16 julho 2008

Simbolismo: da Loja à Vida

A Loja maçónica é constituída por um conjunto de obreiros que, em diversos estádios da sua evolução individual, buscam aperfeiçoar-se e contribuir para o aperfeiçoamento dos demais, com o auxílio de símbolos e alegorias, que representam lições morais, comportamentais e espirituais.

A Loja maçónica reúne-se num espaço fechado, de acesso restrito aos obreiros da Loja e respectivos visitantes, necessariamente também maçons, organizado de forma específica e decorado por símbolos.

Tudo em Maçonaria gira à volta de símbolos. Símbolo é aquilo que representa algo. Um algarismo é um símbolo que representa uma determinada quantidade. O método maçónico de evolução individual recorre à exposição e apresentação de símbolos, da mais variada natureza e composição, destinados a serem estudados e compreendidos no seu significado. Cada maçon estuda cada símbolo, medita sobre ele, busca compreender o que significa, intenta alcançar a lição que disponibiliza. Porque o conhecimento de cada lição é individual e arduamente obtido por cada um, e não simplesmente exposto a ouvintes quiçá desatentos, esse conhecimento, essa lição, adquirem maior valia para quem os obteve. É da natureza humana valorizar mais o que mais esforço lhe custou a obter do que aquilo, porventura intrinsecamente mais dispendioso, que sem esforço lhe é proporcionado. E ainda bem que assim é!

A Maçonaria, como sistema e método de transmissão de conhecimentos de natureza moral e espiritual, como meio de crescimento, de evolução, de aperfeiçoamento, dos seus membros, não utiliza o método escolar e escolástico da exposição de conhecimentos, para serem absorvidos por alunos, mais interessados ou desatentos. A Maçonaria propõe um método de disponibilização de meios, de ferramentas, que propiciem e aliciem à descoberta dos ensinamentos que os seus membros se propõem obter. Exige dos seus obreiros um maior esforço. Uns, incapazes de seguir jornada muito prolongada, ficam-se por lições básicas. Outros, mais interessados ou mais perseverantes, vão mais além. Uns e outros, porém, o que aprendem, aprendem a sério, interiorizam-no. Não se limitaram a ouvir discursos e belas palavras. Eles próprios investigaram, meditaram, sopesaram, erraram e emendaram os seus erros, experimentaram caminhos que a lado nenhum foram dar, voltaram atrás e desbravaram caminho para a algo chegarem. O que obtiveram, muito ou pouco, não o esquecem jamais. E valorizam-no. E praticam-no.

A Loja, enquanto conjunto de obreiros, simboliza também a Sociedade, uma Sociedade de homens interessados no bem-estar comum e global, preocupados com Justiça e a Igualdade. Mas uma Sociedade em que, tal como vemos todos os dias nas nossas actividades comuns, campeiam as divergências de pontos de vista, existem concordâncias e discordâncias, aspectos e posições e declarações que nos agradam e que nos desagradam. Uma Loja maçónica é constituída por homens bons que procuram tornar-se melhores - não por homens perfeitos.

Uma Loja maçónica é uma pequena sociedade de homens, com interesses comuns, mas também com divergências, baseada na igualdade, mas reflectindo a natural diferença de evolução de cada um. Porque pequena, os seus elementos rapidamente se conhecem bem. Não vale a pena procurar convencer através de artifícios, de truques de linguagem, de cosméticas de comportamentos. O grupo é pequeno, coeso, atento, e facilmente detecta qualquer artifício. Pura e simplesmente, a muito breve prazo cada um se apercebe que a sua influência dentro do grupo resulta apenas da sua autenticidade, da sua valia intrínseca, da sua capacidade de oferecer soluções substantivamente apropriadas, da valia dos seus argumentos - não de imagem que cultive, de penas de pavão com que se enfeite, de aparências bacocas e de apreciações sobre os autores de ideias, em detrimento da análise destas.

