24 abril 2007

Memória do último dia sem Liberdade

Faz hoje trinta e três anos que vivi o último dia de Ditadura, o último dia sem Liberdade.

Vivi dezoito anos, oito meses e três dias em Ditadura. Bem menos do que meu Pai. Bem mais, felizmente, do que todos aqueles, o presente e o futuro desta terra, que nem um dia de falta de Liberdade suportaram. Talvez estes não tenham a noção da felicidade que têm: ninguém apreciará, certamente, mais a faculdade de ver do que o cego de nascença que foi curado da sua cegueira... Talvez só aprecie verdadeiramente a Liberdade, a singela Liberdade a transparente Liberdade, a invisível Liberdade, a "inútil" Liberdade quem viveu dela privado.

Eu vivi (só) dezoito anos, oito meses e três dias em Ditadura e tive a sorte de, na maior parte desse tempo, não me aperceber disso, embalado na Inocência da Infância e distraído pelos fulgores da Adolescência. Mas, sempre que a Razão se sobrepôs à Distracção a falta de Liberdade atingiu-me como ao asmático a falta de ar o afecta. É isso: fui um "asmático da Liberdade": tive a sorte de conseguir esquecer muitas vezes a minha insuficiência de Liberdade, mas quando a crise me atingia, atingia forte e feio! E, para mim, cada um dos dias desses dezoito anos, oito meses e três dias foi um dia a mais!

A todos aqueles que têm a ventura de não ter vivido nesse período, deixo as três palavras que a minha memória regista da Ditadura: Medo, Vergonha e Humilhação.

Medo que vi inúmeras vezes nos olhos de meu Pai. Medo que fazia que meu Pai, mesmo no aconchego do lar, sempre que desabafava e lhe escapava alguma palavra ou frase contra o Regime, assustadamente baixava a voz e inquietamente olhava em redor (na sua própria casa...), porque "as paredes tinham ouvidos" e a PIDE estava em todo o lado... Medo que fez meu Pai ter acções hoje tão inauditas como esta: naquele tempo, as "eleições" não eram nada como agora naturalmente ocorre; nem sequer se punha a "cruzinha" num boletim de voto: cada candidatura, a oficial e as pontualmente toleradas, enviava para casa de cada "chefe de família" (só esse podia votar...) um boletim com a sua lista de candidatos; o voto traduzia-se na colocação na urna do boletim da lista escolhida; recordo-me bem do cuidado que meu Pai teve, em 1969, de, antes de sair de casa, colocar num dos bolsos a lista da Situação (A "União Nacional" ou a "Acção Nacional Popular", e no outro a da Oposição. E, depois de voltar, apressadamente, ter ido QUEIMAR a lista da Situação, para que nenhuns restos indiciassem que se tinha atrevido a votar na Oposição...

Vergonha que eu senti ao ser obrigado a usar a farda da "Mocidade Portuguesa". Naquele tempo, não se podia frequentar o Liceu sem, obrigatoriamente, ter de pertencer àquela imitação de pacotilha da Juventude Hitleriana... A vergonha que eu sentia de ter de usar aquela ridícula camisa verde, aqueles patéticos calções caqui, aquele ofensivo cinto com a fivela em forma de "S" (de Salazar, pois claro...)!! Como eu desejava que chovesse a potes nos dias em que eu tinha de ir para a "Bufa" (como nós chamávamos àquela aberração), só para poder tapar com a gabardina aquela farda que me envergonhava!

Humilhação que senti quando, entrado para a Faculdade de Direito de Lisboa, tive de suportar os "famosos" GORILAS, os "contínuos" recrutados pelas suas especiais qualificações de possuírem músculos na proporção inversa em que possuíam miolos e cuja principal função era reprimirem brutalmente qualquer tentativa de manifestação de rebeldia que a "estudantada" ousasse ter. A Humilhação de ver diariamente as minhas Colegas serem objecto de grosseiros piropos oriundos daquelas minúsculas mentes, sem poder pôr devidamente na ordem aqueles brutamontes, sacos ambulantes de esteróides anabolizantes, que ainda por cima andavam sempre aos pares...

