01 junho 2007

Uma história da Maçonaria Britânica (1583-1717)

Prossseguindo com a divulgação do trabalho do Professor Andrew Prescott por ele apresentado na sua lição de despedida do Center for Research into Masonry da Universidade de Sheffield:

1583-1717


Em 1583, à fase do sindicalismo sucedeu a que David Stevenson chamou de “Século da Escócia”. Em 21 de Dezembro de 1583, William Schaw foi nomeado Mestre das Obras pelo rei James VI da Escócia. Dois dias mais tarde, surgiu um novo manuscrito, contendo, além do mais, cópias das lendas constantes primeiramente nos manuscritos de Regius e de Cooke. Esse novo manuscrito é hoje conhecido por Old Charges (Antigos Deveres). Circulou primeiramente entre trabalhadores de construção (maçons) escoceses. Schaw reformou radicalmente a organização dos maçons escoceses, através de dois conjuntos de regras aprovados em assembleias de maçons escoceses, em 1598 e 1599. Essas reformas incluíram, designadamente, o estabelecimento de Lojas separadas, organizadas numa base territorial, respondendo directamente perante um Vigilante Geral, realizando reuniões regulares e mantendo actas das mesmas. Há indícios de que Schaw procurou também interessar os membros destas Lojas nos novos desenvolvimentos existentes na época nos campos do esoterismo e da filosofia, tal como a designada “arte da memória”. As Lojas estabelecidas por Schaw começaram a ser pólos de atracção de elementos que não trabalhavam na construção, tais como Sir Robert Moray, que se tornou profundamente interessado nas lendas e no simbolismo do ofício de construtor (maçon).

Embora a organização dos maçons ingleses tenha permanecido mais informal e ad hoc, algumas das características evidenciadas pela organização escocesa começaram a surgir também em Inglaterra a partir de meados do século XVII. Em particular, as reuniões dos maçons também ganharam o interesse de elementos estranhos à profissão, como o cientista e antiquário Elias Ashmole e Randle Holme.

Em Londres, este processo de criar um grupo do elite com as organizações dos construtores (maçons) a fim de suportar as reivindicações e o prestígio da profissão conduziu ao aparecimento de um grupo interno dentro da Companhia dos Maçons de Londres, conhecido como os Aceites, que incluiu alguns dos mais prósperos arquitectos / construtores, bem como outros elementos como Ashmole.

Prescott elucida-nos assim acerca da evolução ocorrida com as organizações profissionais de construtores, criação no âmbito destas de lendas que suportassem as reivindicações profissionais daqueles, criação de Lojas separadas mas subordinadas a uma autoridade profissional central e progressiva evolução destas Lojas para além dos meros interesses corporativos, também para o esoterismo e a filosofia e, por via disso, integração nas Lojas de elementos estranhos à profissão, mas Aceites nas Lojas. É esta evolução que fundamenta a expressa denominação de muitas Obediências como sendo de Maçons Livres e Aceites. E assim ocorre também a evolução de uma organização meramente corporativa ou operativa, para uma outra realidade, a moderna Maçonaria especulativa.

Rui Bandeira

31 maio 2007

Nao que me preocupasse, mas...

Tenho ao longo deste ano assinado com o nome de JoseSR.

Este nome, uma composição feita com o meu nome e apelidos, não escondendo quem realmente sou, nao publicitava também.

Ora face às noticias que apareceram hoje na imprensa semanal, e face ao facto de o meu nome vir la referenciado ( não comento o artigo pelo menos para já) pensei que estaria na altura de mudar o meu "diz que é uma especie de pseudonimo", para o meu nome.

Assim poderão ver no Blog e no meu perfil já o meu nome.

Quanto à minha contribuição para este blog tem andado fraca, mas tenho 2 textos em escrita, sendo que um deles so pode ser publicado depois do Rui publicar um texto que sei que está a escrever.