Neste sentido, as lições comportamentais, os ensinamentos sobre a forma de agir, de falar, de defender as suas opiniões e de refutar, respeitando-as, as opiniões de que discordamos, que cada maçon naturalmente recebe e aprende em Loja, são preciosas para o seu dia-a-dia, fora de Loja. O maçon, praticando no seu dia-a-dia o que aprende em Loja, ganha em autenticidade, em capacidade, em poder de argumentação lógica e racional. E é, portanto, melhor. Destacar-se-á, naturalmente.

O espaço em que a Loja se reúne, por sua vez, simboliza o Universo. Por isso dizemos que a Loja, enquanto espaço, vai de Este a Oeste, de Norte a Sul e do Zénite ao Nadir. Todos os símbolos que encontramos em Loja se encontram na Natureza. O significado que cada um conseguir reconhecer em cada símbolo com que depara em Loja é-lhe naturalmente útil na Vida. O que se aprende no espaço da Loja aplica-se, com vantagem, onde quer que nos encontremos.

O trabalho do maçon é, pois, realizado em Loja, mas projecta-se muito para além dela, para a Vida, para a Sociedade, para o Universo. O que se aprende em Loja pratica-se fora dela.

Rui Bandeira

15 julho 2008

Malhetes


O malhete é um dos símbolos do poder numa Loja Maçónica. Pela percussão do malhete, o Venerável Mestre convoca toda a Loja para estar atenta e o acompanhar na execução ritual que vai levar a cabo. Pode ser um simples anúncio, uma acção de mero significado e interesse administrativo ou um acto de relevo especificamente ritual. Não importa. Com o percutir do malhete, o Venerável Mestre convoca as vontades de todos os elementos da Loja ou, se for o caso, daqueles a que especificamente se dirige, para o acompanharem ou auxiliarem.

Vontade - é esta a palavra-chave!

O Poder em maçonaria é - afinal como na vida, ao contrário do que os seus cultores parecem crer - ilusório e limitado. O Venerável Mestre tem o poder que os obreiros lhe concedem. Tem o poder que resulta da consonância da sua vontade com a da Loja. Porque em Maçonaria tudo é voluntário e, portanto, ninguém é obrigado a fazer o que não quer ou a executar decisão com que não concorde. O Poder do dirigente da Loja resulta, assim, da conjugação de vontades da Loja, dos seus obreiros e daquele que foi encarregado de dirigir o grupo.

Portanto, o malhete, um dos símbolos do Poder em Loja, executa o acto de exercício real desse Poder: congregar as vontades. Tão só - e muito é!

Mas um outro malhete existe em Loja: o malhete destinado a percutir o cinzel, no acto de aparelhar a pedra, lhe dar forma, eliminar suas arestas e asperezas.

Também este malhete simboliza a Vontade e, por inerência, o Poder.

A Vontade do maçon em se aperfeiçoar, em trabalhar o seu carácter, em dele eliminar as arestas de seus defeitos, as asperezas de suas insuficiências. E, ao fazê-lo o Poder de o maçon se aperfeiçoar, melhorar o seu carácter, elevar-se da simples condição de homem bom à de homem melhor.

O malhete que está junto ao cinzel, repousando ambos ao pé da pedra bruta que devem trabalhar, para dela fazer a Pedra Polida que resultará de longo, persistente e paciente trabalho, quantas vezes durando toda uma vida é, pela força que transmite ao cinzel, através da qual este trabalha a pedra, o meio de transformação da forma da mesma. Daí o simbolizar o Poder para mudar, a Vontade aplicada a si próprio para se aperfeiçoar. Cada um tem e deve usar o seu malhete individual, para com ele percutir seu cinzel e melhorar e aparelhar a pedra que é ele próprio.

Dois malhetes diferentes, afinal o mesmo significado.

Rui Bandeira

14 julho 2008

A Continuidade - Vem aí o 19º Venerável

Este Sábado dia 12 a Loja Mestre Affonso Domingues, elegeu os seus proximos Veneravel Mestre e Tesoureiro.

Numa votação sem qualquer sobressalto, foi assegurada a continuidade da Liderança da Loja.

Para Tesoureiro foi eleito o Irmão António M., espera-o um cargo dificil e ingrato, se bem que o estado das contas se encontre bom e os sistemas de controlo a funcionar, mas que ele conseguirá cumpri-lo nao temos qualquer duvida.

