04 agosto 2008

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 - 2


O nosso Rui, como de costume, resolveu meter a mão na massa, salvo seja (como sabem há uma massa de letras...), e tratou de trazer a este espaço o Acordo Ortográfico que foi ratificado há pouco pelos governantes portugueses.
Agora que ele foi para férias (BOAS FÉRIAS MANO !!!) sobem as responsabilidades dos outros 2 "calões" que só aparecem ao serviço... obrigados.
Vou propor umas senhas de presença como incentivo...
De qualquer forma esta intervenção sobre o tema estava prevista há algumas semanas, aguardando apenas a oportunidade para a lançar. Desde que descobri o texto, que transcrevo abaixo, que tenho a intenção de o compartilhar com todos Vós.
Terá sido um acaso, mas foi numa boa oportunidade.
Deixo-Vos então a minha achega a esta questão, que sendo importante não é fundamental.

Como é óbvio não pretende ser qualquer lição sobre a matéria, mas tão sómente a visão de alguém que sempre se interessou pela questão da língua e que detesta vê-la maltratada.
Detesta tanto vê-la maltrada como presa entre limites forçados de fronteiras que não existem.

1ª Intervenção
Mia Couto

Venho brincar aqui no Português, a língua. Não aquela que outros embandeiram. Mas a língua nossa, essa que dá gosto a gente namorar e que nos faz a nós, moçambicanos, ficarmos mais Moçambique. Que outros pretendam cavalgar o assunto para fins de cadeira e poleiro pouco me acarreta.
A língua que eu quero é essa que perde função e se torna carícia. O que me apronta é o simples gosto da palavra, o mesmo que a asa sente aquando o voo. Meu desejo é desalisar a linguagem, colocando nela as quantas dimensões da Vida. E quantas são? Se a Vida tem é idimensões?Assim, embarco nesse gozo de ver como escrita e o mundo mutuamente se desobedecem. Meu anjo-da-guarda, felizmente, nunca me guardou.
Uns nos acalentam: que nós estamos a sustentar maiores territórios da lusofonia. Nós estamos simplesmente ocupados a sermos. Outros nos acusam: nós estamos a desgastar a língua. Nos falta domínio, carecemos de técnica. Ora qual é a nossa elegância? Nenhuma, excepto a de irmos ajeitando o pé a um novo chão. Ou estaremos convidando o chão ao molde do pé?
Questões que dariam para muita conferência, papelosas comunicações. Mas nós, aqui na mais meridional esquina do Sul, estamos exercendo é a ciência de sobreviver. Nós estamos deitando molho sobre pouca farinha a ver se o milagre dos pães se repete na periferia do mundo, neste sulbúrbio.
No enquanto, defendemos o direito de não saber, o gosto de saborear ignorâncias. Entretanto, vamos criando uma língua apta para o futuro, veloz como a palmeira, que dança todas as brisas sem deslocar seu chão. Língua artesanal, plástica, fugidia a gramáticas.Esta obra de reinvenção não é operação exclusiva dos escritores e linguistas. Recriamos a língua na medida em que somos capazes de produzir um pensamento novo, um pensamento nosso. O idioma, afinal, o que é senão o ovo das galinhas de ouro?
Estamos, sim, amando o indomesticável, aderindo ao invisível, procurando os outros tempos deste tempo. Precisamos, sim, de senso incomum. Pois, das leis da língua, alguém sabe as certezas delas?
Ponho as minhas irreticências. Veja-se, num sumário exemplo, perguntas que se podem colocar à língua.
• Se pode dizer de um careca que tenha couro cabeludo?
• No caso de alguém dormir com homem de raça branca é então que se aplica a expressão: passar a noite em branco?
• A diferença entre um ás no volante ou um asno volante é apenas de ordem fonética?
• O mato desconhecido é que é o anonimato?
• O pequeno viaduto é um abreviaduto?
• Como é que o mecânico faz amor? Mecanicamente.
• Quem vive numa encruzilhada é um encruzilhéu?
• Se diz do brado de bicho que não dispõe de vértebras: o invertebrado?
• Tristeza do boi vem de ele não se lembrar que bicho foi na última reencarnação. Pois se ele, em anterior vida, beneficiou de chifre o que está ocorrendo não é uma reencornação?
• O elefante que nunca viu mar, sempre vivendo no rio: devia ter marfim ou riofim?
• Onde se esgotou a água se deve dizer: "aquabou"?
• Não tendo sucedido em Maio mas em Março o que ele teve foi um desmaio ou um desmarço?
• Quando a paisagem é de admirar constrói-se um admiradouro?
• Mulher desdentada pode usar fio dental?
• A cascavel a quem saiu a casca fica só uma vel?
• As reservas de dinheiro são sempre finas. Será daí que vem o nome: "finanças"?
• Um tufão pequeno: um tufinho?
• O cavalo duplamente linchado é aquele que relincha?
• Em águas doces alguém se pode salpicar?
• Adulto pratica adultério. E um menor: será que pratica minoritério?
• Um viciado no jogo de bilhar pode contrair bilharziose?
• Um gordo, tipo barril, é um barrilgudo?
• Borboleta que insiste em ser ninfa: é ela a tal ninfomaníaca?
Brincadeiras, brincriações. E é coisa que não se termina. Lembro a camponesa da Zambézia. Eu falo português corta-mato, dizia. Sim, isso que ela fazia é, afinal, trabalho de todos nós. Colocámos essoutro português - o nosso português - na travessia dos matos, fizemos com que ele se descalçasse pelos atalhos da savana.
Nesse caminho lhe fomos somando colorações. Devolvemos cores que dela haviam sido desbotadas - o racionalismo trabalha que nem lixívia. Urge ainda adicionar-lhe músicas e enfeites, somar-lhe o volume da superstição e a graça da dança. É urgente recuperar brilhos antigos.Devolver a estrela ao planeta dormente.