Até lá, vou ver o que se arranja

Jose Ruah

30 maio 2007

A The Victorian Lodge of Research, n.º 218

Na Austrália, na região de Victoria, funciona, desde 30 de Outubro de 1911, data da sua Consagração, a Loja de Investigação The Victorian Lodge of Research, n.º 218.

Tal como a Loja de Investigação Britânica, a Quatuor Coronati, também esta Loja de Investigação australiana agrega a si um Círculo de Correspondentes a que se podem juntar os Mestres Maçons de todo o Mundo. A adesão ao Círculo de Correspondentes implica o pagamento de uma quota anual de 20,00 euros e dá direito a receber a publicação anual dos trabalhos apresentados em Loja e a assistir às reuniões da Loja, que reúne normalmente no Centro Maçónico de Victoria, situado em 300, Albert Street, East Melbourne, às quartas sextas-feiras dos meses de Fevereiro a Outubro.

São objectivos da Loja: a investigação maçónica, a difusão do conhecimento maçónico, o realce da grande Tradição da Ordem, a promoção do interesse em tudo o que constitua Maçonaria, sem quaisquer limites excepto o respeito pelos princípios maçónicos e o confronto com os problemas que se colocam à Maçonaria nos tempos actuais e com os desafios futuros, sendo seu entendimento que é do melhor interesse da Maçonaria que nenhuma opinião deixe de ser considerada, desde que apresentada com verdadeiro espírito maçónico.

No sítio da Loja estão disponíveis resumos de vários trabalhos apresentados em Loja, de que, a título de exemplo, destaco os intitulados Secrets and Freemasonry (Segredos e Maçonaria), Rites of Passage and Masonic Initiation (Ritos de Passagem e Iniciação Maçónica) e Symbolism and Design of the Masonic Apron (Simbolismo e Decoração do Avental Maçónico). Estão também disponíveis vários atalhos para sítios de outras Lojas de Investigação e outros sítios de formação maçónica.

O lema da Loja é SEQUENDO LAMPADA DISCO, que se pode traduzir por APRENDO SEGUINDO A LUZ.

A próxima reunião desta Loja de Investigação terá lugar no próximo dia 22 de Junho e nela o Irmão Paul Alexander, que já exerceu o ofício de Venerável Mestre da Loja, apresentará o trabalho intitulado Foi Napoleão Maçon? O terceiro Quartel do século XVIII.

Rui Bandeira

29 maio 2007

Uma História da Maçonaria Britânica (1425-1583)

Andrew Prescott é um historiador britânico especializado em História da Maçonaria. Foi director do Center for Research into Masonry (Centro para a Investigação da Maçonaria) da Universidade de Sheffield. Na página do Center for Research in Masonry existe um atalho para o texto da sua lição de despedida desse Centro para a Investigação da Maçonaria, proferida em 20 de Fevereiro de 2006, que se intitula A History of British Freemasonry: 1425-2000 (Uma História da Maçonaria Britânica: 1425-2000). Quem entender inglês, pode seguir esse atalho e ler essa notável lição.

O texto é interessantíssimo. É claramente um trabalho sério e objectivo de um académico competente. Não faz a apologia da Maçonaria Britânica, nem a critica ou ataca. Apresenta factos, interpreta-os e relaciona-os com os eventos, designadamente políticos, da respectiva época. Relata a evolução da Maçonaria tal como a mesma ocorreu, nos bons e nos maus aspectos e apresenta a sua interpretação das razões de ocorrência dos principais eventos. É uma peça imprescindível da cultura geral de um maçon e um texto esclarecedor para quem se interessa pelo fenónemo da Maçonaria.

Quer porque nem todos lêem fluentemente inglês, quer pelo interesse intrínseco das informações constantes desse trabalho, vou sumariá-lo aqui no blogue. Mesmo em sumário, a sua extensão é significativa. Opto assim por dividir o sumário em vários textos, que tenciono publicar alternadamente com textos de outros temas.