Para Veneravel, e será o 19º Veneravel da Loja, foi eleito o Irmao João F., a ele a dificil tarefa de ser o primeiro Veneravel da Idade adulta da Loja.

A tomada de posse ocorrerá em Setembro e nessa altura disso daremos conhecimento aqui.

Aos Irmãos eleitos as nossas sinceras felicitações e votos de sucesso.


José Ruah

11 julho 2008

O copo de leite

O texto de hoje, como venho fazendo às sextas-feiras, é um texto que seleccionei para publicação, com o objectivo de que sirva de ponto de partida para alguma meditação, em ordem a algo aprendermos. Este texto, de autor que desconheço, chegou-me já em português, mas tenho-o como tradução de um texto original em inglês, tendo em atenção o nome de um dos intervenientes, que também mantenho. Também como uso fazer, o texto é editado, adaptado e comentado por mim

Um dia, um rapaz pobre que vendia mercadorias de porta em porta para pagar seus estudos, viu que só lhe restava uma simples moeda de dez cêntimos e tinha fome. Decidiu que pediria comida na próxima casa. Porém, os seus nervos traíram-no quando uma encantadora mulher jovem lhe abriu a porta. Em vez de comida, pediu um copo de água. Ela reparou que jovem estava esfomeado e assim deu-lhe um grande copo de leite. Ele bebeu devagar e depois perguntou à mulher:

-Quanto lhe devo?

-Não me deves nada - respondeu ela. E continuou:

- A minha mãe sempre nos ensinou a nunca aceitar pagamento por uma oferta de boa vontade.

Ele concluiu:

-Pois agradeço de todo coração.

Quando Howard Kelly, assim se chamava o rapaz, saiu daquela casa, não só se sentiu mais forte fisicamente, mas também a sua fé em Deus e nos homens ficou mais forte. Ele, que já estava resignado a render-se e deixar tudo, prosseguiu firmemente seus esforços e acabou por endireitar a sua vida e atingir os seus objectivos.

Anos depois, essa jovem mulher ficou gravemente doente. Os médicos da localidade onde vivia estavam confusos. Por mais que fizessem e tentassem, a doente não melhorava e cada dia piorava um pouco, rumo ao que parecia uma prematura, mas inevitável, morte.

Finalmente enviaram-na para a capital, onde chamaram um especialista, dos poucos no Mundo que sabia tratar essa rara enfermidade. Chamaram o Dr.Howard Kelly!

Quando escutou o nome da povoação de onde ela viera, uma estranha luz encheu os olhos do Dr. Kelly. Imediatamente, vestido com a sua bata de médico, foi ver a paciente. Reconheceu imediatamente aquela mulher. Determinou-se a fazer o melhor para salvar aquela vida. Passou a dedicar atenção especial àquela paciente. Depois de uma demorada luta pela vida da enferma, ganhou a batalha.

O internamento fora demorado. Os tratamentos caros. O Dr. Kelly pediu à administração do hospital que lhe enviasse a factura total dos gastos, para a conferir e aprovar. Conferiu-a e depois escreveu algo e mandou entregá-la no quarto da paciente.

A mulher abriu a medo o envelope que continha a factura. Sabia que levaria o resto da sua vida para pagar todos os gastos. Mas, quando finalmente abriu a factura, algo lhe chamou a atenção. Nela estava escrito o seguinte:

Totalmente pago há muitos anos com um copo de leite.

ass.: Dr.Howard Kelly.


A pequena história de hoje é sobre a gratidão, mas não só. Pensemos também que um acto de solidariedade que fazemos hoje, algo de pequena monta, que provavelmente esqueceremos rapidamente, pode fazer toda a diferença para quem dele beneficia. E - quem sabe! - pode, no futuro fazer toda a diferença para nós próprios, quando chegar a altura em que sejamos nós a precisar de ajuda... Ser solidário, fazer o bem sem olhar a quem, como diz o Povo, tem um efeito multiplicador. Quanto mais um de nós for solidário, mais influenciará outros da sua comunidade a sê-lo. E cada um que assim se comporte influenciará mais e mais pessoas. Um pequeno gesto nosso não é apenas um pequeno gesto que fazemos. É um elo na imensa cadeia de pequenos gestos solidários, que assim cresce e se fortalece e faz um Mundo melhor. E um dia nós, ou os nossos filhos, porventura beneficiaremos de que o Mundo esteja melhor.