2ª Intervenção
Cá da casa.

É esta a nossa fortuna, uma língua com 1000 anos de construção, com alicerces em tudo quanto é mundo.
Há uma explicação para isso ?
Há uma. É Portugal.
Está na moda a discussão do “acordo ortográfico” (alguém acordou tarde, como de costume !).
Uns defendendo uma rigidez podre de nacionalista, outros defendendo uma indefensável modernidade, bacoca, sem sentido nem correspondência com qualquer realidade, por mais que se queira torcer a realidade, por mais que se argumente com argumentos de massa.
A língua portuguesa existe, é una e é responsável pela ligação de milhões de seres por todo o mundo, mesmo no mundo que os portugueses já deixaram há muitas gerações.
Os portugueses foram obrigados a deixar Goa há 50 anos.
Pois para quem percorra com cuidado os bairros mais típicos da cidade capital do estado, com ouvidos atentos será, com grande probabilidade, brindado com expressões portuguesas a saltarem de algum terraço.
E no Sri-Lanka, antigo Ceilão ? E no Japão, quantas expressões existem restantes da língua que os portugueses fizeram passar por lá ?
O belo texto apresentado acima, de Mia Couto, poder-se-á juntar a outros do Pepetela, do Luandino Vieira, do José Tolentino, do Carlos Espírito Santo, do Jorge Amado, do José de Alencar e mais dúzias de outros, originários como estes, de África, América, Ásia ou Oceânia.
Nas notícias dos últimos dias tem-se dito que a China está receptiva ao português, havendo muitos chineses inscritos em cursos da língua portuguesa.
Obviamente são interesses económicos a justificar esta curiosidade por uma língua que tiveram em casa durante 500 anos e que sempre recusaram.
E agora querem aprender português ?
Tem o seu quê de originalidade oriental.

Quanto ao acordo ortográfico... deixemos a língua arejar.
Limpemo-la das consoantes mudas, contradições da lógica do que se fala.
Aliviemo-la dos “cç”, dos “pt” e outros empecilhos semelhantes, mas deixemo-la com a sua lógica viva, correspondendo o que é escrito ao que é falado e ao seu significado, região a região.
Deixemos que cada povo, cada cultura, fabrique a sua própria comunicação a partir desta raiz comum, maravilhosa (e complicada) que é a língua portuguesa.