O Professor Prescott divide a História da Maçonaria Britânica em dez períodos: 1425-1583; 1583-1717; 1717-1736/7; 1737-1763; 1763-1797-8; 1798-1834; 1834-1855-6; 1856-1874; 1874-1967; e 1967-2000.

O resumo de hoje respeita ao primeiro desses períodos, 1425-1583.

As origens da moderna maçonaria como um movimento social encontram-se nas fraternidades religiosas que floresceram particularmente após a peste negra de 1349. Essas fraternidades existiram primeiramente para encomendar e pagar orações pelas almas dos seus membros, mas começaram a ser utilizadas por determinados grupos dos artesãos para assumirem a responsabilidade pela regulamentação das respectivas actividades. A peste negra tinha causado uma falta de artesãos hábeis e o governo esforçou-se por tentar manter os salários baixos. A tensão inflaccionista era particularmente aguda nas profissões ligadas à construção. Em 1425, foi publicada legislação proibindo os trabalhadores da construção de se organizarem para exigir salários mais elevados. É neste evento que nós podemos encontrar a causa para o início dos mitos da maçonaria. Os grupos de construtores em pedra desenvolveram uma lenda de que lhes tinham sido dadas cartas-patentes antigas, permitindo que se organizassem. Reagiram também contra a estratificação crescente da sua profissão, desenvolvendo lendas que procuraram demonstrar que todos os trabalhadores de construção (maçons) eram irmãos com estatuto igual. Os dois manuscritos que registam estas lendas, preservados na Biblioteca Britânica e conhecidos como os manuscritos de Regius e de Cooke, foram usados aparentemente para ultrapassar a proibição de organização. As lendas constantess dos manuscritos Regius e Cooke, e em especial a reivindicação de que os maçons tinham recebido uma carta-patente do (inexistente) príncipe Edwin, um alegado filho do rei anglo-saxão Athelstan, permanecem de importância fundamental para o entendimento da moderna Maçonaria. Estas lendas obtiveram um novo impulso em meados do século XVI, quando nova inflação conduziu a novas tentativas de restringir os salários dos artesãos. Em 1552, os líderes de uma greve de trabalhadores da construção em York foram presos. Em resposta, ocorreu uma mais substancial elaboração das lendas que constavam em Regius e Cooke, com a concessão por Edwin de uma carta-patente especificamente aos trabalhadores da construção (maçons) de York, um detalhe novo que pretendeu aparentemente reforçar a posição destes. Esta primeira fase da história da Maçonaria poderá ser chamada a fase do sindicalismo.

Rui Bandeira

28 maio 2007

A eleição do Terceiro Venerável Mestre

O terceiro Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues foi José C. C.. Todas as circunstâncias apontavam para que o seu mandato fosse difícil, e foi-o. Mas José C. C. cumpriu o que se espera de um Venerável Mestre: recebeu o malhete, símbolo do seu poder de direcção da Loja, do seu antecessor e transmitiu-o, não pior do que o recebera, ao seu sucessor.

Naquele início de Verão de 1992, a Loja Mestre Affonso Domingues ia proceder à eleição do sucessor de José M. M.. A contra-gosto! Era praticamente unânime a opinião de que ele deveria assegurar um novo mandato. Mas José M. M. não concordava. Tinha mesmo tido o cuidado de ter providenciado pela aprovação, pela Loja, do seu Regulamento Interno, nele tendo incluído uma disposição que previa que o Venerável Mestre só podia exercer o máximo de dois mandatos consecutivos. Apesar da argumentação dos demais membros de que ele só tinha sido eleito uma vez (o seu primeiro mandato ocorrera por designação mediante decreto do Grão-Mestre), a sua posição era definitiva: já tinha cumprido dois mandatos, chegara a hora de transmitir o malhete de Venerável Mestre a outrem.

