecimento tinha utilidade prática, afirmou que num determinado ano, a colheita de azeitonas seria excecional e arrendou a maioria das refinarias de azeite de Mileto. Com esta manobra ganhou uma boa quantia, somente com o propósito de fazer calar os que diziam que a filosofia era um capricho dos ociosos.

Eis então a história.

Um sofista aproximou-se de Tales de Mileto e tentou confundi-lo com as perguntas mais difíceis de que foi capaz. Mas o sábio de Mileto estava a altura da prova, porque respondeu a todas as perguntas sem a menor vacilação, e com a maior exatidão.

1 – O que é mais antigo?

R.– DEUS, porque sempre existiu.

2 – O que é mais belo?

R.– O UNIVERSO, porque é a obra de Deus.

3 – Qual é a maior de todas as coisas?

R.– O ESPAÇO, porque contém tudo do Criador.

4 – O que é mais constante?

R.– A ESPERANÇA, porque permanece no homem, mesmo depois de ter perdido tudo.

5 – Qual é a melhor de todas as coisas?

R.– A VIRTUDE, porque sem ela não existiria nada de bom.

6 – Qual é a coisa mais rápida de todas?

R.– O PENSAMENTO, porque em menos de um minuto, nos permite voar até aos confins do Universo.

7 – Qual é a mais forte de todas as coisas?

R.– A NECESSIDADE, porque é com ela que o homem enfrenta todos os perigos da vida.

8 – O que é o mais fácil de tudo?

R.– Dar CONSELHOS.

Quando chegou a nona pergunta, este sábio deu uma resposta quiçá não entendida por seu mundano interlocutor. A pergunta foi esta:

9 – O que é o mais difícil ?

E o Sábio de Mileto replicou:

Conhecer-se a si mesmo.

Qualquer destas resposta é tão válida e tão sábia hoje como no tempo de Tales de Mileto. E, mesmo sendo a tarefa mais difícil, bem avisado anda aquele que procura, antes e acima de tudo, conhecer-se a si mesmo...

Rui Bandeira

23 outubro 2008

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 - Base XIV


BASE XIV

DO TREMA


O trema, sinal de diérese, é inteiramente suprimido em palavras portuguesas ou aportuguesadas. Nem sequer se emprega na poesia, mesmo que haja separação de duas vogais que normalmente formam ditongo: saudade, e não saüdade, ainda que tetrassílabo; saudar, e não saüdar, ainda que trissílabo; etc. Em virtude desta supressão, abstrai-se de sinal especial, quer para distinguir, em sílaba átona, um i ou um u de uma vogal da sílaba anterior, quer para distinguir, também em sílaba átona, um i ou um u de um ditongo precedente, quer para distinguir, em sílaba tónica/tônica ou átona, o u de gu ou de qu de um e ou i seguintes: arruinar, constituiria, depoimento, esmiuçar, faiscar, faulhar, oleicultura, paraibano, reunião; abaiucado, auiqui, caiuá, cauixi, piauiense; aguentar, anguiforme, arguir, bilíngue (ou bilingue), lingueta, linguista, linguístico; cinquenta, equestre, frequentar, tranquilo, ubiquidade.

Obs.: Conserva-se, no entanto, o trema, de acordo com a Base I, 3º, em palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros: hübneriano, de Hübner, mülleriano, de Müller, etc.

Em Portugal, já há muitos anos que o trema tinha sido suprimido. Só agora, com o Acordo Ortográfico recentemente entrado em vigor, idêntica supressão ocorre no Brasil.

Tal como alguns intelectuais em Portugal se pronunciaram contra o Acordo Ortográfico, defendendo a manutenção da prioridade à etimologia sobre a fonética, também no Brasil alguns ilustres manifestaram discordância. Um dos polos desta, no Brasil foi precisamente a supressão do trema. João Ubaldo Ribeiro, grande escritor, apreciado em ambos os lados do Atlântico, chegou a clamar: Devolvam-me os meus tremas!

Em Portugal, os opositores do Acordo, sobretudo referindo a supressão das consoantes não pronunciadas, clamaram que este era uma cedência à norma de escrita brasileira. Porventura no Brasil alguns entenderão que a supressão do trema é uma cedência brasileira à norma de escrita lusa. Nem sequer discuto se, em qualquer caso, há ou não cedências. Mesmo que haja, não vejo qual o problema. Um Acordo é isso mesmo: cedências mútuas em relação às posições iniciais de forma a que se atinja uma posição conjunta.