Nenhum gesto solidário é pequeno. Todos são grandes, imensos e indispensáveis. Para o Mundo ser melhor, só é preciso que cada um faça a sua parte!

Rui Bandeira

10 julho 2008

Maçons e controvérsia sobre religião

Os princípios existem para serem seguidos sem desvios. Por isso são princípios. Os princípios enformadores da Maçonaria Regular, os Landmarks, que por vezes também designamos pela Regra dos Doze Pontos, existem e são observados desde há centenas de anos. Um desses princípios é o sexto Landmark, a que já dediquei um texto e cujo teor aqui agora reproduzo:

A Maçonaria impõe a todos os seus membros o respeito das opiniões e crenças de cada um. Ela proíbe-lhes no seu seio toda a discussão ou controvérsia, política ou religiosa. Ela é ainda um centro permanente de união fraterna, onde reinam a tolerante e frutuosa harmonia entre os homens, que sem ela seriam estranhos uns aos outros.

Recordei que este basilar princípio existe para ser aplicado em todas as circunstâncias há poucos dias. No último parágrafo do texto Escada em caracol escrevi, erradamente, que "(...) a escada em caracol não deve ser confundida com a escada de Jacob, símbolo eminentemente cristão, (...)". Atento, o José Ruah, corrigiu, alertando para o facto de que também na Religião Judaica se referencia e estuda o significado da Escada de Jacob. Reconheci-lhe de imediato razão: esquecera-me que o Livro do Génesis (onde consta a referência à Escada de Jacob) também integra a Torah e é, portanto, parte dos Livros Sagrados, quer do Cristianismo, quer do Judaísmo. Deveria ter utilizado o adjectivo "religioso" em vez do "cristão".

Mas o José Ruah concluiu a sua chamada de atenção com uma frase que eu, sempre atento a estas coisas, logo me apercebi que dava pano para mangas e daria para o "picar" para uma das controvérsias em que nós gostamos de nos envolver. Concluiu ele, como de costume poupando nos acentos:

"A Escada de Jacob não é um simbolo Cristão e representa segundo a interpretaçao judaica valores muito proximos dos defendidos pela Maçonaria."

Pensei em lançar-lhe o isco de que com esta declaração ele estaria a enfeudar a Maçonaria e os seus valores à Religião Judaica, manifestando-lhe a minha discordância e proclamando que a Maçonaria é independente de todas as religiões e aos crentes de todas admite no seu seio. Conhecendo como conheço o Ruah, calculei que, se ele decidisse engolir o anzol, retorquiria que era assim, mas não deixaria de enumerar e exemplificar princípios comuns à Maçonaria e ao Judaísmo. Eu responderia assinalando a similaridade dos princípios maçónicos com os de várias outras religiões, cada um seguidamente pegaria nas frases do outro que lhe desse mais jeito para argumentar em torno de sua tese, buscaria e apresentaria citações de filósofos, professores e estudiosos renomados e assim poderíamos manter uma saudável controvérsia, no decurso da qual estudaríamos e aprenderíamos um com o outro algo sobre o tema. No final, como é também costume, concluiríamos que, a bem dizer, nem sequer havia discordâncias de monta ente nós, que afinal pensávamos praticamente o mesmo, consistindo a diferença apenas em que cada um formulava idêntico pensamento de maneira diferente. Se decidíssemos entabular uma controvérsia deste tipo, ambos saberíamos, desde o início, que esta evolução era "trigo limpo, farinha Amparo", até porque ambos sabemos ler e interpretar o que está escrito e ambos sabíamos que a frase do Ruah que acima transcrevi e que me serviria de pretexto para lançar a controvérsia não enfeudava realmente os princípios da Maçonaria à Religião Judaica, pois o que nela se diz é que a interpretação judaica das escada de Jacob representa valores muito próximos dos defendidos pela Maçonaria, não se excluindo que interpretações de outras religiões igualmente não representassem valores igualmente próximos dos valores maçónicos. É claro que, para bem da controvérsia, ambos "fingiríamos" que só no fim nos apercebíamos disso e nisso concordávamos...