Hoje faz trinta e três anos que vivi o meu último dia sem Liberdade. Amanhã, como nos últimos trinta e três anos, no mesmo dia, não escrevo. Saio, passeio, respiro, sobretudo respiro e gozo a Liberdade, que sei apreciar por ter havido tempos em que a não tive. Para mim, amanhã é e será sempre assim:


Rui Bandeira

23 abril 2007

Diálogo (III)

- Antes de passar o teu pedido, tenho de te informar sobre questões materiais...

- Questões materiais? Então a Maçonaria não trata do aperfeiçoamento moral e espiritual?


- Claro que sim, mas isso não impede que, como qualquer organização, não tenha de se preocupar com aquilo com que se compram os melões...


- Já estou a ver o filme! Como já estou convencido a comprar a ideia, agora é altura de falar do preço... Tens a certeza que não foste vendedor de automóveis em outra incarnação?

- Nem acredito em reincarnações! Deixa-te de piadinhas e ouve, para saberes como as coisas se passam.

- Sou todo ouvidos!

- Se fores admitido à iniciação, coisa de que me permito duvidar se continuas com essas piadinhas secas...


- Diz o roto ao nu! Continua, continua...

- Se fores admitido à iniciação, o custo de adesão será de 600,00 euros (Nota: Montante em vigor na Loja Mestre Affonso Domingues desde julho de 2014).


- É carote...

- Na realidade, estás a pagar o avental, a medalha da Loja e outro material que irás receber, além de uma contribuição para os custos gerais. Meu caro, a Maçonaria não se senta à mesa do Orçamento, somos nós que pagamos tudo o que é necessário...

- E já pensaram em deslocalizar para a China o fabrico dos aventais, para os terem mais baratos?

- Ainda não nos tinha ocorrido... O teu espírito empreendedor ainda nos vai ser útil... Adiante! Quanto à quota, são 25,00 euros por mês (Nota: montante em vigor na Loja Mestre Affonso Domingues desde abril de 2012).


- É mais caro do que a quota do Benfica...

- Por enquanto... Mas também não se perdem campeonatos... Repito: todas as despesas, quer da Grande Loja, quer da Loja, são exclusivamente suportadas pelos seus membros. Há que pagar aos funcionários, custear as instalações, telecomunicações, água, electricidade, adquirir materiais, custear viagens, enfim, todas as despesas inerentes ao funcionamento de uma estrutura de alguma dimensão.

- Percebo tudo isso e sei que os custos de funcionamento de qualquer estrutura são elevados. Mas o certo é que, com essas obrigações financeiras, certamente existem interessados que deixam de o ser por não terem condições materiais...

- Infelizmente os custos são o que são. Mas, em casos de necessidade, existem mecanismos que permitem analisar a situação de cada um e diminuir ou até mesmo isentar durante algum tempo o pagamento das quotas, justificando-se tal medida. Mas é verdade que existe a necessidade de um esforço financeiro que, não sendo incomportável, para muitos é importante. Bem gostaríamos que esse esforço fosse menor, mas a realidade é o que é. Por isso mesmo consideramos fundamental informar os interessados das obrigações financeiras que deverão cumprir. A Maçonaria é, para nós, importante, mas à frente de tudo está a família de cada um e só se não prejudicar a estabilidade económica de sua família é que cada um deverá decidir entrar para a Maçonaria. Ser homem de bem é, antes do mais, assegurar o bem-estar dos seus! O resto, mesmo a Maçonaria, só vem depois!

