29 julho 2008

Cerimónia da colocação da primeira pedra


É comum, sobretudo no início da construção de grandes edifícios públicos, efectuar-se uma cerimónia de colocação da primeira pedra. Normalmente, um dos políticos de serviço assenta uma pedra, posa para a fotografia, bota faladura e assim mantém a visibilidade mediática que para os políticos é tão essencial como o pão para a boca.

Nos Estados Unidos também existe a cerimónia de colocação da primeira pedra. Só que lá é uma cerimónia maçónica, executada por maçons. São conhecidas várias representações da cerimónia de colocação da primeira pedra do Capitólio, em 1793, por George Washington, então já Presidente dos Estados Unidos, de malhete e avental - uma delas ilustra este texto. Em inglês, esta cerimónia designa-se por Cornerstone ceremony - cerimónia da pedra do canto.

Não é por acaso que a colocação cerimonial da primeira pedra, em termos maçónicos seja a da pedra do canto. Um dos segredos da arte da maçonaria operativa era a da precisa colocação em esquadria das paredes de um edifício. Daí que as pedras de canto fossem também as pedras de toque de um edifício perfeitamente construído, segundo as boas regras da arte da construção.

A cerimónia da colocação da primeira pedra, ou da pedra do canto não é executada apenas em relação a edifícios maçónicos, mas é comum relativamente a edifícios de interesse público ou comunitário. O exemplo, acima citado, do Capitólio demonstra-o.

Uma das provas da inserção da Maçonaria Americana na comunidade é a existência de frequentes cerimónias deste tipo, publicamente efectuadas ou dirigidas por maçons. Só na imprensa de 28 de Julho último, dá-se conta de, nada mais, nada menos, três cerimónias deste tipo.

A edição electrónica do Frederick News Post, de Frederick, Maryland, dá a notícia da Cornerstone ceremony da futura nova Biblioteca da cidade de Thurmont, a Thurmont Regional Library, dirigida por John R. Biggs, Muito Respeitável Grão-Mestre da Grande Loja de Maryland, e executada pelos obreiros da Loja local, a Loja Acácia, n.º 155.

Por sua vez, a edição electrónica do Record Herald, de Washington Court House, Ohio, refere duas cornerstone ceremonies, uma na escola primária de Miami Trace, outra no complexo escolar de segundo e terceiro ciclos de Washington Court House. Neste último caso, a pedra cerimonial foi colocada num dos cantos do Pavilhão da Liberdade, um pequeno auditório entre as zonas dos segundo e terceiro ciclos.

As cerimónias foram executadas por Grandes Oficiais da Grande Loja de Ohio e obreiros das Lojas daquele Estado Fayette Lodge, n.º 107, New Holland Lodge, n.º 392, Bloomingburg Lodge, n.º 449 e Jeffersonville Lodge, n.º 468.

O periódico refere que as cornerstone ceremony é uma antiga tradição popular americana, que remonta à época colonial e que os maçons prosseguem esta tradição, no espírito da prestação de serviço à comunidade.

A notícia prossegue mencionando que em parte da cerimónia foi espalhado milho e vertido vinho e óleo, simbolizando o Alimento, o Convívio e a Abundância e que a cerimónia se efectuou também em intenção da segurança dos trabalhadores e na manutenção dos edifícios ao serviço de muitas gerações e termina mencionando que a Grande Loja do Ohio, fundada em Janeiro de 1808, agrupa presentemente 532 Lojas, com cerca de 114.000 obreiros.

Rui Bandeira

28 julho 2008

Em busca dos assinantes perdidos

Durante parte do fim de semana e do dia de hoje, o ícone que, na banda direita do blogue, indica o número de assinantes do blogue indicou, não os 76 assinantes que efectivamente estão activos, mas apenas 5.