Estive tentado a começar o texto de "picanço". Porventura daria um debate engraçado e a propósito do qual ambos aprenderíamos alguma coisa e, connosco, quem nos lesse.

Depois pensei melhor. O sexto Landmark alertou-me. Por alguma razão a sabedoria ancestral da Maçonaria proíbe, no seio dos maçons, toda a discussão ou controvérsia, política ou religiosa. Mesmo amigável, mesmo com a melhor das intenções, a controvérsia sobre questões religiosas é sempre terreno minado e areia movediça. A convicção religiosa é de tal forma culturalmente imanente à identidade de cada um, que basta uma palavra mal percebida para acirrar ânimos e gerar mal entendidos. Temos e teremos imensas oportunidades, o Ruah e eu, de nos "picarmos" mutuamente para controvérsias, polémicas, debates, de onde resulte algo esclarecedor, para nós e para quem nos ouve ou lê. Não devemos esquecer ou torcer ou deixar de lado um dos basilares princípios da Maçonaria Regular só para satisfazer o nosso gosto de polemizar. Além do mais, seria irónico que se violasse um dos princípios basilares da Maçonaria Regular para estabelecer um debate sobre... a confluência dos princípios da Maçonaria e das religiões...

É mesmo assim, como comecei: os princípios existem para serem seguidos sem desvios!

Rui Bandeira

09 julho 2008

Com que então a fazer caixinha!

O Companheiro Maçon do Estado de São Paulo a que aludi no último texto, também escreveu na sua mensagem de correio electrónico:

Sou leitor assíduo de seu blog. Como Companheiro Maçom, às vezes sou criticado pelos Mestres de minha Loja por sugerir alguns temas que, diante de suas visões, fogem ao meu grau. Entretanto, desconhecem a fonte de minhas pesquisas: o blog do Ir.´. Rui Bandeira, de Portugal.

Vamos lá por partes: ser leitor assíduo deste blogue é algo que me agrada. Recomendo. Acho que faz bem ao espírito. E, porque diminui o stresse, também acaba por fazer bem ao corpo e à saúde. É só vantagens! Por aqui estamos de acordo!

Um pequeno desacordo existe quando o Irmão Companheiro escreve que a fonte de suas pesquisas é "o blog do Ir.'. Rui Bandeira, de Portugal. Aqui, como sou cordato, acho que o meu correspondente acerta em 50 %: o blogue é de Portugal e escrito por maçons de Portugal. Mas no mais tenho que corrigir o Irmão: o blogue não é do Irmão Rui Bandeira. É dos maçons da Loja Mestre Affonso Domingues. Rui Bandeira é apenas um deles. Faça o Irmão Companheiro o favor de dirigir seus olhos para a frase que está logo abaixo do título do blogue: Blogue escrito por maçons da Loja Mestre Affonso Domingues. É isso que ele é. Não do Rui Bandeira.

O Rui Bandeira tem sido o elemento que mais textos tem escrito, é verdade. Mas não é o único a escrever e não é, não quer ser, o dono do blogue. Pelo contrário, espera que o blogue continue quando ele já não estiver em condições de nele escrever. Se tiver continuidade, se passar de geração em geração de maçons da Loja Mestre Affonso Domingues, como os princípios maçónicos passam de geração em geração de maçons desde há muitos e muitos anos, terá sido uma boa ideia iniciá-lo. E, se assim for, altura chegará em que os textos escritos por Rui Bandeira serão uma minoria esquecida no arquivo do blogue, eventualmente um ou outro lido aqui e ali, pelo acaso de aleatória busca num motor de busca, quiçá com a mesma curiosidade e bonomia com que acolhemos uma velharia testemunho de época passada...

Um blogue escrito pelo Rui Bandeira seria algo de efémero. Um blogue escrito pelos maçons da Loja Mestre Affonso Domingues tem as sementes da perenidade, que é grandiosa.