(Nota: Os montantes mencionados no texto foram atualizados para os valores em vigor após deliberações da Loja em maio de 2012, com efeitos a partir de abril de 2012, e em julho de 2014, em função dos compromissos financeiros resultantes da aquisição de instalações para sede da Grande Loja)

Rui Bandeira

20 abril 2007

Carlo Collodi, o maçon que criou Pinóquio

Carlo Collodi não era o seu verdadeiro nome, antes um pseudónimo usado por Carlo Lorenzini. Mas foi por Carlo Collodi que ficou mundialmente conhecido.

Nasceu em Florença em 24/11/1826 e aí passou ao Oriente Eterno em 26/10/1890. Foi jornalista, escritor e combatente voluntário na Guerra de Independência de Itália, entre 1848 e 1860.

Publicou as obras "Gli amici di casa" e "Un romanzo in vapore. Da Firenze a Livorno. Guida storico-umoristica", por volta de 1856. O seu primeiro livro infantil foi publicado em 1876 e intitulou-se "Raconti delle fate". Em 1877 escreveu "Giannettino" e no ano seguinte " Minuzzolo". Em 1881, inicia a publicação de um periódico virado para o público infantil, o "Giornale per i bambini". Foi nesse peródico que originalmente foi publicada, em curtos capítulos, a "Storia di un burattino" (História de um Boneco), o primeiro título do que veio a ser o livro mundialmente conhecido por "Aventuras de Pinóquio", a sua obra-prima. Em 1887, publica ainda "Storie allegre".

A condição de maçon de Carlo Collodi, apesar de não estar confirmada por nenhum documento oficial, é indisputadamente reconhecida. Aldo Molla, profano que, em Itália, é geralmente reconhecido como o historiador ofical da Maçonaria, manifesta essa certeza. Vários elementos biográficos de Carlo Collodi parecem confirmá-la: a criação em 1848 de um jornal chamado "Il Lampione", que, como ele dizia, devia "iluminar todos aqueles que vagueavam nas trevas"; a participação na Guerra da Independência integrado nos voluntários toscanos, em 1848, e a sua, também voluntária, integração no exército piemontês em 1859; a sua extrema proximidade ao reconhecido maçon Mazzini, de quem se declarava "discípulo apaixonado".

Os princípios caros à Maçonaria expressos na trilogia Liberdade - Igualdade - Fraternidade estão expressos nas "Aventuras de Pinóquio": a Liberdade, porque Pinóquio é um ser livre e que ama a Liberdade; a Igualdade, porque a única aspiração de Pinóquio é ser igual aos outros e porque nenhuma personagem é superior às demais, nem em importância, nem em nível social; a Fraternidade, porque este é o sentimento principal que faz agir as personagens nas diferentes situações.

Os elementos para elaborar este texto foram recolhidos aqui e ali.

Rui Bandeira

19 abril 2007

Diálogo (II)

- Explica-me cá uma coisa! Eu conheço um maçon...

- Pelo menos...

- Já percebi a insinuação... Isso vê-se depois, agora deixa-me continuar. Eu conheço um maçon e pude pedir-lhe para entrar na Maçonaria. Mas como faria se não conhecesse? Mesmo considerando-me de bons costumes e querendo aperfeiçoar-me, seguindo o método maçónico, como tu dizes, não tinha hipótese, não tinha a quem pedir...

- Dizes tu, que às vezes dizes sem pensar e não pensas no que dizes...

- Estás sempre a deitar abaixo... Com amigos destes não preciso de inimigos...

- Claro que, mesmo sem conhecer um maçon, um verdadeiro interessado na Maçonaria tem a quem pedir. Então nos dias de hoje! A Maçonaria tem existência legal e sede. Pode enviar uma carta. Mais simples ainda, pode enviar um fax ou uma mensagem de correio electrónico.No sítio da GLLP / GLRP existe uma página de contactos disponíveis para todos. Os sítios das Lojas também costumam disponibilizar pelo menos um endereço de correio electrónico, como sucede, por exemplo, no sítio da Loja Mestre Affonso Domingues. E até mesmo quase todos aqueles tipos que escrevem umas coisas no blogue A Partir Pedra têm também nos seus perfis um endereço de correio electrónico. Queres mais hipóteses de contacto ainda?