Estive este fim de semana e quase todo o dia de hoje sem acesso a um computador e não pude verificar o que se passava - apenas tinha comigo o meu PDA, onde recebi uma mensagem avisando-me da ocorrência e através do qual acedi ao blogue e verifiquei a veracidade do aviso, mas que, por limitações tecnológicas de comunicação de dados, não me possibilita introduzir palavras passe, quer no Blogger, quer no Feedburner. Tive que me limitar a especular sobre o que acontecera. Seria que houvera um súbito e em larga escala desinteresse pelo blogue? Existira alguma virose que atacara o registo de assinantes? Alguém acedera, apesar das habituais seguranças, à administração do registo de assinantes e apagara a quase totalidade dos existentes? Ou apagara mesmo todos e já houvera cinco reinscrições? Teria sido acidente ou deliberado? Que fazer para corrigir a situação o melhor possível? E para evitar que o que sucedera não voltasse a acontecer?

Afinal, chegado à noite a sítio com acesso a um computador com Internet, acedido o blogue, a normalidade estava reposta: 76 assinantes - os que o blogue presentemente tem.

Afinal o que existiu foi apenas uma falha ou uma interrupção de serviço, porventura para manutenção, do Feedburner! E o facto de o ícone indicar 5 assinantes e não os 76 existentes também tem uma explicação simples. Conforme podem ver na banda direita do blogue, há duas maneiras de receber avisos ou os textos do A Partir Pedra: via RSS ou mediante recepção de correio electrónico. No caso do A Partir Pedra, presentemente temos activos 5 assinantes via RSS e 71 via correio electrónico. A anomalia ou suspensão do serviço do Feedburner só abrangeu estes últimos. O serviço de RSS manteve-se sempre operacional. Daí manter-se o registo desses 5 assinantes visível.

Enfim, uma ocorrência felizmente rara, mas sem gravidade ou consequências aborrecidas. E ainda bem que ocorreu ao fim de semana, numa altura em que se não publicaram textos no A Partir Pedra.

Tudo como dantes, quartel-general em Abrantes! Amanhã regressa-se ao normal, nos três últimos dias que antecedem as minhas férias!

Rui Bandeira

25 julho 2008

O copo está meio cheio!

Hoje é dia habitualmente dedicado a uma alegoria e assim vou classificar este texto. Mas, ao contrário do que habitualmente faço, não vou aqui deixar uma qualquer história que sirva de pretexto para tirar uma lição. Hoje, vou-me servir de uma mensagem de correio electrónico que recebi há uns meses do JPSetúbal e que acho que contém directamente algumas chamadas de atenção particularmente oportunas para os tempos que vamos vivendo.

Anda tudo macambúzio, todos com perspectivas negras, é a crise dos combustíveis, a dos alimentos, tudo aumenta menos os nossos rendimentos, onde é que vamos parar, enfim, um desatino de preocupações, pessimismos, estados depressivos, típicos de quando os tempos vão difíceis. A crise também a mim me bate forte e feio. Mas aprendi que nada se ganha em nos deixarmos abater. Há que cerrar os dentes e seguir em frente. Melhores dias virão.

O problema quando o clima de pessimismo se instala é que parece que se instala uma espécie de epidemia que leva todos a só repararem no que vai mal, no que está difícil, e impele a olvidar os aspectos positivos de muitas coisas, até de algumas que consideramos más ou desagradáveis. É velha a imagem de o copo que o pessimista vê meio vazio ser aquele que o optimista vê meio cheio. Mas continua a ser acurada e, mesmo que porventura o optimista não saia mais depressa da crise, pelo menos vive-a melhor do que o pessimista...

Aprendamos, pois, a não ver só o lado mau das coisas, a descortinar também os seus aspectos favoráveis ou agradáveis, que muitas vezes nos passam despercebidos. Atentem então nestas frases, certeiras, que recolhi da tal mensagem de correio electrónico, e cujo autor desconheço:


O filho que muitas vezes não limpa o quarto e que está sempre a ver televisão SIGNIFICA QUE

ESTÁ EM CASA!


A desordem que temos de limpar depois de uma festa SIGNIFICA QUE

ESTIVEMOS RODEADOS DE FAMILIARES E AMIGOS!