Tal como em Portugal rapidamente se perceberá que as consoantes não pronunciadas não fazem falta nenhuma, também no Brasil não demorará muito a perder-se a nostalgia do trema, que um dia será lembrado como um exotismo semelhante ao ph que em tempos estava na pharmácia... E o trema vai passar a ser apenas coisa de alemão!

Rui Bandeira

22 outubro 2008

Hoje a música é...


Ele passa dias e dias que parece que não aparece.

Mas - como ele diz! - nunca anda longe.

Só escreve quando lhe apetece e está livre de bloqueios criativos.

Agora iniciou um novo projeto profissional e anda (ainda) mais ocupado.

Ultimamente deu-lhe para nos dar música - na Loja Mestre Affonso Domingues e aqui no blogue.

Ele é o José Ruah.

E hoje, 22 de Outubro, é o seu aniversário!

Portanto, hoje a música é outra!

Vá lá, cantem comigo: "Parabéns a você...".

Rui Bandeira

21 outubro 2008

A Festa dos Herois



Disse o Zé Ruah há 2 posts atrás que uma imagem vale mais do que mil palavras.

Sábias palavras de alguém, que ele lembrou e eu aproveito agora como balanço para Vos trazer alguns dos nossos herois, como dizia o outro, dos verdadeiros, dos bons...

Na 6ª feira passada o Presidente da República veio (escrevo veio naturalmente porque estou cá!) a Odivelas prestar homenagem à seleção nacional de parolímpicos que representou Portugal em Pequim, brilhantemente, sem terem sono pela manhã, nem complexos, nem nervosinho miudo.

E trouxeram 7 medalhas, sete (bonito número) !


Não são as medalhas que são importantes ?
Claro que são.
É ver o orgulho transbordante com que as mostram e as acariciam.
Não há palavras...

Mas é um grupo fabuloso ! A alegria é contagiante. Ninguém consegue ficar indiferente. Alguns já não se encontravam há algum tempo e a alegria natural juntou-se à emoção do reencontro.

Foi uma tarde linda, das que vale mesmo a pena viver e ver.

Tenho um filme feito que Vos trarei para aqui logo que esteja editado. Por agora ficam algumas fotos do encontro.














































Até breve com o filme !
JPSetúbal

20 outubro 2008

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 - Base XIII


BASE XIII

DA SUPRESSÃO DOS ACENTOS EM PALAVRAS DERIVADAS

1º) Nos advérbios em -mente, derivados de adjetivos com acento agudo ou circunflexo, estes são suprimidos: avidamente (de ávido), debilmente (de débil), facilmente (de fácil), habilmente (de hábil), ingenuamente (de ingênuo), lucidamente (de lúcido), mamente (de má), somente (de só), unicamente (de único), etc.; candidamente (de cândido), cortesmente (de cortês), dinamicamente (de dinâmico), espontaneamente (de espontâneo), portuguesmente (de português), romanticamente (de romântico).

2º) Nas palavras derivadas que contêm sufixos iniciados por z e cujas formas de base apresentam vogal tónica/tônica com acento agudo ou circunflexo, estes são suprimidos: aneizinhos (de anéis), avozinha (de avó), bebezito (de bebé), cafezada (de café), chepeuzinho (de chapéu), chazeiro (de chá), heroizito (de herói), ilheuzito (de ilhéu), mazinha (de má), orfãozinho (de órfão), vintenzito (de vintém), etc.; avozinho (de avô), bençãozinha (de bênção), lampadazita (de lâmpada), pessegozito (de pêssego).

As regras decorrentes desta Base já se encontram em vigor em Portugal desde 1973 e no Brasil desde 1971. Aqueles que já escreviam na altura recordar-se-ão, certamente, como muitos diziam que nunca se haveriam de habituar à alteração de regras, que iam continuar a escrever como se tinham habituado a escrever e não se iam preocupar com essas "modernices", etc.. Pouco mais de trinta anos depois, ninguém já acentua as palavras em causa nesta Base... Nem os recalcitrantes dessa época! Talvez seja um indicador do que vai suceder com o Acordo Ortográfico de 1990...

As pessoas habituam-se a determinadas regras e temem, rejeitam, desagrada-lhes, mudanças. Escrever palavras diferentemente do que sempre se escreveu obriga a uma atenção, a um esforço, que muitos bem dispensariam. Ler palavras escritas diferentemente do que estávamos habituados a ler também nos causa inicialmente um desconforto, uma sensação de que algo não está bem. Mas, como escreveu Fernando Pessoa, quando criou uma frase publicitária para a Coca-Cola, primeiro estranha-se, depois entranha-se.