Essa é a língua “que perde função e se torna carícia”. Pelo menos para mim. E para Mia Couto também.
JPSetúbal





01 agosto 2008

É Agosto - é Tempo de Perguntas e Respostas

Carissimos Leitores

O Rui foi de férias, merecidas.

Neste Blog com maior ou menor assiduidade escrevem mais pessoas, e estando o "escrevinhador-mor" ausente, devem os demais assegurar a produção.

À semelhança do ano passado aqui vos deixo o desafio de fazerem as perguntas que quiserem que eu responderei conforme souber.

Tenho também que acabar o post sobre " Como entrar na Maçonaria" e poderão eventualmente aparecer algumas noticias interessantes.

Cá vos espero


José Ruah

31 julho 2008

Reposição de textos do primeiro ano do blogue


Dois problemas há muito pairavam no meu espírito relativamente ao blogue.

Um, o facto de a estrutura organizativa de um blogue enterrar nas profundezas do seu arquivo textos que merecem ser lidos por quem só veio a conhecer o blogue depois de eles terem sido publicados. Ou de serem relidos por quem já os leu, mas os deixou ir deslizando pela inevitável corrente do esquecimento.

O outro, a inevitável necessidade de férias e a possível quebra do desde o início vigente e quase sempre garantido ritmo de publicação de, pelo menos, um texto por dia útil. Há dois anos, no entusiasmo de um blogue recém-lançado, entre os três mais assíduos autores de textos lá conseguimos falhar pouco esse ritmo. O ano passado, as despesas do blogue em Agosto foram quase por inteiro assumidas pelo José Ruah, com uma pequena ajuda do JPSetúbal - que eu declarei descanso absoluto e ausência total de publicação em Agosto. Não sei se este ano o Ruah terá a mesma disponibilidade que o ano passado - uma das coisas que fazem este blogue ser como é, com as suas virtudes e defeitos, com o interesse que possa ter e a variedade possível, é que quem nele escreve nunca combina nada sobre a escrita no blogue com os outros. Ganha-se em liberdade, em frescura, o que se perde em programação, em organização. Por sua vez, o JPSetúbal, como se pôde ultimamente verificar, tem estado de pousio - por razões que os demais autores de textos sabem absolutamente justificadas e, até, tornando inevitável esse pousio - e não sei se recomeçará a sua escrita ainda durante Agosto. Resumindo, em matéria de textos aqui no A Partir Pedra, as perspectivas de Agosto apontam para alguma secura - que eu também me arrasto até férias e anseio por um mês inteirinho a não fazer nada do que fiz nos últimos onze meses, escrita no blogue incluída.

Esta possível secura em Agosto de alguma forma preocupou-me, por daí resultar uma quebra na regularidade de publicação e, assim, do hábito de nos ler que muitos dos nossos leitores, com muito agrado nosso, já criaram. E não me consolava o facto de Agosto ser o tradicional mês forte de férias em Portugal, em que meio mundo está a banhos, na terra ou em viagem e o outro meio arrepela-se por assim não estar... É que não me esqueço que cerca de dois terços das visitas a este blogue vêm do Brasil e aí Agosto não é mês de férias generalizadas como em Portugal...

Repararam, talvez, que, no parágrafo anterior, o verbo "preocupar" foi utilizado no pretérito perfeito. É que penso ter encontrado uma solução que, em simultâneo, permite minimizar os dois problemas indicados: Agosto, aqui no blogue, vai ser mês de REPOSIÇÃO DE TEXTOS DO PRIMEIRO ANO DO BLOGUE. É isso mesmo: no texto de hoje, indico atalhos para 31 textos meus publicados no primeiro ano do blogue. Um por cada dia, incluindo fins de semana e feriados!