É certo que nestes dois anos o mais frequente autor de textos do blogue é Rui Bandeira. Mas isso não quer dizer que o blogue seja do Rui Bandeira. Isso apenas prova que é verdade o que aqui no blogue apregoamos: a Maçonaria é um meio e um método de aperfeiçoamento. Só procura aperfeiçoar-se quem tem defeitos. E muitos dos maçons da Loja Mestre Affonso Domingues estão ainda bravamente lutando contra o defeito da Preguiça! Mas eu não desespero: os meus Irmãos certamente obterão êxito na sua tarefa de aperfeiçoamento e acabarão por vencer esse defeito. E então teremos muitos mais textos de muito mais gente aqui no blogue. E então ver-se-á como é redutor considerar este blogue como o blogue do Rui Bandeira. Porque então se verá como há na Loja Mestre Affonso Domingues gente com muito melhor qualidade do que o Rui Bandeira. Até lá, portanto, o Rui Bandeira vai praticando o seu defeito de estimação: a obstinação!

Há um prazo de validade para uma pessoa manter um projecto com qualidade. Espero que, antes de eu esgotar o meu prazo de validade, este blogue já esteja a ser pensado e administrado por outrem, que tomará o testemunho e o levará mais além, até o passar a outros, que o passarão a outros. e assim porventura se fará deste blogue algo com alguma valia. Se há algo que os maçons demonstraram ter entendido, é que a continuidade e a persistência ao longo do tempo geram a qualidade. Dois anos? Não é nada! Será alguma coisa se, daqui a vinte anos, eu ainda por aqui estiver e puder ler textos no A Partir Pedra. Terá realmente algum significado porventura com um interesse relevante, se, daqui a duzentos anos, os meus trinetos e tetranetos continuarem a ler - e, quem sabe, a escrever... - textos no A Partir Pedra.

Portanto, caro Irmão Companheiro do Estado de São Paulo, não diminua involuntariamente o significado deste blogue, crendo que ele é o blogue do Irmão Rui Bandeira. Espero que seja muito mais do que isso. Assim os maçons, actuais e futuros, da Loja Mestre Affonso Domingues o queiram!

Mas agradeço-lhe a gentileza!

Agora, caríssimo Irmão Companheiro, onde eu tenho de virar para um arremedo de português do Brasil e lhe dar uma baita bronca é quanto àquela parte de sua mensagem em que - lembro para você não esquecer - você escreveu que os Mestres de sua Loja
"Entretanto, desconhecem a fonte de minhas pesquisas"!!!!

Que é lá isso, meu Irmão? Valha-nos Nossa Senhora de Aparecida, que eu parece que não tou lendo bem! Então o Irmão tá fazendo caixinha? Tá guardando segredo? Tá aproveitando no bem bom o que vai lendo por aqui e guarda tudo pra você? Que é então do sentimento fraternal de partilha com seus Irmãos? O meu Irmão, se leu e gostou, se acha que é bom, tem a obrigação de partilhar com seus Irmãos! Tá guardando tudo pra você, é?

Meu Irmão Companheiro do Estado de São Paulo: sua tarefa de aperfeiçoamento é aprender e praticar a partilha do que acha bom com seus Irmãos. Prove-me que está melhorando, se aperfeiçoando. Mostre a todos seus Irmãos, Mestres, Companheiros e Aprendizes a fonte de suas pesquisas! Dê a eles o endereço do A Partir Pedra! Olha que eu vou saber, viu? Tou esperando um aumento súbito de visitas ao blog... Quando é mesmo a próxima reunião de sua Loja? Na semana seguinte eu vou tar de olho, viu?

Fazer caixinha? Onde já se viu? VirgeMaria! Vá correndo emendar seu erro. Além do mais, fica com a vantagem de os Mestres da Loja deixarem de dar bronca em você. Passam a dar em mim!!!