José C. C. fora fundador da Loja. Na carta-patente desta figurava como 2.º Vigilante fundador. O Venerável Mestre fundador não chegara a assumir efectivamente o ofício, por razões de saúde, tendo sido, então, substituído por José M. M., por decreto do Grão-Mestre. O 1.º Vigilante fundador, Hélder V. entretanto fora encarregado de dirigir uma outra Loja, em acumulação com o seu ofício de Grande Oficial e teve, por isso, de abandonar a Loja. José C. C. passou, assim, a exercer o ofício de 1.º Vigilante e era o sucessor natural de José M. M..

O problema era que as suas características pessoais não o tinham feito particularmente popular entre os demais obreiros. A Loja ansiava pela continuação da liderança de José M. M. e, confrontada com essa impossibilidade, queria alguém do mesmo estilo: interveniente, popular, bom condutor de homens, extrovertido e emotivo. José C. C. era precisamente o oposto: tímido, era algo desajeitado no relacionamento com todos aqueles que não pertenciam ao seu núcleo restrito de amizades; retraído, não demonstrava um décimo da emotividade de José M. M.; monárquico e politicamente conservador, e ainda por cima sofrendo os efeitos de ser sempre acompanhado por seu pai, um truculento ultra-conservador que não raras vezes não se coibia de infringir a regra que excluía a política da Maçonaria, não conseguira granjear o apoio dos demais membros da Loja para ocupar a Cadeira de Salomão, isto é, o lugar de Venerável Mestre; embora tendo sido um fiel lugar-tenente de José M. M., deixara-se ofuscar e, mesmo, anular pelo brilho da liderança deste e ninguém o via como Venerável Mestre.

Até que José M. M. voltou a sacar da sua cartola mais um passe da sua liderança: num convívio informal - em que, convenientemente, José C. C. não estava presente... (isto só foi percebido depois, e apenas pelos mais atentos) -, José M. M. convence todos de que a Loja devia, desde o princípio, prevenir o perigo de lutas intestinas pelo efémero "poder" do ofício de Venerável Mestre - todos concordaram; que a melhor forma de o fazer era instituir um critério transparente e lógico, logo, aceite por todos ao longo dos tempos, de escolha do Venerável Mestre - todos deram o seu acordo; esse critério era o da eleição do sucessor natural do Venerável Mestre em exercício, o seu primeiro Vigilante - breve instante de silêncio enquanto cada um percebia como fora habilmente conduzido a esta conclusão, seguido de um coro de discordância, não pelo princípio, mas em função do concreto 1.º Vigilante que seria então eleito Venerável Mestre; José M. M. deixou que os protestos fossem desabafados, fluir os argumentos, pairar os desacordos quanto à figura do sucessor e, pacientemente, fez ressaltar as vantagens de evitar lutas pelo poder na Loja, demonstrou que o Venerável Mestre só tinha o poder que a Loja lhe desse, que só conseguia fazer o que a Loja deixasse - muitos, mas já não todos, mantinham a discordância; argumentou que o facto de a Loja seguir o critério da sucessão natural, mesmo que muitos não apreciassem que em concreto determinada pessoa fosse o eleito, só fortaleceria o espírito de corpo da Loja, que, afinal de contas, um ano passava depressa e que, no final, a Loja sairia reforçada com a experiência, que a qualidade dos seus obreiros sempre compensaria eventuais deficiências do Venerável Mestre... - e, a pouco e pouco, foi vencendo as resistências e, no final, obteve a unânime, embora resignada, aprovação de todos para a eleição de José C. C.. E, de passagem, criou um paradigma (correcto) que ainda hoje perdura: qualquer Mestre da Loja pode ser Venerável Mestre; com mandatos anuais, qualquer Mestre minimamente interessado terá a oportunidade de vir a ser Venerável Mestre; em termos de normalidade, não faz sentido, assim, a pugna eleitoral (embora se mantenha sempre o sistema de eleição), por regra elege-se o 1.º Vigilante para exercer o ofício de Venerável Mestre no ano seguinte.

