24 julho 2008

Rituais e Ritos


Existem diferentes rituais, praticados por diferentes ritos maçónicos. Logo desde início, desde a transição da Maçonaria Operativa para a Especulativa, isso se verificou. As Lojas que se agruparam na primeira Grande Loja de Londres, que vieram a ser designados por Modernos e influenciadas pelos intelectuais que tinham sido aceites nas Lojas operativas (os Maçons Aceites) e os que se lhes seguiram, praticavam um ritual deísta, em que a referência ao Grande Arquitecto do Universo é formulada de tal forma que qualquer crente, independentemente da religião que professe, se pode rever no conceito. A breve trecho se verificou existir em Inglaterra uma outra corrente, baseada nos maçons operativos e na zona de York, os Antigos, que praticavam um ritual teísta, mais influenciado pela tradição religiosa cristã. Essas duas correntes vieram mais tarde a fundir-se na actual Grande Loja Unida de Inglaterra, na sequência de negociações mediadas e dirigidas pelo Duque de Sussex, dessa fusão resultando um novo ritual, em que prevaleceu a tendência deísta.

Partindo dos primitivos rituais ingleses, ao longo do tempo e do espaço, novos rituais foram criados. A base é sempre a mesma: os princípios fundamentais maçónicos e a inclusão de alegorias e referências simbólicas, como base para o trabalho individual de cada maçon. A tensão inicial também, curiosamente, persiste: uns rituais são claramente deístas e inclusivos de elementos de todas as religiões e até sem religião definida, desde que crentes num Criador; outros sofrem manifestamente de visíveis influências crísticas, sendo claramente mais confortáveis para os praticantes da tradição religiosa cristã.

Referir os ritos e rituais existentes levará seguramente a pecar por defeito, por esquecimento ou ignorância de rituais extintos, localizados ou raros. Mas, mesmo com carácter exemplificativo e recorrendo apenas à memória, é possível indicar vários: o Rito de York, o Rito de Webb (variante americana do Rito de York), o Rito Escocês Antigo e Aceite, o Rito Escocês Rectificado (rito muito praticado na Suíça, na Grande Loja Suíça Alpina, e com características crísticas marcadas), o Rito Francês ou Moderno, o Rito Sueco e as suas variantes nos países nórdicos, etc..

Em cada Grande Loja pode praticar-se um ou mais ritos. Por exemplo, nas Grandes Lojas dos Estados Unidos, pratica-se, nos três graus da Maçonaria Azul - Aprendiz, Companheiro e Mestre, exclusivamente um rito, a variante americana do Rito de York, também conhecida por Rito de Webb. Existe apenas uma excepção: na Grande Loja da Luisiana persistem, desde os tempos das Lojas existentes quando a Louisiana era francesa, algumas poucas Lojas, menos de uma dúzia, que praticam nos três primeiros graus o Rito Escocês Antigo e Aceite. Nos Estados Unidos designam essas Lojas por Maçonaria Vermelha, em alusão à cor dos aventais própria do rito. Só nos Altos Graus se verifica existirem dois sistemas principais, os Altos Graus do Rito de York, referidos por York Rite, e os Altos Graus do Rito Escocês Antigo e Aceite, referidos por Scottish Rite.

Em Portugal, na GLLP/GLRP, praticam-se os Ritos Escocês Antigo e Aceite, o Rito Escocês Rectificado e o Rito de York.

Não obstante a forte presença do Rito de York e suas variantes no mundo anglo-saxónico, pode dizer-se, sem receio de erro, que o rito maçónico mais popular e mais espalhado pelo Globo, particularmente nos países latinos e latino-americanos, é o Rito Escocês Antigo e Aceite. Trata-se de um rito elaborado mais tarde que os ritos originais ingleses, já na fase de expansão geográfica da Maçonaria e com algumas influências do Romantismo. É um rito com um ritual particularmente impressivo e desenvolvido, algo extenso, que dá prazer executar bem e que, quando bem executado, impressiona quem a ele assiste e participa, quer pelo seu texto, quer pela sua forma de execução.

A Loja Mestre Affonso Domingues pratica e sempre praticou o Rito Escocês Antigo e Aceite.