-Queres tu então dizer que basta um fulano mandar uma mensagem de correio electrónico e já está, por aqui me sirvo? E estive eu mais de um ano à espera que tu me convidasses... e depois disseste que não havia convite para ninguém, eu que pedisse se quisesse...

- Calma aí, que eu não disse que era assim tão simples...

- Eu logo vi, tu usas sempre a técnica do vendedor, primeiro parece tudo fácil, as complicações vêm depois...

- Tu é que complicas, assim sempre a interromper... Obviamente que alguém que não seja conhecido de nenhum maçon e que contacte declarando o seu desejo de ser admitido maçon, no mínimo tem de ter a Virtude da Paciência. Eu não disse que era rápido... Fácil, barato e que dá milhões só o Euroditos... É evidente que, nessas circunstâncias, é preciso averiguar primeiro de quem se trata, se se trata de uma pessoa digna ou de um qualquer oportunista, quais os seus princípios, se os seus propósitos são sérios, etc.. Só após nos certificarmos disso se poderá avançar.

- E como é que se certificam
?

- Normalmente, são designados alguns elementos que, muito discretamente, procuram saber quem é e como é realmente a pessoa e, utilizando a expressão que já várias vezes usámos nas nossas conversas, se é realmente um homem livre e de bons costumes. Só adquirindo-se essa certeza para além de qualquer dúvida é que se contacta o interessado, apresentando-se-lhe um rosto, alguém a quem, se continuar interessado, possa então pedir a sua adesão. Este processo, no fundo, de conhecimento mínimo da pessoa pode levar muito tempo. E só para chegar ao ponto em que tu agora estás... Se tu te queixas que estiveste mais de um ano à espera, imagina no caso deste suposto interessado. Mas tudo o que tem interesse na vida custa a ser obtido...

- Já entendi! Quem não conhecer um maçon, pode-se oferecer, mas vocês primeiro armam-se em detectives e só se ficarem satisfeitos é que contactam a pessoa.

- Nem mais!

- Estou mesmo a ver, uns fulanos a fazerem perguntas na vizinhança, e tal... E se o fulano tiver o azar de ter a alcunha de Pinóquio, está feito: nem sabe porque nunca foi contactado...

- Pois aí é que te enganas! Eu interessar-me-ia por conhecer mais profundamente essa pessoa!

- Porquê? Agora interessas-te por mentirosos?

- Nada disso, meu caro! Pensa um pouco. Nunca reparaste que a história infantil do Pinóquio não é mais do que uma alegoria do que deve fazer o maçon?

- Essa agora! Dizes então que o maçon deve mentir até lhe crescer o nariz?

- Nada disso. Em primeiro lugar, é ao contrário: o nariz crescia-lhe porque mentia; em segundo lugar, isso é apenas o elemento burlesco para chamar a atenção das crianças para a história. O cerne da história é outro. Trata de um boneco de pau que, com o auxílio de uma fada e de um grilo (que personifica a sua consciência), luta contra os seus defeitos, de forma a tornar-se digno de se tornar um rapaz de carne e osso. Certo?

- Certo.

- O boneco de pau é o maçon que luta para dominar seus vícios e suas paixões (o gato e o raposo). Nessa luta tem o auxílio do grilo (os seus Irmãos) e da fada (a Maçonaria). Com trabalho, com esforço, com avanços e recuos, aprende como os seus defeitos (mentir) e os prazeres materiais (faltar à escola, ir divertir-se para o Parque de Diversões) afinal amarram e limitam o Homem (transformam-no em burro...) e que só a noção do cumprimento dos seus deveres (o trabalho maçónico) permitirá que esteja em condições (o aperfeiçoamento) de vir a ser um verdadeiro menino de carne e osso (ver a Luz).