Obtido o acordo da Loja para a eleição de José C. C., havia ainda um outro problema: a José C. C. não passara despercebida a contestação à sua eleição - como poderia passar despercebida?- e isso magoava-o, talvez até ao ponto de ele vir a não estar disposto a assumir o ofício. José M. M. tem então um segundo golpe de asa: combina pessoalmente com cada um dos Mestres presentes na sessão de Loja de apresentação de candidaturas que, quando circulasse o Saco das Propostas, cada um introduzisse nele a proposta de candidatura de José C. C.. Obtém de todos o acordo para tal. E, após ter circulado o Saco das Propostas, José C. C. viu que o seu nome fora proposto por todos os demais Mestres presentes. Melhor declaração de apoio não podia ter - sobretudo ocorrida após contestação aberta... E claro que aceitou a candidatura. Até hoje, assim se continua a proceder na Loja Mestre Affonso Domingues: na sessão de apresentação de candidaturas, todos os Mestres colocam no Saco das Propostas a proposta de candidatura ao ofício de Venerável Mestre do 1.º Vigilante em funções. É a demonstração simbólica que toda a Loja dá do seu apoio incondicional ao Irmão que irá exercer o ofício de a dirigir por um ano.

E, na sessão seguinte, José C. C. foi tranquilamente eleito Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues, para o período de Setembro de 1992 a Setembro de 1993!

Os símbolos também se criam! E as boas tradições estabelecem-se naturalmente quando se procura actuar, de forma transparente e coerente, pelos bons motivos, em benefício de todos!

Rui Bandeira

25 maio 2007

Diálogo (VII - e último)

- Na próxima sessão da Loja vais ser iniciado. É altura de tirar as últimas dúvidas.

- Não sei se serão as últimas, ou apenas as que sobram das primeiras, mas são três.

- Vamos lá, então.

- Primeira: sei que vou entrar numa Loja onde tu estás. E se não gostar? Fico amarrado a essa Loja para sempre?

-
Salvo circunstâncias excepcionais, o candidato é dirigido para a Loja do seu primeiro proponente. As razões disso são evidentes: o proponente é o elemento de ligação entre o candidato e o grupo onde se vai inserir e facilitará a sua integração nele; por outro lado, essa foi a Loja que procedeu às inquirições, que avaliou o candidato e recolheu os elementos que lhe possibilitarão providenciar pela harmoniosa integração do novo elemento. Mas o maçon não está preso à Loja em que foi iniciado, a sua Loja-mãe. Uma vez que tenha sido elevado a Mestre, poderá mudar de Loja ou filiar-se em mais do que uma Loja.

- E antes disso?

- Normalmente, o Aprendiz e o Companheiro não mudam de Loja, quer porque estão em plena formação, que deve decorrer sem sobressaltos, quer porque nem sequer tem o suficiente conhecimento da da Obediência para conscientemente optar. Mas esta não é uma regra absoluta: já houve vários casos, por diferentes razões (mudança de localidade de residência, por exemplo) em que ocorreu a mudança de Loja de Aprendiz ou de Companheiro. Evidentemente que, nesses casos, deve formar-se uma conjunção de vontades, do próprio, dos Veneráveis Mestres da Loja de origem e da Loja de destino e não haver objecção da Grande Loja.

- Segunda questão: como faço o pagamento da jóia de iniciação?

- No próprio dia, antes de eu te conduzir às instalações onde vais ser iniciado, entregas-me o cheque. Eu tratarei de o entregar ao Tesoureiro da Loja e depois de te dar o respectivo recibo...

- Dá para descontar no IRS?

- Querias... Vai sonhando... Mas, continuando com o assunto do pagamento da jóia, isso é tratado antes de seres conduzido ao Templo para que, uma vez lá, nenhum assunto de natureza profana te distraia do que vais viver. A propósito, aconselho-te a, nesse dia, não usares pulseira ou fio.