Duas notas: a primeira é que optei por escolher só textos meus, por me ter sentido incapaz de seleccionar (e seleccionar implica escolher, pôr uns e excluir outros) textos que não são de minha autoria. Os meus textos, ainda consegui seriá-los por ordem de relevância, da relevância que eu atribuo ao que eu escrevi. Confesso-me incapaz de seguir, com o indispensável rigor, um critério coerente da relevância que os outros autores de textos no blogue atribuem ao que eles escreveram. E não quis correr o risco de seleccionar textos deles que eles próprios excluiriam em comparação com outros que publicaram. De qualquer forma, ainda bem: fica a ideia e, se tiverem tempo e vontade, talvez os outros autores de textos oportunamente efectuem uma selecção dos seus textos.... A segunda é que não estou a insinuar ou a desmotivar os outros autores de textos no blogue de publicar em Agosto. Se puderem e quiserem, quaisquer textos que eles publiquem são bem-vindos e, certamente, apreciados pelos nossos leitores. Quem não vai publicar nada em Agosto sei eu quem é: a minha pessoa!

Portanto, caros leitores, sem prejuízo de serem publicados textos em Agosto por outros autores no blogue, mas em substituição da minha certa ausência durante este mês, aqui vos deixo 31 atalhos para outros tantos textos que publiquei no primeiro ano do blogue. Cada um fará como entender: ler um texto por dia, lê-los todos de uma vez, ler uns quantos primeiro, outros depois e outros ainda mais tarde... ou ignorar estes atalhos. Neste espaço, a Liberdade está dos dois lados: de quem escreve e de quem lê (ou não...). Como não podia deixar de ser!

Os atalhos são apresentados por ordem de publicação dos respectivos textos no blogue. Começa-se por um texto muito bem disposto, que me deu muito gozo escrever. Não se esqueçam de ler os comentários: uma cunhada colocou ali uma resposta à altura... Segue-se um texto sobre o processo iniciático, uma série de textos sobre as Colunas, que também muito gostei de escrever, uma outra sobre os Landmarks e uma terceira sobre os Antigos Deveres. Seguem-se dois textos que considero essenciais para se compreender a Maçonaria Regular, sobre as razões para se não ser e para se ser maçon. Os quatro últimos textos procuram registar aspectos da História da GLLP/GLRP e da Loja Mestre Affonso Domingues, sendo os últimos três um início de uma série que se prolongou por todo o ano seguinte e - espero - terá actualizações anuais.

Espero que apreciem estes textos do primeiro ano do blogue. Por mim, até Setembro, se o Grande Arquitecto a isso não objectar. Eis então os atalhos, indicando-se um por cada dia do mês:

Rui Bandeira

30 julho 2008

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990


Foram publicados ontem no Diário da República a Resolução da Assembleia da República n.º 35/2008, que aprova o Acordo do Segundo Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, e o Decreto do Presidente da República n.º 52/2008, que formalmente ratifica, em representação da República Portuguesa, tal Acordo. Com estes actos, Portugal reconhece que se encontra em vigor o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, por ter já sido ratificado por três dos países dele signatários. Quer na Resolução da Assembleia da República, quer no Decreto do Presidente da República, declara-se que Portugal fixa um período de transição de seis anos, a partir da data do depósito do instrumento de ratificação na chancelaria determinada para o efeito (que ocorrerá brevemente), durante o qual podem coexistir as regras ortográficas anteriores ao acordo de 1990 e as resultantes do mesmo. Ou seja, a partir de agora, e durante os próximos seis anos, pode escrever-se "à antiga" ou pelas novas regras. Decorrido este período, só será correcto escrever segundo as regras resultantes do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990.

Este Acordo Ortográfico foi bastante discutido. Houve quem concordasse plenamente. Houve quem discordasse veementemente. Pessoalmente, e até porque não sou especialista, abstive-me de tomar posição. Mas sempre tive para mim que alguns dos desacordos radicavam na resistência à mudança, no receio do novo, no desagrado pela necessidade de readaptação a algo tão básico e aprendido tão cedo como é o código da escrita. Outros porventura gostariam que se tivesse ido mais longe nas mudanças (por exemplo, parece-me que o José Ruah e as minhas duas filhas, entre outros, teriam apreciado que se tivesse ousado extinguir por completo o uso dos acentos...). A polémica, porém, terminou: o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 está em vigor, e ponto final.