- Livra, que tu até nas histórias infantis vês Maçonaria...

Rui Bandeira

18 abril 2007

Recordando...


Meus Queridos Irmãos,
Meus Queridos “Blogers”,
Meus Queridos visitantes, habituais ou não:

Não resisto a pôr neste nosso espaço o texto que, no Expresso de 6/Abril p.p., lembrava que existiu um Homem que, enquanto por cá andou, deu pelo nome de Mário Viegas.
No dia 1 de Abril fez 11 anos que o seu corpo nos deixou, mas a lembrança da sua existência e o som da sua voz e entoação únicas ficaram connosco.

No Teatro, na Poesia, no Dizer, no sarcasmo com que mordeu a pobreza de espírito e o falso pudor da sociedade mandante, Mário Viegas foi um exemplo de verticalidade a seguir.
Humaníssimo, solidário o mais possível com os carentes, deixou em todos que conheceram o seu trabalho uma saudade que nunca mais acaba.
Nunca estive com ele e portanto não o conheci pessoalmente, mas tenho muita pena que tal nunca tenha acontecido.

Este “post” tem também esta intenção, a de homenagear alguém que admirei e que lamento profundamente ter deixado tão cedo a companhia dos vivos.
Mário Viegas faz falta a Portugal.
Ele foi, certamente, um dos que leram Kipling (V. post de JoséSR em 14 de Abril)

Ora aqui está mais um que não apareceu nos Grandes de Portugal.

De Mário Viegas:


10 Mandamentos para 1 espectador de Teatro

1 - NÃO CHEGARÁS ATRASADO, incomodando a concentração daqueles que estão a representar e dos outros (que chegaram religiosamente a horas) que estão a assistir ao Santo Sacrifício do Teatro.

2 – NÃO FALARÁS BAIXINHO com o ou a acompanhante, incomodando com a tua inclinação de cabeça o Espectador de trás, e distraindo os actores celebrantes do Santo Sacrifício do Teatro.

3 – NÃO ADORMECERÁS NEM RESSONARÁS, dando marradas para a frente ou para trás, ou pondo a mão nos olhos para os outros pensarem que estás muito concentrado no Santo Sacrifício do Teatro.

4 – NÃO TOSSIRÁS NEM TE ASSOARÁS com grande ruído, escolhendo as melhores pausas dos celebrantes do Santo Sacrifício do Teatro.

5 – NÃO TE ABANARÁS constantemente com o programa, distraindo os que estão, religiosamente ao teu lado, e irritando os que estão no palco a celebrar o Santo Sacrifício do Teatro.

6 – NÃO COMERÁS rebuçados, pipocas, caramelos, chocolates, pastilhas, comprimidos, tirando-os muito devagarinho, fazendo com o papel e as pratinhas o mais diabólico, satânico e herético ruído numa sala de espectáculos em que se celebra o Santo Sacrifício do Teatro.

7 – NÃO LEVARÁS relógios com pipis electrónicos, telemóveis e sacos de plástico que andarás constantemente a pôr, ora entre as pernas, ora ao colo, perturbando os que celebram o Santo Sacrifício do Teatro.

8 – NÃO LERÁS OU FOLHEARÁS o programa durante a celebração do Santo Sacrifício do Teatro pata tentar saber qual é o nome de determinado actor, ou para tentar perceber a sequência do Santo Sacrifício do Teatro.

9 – NÃO PEDIRÁS borlas ou insistirás em descontos a que não tens direito para assistir à celebração do Santo Sacrifício do Teatro.

10 – NÃO OLHARÁS “com umas grandes ventas” para o vizinho do lado, que achou religiosamente Graça ao que tu não achaste, ou que, piamente cheio de Fé, se levantou logo para aplaudir enquanto tu bates palmas por frete e já a pensar ir a correr para tirar a porcaria do teu carrinho, ou a porcaria do teu sobretudo do bengaleiro, mais cedo do que os outros.