As roupas que estão apertadas SIGNIFICAM QUE

TENHO MAIS DO QUE O SUFICIENTE PARA COMER!


O trabalho que tenho em limpar a casa SIGNIFICA QUE

TENHO UMA CASA!


As queixas que ouvimos acerca do Governo SIGNIFICAM QUE

TEMOS LIBERDADE DE EXPRESSÃO!


Não encontrar lugar para estacionar SIGNIFICA QUE

TENHO CARRO!



Os gritos das crianças SIGNIFICAM QUE

POSSO OUVIR!


O cansaço no fim do dia SIGNIFICA QUE

POSSO TRABALHAR!


O irritante despertador que me acorda todas as manhãs SIGNIFICA QUE

ESTOU VIVO!


Pensem nisto. E lembrem-se que o pessimismo não cria nada, não inventa nada, não avança nada. Reconheçamos que os tempos vão maus, mas tenhamos a certeza que vamos conseguir viver tempos melhores. E, sobretudo, não desanimemos e trabalhemos para isso!

Rui Bandeira

24 julho 2008

Rituais e Ritos


Existem diferentes rituais, praticados por diferentes ritos maçónicos. Logo desde início, desde a transição da Maçonaria Operativa para a Especulativa, isso se verificou. As Lojas que se agruparam na primeira Grande Loja de Londres, que vieram a ser designados por Modernos e influenciadas pelos intelectuais que tinham sido aceites nas Lojas operativas (os Maçons Aceites) e os que se lhes seguiram, praticavam um ritual deísta, em que a referência ao Grande Arquitecto do Universo é formulada de tal forma que qualquer crente, independentemente da religião que professe, se pode rever no conceito. A breve trecho se verificou existir em Inglaterra uma outra corrente, baseada nos maçons operativos e na zona de York, os Antigos, que praticavam um ritual teísta, mais influenciado pela tradição religiosa cristã. Essas duas correntes vieram mais tarde a fundir-se na actual Grande Loja Unida de Inglaterra, na sequência de negociações mediadas e dirigidas pelo Duque de Sussex, dessa fusão resultando um novo ritual, em que prevaleceu a tendência deísta.

Partindo dos primitivos rituais ingleses, ao longo do tempo e do espaço, novos rituais foram criados. A base é sempre a mesma: os princípios fundamentais maçónicos e a inclusão de alegorias e referências simbólicas, como base para o trabalho individual de cada maçon. A tensão inicial também, curiosamente, persiste: uns rituais são claramente deístas e inclusivos de elementos de todas as religiões e até sem religião definida, desde que crentes num Criador; outros sofrem manifestamente de visíveis influências crísticas, sendo claramente mais confortáveis para os praticantes da tradição religiosa cristã.

Referir os ritos e rituais existentes levará seguramente a pecar por defeito, por esquecimento ou ignorância de rituais extintos, localizados ou raros. Mas, mesmo com carácter exemplificativo e recorrendo apenas à memória, é possível indicar vários: o Rito de York, o Rito de Webb (variante americana do Rito de York), o Rito Escocês Antigo e Aceite, o Rito Escocês Rectificado (rito muito praticado na Suíça, na Grande Loja Suíça Alpina, e com características crísticas marcadas), o Rito Francês ou Moderno, o Rito Sueco e as suas variantes nos países nórdicos, etc..

Em cada Grande Loja pode praticar-se um ou mais ritos. Por exemplo, nas Grandes Lojas dos Estados Unidos, pratica-se, nos três graus da Maçonaria Azul - Aprendiz, Companheiro e Mestre, exclusivamente um rito, a variante americana do Rito de York, também conhecida por Rito de Webb. Existe apenas uma excepção: na Grande Loja da Luisiana persistem, desde os tempos das Lojas existentes quando a Louisiana era francesa, algumas poucas Lojas, menos de uma dúzia, que praticam nos três primeiros graus o Rito Escocês Antigo e Aceite. Nos Estados Unidos designam essas Lojas por Maçonaria Vermelha, em alusão à cor dos aventais própria do rito. Só nos Altos Graus se verifica existirem dois sistemas principais, os Altos Graus do Rito de York, referidos por York Rite, e os Altos Graus do Rito Escocês Antigo e Aceite, referidos por Scottish Rite.