(Pausa para respirar, reassumir um ar formal e voltar a escrever português à moda de Portugal)

Meu Irmão Companheiro do Estado de São Paulo. Espero que não se tenha ofendido. Esta imitação de "bronca" foi brincadeira mesmo! Gostei muito e fiquei muito satisfeito quando recebi a sua mensagem e apeteceu-me brincar um pouco com ela. É assim! Só com os Irmãos é que se está à vontade para brincar, sabendo que eles se não vão zangar... Mas, agora a sério: se gosta do A Partir Pedra, não acha mesmo que deverá informar seus Irmãos da sua existência, para eles poderem também usufruir?

Entretanto, espero que o texto sobre a Escada em caracol lhe seja útil. Mande-me depois o seu trabalho. Vou gostar de ler! Um abraço e disponha sempre do

Rui Bandeira

08 julho 2008

Escada em caracol

Um Companheiro Maçon do Estado de São Paulo enviou-me uma simpática mensagem de correio electrónico, na qual vinha incluído o seguinte pedido:

Gostaria de ler algum comentário do prezado Irmão, sobre a Escada em Caracol. Pretendo apresentar um trabalho sobre a mesma em Loja, e suas idéias poderiam me auxiliar na sua execução.

A escada em caracol não é propriamente um dos símbolos que tenha chamado a minha atenção. Normalmente é referido como tendo um significado simbólico muito directo, que acaba por ser ofuscado pela primazia do estudo do Homem, das Artes e das Ciências, estádio especialmente recomendado para ser objecto dos esforços do Companheiro maçon.

Este pedido deixou-me, assim, a modos que descalço... Que escrever sobre o tema? Fiz uma busca electrónica e encontrei quatro referências que, sendo parcas, provavelmente abarcam os principais aspectos deste símbolo. Como não gosto de me enfeitar com penas alheias, não vou elaborar um texto com base no que recolhi nesta busca. Em vez disso, é porventura mais útil e seguramente mais transparente publicar aqui citações do que encontrei, obviamente referenciando a origem.

ESCADA CARACOL

Mostra a difícil trajetória do Companheiro. Com seus degraus em espiral ela representa a dificuldade em subir, aprender e auto aperfeiçoar-se, mostrando que a evolução não se desenvolve de uma forma constante e retilínea. Ela tem seus altos e baixos. Sua persistência em busca da luz, será a recompensa, pois atingirá o topo da escada.

(retirado de http://jaburucab.vilabol.uol.com.br/simbolismo.html)

A Escada que vem a continuação é uma Escada de caracol para simbolizar que a ascensão do Maçom não é nada fácil. Lembrando o Salmista, só subirá a Montanha do Senhor quem tiver as mãos limpas e o coração puro. Na página seguinte do Ritual do Comp\ vemos um detalhe da escada que mostra que a subida da escada recurvada é de três lances, respectivamente de três, cinco e sete degraus. Os três primeiros degraus correspondem ao Prumo, Nível e Esquadro e que o Comp\ já conheceu no 1er Gr\

Depois temos os degraus que lembram os cinco sentidos: ouvir, ver, apalpar, cheirar e provar. Ragon fala que as cinco viagens lembram filosoficamente os cinco sentidos, que são fiéis companheiros do homem e seus melhores conselheiros nos julgamentos que ele deve fazer; um sentido pode se enganar; os cinco sentidos, jamais; toda sensação é uma percepção que supõe a existência de uma retidão. Para Luis Umbert Santos é a primeira viagem que está consagrada aos cinco sentidos. Oscar Ortega (Chile) também coincide que a primeira viagem tem relação com o objetivo e o substancial e, por tanto, lhe é assinalado a interpretação dos 5 órgãos dos sentidos. O desenhista colocou nestes 5 degraus um corrimão sustentado por 5 colunas cada uma delas correspondente a uma ordem grega diferente, e assim temos uma coluna toscana, dórica, jónica, corinthia e uma compósita; elas representam as cinco ordens nobres da arquitetura antiga. No primeiro grau foram estudadas em detalhe o referente às colunas jónica, dórica e corínthia. A ordem compósita ou composta, como indica seu nome usa elementos dos capitéis das colunas jónica e corínthia, a coluna compósita lembra o Or\ que reúne as proposições das discussões em L\ conciliando-as e “fechando o triângulo”; a toscana, a diferença das outras quatro, é italiana, originaria da antiga Etruria, que formou na História um grande ducado anexado em 1860 ao reino da Itália; a ordem toscana é reconhecida como a mais simples e sólida das cinco ordens de Arquitetura; o dossel do trono do Ven\ M\ é sustentado por duas colunas toscanas.