Rui Bandeira

23 julho 2008

Ritual



A maçonaria é um método de aperfeiçoamento moral, espiritual e ético dos seus membros. com o recurso a símbolos e alegorias. Estes apresentam-se sob variadas formas. Mas cada Loja maçónica organiza o seu trabalho segundo um específico ritual, uma particular forma de disposição dos elementos simbólicos em Loja, de sequência dos trabalhos, de evolução e apresentação das alegorias, das falas e respostas praticadas.

O primeiro objectivo do ritual é CONGREGAR. Congregar as vontades, a atenção, do grupo. O segundo objectivo é DEMARCAR. Demarcar a diferença entre o mundo profano e o espaço maçónico. O terceiro objectivo é HARMONIZAR. Harmonizar a resposta psicológica e comportamental do grupo e de cada um dos elementos que o integram ao que se passa. O quarto objectivo é IMPRIMIR. Imprimir, no espírito de cada um, pela repetição, as lições que traz em si. Finalmente, o quinto objectivo é ENSINAR. Ensinar as lições morais, comportamentais e éticas que o ritual contém.

Por isso, o ritual é repetido, incessantemente, reunião a reunião, implantando nos elementos da Loja os objectivos a que se propõe. Os obreiros mais antigos, sem sequer terem a necessidade de efectuar qualquer esforço para tal, acabam por memorizar o ritual, notando quaisquer variações que, por qualquer lapso, porventura ocorram.

Em cada grau, determinadas partes do ritual são imutáveis e a sua execução repetida incessantemente, invariavelmente, reunião a reunião. É o caso, designadamente, dos rituais de abertura e de encerramento, afinal a demarcação entre o a profanidade e a o trabalho maçónico. Outras partes só são executadas em função dos trabalhos previstos para esse dia. Dentro do ritual propriamente dito, e ressalvando os vários graus em que o mesmo é trabalhado, há rituais de iniciação, passagem, elevação, instalação, consagração de Loja, regularização, etc..

No seu conjunto, e atentas todas as suas variantes, o ritual praticado por cada Loja é longo e pejado de significados simbólicos.

O simbolismo que cada obreiro retira, surpreende, obtém, do ritual praticado pela sua Loja não é instantaneamente apercebido. Algumas partes, alguns símbolos, algumas lições, são perceptíveis logo na primeira vez que se assiste á execução do ritual, entendíveis nas vezes subsequentes, interiorizadas seguidamente. Mas outros significados, outras lições, adicionais conclusões, só mais tarde, quiçá após dezenas ou mesmo centenas de execuções do ritual são apercebidas por um obreiro. Por vezes, porque é preciso obter determinada conclusão, para se aperceber do corolário que se lhe segue, expresso no ritual, mas insuspeitado até que se atingisse a conclusão que lhe era prévia. Outras vezes, simplesmente porque só então, após evolução do obreiro, este dá atenção ao que anteriormente lhe escapara.

Há quase vinte anos que executo e assisto à execução do mesmo ritual, e quase sempre na mesma Loja. No entanto, não é raro, é mesmo frequente, surpreender em determinada passagem um significado de que ainda não me tinha apercebido, uma lição que ainda não aprendera, uma relação que ainda se me não abrira. E, como eu, todos os maçons, particularmente os mais antigos, verificam o mesmo.

Curiosamente, os mais novos, passada a fase da sua aprendizagem, têm um primeiro estádio em que pensam já tudo saber. E uns julgam nada mais ter a aprender, e insensivelmente desinteressam-se. São, afinal, os que muito pouco aprenderam. Outros passam além, coleccionam Altos Graus, novas cerimónias, outras alegorias, "diferentes" conhecimentos. Regra geral, anos mais tarde, regressam à Loja Azul e, rememorando, reapreciando, reanalisando o seu ritual, descobrem que afinal muito mais havia a saber do que anteriormente pensavam. Estes precisam de ir mais além para, voltando atrás, bem entenderem o caminho. Outros ainda cirandam e volteiam, permanecem semi-desorientados, não entendendo que há mais a entender, mas intuindo que muito lhes falta entender, até que, um dia, estão preparados e começam a ver significados onde antes havia amontoados de palavras. E então entendem. Foi o que a mim e muitos outros sucedeu.