Tal como em Portugal com a transição do Escudo para o Euro e no Brasil com a transição entre as várias moedas ali sucessivamente usadas (Cruzeiro, Cruzado, Real), daqui a algum tempo não se estranhará as mudanças do Acordo Ortográfico de 1990, que recentemente entrou em vigor. Teremos o nosso período de estranheza e... depois as mudanças entranhar-se-ão!

Rui Bandeira

17 outubro 2008

A ajuda

Dizem que uma imagem vale por mil palavras.

E um encadeado de imagens e de sons num filme, por quantas palavras vale?

Hoje não vos trago um texto como base de reflexão. Hoje trago-vos um filme.

A situação é a seguinte:

Uma menina de 13 anos ganhou um prémio e foi cantar o hino nacional dos Estados Unidos nu jogo da NBA, liga de basquetebol profissional daquele país. Vinte mil pessoas no pavilhão, ela afinadinha. Então o braço tremeu, ela engasga-se e esquece-se da letra...Una branca !!!


Treze anos. Sozinha, ali no meio... O público, estupefacto, ameaça uma vaia. De repente, Mo Cheeks, técnico dos Portland Trail Blazers, aparece ao seu lado e começa a cantar, incentivando-a a ela e ao público. E a menina recupera e reganha confiança e acaba de cantar o hino, com força e vigor. E o público, que esteve a ponto de vaiar, acompanhou e aplaudiu. Bonita cena! Mas só porque alguém soube intervir acertadamente na hora adequada! Só porque alguém foi solidário e agiu, em vez de ficar apenas a ver!


Note-se: só o técnico é que tomou a iniciativa de ajudar, enquanto os demais só observavam estupefactos...

Ele demonstrou o que é ser verdadeiramente líder. Mostrou como uma atitude de liderança e solidariedade, no momento exato, pode fazer a diferença para ajudar um ser humano e mudar a história do jogo da vida.

E, assim, para mim mostrou que também sabe intervir quando necessário para ajudar os seus jogadores a mudar o rumo de um jogo. Se eu fosse dirigente de um clube de basquetebol, este era o técnico que eu procuraria contratar para a minha equipa. Não basta saber de técnicas e de táticas. Saber ser líder, saber ser solidário, saber atuar na hora certa, no momento exato, são as qualidades que muitas vezes fazem a diferença.

Espero que os Portland Trail Blazers tenham ganho este jogo! Ganharam, pelo menos, mais um adepto!

E nós? Estamos no mundo para ajudar ou para vaiar? Para assistir passiva e placidamente à queda dos outros, ou para intervir e ajudar quem precisa de ajuda, no momento em que ela é necessária?

Pensem nisso enquanto veem o filme!



Rui Bandeira

16 outubro 2008

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 - Base XII


BASE XII

DO EMPREGO DO ACENTO GRAVE

1º) Emprega-se o acento grave:

a) Na contração da preposição a com as formas femininas do artigo ou pronome demonstrativo o: à (de a+a), às (de a+as);

b) Na contração da preposição a com os demonstrativos aquele, aquela, aqueles, aquelas e aquilo ou ainda da mesma preposição com os compostos aqueloutro e suas flexões: àquele(s), àquela(s), àquilo; àqueloutro(s), àqueloutra(s).

Esta Base, simples, curta e de fácil compreensão, consagra o uso do acento grave como se vem fazendo desde há já algum tempo, em ambos os lados do Atlântico.

Uma das dificuldades de quem está a aprender a escrita do português ou tem apenas conhecimentos básicos sobre a língua é, por vezes, distinguir, na escrita, à de (terceira pessoa do singular do presente do indicativo do verbo haver). Sendo a pronúncia de ambas as palavras idêntica, por vezes algumas pessoas hesitam quanto à forma de exprimir graficamente uma delas. Eis um método simples e rápido de desfazer a dúvida: substituir mentalmente na frase a palavra que se tem dúvida se é à ou por existe. Se a frase continuar a fazer sentido, então está-se perante a flexão verbal do verbo haver e deve escrever-se ; se a frase não fizer sentido, então está-se usando a contração da preposição com o artigo ou pronome e deve escrever-se à.

Não tem propriamente a ver com o Acordo Ortográfico, mas recordar este pequeno truque pode ajudar-nos a superar uma dúvida repentina...

Rui Bandeira