ASSIM SUBIRÁS PURO AOS CÉUS OU ASSIM PODERÁS IR A 13 DE MAIO À COVA DA IRIA OU ASSIM PODERÁS IR E COMUNGAR NO CASAMENTO REAL de Sua Magestade Sereníssima Dom Duarte Pio João Miguel Gabriel Rafael de Bragança, Chefe da Sereníssima Casa de Bragança, Duque de Bragança, de Guimarães e de Barcelos, Marquês de Vila Viçosa, Conde de Arraiolos, de Ourém, de Barcelos, de Faria, de Neiva e de Guimarães, e de Sua Augusta Noiva Isabel Inês de Castro Corvello de Herédia.

IDE E ESPALHAI A BOA NOVA !!

Abraão Viegas

JPSetúbal

17 abril 2007

Diálogo (I)

- Essa coisa dos motivos para não ser maçon e do motivo para o ser é muito bonita, mas quem está de fora da Maçonaria fica sem saber, se quiser entrar, como o fazer...

- Se é isso que queres saber, é simples: começa por ir ao sítio da Loja Mestre Affonso Domingues e tens logo ali a primeira informação de que necessitas.

(...)

- Já fui, mas a tal informação deve estar muito escondida, que a não encontrei...

- Meu caro, julgo já te ter dito que nós, maçons, estamos habituados a utilizar símbolos, a descortinar através deles; todas as mensagens estão lá, mas tens de as saber ver... A atenção e a concentração são importantes...

- Tudo bem, estás sempre a dizer isso, mas se não ajudas um profano a ver, como queres que ele veja? Ao menos, diz-me para onde olhar!

- Que tal exactamente ao centro, à frente dos teus olhos? Repara na mensagem que aparece:

Bate e ela se abrirá, Procura e acharás, Pede e receberás
Conhece-te a ti próprio e ama o próximo como a ti mesmo

- Essa? Bem, mas já é mania de ser enigmático! Mas afinal bato aonde? Se me respondes com outro enigma ainda mudo a pergunta para bato em quem e suspeito que fico logo a saber a resposta...

-
Calma, que a violência gratuita desqualifica-te como homem de bons costumes...

- Se é gratuita, ainda está para se ver, mas sabes bem que brincava. Mas a sério... Afinal, bato aonde? Procuro onde? Peço a quem?

-Hoje andas com o teu neurónio desligado! Bate à porta da Maçonaria! Procura o significado dela e quem te possa auxiliar a ir mais além! Pede a quem te possa dar o que desejas!

- OK! Em primeiro lugar, o meu neurónio não está desligado, tu é que mo pediste emprestado e ainda não mo devolveste, ó génio! Queres então dizer na tua, que, se quero ser maçon, tenho que te pedir, é isso? Só para te sentires importante... Mania da superioridade, é o que é!

-
Não, não é! Falando a sério. Quem quiser ser maçon, tem de, em primeiro lugar, saber porque o quer ser. Se for um dos tais cinco motivos para não ser, o melhor é tirar o cavalinho da chuva e não perder, nem o tempo dele, nem o nosso. Mas, se for pelo motivo por que o deve querer, o desejo de se aperfeiçoar, e se for um homem de bons costumes (convém não o esquecer...), então, para poder vir a ser maçon, o primeiro passo que deve dar é... pedir para o ser! Obviamente que a quem possa dar andamento a esse pedido, ou seja, a um maçon. Eu ou outro qualquer.

- Mas eu julgava que os maçons é que convidavam quem achassem que podia juntar-se a eles...