Não se enganem nem duvidem: estou a falar de Mestres, relato experiências e evoluções de quem passou meses e anos a aprender os rudimentos da Arte Real e foi considerado capaz de buscar por si só o seu caminho. Vã presunção! Cada um de nós, impante de ser Mestre, mais não é do que cego à procura de Luz, surdo buscando sons que reconheça ou entenda o significado, tacteando na busca de se orientar! No entanto, se fez bem o seu trabalho, se tiveram razão os seus pares quando o consideraram capaz de o exaltar ao sublime grau de Mestre maçon, há motivo para ter esperança! Aprendeu a aprender. A orientar-se no meio do caos. A errar sem medo e a emendar sem rebuço. E paulatinamente fará o seu caminho!

O guia é sempre o mesmo: o ritual. Que vezes e vezes se ouve, se executa, sem um lampejo de novidade e que, subitamente, quando dentro de nós próprios estamos preparados para ver, nos mostra um novo significado, nos dá uma nova lição. nos aproxima um pouco mais da Luz.

O ritual é o pano de fundo do conhecimento maçónico. Nada ensina. Nada de jeito se aprende sem ele.

Rui Bandeira

22 julho 2008

Deixar os metais à porta do Templo (2)


Pegando no texto do RB apetece-me fazer um pequeno exercício.
Troquemos metais por... títulos, honrarias, posições sociais (ou pseudo-sociais), supostas dignidades.
E aí temos os metais que devem ficar à porta do Templo. Há que avaliar a capacidade que cada um tem para o fazer, cada um de per si terá que tomar a decisão de ser ou não capaz de o fazer.
Na Maçonaria o título é Irmão, a honraria é ser reconhecido como tal, a dignidade é merecê-lo.
Tudo o resto é para ficar à porta do Templo.
Só que para além do Templo Loja, há um outro não menos importante. É o Templo individual, aquele que cada um de nós transporta em permanência e que se deve manter em permanente construção.
E é sobre este templo individual, profano, que se eleva e ergue o Templo Maçónico.
É com o templo individual que construímos o Templo comum, pedra sobre pedra, pedra ao lado de pedra, pedra sob pedra !
E se em cada um dos templos individuais os metais não ficarem à porta, então é porque o polimento da pedra falhou.
Então é porque também no Templo comum os metais da vaidade, da exuberância, da ganância não ficarão à porta.
E se as pedras, uma por uma, não forem suficientemente polidas, não será possível que a obra que resultar do seu conjunto o seja.
Quando anunciamos que o objectivo é “Igualdade, Solidariedade, Fraternidade” convém perceber que como lema é bonito, como slogan tem impacto, mas para exercer dá trabalho.
Muito trabalho.
E não vale a pena tentar truques, bolsos escondidos, forros falsos.
Mais cedo que mais tarde saber-se-á que aquela pedra não encaixa na construção.
Deixar os metais à porta é também ser capaz de perceber que se na construção há pedra sobre pedra, então é porque também há pedra sob pedra.
E ambas são indispensáveis. Ou a obra cai !
Quem não entender isto, nunca entenderá a Maçonaria.
JPSetúbal

21 julho 2008

Deixar os metais à porta do Templo


Aos maçons é dito que devem deixar os metais à porta do Templo.

Esta frase não deve ser, obviamente tomada no seu sentido literal. Não faz, evidentemente, sentido impor que um obreiro se despoje de tudo o que é metálico para aceder ao Templo. Até porque a Maçonaria de hoje é herdeira especulativa das organizações de construtores em pedra, que utilizavam e utilizam ferramentas metálicas para trabalhar a pedra. Assentemos, pois, que esta frase não se aplica literalmente - excepto numa circunstância, que aqui não quero referir.