Sempre entendi que, quando é necessário efectuar uma mudança, deve-se fazê-la o mais rapidamente possível e não estar à espera do último segundo do último minuto da última hora do último dia disponível para o efeito. Assim se aproveita o período de transição para efectuar uma habituação às mudanças. É para isso que servem os períodos de transição.

Por outro lado, não esqueço que cerca de dois terços dos leitores deste blogue residem no Brasil. Tendo legalmente sido reconhecido pelo meu País que o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 está em vigor, seria uma falta de respeito para todos estes nossos leitores não actualizar, tão depressa quanto possível, a ortografia utilizada neste blogue em cumprimento das regras resultantes do dito Acordo Ortográfico, tanto mais que um dos objectivos do mesmo foi aproximar e unificar, tanto quanto possível, os códigos de escrita utilizados em Portugal e no Brasil.

Decidi, consequentemente, que, a partir de 1 de Setembro de 2008, passarei a escrever neste blogue segundo as regras ortográficas resultantes do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, já em vigor.

Mas afinal que regras são essas? Que Acordo Ortográfico é esse? Uma das razões que subjazem às resistências declaradas é, penso eu, o desconhecimento das mudanças que resultam desse acordo. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, em relação às regras até agora vigentes em Portugal, as mudança são poucas, facilmente apreensíveis e implicando apenas cerca de 1 ou 2 % das palavras que utilizamos. Mas o desconhecimento é grande, ainda...

O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 não consiste apenas na indicação das mudanças. É verdadeiramente o registo das regras de como se deve escrever o português - das novas e das que subsistem. O documento está estruturado em 21 bases, que tratam de outros tantos aspectos das regras ortográficas. Infelizmente, escrito por especialistas, é de difícil leitura e entendimento para o comum dos cidadãos. Com efeito, quando deparamos, por exemplo, com as regras aplicáveis à acentuação das palavras "oxítonas", "paroxítonas" e "proparoxítonas", a primeira reacção é perguntarmo-nos de que planeta serão os indivíduos que usam estes termos. É que o comum dos mortais chama às palavras oxítonas palavras agudas, isto é, com acento tónico na última sílaba, às paroxítonas, palavras graves (acento tónico na penúltima sílaba) e às proparoxítonas palavras esdrúxulas (acento tónico na antepenúltima sílaba)...

Em Maçonaria, existe um grau em que ao maçon é pedido que se dedique ao estudo das sete artes liberais. A primeira destas é precisamente a Gramática. O maçon deve, pois, estudar, conhecer e aplicar as regras da Gramática da língua em que se expressa.

Decidi, portanto, que, também a partir de Setembro, publicarei uma série de textos sobre o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, sobre que tanta gente opina, mas que poucos efectivamente conhecem. Como habitualmente, esta série alternará com textos de outra natureza. Procurarei dar a conhecer as 21 bases do Acordo Ortográfico, tentando, tanto quanto me for possível e for capaz, descodificar os termos usados pelos especialistas, de forma a procurar pô-los em língua de gente.

Com este trabalho, espero aperfeiçoar o meu conhecimento das regras ortográficas da língua portuguesa e contribuir para a melhoria desse conhecimento por parte de quem se quiser dar ao trabalho de me ler. Em suma, vou apenas continuar a ser maçon e a fazer o trabalho de um maçon...

Rui Bandeira

29 julho 2008

Cerimónia da colocação da primeira pedra


É comum, sobretudo no início da construção de grandes edifícios públicos, efectuar-se uma cerimónia de colocação da primeira pedra. Normalmente, um dos políticos de serviço assenta uma pedra, posa para a fotografia, bota faladura e assim mantém a visibilidade mediática que para os políticos é tão essencial como o pão para a boca.

Nos Estados Unidos também existe a cerimónia de colocação da primeira pedra. Só que lá é uma cerimónia maçónica, executada por maçons. São conhecidas várias representações da cerimónia de colocação da primeira pedra do Capitólio, em 1793, por George Washington, então já Presidente dos Estados Unidos, de malhete e avental - uma delas ilustra este texto. Em inglês, esta cerimónia designa-se por Cornerstone ceremony - cerimónia da pedra do canto.