-
Quem porventura fizer isso, faz mal! A Maçonaria dá-se sempre mal quando cede à tentação do proselitismo! Repara: a Maçonaria não é um clube social, é um meio e um método de crescimento, de aperfeiçoamento pessoal; só faz sentido ser maçon se se quiser sê-lo. Então, fazer convites não é a melhor forma de proceder. O que se deve fazer é estar atento e disponível para encaminhar quem queira ser maçon, não procurar "arregimentar" amigos ou conhecidos para algo que eles não sabem bem o que é, nem nunca tinham pensado bem se lhes interessava. Portanto, quem quiser ser maçon, pelo motivo certo e tendo as condições para tal, o primeiro passo que tem a dar é manifestar esse desejo a um maçon. O resto da caminhada vem depois, mas toda a viagem começa sempre por aí, pelo primeiro passo.

- Então e quando um maçon encontra alguém que crê que seria um bom maçon, aquilo que vocês costumam chamar um "maçon sem avental", não o convida?

- Na minha opinião, nem assim! O que um maçon deve fazer nessas circunstâncias é dar-se a conhecer como maçon e, se vir que existe interesse, esclarecer que os profanos bem intencionados, de bons costumes E QUE QUEIRAM SER MAÇONS, se o quiserem pelo bom motivo, são sempre bem-vindos. Para bom entendedor, meia palavra basta e isto já é bem mais do que meia palavra, já mostrou o caminho e que ele estava aberto. Se houver efectivo interesse da parte da pessoa, cabe-lhe a ela dar o primeiro passo.

- Já podias ter dito! Ando eu há mais de um ano a ver se me convidas e só agora é que me dizes isso! És cá um bom amigo da onça!

-
Tu é que andas distraído! Porque é que achas que eu te disse que sou maçon e tenho conversado contigo sobre Maçonaria? Mas ou és tu que queres e pedes, ou nada feito! Portanto, já sabes:

Bate e ela se abrirá, Procura e acharás, Pede e receberás
Conhece-te a ti próprio e ama o próximo como a ti mesmo


Rui Bandeira

16 abril 2007

O maçon Rudyard Kipling

Nasceu em Bombaim, Índia, em 30 de Dezembro de 1865, mas foi educado em Inglaterra. Regressou à Índia, a Lahore, em 1880. Aos 17 anos, era sub-editor do Jornal "The Civil e Military Gazette". Casou com uma americana, Caroline Starr Balestier, em 1892. Foi o primeiro escritor britânico a receber o Prémio Nobel da Literatura, em 1907.

Foi iniciado na Loja Hope and Perseverence (Esperança e Perseverança), n.º 782, em Lahore, em 5 de Abril de 1886, beneficiando de uma dispense especial emitida pelo Grão-Mestre Distrital, por ter apenas 20 anos de idade e não ter, consequentemente, atingido a maioridade legal, então fixada nos 21 anos. Passou a Companheiro a 3 de Maio seguinte e foi elevado a Mestre a 6 de Dezembro, ainda antes de completar os 21 anos de idade.

Foi, por um curto período de tempo, Secretário da Loja. Em 1887, passou a integrar os Altos Graus (Arco Real).

Deixou Lahore e passou a residir em Allahabad em 17 de Abril de 1888, tendo-se, em consequência, transferido para a Loja Independence and Philanthropy (Independência e Filantropia), desta cidade. Demitiu-se da mesma em 1895, residindo já, então, nos Estados Unidos. Porém, já desde 1989 que cessara a sua actividade maçónica.

Apesar de a sua actividade maçónica ter durado menos de quatro anos, os seus escritos comungam abundantemente dos ideais maçónicos. Para além do conhecidíssimo If (cuja adaptação em português o JoséSR publicou no texto anterior), podemos dar conta disso em The Mother Lodge, My new-cut Ashlar, The Palace, A Pilgrim's Way e The Widow at Windsor.

Foi amigo de Baden-Powell, tendo-o influenciado quanto aos princípios que este veio a instituir no Movimento Escotista. Serão também devidas a essa influência as ecvidentes similaridades entre os ideários escotista e maçónico.

Passou ao Oriente Eterno em 18 de Janeiro de 1936.

Elementos para este texto retirados daqui e das ligações nele existentes.

Rui Bandeira