Os maçons costumam designar os meios monetários como "metais". Quererá então a mencionada frase dizer que os maçons devem entrar no seu local de reunião sem transportarem consigo dinheiro? Está mais próximo, mas ainda não é assim! Nomeadamente na Maçonaria Europeia, pelo contrário, os maçons devem ter o cuidado de levar consigo para o interior do local onde vai decorrer a sua reunião algum dinheiro, já que, a determinada altura, circulará o Tronco da Viúva, no qual cada obreiro deverá depositar algum dinheiro, segundo as suas possibilidades, destinado a Beneficência. Incidentalmente: se necessitar, quando coloca a mão no Tronco da Viúva (que, normalmente, é um saco), o obreiro pode, em vez de colocar, RETIRAR dinheiro, assim aliviando sua dificuldade, sem que, sequer, os demais tomem conhecimento de sua situação. Mas é também certo que o dinheiro, sendo, na presente organização social, um meio indispensável, é considerado como um mal necessário. Muitas acções censuráveis ocorrem pela cupidez do dinheiro. O dinheiro é, assim, considerado como algo necessário, mas impuro. Em Loja, os maçons usam luvas brancas, que não devem conspurcar com a manipulação de dinheiro. Portanto, quando depositam o seu óbolo no Tronco da Viúva, os maçons fazem-no descalçando a luva da mão que irá manipular o dinheiro. Impuro, mas necessário, o dinheiro entra no espaço da Loja.

A que metais se refere então a frase? Significa ela que os maçons não devem transportar para o interior da Loja condutas, conflitos, interesses, competições, comportamentos, de natureza profana. Em Loja, nada disso tem lugar. O espaço da Loja - e não me refiro apenas ao espaço físico, mas também, e essencialmente, à dimensão espiritual - não deve ser conspurcado com imperfeições de natureza profana. Para que o maçon possa tranquilamente, com a ajuda de seus Irmãos, trabalhar no seu aperfeiçoamento, deve estar inserido num ambiente livre da poluição das imperfeições do dia a dia. O interior do Templo deve, assim, estar livre de metais, por estes se entendendo tudo o que é negativo, imperfeito, inerente às fraquezas humanas.

As preocupações do dia a dia ficam à porta do Templo. As zangas, desavenças, maus humores, rivalidades, ficam à porta do Templo.

Esta frase destina-se a marcar bem a diferença entre o espaço profano e o espaço maçónico. Neste, valoriza-se a cooperação, o trabalho, a ajuda, o progresso, a Razão, a Liberdade, a Igualdade, a Fraternidade, a Sabedoria, a Força, a Beleza, o estudo, a iluminação mútua. Tudo o resto, tudo o que prejudique o trabalho de mútuo aperfeiçoamento dos maçons, são metais, que devem ficar à porta do Templo.

Rui Bandeira

18 julho 2008

Como consertar o Mundo

Hoje é sexta-feira e, como vai sendo hábito, dia de alegoria no blogue.

Os tempos vão difíceis, as crises sucedem-se, parece que o Mundo está cada vez pior e não se vê solução à vista. O discurso pessimista instala-se. Isso é o pior que pode acontecer! As dificuldades superam-se com força e determinação e, para as ter, é necessário crer que é possível tal superação. Diz o Povo que Depois da tempestade vem a bonança, mensagem de esperança que devemos ter sempre presente nas ocasiões difíceis. É por isso que escolhi para hoje este texto, de autoria que desconheço, que recebi por correio electrónico e que nos ensina

Como consertar o Mundo

Um cientista, muito preocupado com os problemas do mundo, passava dias em seu laboratório, tentando encontrar meios de melhorá-los. Certo dia, seu filho de 7 anos invadiu o seu santuário, decidido a ajudá-lo.

O cientista, nervoso pela interrupção, tentou fazer o filho brincar em outro lugar. Vendo que seria impossível removê-lo, procurou algo que pudesse distrair a criança. De repente deparou-se com o mapa do mundo.


Estava ali o que procurava. Recortou o mapa em vários pedaços e, junto com um rolo de fita adesiva, entregou ao filho dizendo: - Você gosta de quebra-cabeça? Então vou lhe dar o mundo para consertar. Aqui está ele todo quebrado. Veja se consegue consertá-lo bem direitinho! Mas faça tudo sozinho!


Pelos seus cálculos, a criança levaria dias para recompor o mapa. Passados alguns minutos, ouviu o filho chamando-o calmamente. A princípio, o pai não deu crédito às palavras do filho. Seria impossível na sua idade conseguir recompor um mapa que jamais havia visto.