Não é por acaso que a colocação cerimonial da primeira pedra, em termos maçónicos seja a da pedra do canto. Um dos segredos da arte da maçonaria operativa era a da precisa colocação em esquadria das paredes de um edifício. Daí que as pedras de canto fossem também as pedras de toque de um edifício perfeitamente construído, segundo as boas regras da arte da construção.

A cerimónia da colocação da primeira pedra, ou da pedra do canto não é executada apenas em relação a edifícios maçónicos, mas é comum relativamente a edifícios de interesse público ou comunitário. O exemplo, acima citado, do Capitólio demonstra-o.

Uma das provas da inserção da Maçonaria Americana na comunidade é a existência de frequentes cerimónias deste tipo, publicamente efectuadas ou dirigidas por maçons. Só na imprensa de 28 de Julho último, dá-se conta de, nada mais, nada menos, três cerimónias deste tipo.

A edição electrónica do Frederick News Post, de Frederick, Maryland, dá a notícia da Cornerstone ceremony da futura nova Biblioteca da cidade de Thurmont, a Thurmont Regional Library, dirigida por John R. Biggs, Muito Respeitável Grão-Mestre da Grande Loja de Maryland, e executada pelos obreiros da Loja local, a Loja Acácia, n.º 155.

Por sua vez, a edição electrónica do Record Herald, de Washington Court House, Ohio, refere duas cornerstone ceremonies, uma na escola primária de Miami Trace, outra no complexo escolar de segundo e terceiro ciclos de Washington Court House. Neste último caso, a pedra cerimonial foi colocada num dos cantos do Pavilhão da Liberdade, um pequeno auditório entre as zonas dos segundo e terceiro ciclos.

As cerimónias foram executadas por Grandes Oficiais da Grande Loja de Ohio e obreiros das Lojas daquele Estado Fayette Lodge, n.º 107, New Holland Lodge, n.º 392, Bloomingburg Lodge, n.º 449 e Jeffersonville Lodge, n.º 468.

O periódico refere que as cornerstone ceremony é uma antiga tradição popular americana, que remonta à época colonial e que os maçons prosseguem esta tradição, no espírito da prestação de serviço à comunidade.

A notícia prossegue mencionando que em parte da cerimónia foi espalhado milho e vertido vinho e óleo, simbolizando o Alimento, o Convívio e a Abundância e que a cerimónia se efectuou também em intenção da segurança dos trabalhadores e na manutenção dos edifícios ao serviço de muitas gerações e termina mencionando que a Grande Loja do Ohio, fundada em Janeiro de 1808, agrupa presentemente 532 Lojas, com cerca de 114.000 obreiros.

Rui Bandeira

28 julho 2008

Em busca dos assinantes perdidos

Durante parte do fim de semana e do dia de hoje, o ícone que, na banda direita do blogue, indica o número de assinantes do blogue indicou, não os 76 assinantes que efectivamente estão activos, mas apenas 5.

Estive este fim de semana e quase todo o dia de hoje sem acesso a um computador e não pude verificar o que se passava - apenas tinha comigo o meu PDA, onde recebi uma mensagem avisando-me da ocorrência e através do qual acedi ao blogue e verifiquei a veracidade do aviso, mas que, por limitações tecnológicas de comunicação de dados, não me possibilita introduzir palavras passe, quer no Blogger, quer no Feedburner. Tive que me limitar a especular sobre o que acontecera. Seria que houvera um súbito e em larga escala desinteresse pelo blogue? Existira alguma virose que atacara o registo de assinantes? Alguém acedera, apesar das habituais seguranças, à administração do registo de assinantes e apagara a quase totalidade dos existentes? Ou apagara mesmo todos e já houvera cinco reinscrições? Teria sido acidente ou deliberado? Que fazer para corrigir a situação o melhor possível? E para evitar que o que sucedera não voltasse a acontecer?

Afinal, chegado à noite a sítio com acesso a um computador com Internet, acedido o blogue, a normalidade estava reposta: 76 assinantes - os que o blogue presentemente tem.