Em Portugal, na GLLP/GLRP, praticam-se os Ritos Escocês Antigo e Aceite, o Rito Escocês Rectificado e o Rito de York.

Não obstante a forte presença do Rito de York e suas variantes no mundo anglo-saxónico, pode dizer-se, sem receio de erro, que o rito maçónico mais popular e mais espalhado pelo Globo, particularmente nos países latinos e latino-americanos, é o Rito Escocês Antigo e Aceite. Trata-se de um rito elaborado mais tarde que os ritos originais ingleses, já na fase de expansão geográfica da Maçonaria e com algumas influências do Romantismo. É um rito com um ritual particularmente impressivo e desenvolvido, algo extenso, que dá prazer executar bem e que, quando bem executado, impressiona quem a ele assiste e participa, quer pelo seu texto, quer pela sua forma de execução.

A Loja Mestre Affonso Domingues pratica e sempre praticou o Rito Escocês Antigo e Aceite.

Rui Bandeira

23 julho 2008

Ritual



A maçonaria é um método de aperfeiçoamento moral, espiritual e ético dos seus membros. com o recurso a símbolos e alegorias. Estes apresentam-se sob variadas formas. Mas cada Loja maçónica organiza o seu trabalho segundo um específico ritual, uma particular forma de disposição dos elementos simbólicos em Loja, de sequência dos trabalhos, de evolução e apresentação das alegorias, das falas e respostas praticadas.

O primeiro objectivo do ritual é CONGREGAR. Congregar as vontades, a atenção, do grupo. O segundo objectivo é DEMARCAR. Demarcar a diferença entre o mundo profano e o espaço maçónico. O terceiro objectivo é HARMONIZAR. Harmonizar a resposta psicológica e comportamental do grupo e de cada um dos elementos que o integram ao que se passa. O quarto objectivo é IMPRIMIR. Imprimir, no espírito de cada um, pela repetição, as lições que traz em si. Finalmente, o quinto objectivo é ENSINAR. Ensinar as lições morais, comportamentais e éticas que o ritual contém.

Por isso, o ritual é repetido, incessantemente, reunião a reunião, implantando nos elementos da Loja os objectivos a que se propõe. Os obreiros mais antigos, sem sequer terem a necessidade de efectuar qualquer esforço para tal, acabam por memorizar o ritual, notando quaisquer variações que, por qualquer lapso, porventura ocorram.

Em cada grau, determinadas partes do ritual são imutáveis e a sua execução repetida incessantemente, invariavelmente, reunião a reunião. É o caso, designadamente, dos rituais de abertura e de encerramento, afinal a demarcação entre o a profanidade e a o trabalho maçónico. Outras partes só são executadas em função dos trabalhos previstos para esse dia. Dentro do ritual propriamente dito, e ressalvando os vários graus em que o mesmo é trabalhado, há rituais de iniciação, passagem, elevação, instalação, consagração de Loja, regularização, etc..

No seu conjunto, e atentas todas as suas variantes, o ritual praticado por cada Loja é longo e pejado de significados simbólicos.

O simbolismo que cada obreiro retira, surpreende, obtém, do ritual praticado pela sua Loja não é instantaneamente apercebido. Algumas partes, alguns símbolos, algumas lições, são perceptíveis logo na primeira vez que se assiste á execução do ritual, entendíveis nas vezes subsequentes, interiorizadas seguidamente. Mas outros significados, outras lições, adicionais conclusões, só mais tarde, quiçá após dezenas ou mesmo centenas de execuções do ritual são apercebidas por um obreiro. Por vezes, porque é preciso obter determinada conclusão, para se aperceber do corolário que se lhe segue, expresso no ritual, mas insuspeitado até que se atingisse a conclusão que lhe era prévia. Outras vezes, simplesmente porque só então, após evolução do obreiro, este dá atenção ao que anteriormente lhe escapara.