Relutante, o cientista levantou os olhos de suas anotações, certo de que veria um trabalho digno de uma criança. Para sua surpresa, o mapa estava completo. Todos os pedaços haviam sido colocados nos devidos lugares. Como seria possível? Como o menino havia sido capaz?

– Você não sabia como era o mundo, meu filho, como conseguiu?


- Pai, eu não sabia como era o mundo, mas quando você tirou o papel do jornal para recortar, eu vi que do outro lado havia a figura de um homem.
Quando você me deu o mundo para consertar, eu tentei, mas não consegui. Foi aí que me lembrei do homem, virei os recortes e comecei a consertar o homem que eu sabia como era... Quando consegui consertar o homem, virei a folha e vi que havia consertado o mundo!!!


Às vezes, nada como o olhar de uma criança para descobrir a simples solução, que está frente aos nossos olhos mas que, quantas vezes, não vemos, enredados nas complicações que a envolvem e nos desorientam! É bem verdade! Para consertar o Mundo, basta consertar o Homem!

É isto que a Maçonaria procura fazer e que os maçons tentam, paulatinamente, conseguir. Consertar o Homem, unidade por unidade, um a um! O processo é lento, mas seguro. E, à medida que se for avançando, será mais rápido, pois, como a mancha de azeite, espalhar-se-á. Basta ter a força, a determinação, a persistência de prosseguir. Um dia o Mundo há-de ficar consertado!

Rui Bandeira

17 julho 2008

Novas da Inês

Durante o mês de Maio, levou-se a cabo neste blogue uma campanha de angariação d fundos para auxílio no pagamento das muitas despesas que o tratamento da muito grave doença de que a Inês foi acometida.

Finda essa campanha, informei aqui no blogue o resultado obtido e anunciei que o montante recolhido iria ser entregue à família da Inês, conjuntamente com o que fosse obtido através dos donativos expressamente destinados a esse fim feitos pelos obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues. Como esta Loja reúne duas vezes por mês e fora entretanto decidido que seria reservado o período correspondente à realização de três reuniões da Loja para a recepção dos donativos dos obreiros, a campanha interna de angariação de fundos prolongou-se por Junho adentro.

Agora, recolhidos todos os donativos, estou em condições de anunciar aqui que hoje se efectuou a transferência dos montantes resultantes dos donativos dos leitores do A Partir Pedra e dos obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues para a conta bancária indicada pelos pais da Inês.

Aos bons corações que efectuaram donativos e que deram conhecimento de tal facto via correio electrónico, tive já a oportunidade de enviar mensagens pessoais, informando da entrega efectuada. Porém, sei que outros depósitos foram efectuados, na conta indicada para receber donativos na sequência do apelo feito neste blogue, por benfeitores que decidiram permanecer anónimos. A esses não posso, obviamente, agradecer directa e pessoalmente o seu acto de solidariedade e confirmar o bom destino dado aos seus donativos. Faço-o por esta via. Bem-hajam!

Em nome da Inês e dos seus pais, um sentido agradecimento a todos!

A Inês vai brevemente voltar a deslocar-se a Cuba, na prossecução do seu tratamento. Embora algumas sequelas sejam inevitáveis, confiamos e desejamos que o bom êxito dos tratamentos melhore a sua qualidade de vida.

Rui Bandeira

16 julho 2008

Simbolismo: da Loja à Vida

A Loja maçónica é constituída por um conjunto de obreiros que, em diversos estádios da sua evolução individual, buscam aperfeiçoar-se e contribuir para o aperfeiçoamento dos demais, com o auxílio de símbolos e alegorias, que representam lições morais, comportamentais e espirituais.

A Loja maçónica reúne-se num espaço fechado, de acesso restrito aos obreiros da Loja e respectivos visitantes, necessariamente também maçons, organizado de forma específica e decorado por símbolos.