O terceiro lance da escada é de sete degraus e cada um deles representa uma das sete artes e ciências do mundo antigo: Gramática, Retórica, Lógica, Aritmética, Geometria, Música e Astronomia; após completar os três lances de 3, 5 e 7 degraus é que o Comp\ chega à C\ do M\

(retirado de http://www.freemasons-freemasonry.com/segundo_grau.html)

Deste modo cada um de nós tenta também, fazer uma “reconstituição” material do Templo de Salomão, pois na Maçonaria, esse Templo é tão apenas e acima de tudo, um símbolo, apesar de ser um símbolo de um alcance magnífico, designadamente “o Templo ideal jamais terminado”, o templo em que cada maçon é uma das sua pedras, preparada sem machado, nem martelo, no silêncio da meditação.
Nele sobe-se aos seus andares por escadas em caracol, por “espirais”, que indicam ao Iniciado que é nele mesmo, é voltando-se sobre si mesmo, que ele poderá atingir o ponto mais alto, que constitui o seu objectivo de evolução.

(retirado de http://gremioestreladalva.blogspot.com/2006/09/o-templo-de-salomo.html)

Contudo rejeitará o mito da existência da Maçonaria ao tempo de Salomão. É lição de Jules Boucher contido na célebre A Simbólica Maçônica – segunda as regras da simbólica esotérica e tradicional (trad. de Frederico O. Pessoa de Barros, Ed. Pensamento, S. Paulo, 9ª. Ed., 1993, p.152): os maçons não tentamos reconstruir materialmente o Templo de Salomão; é um símbolo, nada mais – é o ideal jamais terminado, onde cada maçom é uma pedra, preparada sem machado nem martelo nos silêncio da meditação. Para elevar-se, é necessário que o obreiro suba por uma escada em caracol, símbolo inequívoco da reflexão. Tem por materiais construtivos a pedra (estabilidade), a madeira do cedro (vitalidade) e o ouro (espiritualidade). Para o maçom, ensina Boucher, “o Templo de Salomão não é considerado nem em sua acepção religiosa judaica, mas apenas em sua significação esotérica, tão profunda e tão bela”.

(retirado de http://www.estrela.rudah.com.br/modules/news/print.php?storyid=15)

Destes textos, ressaltam, pois, as noções da dificuldade do trabalho do maçon, das etapas em que este é dividido e desenvolvido, que o que o maçon deve buscar se encontra dentro de si mesmo, da reflexão e da sua indispensabilidade no trabalho de aperfeiçoamento do maçon.

Duas breves notas: a primeira, para frisar que os diferentes lanços das escadas, com 3, 5 e 7 degraus podem ser interpretados conforme a segunda citação supra, mas também pode deles retirar-se outras interpretações, designadamente referentes ao grau de desenvolvimento do maçon em função do seu grau, do seu tempo de estudo, enfim da sua idade na Maçonaria. Como é frequente, os símbolos não são unívocos na sua interpretação. Mais do que receber e apropriar-se das interpretações feitas por outrem, por muito estudioso que seja, deve cada maçon meditar ele próprio no significado de cada símbolo e adoptar o que, segundo a sua mentalidade, o seu desenvolvimento, o seu entendimento, tiver por mais adequado. Os Mestres guiam-nos, não nos impõem caminhos!

A segunda para alertar que a escada em caracol não deve ser confundida com a escada de Jacob, símbolo eminentemente cristão, que pretende figurar a Revelação, a ligação entre os Homens e Deus, através da qual a Terra e o Céu se uniriam e por onde desceriam os dogmas divinos revelados aos homens e ascenderia o espírito humano, no seu anseio de se unir a Deus. Este é um símbolo claramente religioso. Aquele respeita ao trabalho e à acção do homem, na sua busca de aperfeiçoamento.

Rui Bandeira