- Porquê?

- Vais ser iniciado. Deves deixar os metais à porta do Templo. Isso simboliza que a materialidade profana deve estar afastada da espiritualidade maçónica. Se não levares pulseira ou fio, não será necessário que tos retiremos... Quanto ao resto, já sabes: fatinho escuro, sapatinho preto, camisinha brança, gravata preta... Ou seja, por uma vez na vida vais-te vestir decentemente..

-Conversa sem piadinha não é conversa, já vi.. Nem te respondo. Prefiro colocar a terceira questão...

- Força!

- Como vai ser a Iniciação?

- A essa não te respondo! A Iniciação é para ser vivida, não é para ser contada!

Rui Bandeira

24 maio 2007

A carta-patente da Loja

Ontem foi um grande dia para a Loja Mestre Affonso Domingues. Ontem regressou à Loja a sua carta-patente!

A carta-patente é o documento que proclama e certifica a criação, pela forma tradicional e regularmente reconhecida, de uma Loja maçónica. É, obviamente, um documento importantíssimo para qualquer Loja maçónica, em termos históricos, mas também em termos rituais, pois uma Loja maçónica Regular deve, salvo motivos imponderáveis, reunir na presença da sua carta-patente, como testemunho directo da sua criação dentro dos limites e princípios da Regularidade.

A imagem que ilustra este texto é a de uma carta-patente respeitante à criação de uma Loja Regular chilena, a Loja Pentalpha, em 16 de Setembro de 1965, ao Oriente de Santiago do Chile e sob os auspícios da Grande Logia de Chile. Não é, por ora, possível publicar a carta-patente da Loja Mestre Affonso Domingues, não tanto por não estar ainda digitalizada (isso resolvia-se em alguns minutos...), mas porque a mesma contém nomes de maçons vivos e que não declararam publicamente essa condição, pelo que, no respeito de uma essencial regra maçónica, tem de se respeitar a reserva de sua identidade.

A carta-patente da Loja foi emitida, pelo então Grão Mestre da Grande Loge Nationale Française (GLNF), André Roux, em 30 de Junho de 1990, ainda no âmbito do Distrito de Portugal daquela Grande Loja. 30 de Junho é, assim, a data de aniversário da Loja. Recorde-se que a reinstituição da Regularidade Maçónica em Portugal processou-se através de criação de várias Lojas sob os auspícios da GLNF, que constituiram o Distrito de Portugal daquela Obediência Regular e que, ulteriormente, obtiveram a consagração da Grande Loja Regular de Portugal, hoje Grande Loja Legal de Portugal/GLRP.

Foram designados para exercer, em primeiro lugar, os ofícios de Venerável Mestre, 1.º Vigilante e 2.º Vigilante, respectivamente, os Irmãos Eduardo M., Hélder V. e José Cunha C.. Em documento anexo, figura também a lista dos Maçons fundadores da Loja, entre os quais, nada mais, nada menos, os que vieram a ser os três primeiros Grão-Mestres da GLLP/GLRP: Fernando Teixeira, Luís Nandin de Carvalho e José Anes!

Na sequência dos acontecimentos que vieram a ser conhecidos como cisão da Casa do Sino, estes documentos ficaram extraviados. Durante anos, a Loja Mestre Affonso Domingues trabalhou na presença de uma nova carta-patente, emitida pelo Grão-Mestre da GLLP/GLRP. Ontem, um Grande Oficial muito querido de todos nós visitou a nossa Loja e deu-nos a grata surpresa de nos trazer os documentos. A partir de agora, a Loja Mestre Affonso Domingues pode exibir duas cartas-patentes: a da sua criação, ainda no âmbito do Distrito de Portugal da GLNF e a emitida já pela GLLP/GLRP, de que foi Loja fundadora!

Rui Bandeira