Afinal o que existiu foi apenas uma falha ou uma interrupção de serviço, porventura para manutenção, do Feedburner! E o facto de o ícone indicar 5 assinantes e não os 76 existentes também tem uma explicação simples. Conforme podem ver na banda direita do blogue, há duas maneiras de receber avisos ou os textos do A Partir Pedra: via RSS ou mediante recepção de correio electrónico. No caso do A Partir Pedra, presentemente temos activos 5 assinantes via RSS e 71 via correio electrónico. A anomalia ou suspensão do serviço do Feedburner só abrangeu estes últimos. O serviço de RSS manteve-se sempre operacional. Daí manter-se o registo desses 5 assinantes visível.

Enfim, uma ocorrência felizmente rara, mas sem gravidade ou consequências aborrecidas. E ainda bem que ocorreu ao fim de semana, numa altura em que se não publicaram textos no A Partir Pedra.

Tudo como dantes, quartel-general em Abrantes! Amanhã regressa-se ao normal, nos três últimos dias que antecedem as minhas férias!

Rui Bandeira

25 julho 2008

O copo está meio cheio!

Hoje é dia habitualmente dedicado a uma alegoria e assim vou classificar este texto. Mas, ao contrário do que habitualmente faço, não vou aqui deixar uma qualquer história que sirva de pretexto para tirar uma lição. Hoje, vou-me servir de uma mensagem de correio electrónico que recebi há uns meses do JPSetúbal e que acho que contém directamente algumas chamadas de atenção particularmente oportunas para os tempos que vamos vivendo.

Anda tudo macambúzio, todos com perspectivas negras, é a crise dos combustíveis, a dos alimentos, tudo aumenta menos os nossos rendimentos, onde é que vamos parar, enfim, um desatino de preocupações, pessimismos, estados depressivos, típicos de quando os tempos vão difíceis. A crise também a mim me bate forte e feio. Mas aprendi que nada se ganha em nos deixarmos abater. Há que cerrar os dentes e seguir em frente. Melhores dias virão.

O problema quando o clima de pessimismo se instala é que parece que se instala uma espécie de epidemia que leva todos a só repararem no que vai mal, no que está difícil, e impele a olvidar os aspectos positivos de muitas coisas, até de algumas que consideramos más ou desagradáveis. É velha a imagem de o copo que o pessimista vê meio vazio ser aquele que o optimista vê meio cheio. Mas continua a ser acurada e, mesmo que porventura o optimista não saia mais depressa da crise, pelo menos vive-a melhor do que o pessimista...

Aprendamos, pois, a não ver só o lado mau das coisas, a descortinar também os seus aspectos favoráveis ou agradáveis, que muitas vezes nos passam despercebidos. Atentem então nestas frases, certeiras, que recolhi da tal mensagem de correio electrónico, e cujo autor desconheço:


O filho que muitas vezes não limpa o quarto e que está sempre a ver televisão SIGNIFICA QUE

ESTÁ EM CASA!


A desordem que temos de limpar depois de uma festa SIGNIFICA QUE

ESTIVEMOS RODEADOS DE FAMILIARES E AMIGOS!


As roupas que estão apertadas SIGNIFICAM QUE

TENHO MAIS DO QUE O SUFICIENTE PARA COMER!


O trabalho que tenho em limpar a casa SIGNIFICA QUE

TENHO UMA CASA!


As queixas que ouvimos acerca do Governo SIGNIFICAM QUE

TEMOS LIBERDADE DE EXPRESSÃO!


Não encontrar lugar para estacionar SIGNIFICA QUE

TENHO CARRO!



Os gritos das crianças SIGNIFICAM QUE

POSSO OUVIR!


O cansaço no fim do dia SIGNIFICA QUE

POSSO TRABALHAR!


O irritante despertador que me acorda todas as manhãs SIGNIFICA QUE

ESTOU VIVO!


Pensem nisto. E lembrem-se que o pessimismo não cria nada, não inventa nada, não avança nada. Reconheçamos que os tempos vão maus, mas tenhamos a certeza que vamos conseguir viver tempos melhores. E, sobretudo, não desanimemos e trabalhemos para isso!

Rui Bandeira