Há quase vinte anos que executo e assisto à execução do mesmo ritual, e quase sempre na mesma Loja. No entanto, não é raro, é mesmo frequente, surpreender em determinada passagem um significado de que ainda não me tinha apercebido, uma lição que ainda não aprendera, uma relação que ainda se me não abrira. E, como eu, todos os maçons, particularmente os mais antigos, verificam o mesmo.

Curiosamente, os mais novos, passada a fase da sua aprendizagem, têm um primeiro estádio em que pensam já tudo saber. E uns julgam nada mais ter a aprender, e insensivelmente desinteressam-se. São, afinal, os que muito pouco aprenderam. Outros passam além, coleccionam Altos Graus, novas cerimónias, outras alegorias, "diferentes" conhecimentos. Regra geral, anos mais tarde, regressam à Loja Azul e, rememorando, reapreciando, reanalisando o seu ritual, descobrem que afinal muito mais havia a saber do que anteriormente pensavam. Estes precisam de ir mais além para, voltando atrás, bem entenderem o caminho. Outros ainda cirandam e volteiam, permanecem semi-desorientados, não entendendo que há mais a entender, mas intuindo que muito lhes falta entender, até que, um dia, estão preparados e começam a ver significados onde antes havia amontoados de palavras. E então entendem. Foi o que a mim e muitos outros sucedeu.

Não se enganem nem duvidem: estou a falar de Mestres, relato experiências e evoluções de quem passou meses e anos a aprender os rudimentos da Arte Real e foi considerado capaz de buscar por si só o seu caminho. Vã presunção! Cada um de nós, impante de ser Mestre, mais não é do que cego à procura de Luz, surdo buscando sons que reconheça ou entenda o significado, tacteando na busca de se orientar! No entanto, se fez bem o seu trabalho, se tiveram razão os seus pares quando o consideraram capaz de o exaltar ao sublime grau de Mestre maçon, há motivo para ter esperança! Aprendeu a aprender. A orientar-se no meio do caos. A errar sem medo e a emendar sem rebuço. E paulatinamente fará o seu caminho!

O guia é sempre o mesmo: o ritual. Que vezes e vezes se ouve, se executa, sem um lampejo de novidade e que, subitamente, quando dentro de nós próprios estamos preparados para ver, nos mostra um novo significado, nos dá uma nova lição. nos aproxima um pouco mais da Luz.

O ritual é o pano de fundo do conhecimento maçónico. Nada ensina. Nada de jeito se aprende sem ele.

Rui Bandeira

22 julho 2008

Deixar os metais à porta do Templo (2)


Pegando no texto do RB apetece-me fazer um pequeno exercício.
Troquemos metais por... títulos, honrarias, posições sociais (ou pseudo-sociais), supostas dignidades.
E aí temos os metais que devem ficar à porta do Templo. Há que avaliar a capacidade que cada um tem para o fazer, cada um de per si terá que tomar a decisão de ser ou não capaz de o fazer.
Na Maçonaria o título é Irmão, a honraria é ser reconhecido como tal, a dignidade é merecê-lo.
Tudo o resto é para ficar à porta do Templo.
Só que para além do Templo Loja, há um outro não menos importante. É o Templo individual, aquele que cada um de nós transporta em permanência e que se deve manter em permanente construção.
E é sobre este templo individual, profano, que se eleva e ergue o Templo Maçónico.
É com o templo individual que construímos o Templo comum, pedra sobre pedra, pedra ao lado de pedra, pedra sob pedra !
E se em cada um dos templos individuais os metais não ficarem à porta, então é porque o polimento da pedra falhou.
Então é porque também no Templo comum os metais da vaidade, da exuberância, da ganância não ficarão à porta.
E se as pedras, uma por uma, não forem suficientemente polidas, não será possível que a obra que resultar do seu conjunto o seja.
Quando anunciamos que o objectivo é “Igualdade, Solidariedade, Fraternidade” convém perceber que como lema é bonito, como slogan tem impacto, mas para exercer dá trabalho.
Muito trabalho.
E não vale a pena tentar truques, bolsos escondidos, forros falsos.
Mais cedo que mais tarde saber-se-á que aquela pedra não encaixa na construção.
Deixar os metais à porta é também ser capaz de perceber que se na construção há pedra sobre pedra, então é porque também há pedra sob pedra.
E ambas são indispensáveis. Ou a obra cai !
Quem não entender isto, nunca entenderá a Maçonaria.
JPSetúbal