Tudo em Maçonaria gira à volta de símbolos. Símbolo é aquilo que representa algo. Um algarismo é um símbolo que representa uma determinada quantidade. O método maçónico de evolução individual recorre à exposição e apresentação de símbolos, da mais variada natureza e composição, destinados a serem estudados e compreendidos no seu significado. Cada maçon estuda cada símbolo, medita sobre ele, busca compreender o que significa, intenta alcançar a lição que disponibiliza. Porque o conhecimento de cada lição é individual e arduamente obtido por cada um, e não simplesmente exposto a ouvintes quiçá desatentos, esse conhecimento, essa lição, adquirem maior valia para quem os obteve. É da natureza humana valorizar mais o que mais esforço lhe custou a obter do que aquilo, porventura intrinsecamente mais dispendioso, que sem esforço lhe é proporcionado. E ainda bem que assim é!

A Maçonaria, como sistema e método de transmissão de conhecimentos de natureza moral e espiritual, como meio de crescimento, de evolução, de aperfeiçoamento, dos seus membros, não utiliza o método escolar e escolástico da exposição de conhecimentos, para serem absorvidos por alunos, mais interessados ou desatentos. A Maçonaria propõe um método de disponibilização de meios, de ferramentas, que propiciem e aliciem à descoberta dos ensinamentos que os seus membros se propõem obter. Exige dos seus obreiros um maior esforço. Uns, incapazes de seguir jornada muito prolongada, ficam-se por lições básicas. Outros, mais interessados ou mais perseverantes, vão mais além. Uns e outros, porém, o que aprendem, aprendem a sério, interiorizam-no. Não se limitaram a ouvir discursos e belas palavras. Eles próprios investigaram, meditaram, sopesaram, erraram e emendaram os seus erros, experimentaram caminhos que a lado nenhum foram dar, voltaram atrás e desbravaram caminho para a algo chegarem. O que obtiveram, muito ou pouco, não o esquecem jamais. E valorizam-no. E praticam-no.

A Loja, enquanto conjunto de obreiros, simboliza também a Sociedade, uma Sociedade de homens interessados no bem-estar comum e global, preocupados com Justiça e a Igualdade. Mas uma Sociedade em que, tal como vemos todos os dias nas nossas actividades comuns, campeiam as divergências de pontos de vista, existem concordâncias e discordâncias, aspectos e posições e declarações que nos agradam e que nos desagradam. Uma Loja maçónica é constituída por homens bons que procuram tornar-se melhores - não por homens perfeitos.

Uma Loja maçónica é uma pequena sociedade de homens, com interesses comuns, mas também com divergências, baseada na igualdade, mas reflectindo a natural diferença de evolução de cada um. Porque pequena, os seus elementos rapidamente se conhecem bem. Não vale a pena procurar convencer através de artifícios, de truques de linguagem, de cosméticas de comportamentos. O grupo é pequeno, coeso, atento, e facilmente detecta qualquer artifício. Pura e simplesmente, a muito breve prazo cada um se apercebe que a sua influência dentro do grupo resulta apenas da sua autenticidade, da sua valia intrínseca, da sua capacidade de oferecer soluções substantivamente apropriadas, da valia dos seus argumentos - não de imagem que cultive, de penas de pavão com que se enfeite, de aparências bacocas e de apreciações sobre os autores de ideias, em detrimento da análise destas.

Neste sentido, as lições comportamentais, os ensinamentos sobre a forma de agir, de falar, de defender as suas opiniões e de refutar, respeitando-as, as opiniões de que discordamos, que cada maçon naturalmente recebe e aprende em Loja, são preciosas para o seu dia-a-dia, fora de Loja. O maçon, praticando no seu dia-a-dia o que aprende em Loja, ganha em autenticidade, em capacidade, em poder de argumentação lógica e racional. E é, portanto, melhor. Destacar-se-á, naturalmente.

O espaço em que a Loja se reúne, por sua vez, simboliza o Universo. Por isso dizemos que a Loja, enquanto espaço, vai de Este a Oeste, de Norte a Sul e do Zénite ao Nadir. Todos os símbolos que encontramos em Loja se encontram na Natureza. O significado que cada um conseguir reconhecer em cada símbolo com que depara em Loja é-lhe naturalmente útil na Vida. O que se aprende no espaço da Loja aplica-se, com vantagem, onde quer que nos encontremos.

O trabalho do maçon é, pois, realizado em Loja, mas projecta-se muito para além dela, para a Vida, para a Sociedade, para o Universo. O que se aprende em Loja pratica-se fora dela.

Rui Bandeira