21 julho 2008

Deixar os metais à porta do Templo


Aos maçons é dito que devem deixar os metais à porta do Templo.

Esta frase não deve ser, obviamente tomada no seu sentido literal. Não faz, evidentemente, sentido impor que um obreiro se despoje de tudo o que é metálico para aceder ao Templo. Até porque a Maçonaria de hoje é herdeira especulativa das organizações de construtores em pedra, que utilizavam e utilizam ferramentas metálicas para trabalhar a pedra. Assentemos, pois, que esta frase não se aplica literalmente - excepto numa circunstância, que aqui não quero referir.

Os maçons costumam designar os meios monetários como "metais". Quererá então a mencionada frase dizer que os maçons devem entrar no seu local de reunião sem transportarem consigo dinheiro? Está mais próximo, mas ainda não é assim! Nomeadamente na Maçonaria Europeia, pelo contrário, os maçons devem ter o cuidado de levar consigo para o interior do local onde vai decorrer a sua reunião algum dinheiro, já que, a determinada altura, circulará o Tronco da Viúva, no qual cada obreiro deverá depositar algum dinheiro, segundo as suas possibilidades, destinado a Beneficência. Incidentalmente: se necessitar, quando coloca a mão no Tronco da Viúva (que, normalmente, é um saco), o obreiro pode, em vez de colocar, RETIRAR dinheiro, assim aliviando sua dificuldade, sem que, sequer, os demais tomem conhecimento de sua situação. Mas é também certo que o dinheiro, sendo, na presente organização social, um meio indispensável, é considerado como um mal necessário. Muitas acções censuráveis ocorrem pela cupidez do dinheiro. O dinheiro é, assim, considerado como algo necessário, mas impuro. Em Loja, os maçons usam luvas brancas, que não devem conspurcar com a manipulação de dinheiro. Portanto, quando depositam o seu óbolo no Tronco da Viúva, os maçons fazem-no descalçando a luva da mão que irá manipular o dinheiro. Impuro, mas necessário, o dinheiro entra no espaço da Loja.

A que metais se refere então a frase? Significa ela que os maçons não devem transportar para o interior da Loja condutas, conflitos, interesses, competições, comportamentos, de natureza profana. Em Loja, nada disso tem lugar. O espaço da Loja - e não me refiro apenas ao espaço físico, mas também, e essencialmente, à dimensão espiritual - não deve ser conspurcado com imperfeições de natureza profana. Para que o maçon possa tranquilamente, com a ajuda de seus Irmãos, trabalhar no seu aperfeiçoamento, deve estar inserido num ambiente livre da poluição das imperfeições do dia a dia. O interior do Templo deve, assim, estar livre de metais, por estes se entendendo tudo o que é negativo, imperfeito, inerente às fraquezas humanas.

As preocupações do dia a dia ficam à porta do Templo. As zangas, desavenças, maus humores, rivalidades, ficam à porta do Templo.

Esta frase destina-se a marcar bem a diferença entre o espaço profano e o espaço maçónico. Neste, valoriza-se a cooperação, o trabalho, a ajuda, o progresso, a Razão, a Liberdade, a Igualdade, a Fraternidade, a Sabedoria, a Força, a Beleza, o estudo, a iluminação mútua. Tudo o resto, tudo o que prejudique o trabalho de mútuo aperfeiçoamento dos maçons, são metais, que devem ficar à porta do Templo.

Rui Bandeira